terça-feira, julho 27, 2010

As montanhas que olham por nós


São Francisco Xavier. Uma pequena aldeia ao pé da Mantiqueira. O mar verde onipresente em qualquer canto para o qual olhamos. A beleza que não se move mas que permanecerá, sempre. Montanhas não se movem. Estão sempre lá, como a nos proteger. O verde grandioso traz calma ao olhar como a mulher que nos acolhe e entende. Que nos acolhe com aquele silêncio belo do estar juntos conversando com os olhos.
O silêncio predomina, com breves acordes do vento, grilos e pássaros. E do riozinho pequeno mas vivo e corrente que passa atrás da janela da pousada, tornando o sono um sonho líquido.
 Para chegar lá, bem fácil (de carro desde São José dos Campos), a experiência torna-se completa quando os pés começam a escalar. Há algo na escalada (e não falo de alpinismo, mas de uma simples caminhada morro acima sem grandes dificuldades, na estradinha de terra, sem trilhas), há algo espiritual, que eleva. Aconteceu no entardecer em que subia sem uma alma como companhia a pequena estradinha que vai ladeando as montanhas. Acompanhado da lua, do silêncio e daquela luz tênue dourada que percebi de novo o valor de ir para o alto, pertinho de algo maior. Uma caminhada que pareceu uma lembrança de que ir para cima é preciso. Pra cima da montanha, pra cima dos sonhos e da vida nova e melhor que devemos buscar.
Chega de sonhar alto, pés à obra, subindo e subindo amparado por essas montanhas mágicas. E estimulado de alguma forma pela calma daquela gata branca, ainda filhote, que deitou-se no meio da estrada, me olhando curiosa e sem medo enquanto eu subia. Branca, pura, 7 vidas, muitas vidas, como se a filhotinha dissesse “vai, caminhante, vai buscar o topo, o cume que pode alcançar com seus sonhos e talentos mais puros”.
Vai, caminhante, viaje, escreva, canalize tudo isso e quem sabe o mundo não abraçará suas palavras e sentimentos como essas montanhas amigas de conforto, sossego e paz. Como essas montanhas e esse viajante que compartilham o mesmo olhar de romance. Sim, elas olham por nós, com seus olhos verdes na cor e no espírito, como se fossem as montanhas uma doce mulher a entregar seu olhar mais puro e verdadeiro. A mirada de quem gosta de ser olhada com os sentimentos mais sinceros, e nos devolve isso.
Que as pessoas que esquecem desse olhar redescubram isso lá na Mantiqueira, lá nessa encantadora e delicada São Chico, lá na pousada onde corre o rio atrás da janela e onde tomamos café da manhã defronte à vista das montanhas, das árvores e desses cachorros e gatos pidões dessa pousada em que fiquei, realmente um lugar que nos deixa pousar a alma.
A alma, a verdade dentro dos olhos.  

sábado, julho 24, 2010

O povo que é rio e mar (*)


Uma cidade civilizada não se mede por grandes avenidas, inúmeros prédios altíssimos sendo erguidos, carros último tipo e número de shopping centers, todos acabando com qualquer harmonia urbanística, ambiental e humana. Não se mede com obras voltadas mais para os carros - e seus donos egoístas usufruírem dos confortos da modernidade – do que para os pedestres. Não, uma cidade, para mim, é feita de pessoas. Pessoas que caminham. Pessoas que podemos ver e com quem podemos conversar a qualquer momento. Civilização é esta velha, sofrida mas viva Montevidéu. A capital uruguaia onde crianças ainda brincam nas ruas, adultos sentam-se às portas ou sacada de suas casas para papear, olhar ou tomar um mate.
O mate que é um costume sem nada parecido no Brasil (com exceção dos gaúchos, que ainda o praticam, mas em menor frequência): uma cuia com a erva, uma térmica com água quente e a bombinha para sugar o chá que é passada de mão e mão, boca em boca. Mais que isso, o mate convida ao papo, convida à reflexão, é até um verdadeiro manifesto cotidiano pelo encontro e pela amizade.
A Montevidéu onde as moças sentam-se para tomar sol no gramado de seus prédios de frente para a grande Rambla que acompanha o magnífico rio que também é mar, o rio da Prata.
Civilização é sentar-se apoiado no encosto do banco ao fim de tarde, defronte ao rio com vida que funde-se ao mar, aos nossos sonhos e esperanças sem fim. É observar e deixar-se envolver por um dos mais belos entardeceres, o cair do sol de Montevidéu dentro do rio oceânico. Um crepúsculo multicolorido sobre águas profundamente azuis. Um pôr-do-sol que tranquiliza, tonifica e nos recarrega para a vida.
A vida que é completa nessa velha capital com alma de cidade do interior feita de água doce- salgada do rio que é mar e também verde. O verde onipresente de seus grandes parques e em quase toda ruazinha, como se as ruas fossem tubos verdes de árvores dos dois lados com o rio ao fundo. Como se os sábios caminhantes, fossem surfistas urbanos. Talvez sejam, sim, surfistas, todos os que preferem os pés, olhos e alma aos carros que nada veem e sentem. Todos os que surfam cada pedra e pedaço de chão em vez da comodidade em 4 rodas. Comodidade que torna-se cara em um dos únicos traços ruins dessa velha Europa ao sul do Rio Grande do Sul: os caríssimos táxis da cidade.
Mas voltemos às águas do Prata, que carregam em sua doçura ou tempero de sal o próprio povo uruguaio: educado, respeitoso, simpático, tranquilo.
Um povo que me pareceu desprovido do xenofobismo e aversão aos estrangeiros comuns em tantos outros. Uma prova disso é uma característica uruguaia bem parecida ao nosso Brasil: o país é o outra rara nação da da América do Sul que integrou os negros ex-escravos. Acho que não os perseguiu ou colocou no pelotão de frente de guerras como fizeram os argentinos, que exterminaram os negros na Guerra do Paraguai. Em que outro país senão o Brasil podem-se ver negros nas ruas ensinando percussão, soando os tambores, como nos grupos de Candomblé deles, que são versões parecidas com o nosso Olodum?

Montevidéu e seu povo de alma charrua são uma oportunidade única de conhecer uma gente que é exatamente igual à sua bandeira: azul, profundo, sensível; e branco, calmo e com um sol a brilhar. O pacífico ganha raça e vontade guerreira apenas quando a bola rola e vemos a garra e entrega dos uruguaios. Que talvez precisem escapar de um país de dimensões e economia pequena pelo sucesso que só pode ser alcançado brilhando e ganhando melhor em países mais ricos.
Mas a riqueza da bola é apenas parte da riqueza maior: a bela, nobre, fiel e amorosa alma charrua.
A alma de um pequeno grande povo e país.
(*Escrevi e publiquei esse texto em janeiro, na minha única visita ao Uruguai. Foram poucos mas inesquecíveis dias. Posto aqui de novo para homenagear o carinho enorme que tenho recebido de todo o Uruguai pelos textos sobre a seleção de Forlán, Lugano e outros heróis ).

segunda-feira, julho 19, 2010

Tributo a Guerreiros Apaixonados

Muito se falou aqui e na mídia mundial sobre a incrível valentia, dedicação e talento dos uruguaios, mas ficamos devendo uma justa homenagem à admirável entrega, emoção e luta dos paraguaios. O Paraguai que só foi batido, em jogo duríssimo, pela seleção que seria a campeã do mundo, a Espanha.
O Paraguai que não se limitou a defender contra os espanhóis, mas os pressionou de forma infernal nos primeiros 30 minutos de jogo, quando a Espanha praticamente não conseguiu sair de seu campo. O Paraguai que baseou-se, sim, em uma defesa excepcional (ótimo goleiro, Villar e uma zaga quase impecável, lembrando a inesquecível zaga comandada por Gamarra na Copa de 98), e um meio-campo aguerrido, mas que também mostrou bom toque de bola e atacou o quanto pôde. O Paraguai que podia ter, sim, eliminado os campeões, se Cardozo não perdesse aquele pênalti e se o juiz não tivesse anulado um gol legítimo de Valdés. O Paraguai que mostrou uma paixão e garra incandescente e transparente no rosto de seus jogadores-guerreiros, visível desde o emocionado canto deles na execução do hino nacional do país. O Paraguai daquelas comoventes camisas cor de amor e solidariedade – o vermelho e branco tão fiel à alma desse país pequenino mas tão grandiosamente lutador e solidário. O Paraguai sempre injustamente menosprezado pelos especialistas do mundo do futebol. O humilde Paraguai que deu uma lição nos orgulhosos e egocêntricos poderosos do mundo da bola, que caíram antes dele nesta Copa.
Por tudo isso, por toda essa história de amor que os Homens de vermelho e branco semearam nos campos africanos, que uma cena simbólica marcou a queda gloriosa frente à Espanha. Cardozo, inconsolável por seu pênalti perdido, chorava copiosamente, com seu manto de amor e luta cobrindo a face, quando um grande homem e em breve, nos dias seguintes da Copa, Mito do futebol, se aproximou. Era Iker Casillas, o fenomenal goleiro e ser humano espanhol. Casillas foi lá abraçar e dizer algumas palavras de incentivo ao jogador e país que deu tanto trabalho para a Espanha, que enfrentou tão dignamente a futura campeã do mundo. Sim, a dignidade que a Holanda não teria (os laranjas apelaram à violência), os paraguaios tiveram de sobra. Pois podemos, sim, dizer que o Paraguai sempre se baseou em defesas fortes e muito coração, mas essa luta foi sempre de guerreiros que são homens, homens que jogam e lutam limpo.
Jogam limpo como um dos maiores zagueiros da história do futebol mundial e das Copas do Mundo, Gamarra. O Gamarra que tive a felicidade de assistir ao vivo no jogo de sua vida, aquele incrível Paraguai e França da Copa de 98. Aquele jogo em que ele liderou, sem fazer uma única falta!, uma das mais comoventes demonstrações de entrega da história, a entrega dos paraguaios para se defender contra aquela poderosa França de Zidane e Cia. que jogavam em casa.
Até hoje lembro daquele jogo, oitavas de final de 1998, quando sinto que estou sem forças, e que é inútil lutar contra a ausência de chances em meu mundo de trabalho, o jornalismo esportivo. Me veem então à memória aquela luta quase impossível da seleção de Gamarra e Chilavert (outro monstro na partida) durante 118 minutos (tempo normal e prorrogação, quase toda...), luta que só terminou com o gol do capitão francês, no penúltimo minuto da prorrogação. Luta interrompida de forma cruel com a mais estúpida regra da história do futebol (já banida, ainda bem), o gol de ouro, ou morte súbita. Lembro então daquelas cenas impressionantes dos paraguaios desabando no gramado, inconsoláveis. Lembro então da colossal força e hombridade de Chilavert, que aproximou-se de cada companheiro abatido e levantou-o, como se fossem bebês desprotegidos, gritando talvez palavras de coragem, respeito e amizade, dizendo o quão grande cada um tinha sido. Lembro depois do primeiro sorriso que consegui dar na saída daquele estádio: abatido por ter torcido tanto junto dos meus irmãos paraguaios na arquibancada atrás do gol, só consegui sorrir quando um nobre francês disse a frase de reconhecimento e respeito pelo que fez o Paraguai naquele jogo: “Gamarra est Beckenbauer”, Gamarra é Beckenbauer, bela comparação com o mito alemão.
Tudo isso só para dizer, meus irmãos paraguaios, que mesmo achando que o melhor para o futebol foi a taça do mundo ir para o futebol arte, pé em pé, da Espanha, vocês comoveram muitos brasileiros com sua luta limpa, coragem (que outro país teve a bravura de pressionar tanto os futuros campeões do mundo?), emoção e paixão por seu país e pelo futebol.

domingo, julho 18, 2010

O melhor vídeo da Copa


Maravilhosa essa reportagem de Régis Holsing no Esporte Espetacular de hoje, a melhor que vi sobre esse Mundial.

sexta-feira, julho 16, 2010

No coração das montanhas


Segunda-feira, o sol de inverno leve era gostoso e acolhedor como as férias devem ser. Mas fazia frio aqui dentro. A única solução era a estrada, era o calor humano, era a amizade. Nunca precisei de convites nem tive orgulho para isso. Por isso liguei pra ela e logo estava a caminho. Procurando novos caminhos, para a minha vida, e para chegar lá onde ela e seu pai se escondem (na verdade, se refugiam). Óbvio que me perdi em tudo quanto é acesso e, sorte grande, quando estava totalmente perdido na estradinha de terra sem uma alma, já de noite, um motoqueiro sem nada a ver com os psicopatas paulistanos, me indicou o rumo certo.
Enfim cheguei, só via o telhado da casa e não entendia bem, cadê a casa? Abro a porta e um cachorro me recebe com uma alegria inacreditável para com um estranho. O maluco enorme, ainda filhote, mas já grande, viralata parrudo de algum pastor alemão misturado, chegou rebolando, abanando o rabo e já dando lambidas e dando a pata. Logo o figura já deitava de costas e se estrebuchava todo brincalhão. Sim, eu estava em casa, que melhor recepção que essa? Um cachorro amigo e carinhoso, a melhor espécie que o Barbudão lá de cima colocou nesse mundo se dúvida nenhuma. Ando um pouco com o anfitrião de 4 patas e um enorme coração e grito pelos donos da casa. Nada. Ai percebo uma construção mais para baixo, chamo de novo e eis que surge ele, o velho lobo dos mares paulistanos e já legítimo senhor dessas pequenas montanhas escondidas e protegidas perto de Atibaia. Logo surge sua filha, a moça que cura, uma das filhas que a vida me deu (não fica com ciúmes, grande lobo, você sabe que o coração dela é tão grande que ajuda a muitos). Logo vem ela em seu jeito desengoçado e brincalhão, logo vem ela já tirando um sarro, já arrancando um sorriso e a vontade gostosa de lhe dar um tapa na orelha simbólico.
O cachorro, que ela batizara de Téo? Não era deles, mas vinha regularmente visitá-los. Por quê? Porque os cães sentem os lares que possuem o bem e o amor sincero.
Descemos e entramos. A casa que eu não descobrira lá de cima é um amplo espaço mágico feito com as próprias mãos do grande lobo. Uma casa com andares que se olham, em que vemos todos os ambientes, em que as pessoas só podem é ficar próximas, uma casa sem barreiras, como o outside marinho, como o horizonte para o qual olhamos e nos sentimos tão livres e amplos. Uma casa de tijolos e madeiras, quente, poderosamente acolhedora. Uma casa com história, com milhares de objetos, com a história de muitos objetos antigos imortais, um verdadeiro centro cultural e antiquário, obra do velho lobo que é um refinado restaurador de aparelhos antigos.
O que ele talvez não saiba é que é um restaurador também de gente, de corações partidos. Pouco a pouco o velho lobo vai dando conselhos, e como bom pescador, indica as linhas que os outros nos dão e as linhas que devemos lançar para buscar os peixes-sonhos de nossas vidas.
Sim, o lobo já viveu e também sofreu demais, talvez por isso sabe tanto da vida. E seus olhos fundos também revelam as suas perdas e alguns vazios profundos. Mas eis que tudo se ilumina e ele parece esquecer de tudo quando sua filha surge e mesmo ela também tão sofrida, a moça é uma fortaleza de sorrisos e brincadeiras. Isso é valentia, o resto é a fraqueza dos covardes: mesmo precisando matar vários leões por dia quando em São Paulo, essa moça dá porrada nas barreiras com suas tiradas, sarros e abraços. E ela tem uma mágica capacidade de nos deixar felizes mesmo quando nos sacaneia, mesmo quando tira a maior onda com a nossa cara.
Ei, velho lobo, grande guru, sim, as perdas são duras demais, mas pode existir alegria maior que ter uma filha como ela? Pode ter alegria maior saber que tem uma filha tão boa que é querida e amada por tanta gente? Pode ter alegria maior que saber que tem uma menina que cura os outros?
Só sei que sentia os caminhos fechados, meio que sem saída antes de chegar ali, mas depois de passar dois dias nesse refúgio espiritual divertido muita coisa mudou, e até foi clareando sozinha. Como se a energia sem fim desse lugar e de vocês dois tivessem me atraído coisas boas. E, sim, atraíram.
Vocês me mostraram novos rumos que posso tomar nas pequenas e grandes coisas. Já me ajudaram profissionalmente (ao praticarem me obrigarem a jogar fora meu celular sem recurso nenhum, para arrumar um aparelho em que eu possa criar notícias, imagens e vídeos de onde eu estiver, além de não apanhar para mandar mensagens hehe) e sobretudo aqui dentro.
Só peço desculpas a você, querida fada humorista sacana, por ter me ausentado nos últimos meses. E peço também que não ligue pra rabugice do Lobo com nosso amigo fundamental, o Grande Téo hehe, e bota ele naquele sofazinho, porque o Lobo diz que não mas adora a cara de bobão amigo do bicho.
Obrigado meus amigos. Quase não vi as montanhas, mas senti a elevação dessa casa e coração lá nas alturas de vocês dois. Mas vê se dá um tempo nas broncas na cozinha, mestre cuca sênior, porque a menina tá fazendo altos pratos deliciosos, que macarrão sensacional (no ponto!), que canapés incríveis antes do churras!
Obrigado até por me mostrarem o valor de um jornalismo que eu mal conhecia e tinha preconceitos errados, como essas denúncias sem medo do CQC e as amplas e completas reportagens de A Liga (bom, aquela repórter “pouco” gata e charmosa,  e ainda gaúcha!, ajuda né hehe)
Grande abraço e valeu por aceitarem esse hóspede que se convidou na maior cara de pau.
PS – Quando encerro esse texto, o youtube bomba na minha lista aleatória uma gaita mágica e espiritual, e uma voz doce e confortante, uma energia parecida com a que eu recebi dessa casa encantada das montanhas de seus corações.

quinta-feira, julho 15, 2010

O amor e os idiotas (ou a minha ingenuidade, no PS)


Sim, todo mundo já viu esse vídeo mas ontem, lendo jornais espanhóis na net, li um monte de surreais críticas contra a namorada de Casillas, pode? A moça é usada sem dó por sua rede de TV (imagina a aflição dela em ter que trabalhar em todos os jogos do homem que ama em plena Copa, e ainda atrás do gol dele!, o que ela poderia dizer ao seu chefe: que não aceita?) e muitos a criticam por anti-profissionalismo. Ora, anti-profissional é o idiota do seu chefe que manda-a entrevistar o Casillas logo após ele ser campeão do mundo. E o que ela ia fazer? Recusar o beijo? Recusar um segundo de amor do homem que se emociona por estar tão feliz, chorando e ainda falando com a mulher de sua vida? E o que os idiotas que criticaram o Casillas têm na cabeça além do vazio dos que não sabem amar? O que ele poderia fazer diante de sua amada, em um momento como esse? Parabéns, Capitão e grande ser humano Iker Casillas, mais uma vez você mostrou ao mundo o quão genuíno e digno você é ao não esconder o que latia em seu coração.
Ah, outra constatação: será que os imbecis (para não usar outra palavra...) que atacaram o casal Sara e Casillas por ele supostamente estar distraído (por causa dela trabalhar atrás do seu gol) na derrota da Espanha para a Suiça (1a rodada da Copa) ainda acham que a Sara distrai Casillas, o maior goleiro da Copa e campeão do mundo?
PS - Tudo o que disse aqui pode ser em parte ingenuidade minha: alertado por uma amiga jornalista, de um grande jornal de São Paulo, ela me revelou como a TV de Sara faturou uma fortuna com o beijo do casal. Isso não tira, pra mim, a espontaneidade do beijo, mas o ato rendeu tanta grana que muita gente desconfia...

terça-feira, julho 13, 2010

A vitória do futebol e da vida

A Espanha não salvou apenas o futebol mundial. Salvou a vida, aquela bem vivida, intensa, amada, bela. Mas foi difícil, duro, porque os defensores e volantes holandeses portaram-se como o outro lado da vida bela: o lado que só pensa em destruir, o lado covarde, que primeiro se defende e só depois ataca. O lado violento, o lado que apela. A Espanha não, a Espanha ataca, ataca e ataca sem parar. A Espanha faz a bola girar, de pé em pé como uma grande dança, como se o futebol e a vida pudessem ser um bailado maravilhoso com vários artistas juntos. O melhor de tudo é que eles conseguiram. Eles conseguiram vencer jogando um futebol quase sepultado pelos amantes frios dos resultados e contra-ataques (Mourinhos, Dungas e cia. Ilimitada...). Conseguiram vencer com essa fábula e maravilha chamada futebol arte, jogo bonito, fantasia. Ou não é uma fantasia ver um grupo de jogadores tocando a bola com arte, rente ao gramado, com toques e passes mágicos, com dribles e, com muita mas muita coragem.
A coragem dos que ousaram vencer o mais duro campeonato do planeta privilegiando a arte e o seu estilo. Privilegiando essa arte que é também paixão. Mais que paixão, pois o futebol espanhol, como já disse aqui, é um ato de amor à bola, ao jogo, à vida.
Amor à vida. Sim, é preciso ousar, é preciso arriscar, é preciso tentar e tentar, e não apenas esperar o erro dos outros. Por isso, quando os holandeses apenas esperavam o tempo passar, esperando que sua frieza maior decidisse o jogo nos pênaltis, a Espanha não esperou. A Espanha seguiu buscando a vitória, seguiu em sua paciente mas apaixonada busca do gol. Contra a frieza laranja, o coração vermelho-vivo, rojo, espanhol. Contra o antijogo, Fernando Torres disparou pela ponta e lançou aquela bola na área. Contra a retranca, que erra quando pressionada, Cesc Fábregas roubou aquela bola. Contra a covardia, Fábregas enfiou aquele passe difícil mas preciso, com açúcar. Contra a vida opaca, Iniesta surgiu na área como um raio, como uma luz, uma chama. Como um artista que ele sempre foi. E, meus caros, quando um artista tem garra e muito coração, torna-se invencível. Por isso Iniesta estava ali. E por isso deu aquele chute cheio de alma e técnica, arte e fúria. Quando a Copa estava se tornando banal e defensiva como a vida(?) dos que apenas sobrevivem, Torres, Fábregas e Iniesta mostraram que a vida pode ser sim, bela. Bela e mágica como um grito de gol tão justo para a seleção que resgatou o mais belo e necessário futebol possível. Sim, necessário, pois o que seria da vida sem essa poesia?
Nada.
Obrigado, Espanha, vocês nos deram tudo – os nossos sonhos e jogos de futebol da infância – de volta.
A vida pode ser bela, meus amigos. Basta sermos homens e mulheres de verdade, e não meros bonecos de marionete ou perdedores cotidianos.
E isso, meus caros, a Copa na mão dos espanhóis, não é só futebol, é uma lição, um presente, uma dádiva e um soco na cara dos que pensam que arte, poesia e romantismo é coisa de babacas.
Babacas (boludos) são os covardes pragmáticos assassinos da arte.
Longa vida aos novos reis do futebol.
PS – Sim, defender também é algo belo, justo e merecido quando seu nome é Iker Casillas, esse monstro da camisa 1 espanhola, monstro como jogador e ser humano, justíssimo capitão a erguer a taça dos sonhos. E claro, voltando ao ataque, tudo sempre começou nos pés, olhos e cérebro desse monumental Xavi, que merecerá um texto só para ele.

domingo, julho 11, 2010

?Por que ser um poco de Uruguay?

Porque, cuando era niño, he visto jugar, como un Imperador del grande área lo mejor defensor de la historia del fútbol mundial, Don Dario Pereyra, un dios de la garra y también jugador refinado, que salia con la pelota colada a sus piés. Y como olvidar sus cabezazos que parecian tiros de pelotón de fusilamiento? Y como olvidar, cosa rara en se tratando de hombres del fútbol, su elegancia, educación y postura de nobre hidalgo fuera de las canchas? Y como olvidar los dos primeros títulos brasileños que tuve Dario como un de los grandes líderes de mi São Paulo F.C.? Dario era todo un deportista, campeón, hombre y carácter incomparable.
Porque, años y años después, llegó otro dios, Diego Lugano. Un dios que sufrió demás porque llegó y fue dejado de fuera, ni siquiera sentabase en el banco de suplentes. Pero Lugano, monstruo de voluntad, empezó a entrenarse solo, pateando la pelota contra un muro, saltando, dando cabezazos. Una determinación tan grande que conmovió lo entrenador de entonces (se no me traiciona la memoria, el chileno Roberto Rojas, ello mismo, lo ex-arquero), que acabó dando una oportunidad que Lugano no dejaria jamás pasar. Después? Lugano se tornó un imortal al conducir, junto del arquero Rogério Ceni, mi São Paulo a inúmeras conquistas (Paulistra, Copa Libertadores y Mundial).
Porque antes de ellos mi papá contabame, emoción en las palabras, de la genialidad de Pedro Rocha y de la increíble pasión y coraje de Pablo Forlán, que también defenderan, con amor, esa camiseta mágica, blanca, roja y negra.
Porque nadie jugó con más pasión que Forlán, Suarez, Arévolo, Fucín, Lugano, Cavani, Perez, Godín, entre otros, en Sudáfrica 2010.
Porque este no es apenas un país, es un estado de espírito que no se rinde. Contra lo aumento de la pobreza, contra lo envejecimiento de la populación, contra los predios antiguos (pero bellos, sencillos!), contra la economia sufrida, los uruguayos golpean sus problemas con esa alma y corazón charrua que no cabe dentro de sus pechos de heroes. Heroes tan llenos de dignidad, amistad y respecto. Heroes por combatiren con sus más bellos valores antiguos ese alienante y opresor culto a la modernidad y globalización que va comiendo los otros países.
Encuanto los uruguayos seguiren abrindo sus puertas y ventanas para charlar y compartir su mate mágico y cúmplice; encuanto proseguiren en la arte de convivir y dejar libre de la especulación imobiliária las orillas (orla?) de ese maravilloso Rio de la Plata, el sueño celeste seguirá vivo. Lo sueño de no entregar su mayor riqueza: la simplicidad de vivir como en lo pasado. Un pasado bueno. Porque la modernidad no es un paraíso, nunca fué. Paraíso es apenas para los poderosos y multinacionales que dirigen el mundo.
Cuarto lugar en el Mundial, que grandeza!, aun más si Francia, Brasil, Italia y otros poderosos quedaranse en el camino, para trás.
Cuarto lugar con esa inolvidable y valiente Celeste de 2010. Una constelación de hombres extraordinários.
Celeste. El cielo más humano de este Mundial. Y un ejemplo de que todo es posible cuando se tiene ganas, muchas, muchas ganas.
* Perdón, hermanos, por mi castellano pobre y lleno de errores.
Gracias por sus comentários tan bonitos.

quinta-feira, julho 08, 2010

Una historia de amor*


Eso que practica España no es fútbol. Es mucho más. Eses hombres de rojo, azul y fantasia no solamente juegan con la pelota (el balón): sobretodo, hacen de sua relacción con esa esfera feminina un acto de amor. Un amor romántico sob el liderago de los caballeros de la bella figura, Xavi y Iniesta. Caballeros que no intentan conquistar la amada más deseada, el gol, con la prisa o fúria de los contraataques. No, España es todo menos esa palabra un poco negativa llamada “contra”.
España es positiva, es ella que ataca; no, ataca es poco, ella juega y avanza en la formidable viaje en busca del gol. ¿Cómo hace eso? ¿Cómo lucha por la ninfa de las redes? Con seducción, con arte, con el tic-tac de la pelota de pié en pié, como una grand danza colectiva de conquista. Y, por supuesto, con algo raro en el fútbol de hoy: con la pasión de los caballeros y jugadores de otros tiempos. Con la pasión creada y enseñada en la maravillosa escuela del Barça, en las tan míticas canteras. En las canteras que revelan al mundo que si, es posible, jugar fútbol como se aún fuésemos niños encantados con una pelota y una chica que no pudimos la olvidar.
Aún queda más: eses hombres de esa orquestra española (y, en la esencia, catalan) son rojos de amor. Pero no se trata de un amor romántico frágil, no, esa ideologia del amor al toque y al balón es fuerte, bella y poderosa como el hombre que sabe que a las mujeres (la red, el gol) les gustan ser amadas como se fuesen la única cosa que importa. Y a ninguna mujer de verdad le gusta ser tratada con prisa, afonación o violencia. Por eso la mujer de verdad, el fútbol más bello posible, está enamorado de esos conquistadores a moda antigua, esos Xavis, Iniesta, Piqué, Pedro, Villa, Xabi y cia que van acariciando la pelota como quien toca todas las partes de una mujer deseada. Por esos esos toques por la cancha-cuerpo todo, por toda la piel de una dulze musa llamada gol.
Hay que amar y también jugar como un niño en una cantera, potrero o “campinho”, como hablamos en Brasil y Dunga nunca ha escuchado. 
Eso es fútbol.
Eso es valentia.
Gracias, España. Contra los covardes y pragmáticos del fútbol de resultados ustedes están salvando el más bello deporte (si, mucho mas que eso...) del mundo.
Ahora somos todos por España, por esa selección que parece un único caballero colosal, un único corazón romántico y si, victorioso, porque domingo, si los dioses del fútbol y de la belleza estén mirando, la Copa del Mundo será de vosotros.
PS – ¿Pujol romántico? ¡Si, el más loco apasionado; solamente un hombre que ama demás, con desespero, pude se tirar, volar, sueñar y pegar aquel cabezaço monumental!
* Perdón por mi castellano pobre, pero yo intenté.

quarta-feira, julho 07, 2010

Obrigado por tanta luta, coragem e futebol

Eles foram o Rocky Balboa desta Copa do Mundo, o azarão, o underdog humilde pelo qual ninguém dava nada. Foram o mais belo conto de fadas de uma seleção que encarnou como nenhuma outra a alma e caráter de um povo. Um conto de fadas épico, claro, porque os uruguaios foram tanto príncipes e cavalheiros da bola (alguém viu um lutador celeste apelando, fazendo falta feia?) como guerreiros que jamais se entregaram. Poucas vezes na história do esporte é tão verdadeira a expressão “caiu de pé” como para a semifinal perdida contra a Holanda. Como seria possível enfrentar a fria, impiedosa e ágil seleção laranja sem seu grande líder e capitão, Lugano, e sem seu atacante mais perigoso, Suárez? Seria quase impossível, mas os valentes de azul fizeram um jogo parelho, que poderiam ter levado à prorrogação caso o juiz tivesse anulado o segundo gol holandês, em que Van Persie, impedido, participou do gol de Robben. Sim, a Holanda parece mais time, tem jogadores mais técnicos, e sabe como passar a bola de pé em pé até encontrar a hora do bote mortal. Mas contra o melhor futebol laranja, os uruguaios ofereciam sua entrega, sua garra charrua monumental e sim, algo raro em jogadores que jogam e ganham bem demais nos clubes europeus: os uruguaios deixavam nítido seu amor não só pelo futebol, não só por sua batalha, mas pela sua camisa celeste, por seu país, que deve a esses homens o resgate de toda uma mítica quase esquecida dos que já foram bicampeões olímpicos e mundiais.
Esse amor transpareceu ainda mais na quase inacreditável luta dos uruguaios até o fim. Quando tudo já estava perdido, quando o jogo já esgotava seu tempo regulamentar e a Holanda administrava o 3 a 1 seguro, os uruguaios desafiaram seu próprio nocaute e tiraram forças não se sabe de onde para fazer o segundo gol e ainda sonhar com o gol do empate e do novo milagre após a epopéica partida contra Gana.
Sim, sabemos: a força do nocauteado ferido, nas cordas, que ainda consegue voltar à luta tem um nome. Chama-se Uruguai. Chama-se, mais que coração, a alma de um povo, a alma charrua.
Para os céticos e os idiotas que desprezam o valor e importância do futebol, a formidável saga celeste nesta Copa fará sim, ressurgir um povo, fará sim os uruguaios tentarem mostrar seu valor de novo não só no futebol mas em tantas outras áreas, como na literatura que já nos deu monstros sagrados das palavras, coragem e humanidade como um Eduardo Galeano e um Mario Benedetti.
Imagino o orgulho de Galeano ao poder acrescentar às suas histórias tão reais quanto fantásticas o que esses inesquecíveis jogadores de seu país fizeram nesta Copa do Mundo.
Como escreveu o tão humano jornalista Marcelo Barreto, do Sportv, em seu blog, é do Uruguai a mais bela história desta Copa da África.
Uma história de Homens e Heróis. Uma história de Patriotas de verdade, que amam mesmo seu país, seu grupo de companheiros, seu treinador, sua camisa e o futebol.
Obrigado, hermanos uruguaios. Obrigado por nos fazerem ver e lembrar o que são - nos seus olhos arregalados guerreiros, no seu talento (sim, Forlán é o verdadeiro craque da Copa), nos seus gols maravilhosos (houve algum chute mais belo que o de Suarez contra os coreanos?) e loucos (Loco Abreu!), na sua educação, dignidade e competência (Oscar Tábarez, o treinador, o maestro, que bonito foi saber que foi aplaudido de pé pelos jornalistas uruguaios na coletiva de ontem) – o que são, parodiando Galeano, as veias, o coração, o caráter e alma aberta latinoamericanas.
Obrigado, Uruguai, por mostrar que os pequenos que amam o que fazem são os humanos mais gigantes.

segunda-feira, julho 05, 2010

Obrigado, Diego


Dios ele é para o seu povo. Prefiro chamá-lo, simplesmente, de Diego, pois não há personagem mais humano e apaixonado no futebol que você, Diego Maradona. Você que errou, sim, ao deixar os experientes e ótimos Samuel e Verón no banco contra os alemães. Você que errou ao escalar um time ofensivo demais contra a máquina alemã. Mas você que acertou ao ser natural, ao sorrir, ao dar seus toques mágicos na bola mesmo de terno e gravata de fora do campo (é, a menina redonda ainda te procura...), ao abraçar cada um de seus jogadores nas belas vitórias (com futebol bonito, de arte e toque) e na humilhante derrota, quando então chorou. Você que soube vencer e perder, bem diferente daquele lamentável covarde metido a valente que desonra seu país e até o bondoso personagem do desenho animado de quem roubou o apelido.
Você, que foi o grande astro desta Copa, o astro buscado por todas as câmeras, e elogiado pelos jornalistas que sabem admirar o que você representa.
Sim, você, que foi um gênio, precisa estudar mais o futebol para ser um treinador melhor porque, caro Diego, não existem mais gênios com sua camisa, nem Messi. O Messi que não soube escapar dos alemães. Portanto, há que estudar um pouco de tática, Diego, há que proteger um pouco sua retaguarda (meu Deus, Diego, por que não deixou isso para o quase gênio Verón? O Verón que ainda saberia armar o time também como destruir as ofensivas dos rivais), porque você não está mais lá dentro, Diego.
Sim, mas você é sempre uma explosiva contradição, porque você esteve lá dentro sim nessa Copa, no peito e vontade de cada um de seus jogadores, sobretudo nesse seu alter ego de espírito apaixonado chamado Carlitos Tévez. 
Bom, meu caro Diego, só peço que esqueça um pouco da sua genialidade e aprofunde-se mais na sua humanidade, só assim a Argentina voltará a ser grande de fato. E só assim esse seu povo apaixonado (20 mil pessoas no aeroporto na sua chegada foram por ti, Diego!) voltará a cantar feliz por uma taça do Mundo.
Lembre-se daquela humanidade que o fez pedir perdão por seus erros com as drogas, em pleno estádio do Boca lotado, quando logo depois você disse que errou sim, mas “que la pelota no se mancha”. Sim, Diego, a bola e o futebol você nunca manchou, pelo contrário.
Lembre-se disso e estude o futebol dos pobres mortais, Diego, só assim poderá ser um treinador melhor.
Só assim poderá fazer a dificílima comunhão entre Diego, Maradona e Dios.
Grande abraço e muito obrigado por ser o personagem mais carismático desta Copa.
PS – Quem prefere tirar sarro dos argentinos ou falar mal de Diego não o viu em ação nos campos nem nunca botou os pés num bar ou estádio argentino, nem nunca conheceu esse povo tão apaixonado por futebol.
PS 2 – Um dos raros jornalistas que sabem perceber a beleza por trás dos resultados, André Rizek, do Sportv, escreveu assim sobre Diego no seu blog:
“Maradona se despede tendo cumprido um papel dos mais nobres. O barato de El Pibe na África do Sul nunca foi o de ser “o treinador”. Ele foi a figuraça da Copa esbanjando bom humor, simpatia, amor pelo futebol. O carrancudo Brasil deixou que um maluco assumisse este papel…
E na derrota Maradona se portou como o verdadeiro símbolo de um futebol campeão e apaixonado, como é o argentino. Terminado o jogo, foi ao campo cumprimentar seus jogadores e adversários – coisa que Dunga não fez. E foi extremante digno e emocionante em seu discurso de despedida.
Viva Maradona! O futebol precisa de menos “seriedade” e mais autenticidade, de menos caretice e mais paixão. Ele cumpriu este papel.”

sábado, julho 03, 2010

Essa alegria e dor colossal chamada Futebol


“Triste de quem não sente a alegria monumental das grandes vitórias ou a dor, também enorme, das derrotas trágicas. Falta a essas pessoas essa maravilha chamada futebol, o amor a este que é muito mais que um jogo”. Foi mais ou menos isso que Mauro Beting escreveu há alguns meses no jornal Lance. Foi exatamente isso o que sentimos, nós, os que amam essa loucura e paixão maravilhosamente doentia chamada futebol.

Como não ter a garganta atravancada com a eliminação desses valentes e bravos paraguaios, que enfrentaram de igual para igual a poderosa Espanha e sua máquina de tocar a bola com arte? Como não sentir a decepção de Cardozo, que perdeu aquele pênalti e agora se esconde com a camisa no rosto, na dor de quem sabe que nunca mais vai esquecer seu erro?
Como não ficar encantado, por outro lado, com a magistral jogada desse apaixonado pela bola chamado Iniesta, que envolveu os paraguaios até deixar a bola na zona mortal para sua seleção fazer o gol da vitória?
Como não se emocionar ao ler hoje a história do paraguaio Valdez, descobrir que ele é um legítimo índio de uma pequena aldeia e que morou dois anos debaixo das marquises de um estádio pequeno no seu país até ser descoberto por um olheiro alemão e ir embora para a Europa? Como não achar belo o que ele faz todo mês: enviar 10 mil euros mensais não apenas para sua família, mas para as 200 pessoas de sua pequena comunidade?
Como não admirar de novo esse tão digno e gigante das traves, o goleiro vencedor Casillas, que foi consolar Cardozo ao vê-lo com a camisa cobrindo o rosto?
Como não imaginar a tristeza do Paraguai inteiro que estava nas ruas hoje, do pequeno Paraguai que teve dois terços de sua população massacrados há dois séculos, em guerras que arrasaram o país (então uma potência emergente econômica) e das quais o pequeno país jamais se recuperou?
E como não vibrar com essa indescritível garra charrua do também pequenino Uruguai, desse Uruguai de uma classificação quase sobrenatural para a semifinal após seu atacante, Suarez, fazer uma defesa no último minuto, defesa que lhe rendeu uma expulsão e o pênalti depois perdido por Gana?
Como não perceber que poucas coisas na vida emocionam mais que a bola ao ver o choro e dor de Suarez se transformar em explosão de alegria em segundos?
Como não ser contagiado por esse imenso Diego Forlán e seu gol de falta espetacular que manteve seu Uruguai vivo, esse Forlán que é um dos poucos monstros dessa Copa junto desse matador psicótico do gol, o espanhol Villa?
Como não ficar aflito, desesperado mesmo ao saber que El Loco Abreu vai bater o pênalti decisivo para a Celeste, e falar com meu pai, “não, ele não vai dar a cavadinha, não, não... ele deu!, gooooooolllllllllllllllllllllllll do Uruguai!!!!!!!” Sim, não existe homem mais louco que Loco Abreu, o cara deu a cavadinha (aquele toque sutil, um tapinha na bola) na Copa do Mundo!!!!!!!!
E como não ficar feliz com a alegria do treinador deles, esse tão educado e genial Oscar Tabarez, um cara tão respeitado em seu país que é chamado de El Maestro até pelos jornalistas não só por ser um ex-professor de escola primária?
E como não admirar essas maravilhas que são as ações em conjunto, bola de pé em pé tratada com carinho e fome, dessa impressionante Alemanha???
Como não perceber a arte de Ozil, um verdadeiro pintor clássico de passes e toques mágicos; desse homem-esquadra que avança como se fosse um time inteiro, Schwzensteigen; desse menino cavalo puro sangue de estocada final de arqueiro, Muller?
E como não admirar a hombridade e humanidade de Maradona no final do massacre, que cumprimentou um a um seus jogadores ainda no campo e ainda deu uma emocionada entrevista coletiva? Sim, Diego errou na escalação, Verón não podia ficar fora, seria o equilíbrio da seleção, e Higuaín não fazia nada, mas Maradona será sempre um herói do futebol, exatament ao contrário de Dunga.
Como não parabenizar a cabeça e inteligência dos diabólicos carecas envenenados Snejder e Robben, que envolveram o pequeno brasil de dunga?
Isso é Copa do Mundo, isso é futebol, isso é paixão, arte e garra. O resto é a covardia e burrice da seleçãozinha de dunga e seus soldadinhos obedientes e tão nervosinhos quanto seu chefinho mais ignorante que chefe idiota.
O resto é essa falta de paixão pela vida dos que não se deixam emocionar pelas loucuras do futebol.