O goleiro português Eduardo é um herói. Herói pelas brilhantes defesas que fez ontem contra a poderosa Espanha. Herói porque foi ele o homem que mais resistiu em uma seleção acovardada como a sua*, covardia que some no arrojo, coragem e capacidade neste que já é um dos melhores "guarda-redes" portugueses da história. História, sim, pois Eduardo não tomara nenhum gol na 1ª fase (nem do Brasil) e ontem, quase barrou esse eletrizante e imperdoável atacante espanhol e artilheiro da Copa, David Villa. Sim, o 1 Luso pegou a primeira bola cara a cara com Villa, só não conseguiu segurar o rebote, quando a malícia e habilidade do espanhol colocaram a bola por cima do português. Este foi o único gol que Eduardo sofreu em toda a Copa, e por ele seu Portugal foi eliminado. Por isso o goleiro chorou inconsolável ao final da partida. Enquanto seus colegas, como executivos frios acostumados a perderem grandes negócios, mostravam apenas um abatimento tênue, Eduardo não conseguia erguer-se do gramado e de suas lágrimas. Porque Eduardo, que defende a meta do pequenino Braga, do seu Portugal, ainda não foi contaminado pela globalização e “profissionalismo” do mundo da bola. Porque Eduardo não tem um salário milionário que atropela os sentimentos e a alma. Por isso ele é um herói, por ser ainda um jogador à moda antiga. Um jogador que sofre de verdade com uma derrota terrível. Ou não é terrível ver seu sonho desmoronar após tomar um mísero mas definitivo gol na Copa do Mundo? Um gol justíssimo pela coragem e beleza do futebol espanhol, mas injusto se pensarmos no coração de Eduardo, um raro jogador - nesse meio de muitas celebridades milionárias, vazias e frias – que ainda porta-se como um amador, como quem ama o esporte. Pena que essa desgraça chamada marketing oculte os Eduardos - que ainda resistem em algumas seleções – para massacrar-nos com imensos outdoors e comerciais mirabolantes de falsos astros como um outro português, esse fracasso nesta Copa chamado Cristiano Ronaldo. O Cristiano que só joga bem nos clubes - junto de outras estrelas - e apareceu a toda hora nos telões da Copa fazendo suas caras e bocas e jogadas enfeitadas inúteis. Enquanto isso, Eduardo só aparecia defendendo de forma magistral e valente a meta não só de sua seleção, mas de seu país.
E o goleiro só foi aparecer por mais alguns segundos quando as câmeras registraram, já após o fim, as suas lágrimas. As lágrimas de um herói de verdade. E foi nesse momento que surgiu uma das mais belas imagens dessa Copa: de repente Eduardo é surpreendido pelo abraço algumas palavras de incentivo de outro gigante, o goleiro espanhol Casillas. Que bonito é ver a raridade de um vencedor digno, que sabe o valor de quem perdeu mas perdeu de pé.
Levanta, Eduardo, pois no coração daqueles que não são enganados por falsos heróis e ídolos, você será sempre um grande exemplo e referencial. O resto é mentira. PS* - Um erro, corrigido por um leitor atento: há que se destacar também a valentia e coragem de um Fábio Coentrão e o ímpeto e vontade de um Raul Meireles que não teve, porém, quem o ajudasse na criação. E, claro, muita culpa para um Queiroz que preferiu se defender a arriscar.