quinta-feira, março 24, 2011

Os bons amigos, reais, onde estão?



Antes a vida rolava como a letra dessa canção maravilhosa que o lado frio da comunicação virtual tenta matar:
You just call out my name,
and you know wherever I am
... all you have to do is call
... and soon I will be knocking upon your door
and I'll be there,
You've got a friend.

“É só chamar meu nome, você sabe onde posso estar, tudo o que tem que fazer é ligar que logo eu estarei batendo na sua porta. Eu estarei lá. Você tem um amigo.”
Caraca, onde se perdeu a visita surpresa, tão comum até os anos 90, em que o amigo de repente tocava a campainha de casa?
A canção parece ainda mais pré-histórica,
I'll come running to see you again.
Winter, spring, summer or fall,
all you go to do is call
“Eu vou correndo te ver; inverno, primavera, verão, outono; tudo o que precisa é chamar.”

Quem chama o amigo ou amiga pelo telefone hoje, em vez de postar algo na net e receber algumas tecladas afetuosas mas distantes em que o encontro nunca ocorre?
Pior, as tentativas de encontros marcados pela net quase sempre dão em nada. Formam-se grupos, instala-se a vontade de se verem, onde vamos?, e dá em nada. “É tudo fogo de palha”, como definiu bem o amigo que vejo uma vez a cada muitos anos, parceiro de infância e adolescência de altas viagens, camaradagem, rock and roll (porra, cara, acho que foi você que tatuou AC-DC em minha alma roqueira!, e isso só já basta por um agradecimento eterno, pela válvula de escape contra dores ou a energia contagiante dos solos do Angus), as paixões que tínhamos por musas impossíveis e por filmes que sedimentaram parte importante de nosso coração e até caráter. É, irmão, aqueles velhos filmes que cultuávamos em fitas de VHS, a rebeldia de Jeff Bridges, Kevin Bacon, Emilio Estevez, Matt Dillon, cara, o Matt Dillon visceral, enquanto ele fazia filmes fortes, e não as bobagens que faria no futuro. E o que dizer de outra preciosidade que talvez deva a você (a memória vai falhando, né, meu velho), O primeiro ano do resto de nossas vidas (Demi Mooree novinha, aquela voz rouca, e loura!) e sua trama bela mas dura dos amigos que sabem que vão se separar, mas amigos do fundo do peito, que no filme a gente percebe que nunca vão se esquecer um do outro. É, cara, você é um grande filho da puta que me fez pirar nesses filmes românticos de amizades e amores eternos hehe. Mas valeu, irmão, e gozado como antes de escrever esse texto, não tinha noção de como tinha me mostrado e ensinado tanta coisa. Triste, né, como muitas vezes nem percebemos como os velhos amigos deixaram presentes importantes em nossas vidas? Bom, e quem sabe eu tenha te dado também presentes bacanas mas maléficos à saúde como aquelas sessions entornando a 51 enquanto detonávamos aquela república na Fazenda (puta merda, a Fazenda, aquele Templo!, quanta zona, brincadeiras, esporte e gatas!, em tantos anos...) escutando e berrando Iron Man, grande Ozzy...

Foda, né, esse Zé continua sentimental demais, mas porra, sei que James Taylor nunca foi seu forte, mas Hey, ain't it good to know that you've got a friend?
É, brother (caralho, cara, será que foi você também o primeiro que me falou de surf?!,  naquelas velhas revistas (Visual?) que recortava para encapar os cadernos da escola, aí então te devo tanto que jamais poderei pagar na mesma moeda), como o tempo passa e apaga coisas boas, e hoje, em vez de marcarmos uma queda, ficamos apenas sacaneando um ao outro o surf diferente de cada um (surf x stand up) pela net...


Bom, tá na hora do AC-DC fazer eu respirar embalado por aquele bolachão ao vivo dos loucos australianos que tu me apresentou (ou foi o louco do Strauss? Uhn, acho que ele passou pra ti e depois tu pra mim).
Um puta abraço, ensina teus filhos a pirarem no rock pesado e nas ondas, mas agora escuta sim essa canção do James Taylor aí do vídeo de cima, a versão é punk, tem até um riffzinho de guitarra escavador da alma.
E um dia a gente resgata aquela turma de filho(a)s da puta sem memória que a gente não esquece e ama pacas...
PS - O fdp é afetuoso, é com carinho!

quarta-feira, março 23, 2011

Um olhar mais humano

Caros leitores, peço a visita de vocês em meu novo projeto, um site de depoimentos curtos mas profundos de pessoas que têm o que ensinar e passar de bom. O projeto, em parceria com o irmão Dudu Stryjer, é o Janela. Cliquem aqui

sexta-feira, março 18, 2011

O ídolo que arrancou esse sorriso

Ele é um dos maiores atletas de todos os tempos. O maior jogador de vôlei do planeta por anos e anos. Campeão mundial e olímpico. Um líder cheio de garra e inspiração para os jovens talentos. Falo de Giba, o fantástico jogador de vôlei brasileiro. Um super craque das quadras e ídolo muito assediado. Um cara que poderia ser marrento e de poucos sorrisos como a maioria dos badalados do futebol. Há dois anos, quando voltei ao clube em que vivi meu sonho de atleta no passado (atletismo), ele entrou quase no mesmo momento, na forte equipe montada pelo E. C. Pinheiros. Logo saquei que máscara passava longe dele. Um dia perguntei à moça que comanda um dos elevadores do clube Pinheiros quem era o atleta mais simpático do clube. “Giba”, ela respondeu sem pestanejar enquanto abria um sorrisão, “ele sempre cumprimenta a gente, diz alguma coisa”.
Tratar com simpatia sincera e conversar com as moças e senhoras dos elevadores do Pinheiros, que enfrentam um festival de bom dias e obrigados meio sem graça e forçados o tempo todo, foi a primeira prova que tive do Giba sangue bom. Do raro ídolo humilde, “gente fina” como diriam antigamente.
O tempo passou, sempre o via malhando na academia com seus companheiros de vôlei, mas nunca importunei o craque. Até esta 2ª feira de carnaval, em que ele estava dando duro para se recuperar de uma contusão no tornozelo. Me aproximei apenas para lhe dizer que minha avó, que acaba de completar 100 anos, sempre foi fãzaça dele, não perdendo um jogo importante da seleção de vôlei anos e anos seguidos. E ainda hoje, quando ela às vezes perde a lucidez, quando recobra, sempre pergunta do vôlei e do Giba.
Na hora os olhões azuis dele brilharam de verdade, o cara abriu um sorrisão e me disse na hora: “você vai treinar amanhã? Vem aqui que vou trazer uma camisa minha para você dar a sua avó”.
No dia seguinte eu fui lá, com receio dele esquecer. Cheguei lá, Giba estava brincando com outro campeão olímpico, Gustavo, chamei-o e ele disse, “tava te procurando”. Subimos para onde estava o armário dele, ele mostrou a camisa e começou a procurar uma caneta de escrever em tecido, que encontrou com seu treinador. Ele fez questão de escrever uma dedicatória para Dona Helena e esse é o resultado: deixou minha avó felizona, como há muito não a via. E minha avó, que detesta tirar fotos, posou animadona para essa foto.
Só não sei se ela aguenta o pedido do ídolo: “traz ela num treino, quero conhecê-la”.
Esse é Giba, um ídolo de verdade, dentro e fora das quadras.

segunda-feira, março 14, 2011

Máquinas de Detenção

São atos simples, mas que vamos abandonando pelo conforto e/ou sedução das máquinas e novas tecnologias virtuais. O clique se deu apenas quando deixei o carro na garagem para o break cotidiano que faço nos períodos de trabalho em que apenas escrevo. Caminhar até o mercado, em vez de guiar até ele, muito mais que a liberdade para os olhos, liberta a mente para pensar e refletir. E nem preciso citar o ganho na saúde, né? Ah, “mas isso é tão óbvio”... Sim, só que o conforto, velocidade e praticidade do carro nos emburrece e cega para a riqueza de uma simples e cada vez mais rara caminhada no meio da jornada de trabalho. Tente andar em vez de guiar até o almoço ou lanche da tarde e perceberá a diferença.
Poucas coisas nos devolvem com tanta energia a vida real, mais prazerosa, bela e até produtiva, como a caminhada. Até podemos ver as pessoas, olhá-las e escutá-las. Até podemos ver cachorros e fazer um afago neles.
Caminhar nos torna mais produtivos? Experimente e ficará surpreso com o tanto de ideias e até soluções que encontra ao ter a mente livre de uma direção e outros motoristas.
A máquina vai matando o homem sem ele perceber.
A máquina e as telas. Ou preciso dizer quantas horas perdemos em cliques inúteis atrás de uma telinha de computador? Quanto tempo realmente você aprende algo ou se comunica de verdade na internet? Receber um “curti” no Facebook não é comunicação, é preguiça de quem clicou e não teve a vontade ou esforço de escrever um simples, porém mais humano, comentário. Sim, não lembro de um único “curti” que apertei na rede, pois preferi estabelecer um contato maior, o que só as palavras podem fazer. Preferi fazer um afago.
E o que dizer então das pessoas que só escrevem na nossa rede pra mostrar que elas têm uma opinião “mais correta” que a nossa? E os chatos de plantão, que só escrevem para nos alfinetar e são incapazes de dizer algo legal?
Claro que a internet ensina demais se sabemos onde entrar, mas o saber onde entrar é uma exceção. A maioria entra nos grandes portais, lê algumas manchetes, clica em uma ou duas noticias, e só. O resto é MSN, redes sociais ou jogos on line. E assim vai pro saco, quando se é criança e adolescente, a visita aos amigos e o futebolzinho nas praças. E assim desaparece, nos trabalhadores, os simples mas humanos telefonemas, além da disposição para ler um jornal e um livro.
Assim as máquinas e as telas vão nos tirando vida real e a arte do encontro. E elas, “tão eficazes”, segundo seus escravos, acabam minando nossa própria eficácia. Como? Tente criar o hábito de produzir algo no computador antes de checar seus emails ou mensagens no Facebook e Orkut. Acabo de fazer isso: ainda não acessei a net e já consegui escrever a sempre difícil introdução de minha coluna na revista e também essa divagação para o meu blog pessoal, que ando atualizando muito raramente.
Tomara que eu consiga criar esse hábito, para escrever e render muito mais.
Você não consegue? Em vez de deixar as redes sociais ou emails apitando, deixe num site de música (como o shuffler.fm ou o hypem.com, ou mesmo a sua rádio on line) que poderá ficar muito mais inspirado a trabalhar sem essa louca ansiedade de ver quem escreveu pra gente.
Cuidado com os ladrões de tempo, trabalho e vida.

quarta-feira, março 09, 2011

Gênios


Jogo do Barça, ainda mais pela Liga dos Campeões, é ocasião de gala. Jogo, não, show. Show é pouco. Arte. Fantasia. Magia. Ou não é coisa de magos as jogadas do primeiro e segundo gol do melhor time do mundo de verdade? O que foi a penetração e o passe genial de Iniesta no primeiro gol, completado com a levantadinha surreal de Messi na bola pra tirar a bola do goleiro antes de fuzilar? E o que dizer da triangulação Iniesta-Villa-Xavi no segundo tento, completada com uma frieza de super craque de Xavi? Até pênalti os caras transformam em arte, porque a simplicidade perfeita de Messi no penal é coisa rara de gênio calmo, de gênio que faz obra de arte até quando domina a simplicidade.
O futebol é muito mais fácil, simples e belo quando Xavi, Iniesta e Messi começam a tocar a bola de pé em pé até o veredicto irrevogável de mais um gol maravilhoso do fantástico Barcelona.

terça-feira, março 08, 2011

O Carnaval é do Rei e da Ilha

Não dá para discutir. Carnaval, carnaval mesmo, é o sempre inesquecível desfile da Sapucaí. Assisti apenas a trechos de algumas escolas, e duas me conquistaram. Primeiro, a garra e beleza tão simples quanto sofisticada (como conseguem?) da União da Ilha, a escola que perdeu muito com os incêndios dos barracões às vésperas do Carnaval mas jamais perdeu a magia. A magia de um enredo histórico, sobre as descobertas de Darwin e sua teoria de evolução das espécies; espécies essas que vieram tanto em fantásticos carros alegóricos (o que era aquele tartaruga gigante de Galápagos?) como em delicadas e perfeitas fantasias de abelhas na ala das baianas. A União da Ilha soube como poucas a misturar a grandiosidade com ideias simples como os tatus bolas estilizados. E o drama do fogo fez os foliões se superarem e desfilarem com uma garra poderosa que contagiou a multidão.
No final de todas, no último desfile, veio Ele. O Rei. O verdadeiro Rei, porque o mais amado. Sim, um Rei um pouco recluso, mas que quando aparece, um Rei sempre humilde. Tão humilde que sempre se entrega de corpo, canção e alma aos seus súditos, ao seu povo, à sua vida. Impossível não emocionar-se com a comoção de Roberto Carlos enquanto a Sapucaí toda cantava o samba-hino em sua homenagem. Nada mais justo para o homem das tantas emoções. De amizades inquebrantáveis como a do terno amigo irmão camarada Erasmo que desfilou outras tantas emoções em um dos carros. De amores tão grandes que abraçaram o Brasil inteiro e fizeram milhões cantar seu amor por suas mulheres a partir dos versos do Rei e seu amigo Erasmo.
O Rei, o Rei que chorou enquanto o povo cantava esses singelos mas profundos versos, No mar navegam emoções
Sonhar faz bem aos corações
Na fé com o meu rei seguindo
Outra vez estou aqui vivendo esse momento lindo
De todas as Marias vem as bênçãos lá do céu
Do samba faço oração, poema, emoção!
Foi o ponto alto do desfile do Rio, reverenciando o maior, sim, artista deste país, porque ninguém canta com mais sinceridade e entrega que o Rei.
Obrigado então, Beija-Flor de Nilópolis pela mais bela e justa das homenagens.
Em tempos de tantos falsos reis, é sempre bonito demais ver um Rei de verdade emocionando-se desse jeito.
PS – Sim, há os que dizem que o Rei é brega, que suas canções são bregas, mas duvido que consigam encontrar, lá no fundo de seus corações, palavras mais fortes e belas que as usadas pelo Rei para cantar a amizade e o amor. A amizade e o amor de verdade, de quem viveu cada pedacinho e escala desses sentimentos como Roberto viveu. E olha que quem escreve isso é um roqueiro pesado de carteirinha e milhares de shows, bares e garagens no currículo. Só que esse roqueiro também tem memória: adivinhem quem inventou o rock no Brasil!
PS 2 - Belíssima a matéria-homenagem do Globo Esporte de hoje para o desfile do Rei, entremeado com atletas revelando quais canções do rei cantaram para suas esposas (só Ronaldo não quis cantar...). E o sempre criticado por mim, Tiago Leifert, se redimiu ao espetar seguidas vezes a máscara de um falso rei no Carnaval 2011, Ronaldinho Gaúcho.