sábado, outubro 09, 2010

O motorista brasileiro é um imbecil*

"A gente vive esse delírio de que ser dono de um carro é o coroamento do sucesso individual". (Roberto da Matta, maior antropólogo brasileiro)
 Típica cena nas ruas paulistanas: saio de casa tranquilão e antes da primeira curva que vou fazer com meu carro lá vem o Imbecil. O cara gruda na traseira e começa a pressionar querendo passar como se estivéssemos em uma corrida de Fórmula 1, e eu, com um carro muito mais lento – um Clio lento mesmo, motor 1.0 -  fosse obrigado a dar passagem ao bólido mais rápido. Olho pelo retrovisor e nem consigo identificar qual é a máquina, pois nunca tive interesse nenhum por marcas de carros. Eis que chega a curva e o babaca me ultrapassa, usando a contramão, claro. Só que o imbecil, dessa vez, vai se dar mal, o que revelarei depois dos detalhes.
Detalhe 1: estamos em pleno domingo de eleição, sem trânsito nenhum. Detalhe 2, e típico em muitas dessas situações: o cara vai estacionar poucas centenas de metros depois e me pergunto? Qual a necessidade de voar se vai parar logo ali? Respondo: eles, os babacas dos volantes, sentem-se mais homens acelerando e ultrapassando os outros.
Detalhe 3: Percebo, finalmente que o carro é uma BMW. Não me perguntem o modelo, não tenho a mínima ideia. E esse dado, o carro de bacana confirma mais uma situação típica: o babaca que acha que pode passar por cima dos outros só porque tem mais dinheiro (MUITO mais, obviamente). A frase que o animal deve ter pensado e falado por trás de seus vidros escurecidos e blindados? “Tira essa merda da frente”.
Volto a cena pra trás, antes dos detalhes: digo com todas as letras um palavrão pra mim mesmo após ele passar. Por quê? O babaca me ultrapassa justo em cima da maior valeta que conheço em toda São Paulo. O barulho que faz sua máquina é colírio para os ouvidos, uma das maiores porradas que já escutei de um fundo de carro naquela valeta maravilhosa.
Pena que a lição da valeta seja rara e os babacas metidos a pilotos ou simplesmente que se acham os donos do mundo seguem cometendo os maiores absurdos nas ruas e estradas.
Pra mim são tão selvagens e estúpidos como muitos motoboys. Só que os loucos perigosos das motos pelo menos têm a “desculpa” que são pressionados por seus patrões para fazer um número absurdo de entregas em pouco tempo.
Junte esses bacanas metidos a Schumacher e os motoboys e aposto que estarão os maiores causadores de acidentes nas ruas (nas estradas há ainda o terceiro elemento sinistro da equação assassina do trânsito, os motoristas de caminhões imprudentes e/ou pressionados, como os boys, a correr para entregar mercadorias).
Acidentes? No Brasil morrem todos os anos 40 mil pessoas em acidentes no trânsito, mais do que na maioria das guerras mundo afora.
Esse é o preço que o país paga por ter se vendido à indústria automobilística lá na metade do século XX e por ter investido tão pouco no metrô e no trem.
E há ainda o preço que nós, paulistanos, pagamos por sermos tão dependentes dos carros. E egoístas, pois a maioria anda em seus carros sozinho. E motorista sozinho é um convite a se autoestimular com a própria imbecilidade.
Sim, ando geralmente sozinho, faço a mea culpa, mas pelo menos nunca tive o estúpido vício de meter o pé no acelerador nem de costurar ou pressionar os outros. O máximo que faço algumas vezes, que aprendi com o grande amigo Igor?: se tem um babaca colando atrás em um lugar onde não há como passar, o lance é reduzir a velocidade e segurar o animal e sua fúria.
Bom, quem quiser ler mais sobre as idiotices cometidas por causa de um carro, leia a entrevista com o antropólogo Roberto da Matta na Trip deste mês. Ele ainda detona a necessidade de status e falsa felicidade que muitas máquinas trazem aos seus donos. O texto pode ser lido aqui
* A generalização do título é quase verdadeira, pois no Brasil podemos afirmar que a maioria porta-se como um animal atrás de um volante.
PS - Leiam o comentário da Thaína em que ela mostra como a alta velocidade dos que pisam fundo no acelerador tem a ver com o seu baixo desempenho sexual. Sim, isso é pesquisa feita na Alemanha e que ajudou o governo a combater a estupidez no volante!

Um comentário:

  1. É por essas e por outras que eu só uso o meu carro aos finais de semana. E, assim mesmo, só quando é necessário ou vital.

    Durante a semana enfrento a Linha Vermelha (o Inferno é aqui!), apesar dos tantos babacas-estressados-mal educados que não sabem o que significa a palavra gentileza.

    Gente imbecil tem em toda parte, Zé.

    Eu não revido quando me provocam. E acho extremamente deselegante bater boca (dentro ou fora de casa). Procuro respeitar quem tem pressa.

    Mas, para não correr o risco de ser tão grosseira quanto os que me atropelam todos os dias, eu acordo e saio de casa com duas horas de antecedência.

    No trânsito ou no metrô, eu não discuto com ninguém. Quer me fechar e me ultrapassar? Ótimo, fique a vontade. Quer entrar no meu lugar, no vagão? Vá em frente.

    E, como sei que tem muita gente que usa o carro como arma, prefiro dar passagem, sempre que um imbecil num carrão demonstra impaciência comigo e meu Kazinho (1.0 também).

    Ah, e uma coisa que a Rê me contou. Quando ela morava na Alemanha o Governo sofria muito com a quantidade de mortes por acidentes em estradas - ainda hoje há muitas mortes porque nem todos os estados alemães aplicam leis que limitam a velocidade. A galera sempre curtiu usar e abusar do acelerador.

    Pois bem. Para minimizar as mortes, foi encomendada uma pesquisa que revelou que a velocidade que um homem dedica as pistas é inversamente proporcional ao seu desempenho sexual.

    Veicularam na mídia uma campanha em que um carrão passava a milhão e uma menina linda e com ar de desdém fazia o sinal do professor Raimundo, sabe?! As mortes foram drasticamente reduzidas.

    Da próxima vez que um babaca num carrão tentar te ultrapassar, lembre dos resultados da pesquisa e aja com bom humor, haha.

    Beijo.

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