quinta-feira, dezembro 18, 2008

Salvadores do Futebol


Buenos Aires ontem, primeiro jogo do triangular decisivo do Campeonato Argentino. Duas torcidas não se calam e cantam sem parar antes do começo do jogo. O estádio é pequeno; o futebol, enorme. O futebol grandioso do San Lorenzo de Almagro, bem jogado, belo, ofensivo. Assim os muchachos de azul e vermelho vão massacrar o surpreendente e pequeno Tigre nos históricos 20 minutos iniciais da partida. Históricos porque os meninos atrevidos e homens destemidos do San Lorenzo vão praticar nesses 20 minutos sua própria tradição: “lo juego bonito” (mais conhecido aqui no Brasil como futebol arte).
O show começa logo nas primeiras articulações de duas peças-chave: o jovem craque Pablo Barrientos, justíssima camisa 10 nas costas e alma e o líder Solari. Se o goleiro rival impede o 1 a 0 com uma defesa incrível após uma cabeçada, ela falhará pouco depois. Se o primeiro gol do San Lorenzo não será bonito, a jogada será. Aureliano e Solari tabelam pela esquerda, até a ultrapassagem de Solari, que ilude um marcador, em bela finta, e tem clareza e liberdade para cruzar. Islas solta a bola e o pibe da camisa 10 não perdoa, 1 a 0. Poucos minutos depois esses salvadores do futebol, os artistas-guerreiros de Almagro (quantos ainda praticam o futebol arte hoje?) seguem impondo sua escola e marca histórica de toque de bola. Impõem seu jogo de equipe que permite pequenas explosões individuais. Ocupam cada espaço e pressionam o adversário como um sonho que prende a atenção e paralisa quem está sonhando, na verdade, tendo um pesadelo, pobre Tigre. Assim cresce a música de Almagro, numa melodia de belas jogadas que vão ganhando intensidade e ao mesmo tempo emitindo pequenos solos maravilhosos de jogadores que escapam pelas laterais do campo em alta velocidade e habilidade.
Mais rápido e artístico é o menino craque, Barrientos, que recebe pela direita e pulveriza o marcador com uma finta e drible que orgulharia não só Maradona mas como o próprio deus do drible, Garrincha. El pibe mágico avança, levanta a cabeça e faz um cruzamento que só os grandes são capazes de fazer. Enquanto 9 entre 10 jogadores iria apenas mandar a bola para a área, o garoto dá um tapa forte na bola, dá um passe para a entrada da área. Ali ele percebeu a chegada de um companheiro, numa zona perigosíssima para o adversário: a entrada da área. Como o garotinho que joga um Jorgito (alfajor) para seu melhor amigo, Barrientos serve o matador Bergessio com açúcar. E como Bergessio também honra um clube que é arte pura, ele vai pegar a bola no ar e bater com precisão de pintor a dar o último e vigoroso toque numa obra de arte: coloca com força, de primeira, golaço, San Lorenzo, 2 a 0.
Depois foi só cozinhar a bola e se poupar numa infernal tarde de 36 graus para esperar o jogo acabar. Porque domingo é o dia da verdade contra o Boca. Pena que podiam ter goleado e acabaram até tomando um golzinho do Tigre. Mas domingo (18 e 30, ao vivo na Sportv, não percam!) é o dia da glória do fabuloso futebol do San Lorenzo!

(Texto dedicado a minha ex-aluna e artista de contos encantados, Gabriela Dorado, que está lá, morando em Almagro, e torcendo muito pelo San Lorenzo, clube da sua família, que aprendeu a amar. E essa história tem que acabar domingo, pois dia 23 ela volta ao Brasil).

Um comentário:

  1. Lindo texto, Zé...
    Infelizmente parece que o sonho acabou aqui para Los Matadores...jogaram muito, mas infelizmente parece que ñ vou ver meus Cuervos campeoes

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