sexta-feira, outubro 29, 2010

A voz do povo

Néstor Kirchner não era um santo, mas foi o homem mais que corajoso e determinado que tirou seu país de uma crise generalizada total, tanto econômica como política e social. Deu um calote histórico no FMI, aquela instituição que era endeusada pelos poderosos antes de desabar em suas mentiras e desmandos na grande crise que arrebentou com o neoliberalismo predador; recuperou a economia argentina e fez demais pelos direitos humanos. Foi o único presidente eleito que teve culhões para colocar os militares assassinos no banco dos réus. Vai ver é por isso que os poderosos brasileiros criticam Kirchner, pois em nosso país os militares assassinos e seus colaboradores políticos não sofreram nada e, pior, muitos trabalham em Brasília...
O velório de Néstor Kirchner levou centenas de milhares de argentinos à Plaza de Mayo e à Casa Rosada (na Globo, o número foi diminuído para "milhares"). Tradução: o povo tomou 25 quarteirões do centro de Buenos Aires. O povo comovido e triste pela morte do presidente que permitiu o livre acesso do povo à Plaza de Mayo (os presidentes anteriores desciam a porrada...) para qualquer manifestação política e social.
Não acreditem, então, quando dizerem que os Kirchner (sim, há também Cristina, a atual presidente, sua esposa que terá a dura missão de continuar sem seu grande inspirador e articulador) davam dinheiro aos manifestantes. Esta é mais uma das mentiras estrategicamente elaboradas pelos poderosos (no caso, os poderosos do campo e da oposição), especialmente por esse jornal de extrema direita chamado Clarín. O mesmo Clarín, que na voz de um de seus diretores, foi o escolhido para escrever sobre Néstor no Estadão de hoje.
Contra as mentiras da grande mídia e dos opositores dos Kirchner, busco as palavras do jornal Página 12, um dos raros jornais que não é da direita na América do Sul:
"Es un dato del kirchnerismo, las Madres, las Abuelas, los movimientos sociales son locales ahí desde hace siete años. Antes “paraban” en la Plaza, clamando en la vereda de enfrente. Los cooptaron, dicen los que nada entienden. Les dieron plata, añaden. En realidad, atendieron sus reclamos, consagraron leyes y también les asignaron módicas partidas del presupuesto. Las ONG gozan de buena fama en el establishment a condición de que no batallen por los pobres, ni por la verdad y la justicia. Eso cambió en esta etapa, entre otras variables."
Sim, Kirchner não era santo, mas foi um presidente excepcional.
Por isso a Argentina parou anteontem e ontem. Fosse ele uma farsa ou um tirano, o povo jamais tomaria as ruas para homenageá-lo e para consolar sua viúva e presidenta.

sábado, outubro 23, 2010

O ano que não termina



Eram duas turmas, 8ª e 3º ano, que o espírito daqueles tempos e pessoas - tão loucos quanto reais e intensos - um dia uniu na maior viagem de formatura de todos os tempos. Perto do Zontes´99 e seus 8 avassaladores dias e noites na Bahia as outras viagens de escolas parecem simples baladas exportadas ou adolescentes que esqueceram o que é uma amizade de verdade. Aliás, talvez nunca mais exista um grupo tão unido como aquele terceirão de 99, eles e elas querendo e batalhando para ficarem juntos de verdade a cada fim de semana que chegava.
Tudo começou numa pizzaria, encontros quase semanais, e não terminou em pizza como tantas outras turmas que não têm a garra de quererem se entender e ficarem juntos. Sim, os anos são implacáveis, mas com a turma de 99 o tempo parece ser apenas uma saudade viva sempre acesa.
Saudade viva é querer encontrar esses caras loucos (mas todos já bem encaminhados em suas carreiras) e essas moças no mesmo caminho que não perdem a sensibilidade e beleza, de dentro e fora.
Saudade viva foi abraçar e conversar com muitos ontem com afeto, com o interesse sincero que demonstram estes agora homens e mulheres que não esquecem os adolescentes apaixonados e transparentes que um dia foram.
Saudade viva foi escutar e ver a beleza verdadeira de tão simples quanto grandes “senta aqui, vamos conversar”.
Saudade viva foi perceber o cuidado e o carinho de tantos ontem. Sei lá, sempre dá um pouco de apreensão de ir a encontros como esse e ser visto como aquele antigo professor romântico e imaturo demais. Mas ontem foi bom demais trocar ideias e afetos de coração e perceber que aquela família que um dia forjamos juntos ainda sobrevive.
Ainda e sempre, porque 1999 parece que jamais vai terminar.
O espírito e coração daquele ano é um túnel do tempo que nos leva de volta a um lugar mágico: qualquer lugar em que estivemos juntos naquele ano que pareceu durar uma década. Com os sentimentos que tínhamos naquele ano.
Sentimentos que voltam à tona a cada reencontro.
E é bacana demais ver as meninas de ontem hoje esposas, os moleques loucos de ontem hoje guerreiros e um até marido e os loucos pela vida de ontem hoje ainda loucos, não só pela vida hehe.
É bacana saber que tem gente que não esquece.
Gente especial, maravilhosa, única.
Gente que não envelhece na alma.
Forever Young, diamonds are forever já dizia a velha canção.
Já diziam seus jovens e sempre jovens corações.
Não deixem a vida afastá-los.
Construam suas famílias e sonhos, mas lembrem sempre de um número
de uma turma
de um símbolo
de um amor, inesquecível, chamado
1999
o ano que não termina nunca.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Vida Real, O Encontro I

(Essa foi a mais bela foto, de pessoas que conheci, que simboliza bem o que é compartilhar)

Por que ir nesse encontro pensado por meu desejo de encontrar pessoas especiais reais, e não meros retratos e suas palavras despejadas numa telinha?
Porque o mundo virtual está se apoderando de algumas palavras que fazem muito mais sentido só quando elas existem de carne e osso (in flesh and blood, como diriam os gringos do passado, aqueles dos westerns e não esses criadores lunáticos obsessivos de novos sites e tecnologias). Uma dessas palavras chama-se compartilhar. Talvez seja a palavra-chave.
Uma coisa é compartilhar links na internet e passar para os “amigos” (meros contatos e conhecidos, talvez). Outra, bem diferente, é compartilhar momentos.
Momentos só existem quando uma pessoa está diante da outra.
Momentos só existem quando vemos um sorriso e gostamos dele.
Momentos só serão lembrados intensamente depois como inesquecíveis se vemos com nossos olhos, se escutamos a voz humana falada diretamente, se presenciamos um gesto ou fato na hora em que ele ocorre, ao vivo.
Ninguém compartilha nada profundamente enquanto está com a bunda sentada numa cadeira em frente a uma telinha longe do sol, do frio, da chuva e do vento. Longe das outras pessoas. Longe das mãos que apertam outras mãos. Longe dos dois braços que se abrem como um coração para envolver outra pessoa. Longe desta incomparável experiência que é ver a outra pessoa e falar com ela pessoalmente.
Longe de um gesto tão banal mas tão simbólico e poderoso como erguer um copo para esse fantástico ritual chamado brinde.
Ninguém brinda com um amigo por trás de uma telinha.
Por isso, meus amigos (as), meus irmãos (ãs) e amores, espero vocês nesta sexta-feira para erguermos um brinde à vida real e à nossa camaradagem real.
Hoje cedo surfei belas e longas ondas e como sempre elas lavaram minha alma, mas não completamente. Chegou uma hora em que, mesmo com o mar em boas condições, resolvi sair. Surfar sozinho tem prazo. Porque falta alguém ao lado.
Por isso peguei minha derradeira onda da session, fiz o sinal da cruz e fui embora.
Hoje cedo só lavei a alma completamente quando, antes de subir a serra, parei no canal 2 para apertar a mão de um amigo, de um filho, de um irmão. Meu ex-aluno, hoje professor de surf.
E lembrar que anos atrás a primeira vez em que ele surfou na vida foi com uma prancha minha.
- E aí, meu irmão?
- E aí, mestre?
- Só dei uma parada aqui, já tô indo embora...

O papo é breve, preciso voltar a Sampa para trabalhar mas então ele fala aquelas 3 palavrinhas mágicas;
- Pô, faz um cinco aí.

Faz um cinco, moçada. Mesmo quem já tiver um compromisso, dá uma passadinha lá no Seu Justino nessa noite de 15 de outubro. Façam uns cinco minutinhos.
Compartilhar, moçada, é tudo.
Ergo então um brinde a você que se importou e leu esse texto.
Obrigado.

segunda-feira, outubro 11, 2010

Rádio Pão na Chapa - Direto do SWU

(Brincadeira séria em forma de podcast. SWU e os imbecis que gostam de voar com seus carros. Qual a conexão? Aperta o play e escuta!)

SWU: Golpe ecológico


São tantas as críticas do público que enfrentou todo tipo de perrengue no Festival SWU que fica difícil dar conta de tantos erros e descaso da organização do evento. Só sei que ficou óbvio que os inventores deste festival usaram bem o conceito de "sustentabilidade" e defesa do meio ambiente para vender cotas de patrocínio para seu festival mas não para transformar isso em verdade durante o evento.
Queria saber quais os benefícios ambientais que os organizadores do SWU vão deixar para a população de Itu, sede do evento. Fácil responder: nenhum, ainda mais porque alugaram uma fazenda particular, a Maeda. Isso é bem diferente do que fazem outros festivais famosos por relacionarem a música com a defesa da natureza, como o Lollapallooza, nos EUA (os organizadores deste festival cuidam o ano todo da manutenção do parque onde ocorre o evento) e o Glastonbury, na Inglaterra.

Bom, alguns dos absurdos do SWU você lê abaixo, com alguns depoimentos de quem foi, publicados no blog do Estadão (dei um tapa na ortografia, por isso não tem erros):

Aline, sobre a megaconfusão e incapacidade dos organizadores do festival:
“Não vi nenhum segurança em volta dos impecilhos que tinham no meio do caminho até a frente do show (alguém poderia explicar o que eram aquelas tendas brancas que tampavam a visão do meio do palco do show?)... Não vi nenhuma ambulância, nenhum segurança além da porta, nenhum bombeiro, nenhuma pessoa de limpeza em nenhum lugar, nem tinha latões de lixo suficientes.
Não tinha água com os pouquíssimos vendedores que circulavam pelo show.
No final, não tinha nenhum tipo de venda no caminho super congestionado de saída, assim como nenhum funcionário que orientasse saída de carros, ônibus e pessoas. Tudo misturado. Aí falam: ahhh, festival de fazenda, com esse preço, dá pra imaginar onde vai o dinheiro. Sustentável?? Tem que rir. Outra questão que essa “organização” deve pensar melhor antes de cinicamente falar que os fãs são raivosos, ou que a banda (Rage Against) incitou (a invasão da área vip premium) é colocar uma baita faixa gigantesca de PISTA PREMIUM num show de massa e zuar com o campo de visão de quem tava só do meio pra trás. Burrice, coisa de gente inexperiente em eventos grandes. É a única explicação.”

Paola, que pagou uma fortuna pela área vip premium e acabou em área comum:
“O show (do Rage Against) entrou sim pra história, entrou pra história pela desorganização do evento!
É extremamente irresponsável a maneira como foi organizado esse festival, onde estavam as grades sólidas e os seguranças para evitar a invasão da área vip? Essa invasão poderia ter acarretado sérias conseqüências, e se os organizadores e a banda não tivessem conseguido acalmar o público? Quantos seriam esmagados? Quantos pisoteados??? Seria um risco tanto para os que estavam na pista comum quanto para os que estavam na area premium. É incorreto deixar a área de frente para o palco reservada para o público vip, e isso deveria ter sido pensado pelos organizadores, que agiram com muita irresponsabilidade ao posicioná-la neste local, expondo pessoas ao risco iminente da invasão.Injusto com quem pagou 1680 reais para ter um pouco de privilégio e no final é esmagado e não consegue aproveitar o show.”

Adriana, sobre o “slogan popular” apropriado para o SWU:
“E para aqueles que estavam assistindo pela Multishow: eles interromperam a transmissão porque o público gritava numa só voz: “SWU, vai tomar no c…” E lógico, cortaram a transmissão! Gritamos porque por 2 vezes ficamos sem som… e gritamos por causa do péssimo esquema de segurança. Foi um absurdo ver a horrível logística dessa SWU para levar as pessoas de volta: filas quilométricas de pessoas que pagaram tão caro para um serviço porco. Em plena madrugada, um frio congelante e as pessoas à espera de um transporte decente. Por isso que gritamos… por isso que ficamos indignados: porque é inadmissível ver tudo isso diante de um preço absurdo que pagamos para assistir nossa banda favorita.”

Pedro Hernandez, sobre sua odisseia na hora de ir embora:
“Como havia estacionado meu carro no kartódromo, tinha que pegar um busão para ir da Maeda até o tal lugar (uns 10km). RIDÍCULO!! Fiquei das 0h as 5h para conseguir chegar ao carro passando maior frio!! A galera acendendo fogueiras pra se aquecer e tudo mais. Organização totalmente amadora. Tenho pena de quem está acampando lá. Só enchendo a cara para não ligar muito para o total desconforto!!"
 
PS – Música? Rolaram alguns bons shows, mas um festival com 90 atrações e só duas de peso, Rage Against (disparado o maior nome) e Kings of Leon, merece ser chamado de festival? O pior é aguentar a parcialidade da Globo anunciando até Jota Quest como grande banda (imagina o que é banda menor no conceito dos caras...) e atirar nomes como Mallu Magalhães e outras dezenas de insossas “atrações”. E pensar que quando surgiu a notícia da festival os caras tentaram vendê-lo como o Woodstock brasileiro...

sábado, outubro 09, 2010

O motorista brasileiro é um imbecil*

"A gente vive esse delírio de que ser dono de um carro é o coroamento do sucesso individual". (Roberto da Matta, maior antropólogo brasileiro)
 Típica cena nas ruas paulistanas: saio de casa tranquilão e antes da primeira curva que vou fazer com meu carro lá vem o Imbecil. O cara gruda na traseira e começa a pressionar querendo passar como se estivéssemos em uma corrida de Fórmula 1, e eu, com um carro muito mais lento – um Clio lento mesmo, motor 1.0 -  fosse obrigado a dar passagem ao bólido mais rápido. Olho pelo retrovisor e nem consigo identificar qual é a máquina, pois nunca tive interesse nenhum por marcas de carros. Eis que chega a curva e o babaca me ultrapassa, usando a contramão, claro. Só que o imbecil, dessa vez, vai se dar mal, o que revelarei depois dos detalhes.
Detalhe 1: estamos em pleno domingo de eleição, sem trânsito nenhum. Detalhe 2, e típico em muitas dessas situações: o cara vai estacionar poucas centenas de metros depois e me pergunto? Qual a necessidade de voar se vai parar logo ali? Respondo: eles, os babacas dos volantes, sentem-se mais homens acelerando e ultrapassando os outros.
Detalhe 3: Percebo, finalmente que o carro é uma BMW. Não me perguntem o modelo, não tenho a mínima ideia. E esse dado, o carro de bacana confirma mais uma situação típica: o babaca que acha que pode passar por cima dos outros só porque tem mais dinheiro (MUITO mais, obviamente). A frase que o animal deve ter pensado e falado por trás de seus vidros escurecidos e blindados? “Tira essa merda da frente”.
Volto a cena pra trás, antes dos detalhes: digo com todas as letras um palavrão pra mim mesmo após ele passar. Por quê? O babaca me ultrapassa justo em cima da maior valeta que conheço em toda São Paulo. O barulho que faz sua máquina é colírio para os ouvidos, uma das maiores porradas que já escutei de um fundo de carro naquela valeta maravilhosa.
Pena que a lição da valeta seja rara e os babacas metidos a pilotos ou simplesmente que se acham os donos do mundo seguem cometendo os maiores absurdos nas ruas e estradas.
Pra mim são tão selvagens e estúpidos como muitos motoboys. Só que os loucos perigosos das motos pelo menos têm a “desculpa” que são pressionados por seus patrões para fazer um número absurdo de entregas em pouco tempo.
Junte esses bacanas metidos a Schumacher e os motoboys e aposto que estarão os maiores causadores de acidentes nas ruas (nas estradas há ainda o terceiro elemento sinistro da equação assassina do trânsito, os motoristas de caminhões imprudentes e/ou pressionados, como os boys, a correr para entregar mercadorias).
Acidentes? No Brasil morrem todos os anos 40 mil pessoas em acidentes no trânsito, mais do que na maioria das guerras mundo afora.
Esse é o preço que o país paga por ter se vendido à indústria automobilística lá na metade do século XX e por ter investido tão pouco no metrô e no trem.
E há ainda o preço que nós, paulistanos, pagamos por sermos tão dependentes dos carros. E egoístas, pois a maioria anda em seus carros sozinho. E motorista sozinho é um convite a se autoestimular com a própria imbecilidade.
Sim, ando geralmente sozinho, faço a mea culpa, mas pelo menos nunca tive o estúpido vício de meter o pé no acelerador nem de costurar ou pressionar os outros. O máximo que faço algumas vezes, que aprendi com o grande amigo Igor?: se tem um babaca colando atrás em um lugar onde não há como passar, o lance é reduzir a velocidade e segurar o animal e sua fúria.
Bom, quem quiser ler mais sobre as idiotices cometidas por causa de um carro, leia a entrevista com o antropólogo Roberto da Matta na Trip deste mês. Ele ainda detona a necessidade de status e falsa felicidade que muitas máquinas trazem aos seus donos. O texto pode ser lido aqui
* A generalização do título é quase verdadeira, pois no Brasil podemos afirmar que a maioria porta-se como um animal atrás de um volante.
PS - Leiam o comentário da Thaína em que ela mostra como a alta velocidade dos que pisam fundo no acelerador tem a ver com o seu baixo desempenho sexual. Sim, isso é pesquisa feita na Alemanha e que ajudou o governo a combater a estupidez no volante!

segunda-feira, outubro 04, 2010

Aprende, Brasil!

(Como me recuso a escreve sobre a lamentável entregada proposital do Brasil contra a Bulgária – perdemos por ordens do Bernardinho e conivência de nossos atletas – busco esse fantástico texto sobre os atletas e homens que merecem nosso respeito e admiração neste Mundial, os heroicos camaroneses. Enquanto o Brasil manchou o esporte e envergonhou o mundo, Camarões fez exatamente o contrário)
Um momento de ouro do esporte
Por Daniel Bortoletto (Lance, 2/10)
Verdadeiros leões indomáveis. O apelido da seleção de futebol, que encantou o mundo na Copa do Mundo de 90, na Itália, pode perfeitamente ser usado pelo time de Camarões também no vôlei, que no mesmo local mostra seu cartão de visitas para o planeta no Mundial.
A épica atuação na derrota por 3 a 2 para os Estados Unidos, atuais campeões olímpicos, me fez repensar como ver o esporte. Pode parecer exagero, mas os assuntos mais comentados nos últimos dias aqui na Itália foram negativos: regulamento feito para facilitar a vida dos donos da casa, fórmula que beneficia algumas derrotas e a possibilidade de seleções entregarem jogos por cruzamentos mais fáceis nas fases seguintes. Coisas que não combinam com o esporte que os camaroneses mostraram na quadra do Pala Rossini, em Ancona.
Vôlei de gente que joga por amor em quadras de terra no país africano, com salários irrisórios, que canta o hino abraçado com o companheiro do lado, com os olhos marejados, que bate no peito para agradecer pelo apoio dos compatriotas nas arquibancadas, que dá peixinho pela vitória em um rally disputado... E, para demonstrar o respeito por quem o aplaudiu de pé após a derrota histórica, sai de quadra diretamente para abraçar, um a um, os torcedores do país que ali estavam. E depois cantam e dançam juntos. Uma cena que nunca havia visto na vida. Que emociona pela pureza, como deveria ser o esporte em todos os momentos.
Pureza que os jogadores de Camarões voltaram a demonstrar na saída da quadra. Ídolos naquele momento especial, que vai marcar mesmo com derrota, eles voltaram à condição de fãs e foram pedir autógrafos e fazer fotos ao lado dos rivais americanos. O oposto Stanley era o mais assediado. Mostrando também como um jogador renomado deve se portar, atendeu a todos e admitiu:
- O esporte é fantástico por permitir experiências assim.
O técnico Peter Nonnenbroich, alemão de nascimento e camaronês por adoção, abusou da sinceridade para explicar o que seu time havia acabado de fazer;
- Podemos jogar mais dez vezes contra eles e nas dez não iremos repetir este feito. Se eu dissesse que iria levar o jogo com os campeões olímpicos para o tie-break, há alguns dias, vocês não iriam acreditar. E com razão.
Obrigado, sorte, por me permitir vivenciar esse momento.
PS - Camarões já foi eliminado, mas sua lição de amor ao esporte, coragem e dignidade jamais será esquecida.

domingo, outubro 03, 2010

Esporte e garra contra o tráfico

(Mais uma profunda, bela e vital reportagem de Régis Rolsing, no Esporte Espetacular de hoje, agora sobre o poder do esporte e dos projetos sociais para tirar meninos do tráfico de drogas no Rio. E reparem como as canções do U2 e da Madonna, que rolam na matéria, são perfeitas como retrato da miséria e da esperança reinante na favela de Vila Cruzeiro.)