quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Sk8 Longboard – Porque a vida pode ser completa


     Basta uma breve session, breve apenas na contagem dos minutos, que a nossa sanidade contra a loucura e pressão da metrópole está preservada. Mas madrugar é preciso. Para fugir do crowd de carros, no longboard em ladeira, acordar cedo (não tanto como no surfe, por exemplo) é fundamental. Só assim conseguimos uma descida limpa, sem carros querendo nos ultrapassar. 
     Só assim a avenida torna-se uma imensa e imaculada tela de asfalto pronta para receber as linhas de nossa pintura viva em ação. Cedinho é só chegar lá em cima e apertar o play mais vivo e real que existe, aquele disparado com os pés. 
     Logo é descer-voar. É dançar no balanço das curvas ou tornar-se um homem-bala em linhas retas supersônicas. É chegar lá embaixo leve, pássaro humano que fugiu das gaiolas da rotina urbana ou das drogas tecnológicas que fazem muitos passarem horas com a cabeça e olhos baixos, enfiados em celulares, notebooks, redes sociais virtuais, joguinhos e outros aparelhinhos viciantes. 
     Logo é subir morro acima até o pico de novo. Subir-sonhar tranquilão, mente esvaziada das impurezas e durezas da urbe opressiva. Subir com o brinquedo debaixo do braço, olhando pro céu, cumprimentando os cachorros das casas, os poucos caminhantes (em geral, pessoas mais vividas, experientes, sábias) e alguns seres vitais para nossa super tela de asfalto - muito melhor que a tv de plasma, lcd, super hd ou sei lá o quê estar sempre limpinha e lisa: os garis que varrem a sujeira da pista dos sonhos. 
     O que pode ser mais completo que poder descer e subir com tamanha simbiose entre a adrenalina da queda livre e a paz da ascensão de volta ao pico ou plataforma de lançamento? Sim, alguns carros nos lembram da insanidade da vida (?) moderna. Mas eles passam. Os longboarders ficam. 
     Subiremos de novo. 
     E desceremos de novo a nossa maravilhosa e paradoxal ladeira que é, no peito e na alma, uma elevação. 
     Amém.
     
     * Foto afanada do bacana site Skateweb

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Requiém para o bar de nossas vidas

Não é a alegria que é inspirada pelos bares. É o contrário. O bar certo - sem frescuras, sem pose, sem excessos na decoração e monetários - o bar dos nossos afetos é que produz a alegria. Porque o bar certo é um aconchego de cadeiras, mesas e o nosso canto, lanche e bebida preferida. E, claro, os amigos do peito que adoram o mesmo lugar. E o que fazemos quando baixamos no nosso bar e ele fechou?
Lembro que o amigo irmão já tinha me falado que ele ia fechar. Mas a gente não acredita, ou pensa que vai demorar. Como pode o nosso bar fechar? Como um lar pode ser cerrado? A dor piora porque há alguns anos passei a frequentá-lo muito pouco, talvez machucado porque a vida seguia sofrida enquanto as pessoas pareciam tão felizes ali. Talvez porque há muito tempo que de ponto de encontro de amigos o bar tinha virado um mero esquenta pré-balada para os cada vez mais novos frequentadores. Talvez porque eu não tinha uma grande alegria pra contar, e grande alegria só pode ser um coração completado com o amor, que enfim, reencontrei. Talvez porque fosse difícil até saborear uma das mágicas deste bar: a sensação de que o tempo não passava, e de que as amizades não morriam, continuavam firmes e eternas. Sim, o tempo passava, e muitos de nós continuavam na mesma, sem ainda conquistar alguns dos grandes sonhos que um dia sonhamos juntos neste bar. Por isso, a alegria de frequentar esse templo da amizade do peito foi se tornando nostalgia. E nostalgia, a saudade da época mais louca e dos sonhos jovens mais reais, não faz bem numa mesa de bar, numa sagrada mesa de bar dos melhores amigos.
Besteira, devia ter passado lá mais vezes. Devia ter erguido mais brindes. Devia ter dado mais risadas por ali. Devia ter aceitado os convites seguidos do rei deste bar, Fernando Baccari e sua côrte de loucos nobres, no coração e caráter, Salim, Gus, Kiko e Gutão. Côrte, não, pois essa turma mais se assemelhava aos mosqueteiros do romance de Alexandre Dumas, loucos e destemidos espadachins da vida, em busca de um pouco de aventura, encontrada até num simples, idiota mas doido jogo da moedinha... Encontrada nas conversas debiloides e alegres, ou nos breves mas marcantes interlúdios em que discutíamos a vida e nossos problemas. Momentos em que um simples olhar já bastava, um olhar de compreensão que surge com mais força na nossa taberna, na nossa casa no meio da rua. No estação de parada em que esperávamos o mais importante: os amigos que amamos.
Os amigos que não nos deixaram na mão nos momentos mais duros.
Os amigos com que celebramos as maiores conquistas de nosso Tricolor. O vazio aumenta, pois além de tudo, o bar ainda era um conhecido reduto Tricolor.
Os amigos com que celebramos de forma insana a conquista da Copa de 2002. Um deles, grande Nunes, que ainda era o maior devorador dos ótimos lanches, raros em um botecão, do lugar.
Os amigos que eu fiz quando comecei a aulas, e, irresponsável que eu era, os amigos a quem eu apresentei esse bar. Talvez eu tenha errado, mas aquele bar ajudou a forjar amizades eternas, e minha falha talvez tenha virado virtude.
Porque aquele tornou-se o bar da esperança, o bar das risadas, dos brindes cheios de sentido ou sacanagem, dos apertos de mãos firmes, das conversas cúmplices e, claro, das mais variadas cenas antológicas de bagunça e comemoração, de brigas e reencontros, de uivos para a lua e gritos, quantos gritos!, de gol ou amizade.
Por isso grito, com o peito apertado e a face molhada, toda a saudade e história do bar de nossas vidas, o inesquecível bar de Seu Leo, dos garçons Sousa, Bigode, daquele outro simpático pacas, desse pessoal que nos atendia falando o nosso nome.
Obrigado por tudo, meu grande amigo, meu irmão, Samaro!!!!!