segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Pobre futebol brasileiro

Depois das férias de verão embalados pelas belas apresentações dos meninos da sub-20, eis que nós, brasileiros, nos deparamos com a triste realidade: campeonatos regionais de nível muito baixo, o ridículo e nojento episódio da Taça das Bolinhas (ridículo o papel do São Paulo, ao aceitar uma taça que não era sua de direito; nojentos os papeis de Ricardo Teixeira, que mais uma vez fez Juvenal de trouxa, e de Patrícia Amorim, presidenta do Flamengo, que primeiro atacou Teixeira e depois posou sorridente ao seu lado) e a colossal briga pelo dinheiro da televisão, com os clubes, endividados e mal administrados, brigando entre si para ver quem abre mais as pernas para a TV Globo.
Regionais? Ronaldinho Gaúcho, passeando, praticamente um ex-jogador, é campeão no Rio. Tá, fez o golaço, mas anda se arrastando. Em São Paulo, enquanto o Mirassol é líder (?!), São Paulo e Palmeiras fazem um clássico horroroso em que ambos os jogadores se preocuparam mais em dar pontapés e fazer cara feia que jogar bola. O símbolo do clássico? A expulsão estúpida de Alex Silva, no melhor estilo infantil e histérico em que Richarlyson era mestre. Em Minas, o América é líder, mas ali, pelo menos, o Cruzeiro vem fazendo uma belíssima estreia na Libertadores, como o Inter também faz e coisa que o vergonhoso Corinthians de Ronaldo não fez.
Pobre futebol brasileiro, e nem falei de como andam os preparativos para a Copa de 2014... Aliás, não falei porque não existem preparativos...
PS - Pô, grande Maurio, até o seu Figueira entrou nessa?! Ressuscitaram o Criciúma, nas trevas desde os anos 90!

terça-feira, fevereiro 22, 2011

My Hero


Pra me desculpar sobre a demora pra atualizar o blog, um videozinho sobre o mito que me fez amar o surf. Que me fez perceber toda a arte e estilo possível no surf de alta performance, mas com uma alma ainda pouca atingida pela maioria dos tops de hoje. Tom Curren, o homem recluso avesso aos holofotes da mídia e fama. O homem que virava baterias no finalzinho, porque as ondas vinham até ele. O maior artista-surfista de todos os tempos.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Que Ronaldo seja Eterno

Abatido, emocionado, ele falou devagar, quase sem conseguir falar. A hora da despedida é sempre um silêncio interior insuportável. Assim deixou o futebol o maior artilheiro da história das Copas (15 gols), campeão do mundo e artilheiro em 2002, três vezes melhor jogador do mundo, campeão em todos os grandes clubes porque passou e ainda, sua obra de arte maior, um colecionador que gols maravilhosos que deveriam ocupar uma sala inteiro de qualquer grande museu de arte do planeta.
Mas Ronaldo falou, e entre agradecimentos aos que o apoiaram e o criticaram em sua carreira, ele lançou a bomba de que não conseguia emagrecer por ter hipo-tiroidismo. Já está sendo criticado por isso, por não ter revelado ou até por isso ser mentira, pois a doença é séria demais (traz problemas no coração, cansaço fácil etc) e incompatível com a vida de atleta.
Não entrarei em mais uma polêmica extra-campo sobre Ronaldo, que fora da sua tela verde protagonizou várias confusões. Prefiro ressaltar o craque que foi dentro de campo, do jovem de arrancadas e dribles em série até gols de placa até o veterano que soube transformar a velocidade e a explosão em inteligência e um chute colocado mortal.
Prefiro falar do homem exemplar que foi dentro de campo, pois alguém lembra de Ronaldo menosprezando um adversário ou revidando um pontapé? Alguém lembra de Ronaldo brigando em público com algum companheiro ou treinador? Alguém lembra de um craque que, no crepúsculo da carreira, foi homem e humilde o suficiente para assumir culpas e derrotas como as que sofreu no Corinthians de 2010 e início de 2011?
Prefiro falar do guerreiro de verdade, bem diferente dos guerreiros daquela cerveja. O guerreiro que após enfrentar a pior contusão possível para um jogador de futebol – os ligamentos estourados do joelho – teve ganas e paciência para encarar uma recuperação terrível, às vezes contra a opinião de especialistas. Como o médico que disse que ele jamais voltaria a jogar futebol depois da segunda lesão grave no joelho (ou terceira? Não me lembro mais, já que foram tantas).
Palavrinha tão banalizada hoje, utilizada até nesses livros picaretas de auto-ajuda, Superação é o verdadeiro nome deste Fenômeno e homem decente dos gramados.
Só tenho a agradecer as tantas alegrias, admiração e bons exemplos, sim, que Ronaldo me deu. Bons exemplos que sempre inspiraram jovens como meus alunos, que arregalavam os olhos para as histórias e voltas por cima de R9 com a mesma emoção que só demonstram quando as histórias que passo pra eles são de Ayrton Senna.
Como bem afirmou uma vez o ex-gênio Falcão, “o jogador de futebol é o único homem que morre duas vezes; a primeira vez é quando para de jogar”, mas um dos anúncios de Ronaldo hoje, torço para que se confirme.
Ele afirmou que um dos trabalhos que comandará agora é um instituto social chamado “Criando Fenômenos”.
Que Ronaldo, como faz a irmã de Senna, realmente não seja esquecido nunca agora que propiciará uma bela formação como cidadão e uma chance de futuro no esporte para milhares crianças carentes deste país.
E Ronaldo parece mesmo que tem carinho especial pela criançada, dos fãs que sempre atendeu com carinho e dos próprios filhos, programados ou não. Porque a Ronaldo bastou ver uma foto de sua mais nova cria para assumir o garoto no ato; bem diferente do que fez o maior jogador de futebol de todos os tempos... Por isso sinto que Ronaldo será realmente um verdadeiro craque e homem Eterno.

sábado, fevereiro 12, 2011

Como sair da cordas? (O vencedor)

Grandes filmes nos arrebatam pela força e drama de seus personagens. Personagens que, na pele de grandes atores, nos emocionam porque nos reconhecermos em seus sonhos, dramas, qualidades e falhas. Por isso O Vencedor (The Fighter é o título original, denominação bem mais precisa) bate fundo no peito de todo aquele que entrou num rolo compressor de quedas. Derrotas que vão nos minando e machucando, e das quais nos matamos para cicatrizá-las e superá-las. Derrotas em série como a de Micky Ward (Mark Wahlberg), boxeador em decadência que aos 30 anos ainda sonha com uma última chance de fazer lutas importantes e ganhar um título.
Micky, um lutador mais raçudo que técnico, é fora dos ringues um homem pacato e sereno que sofre com uma família pirada e/ou dominadora. A mãe é sua manager, só pensa em ganhar dinheiro às custas do filho e não pensa duas vezes em aceitar qualquer tipo de combate, mesmo quando o rival é muito mais renomado que seu filho. Mesmo se ela está acabando com qualquer plano de uma carreira estudada e digna para o rebento.
Pra piorar, Micky tem como treinador seu irmão, Dicky Elklund - espetacular atuação de Christian Bale, Oscar certo - um ex-boxeador talentoso que chegou a derrubar e lutar de igual para igual contra Sugar Ray Leonard, simplesmente um dos maiores boxeadores de todos os tempos. O problema é que os anos passaram, Dicky virou um viciado em crack amalucado e refém do passado promissor que ainda sonha resgatar. Por isso ele sufoca Micky ou o deixa na mão, não aparecendo para treiná-lo enquanto está chapado.
Quando a nova namorada de Micky, Charlene (comovente entrega de Amy Adams, Oscar bem possível) mostra que a família só está levando-o ao buraco, ele tem uma chance de brilhar mas terá que enfrentar mãe, irmão e as sete irmãs ignorantes.
Guiado por Charlene e por um outro treinador antigo de sua vizinhança pobre de classe operária, Micky vai crescer como lutador, mas quando a coisa esquenta, só o irmão viciado poderá lhe orientar como disputar a luta das lutas.
Drama familiar e esportivo poderoso, O Vencedor embarga a garganta em vários momentos, notadamente quando Bale, como Dicky, e Amy Adams-Charlene incendeiam suas cenas com uma entrega e emoção que nos fazem crer na veracidade de cada gesto, olhar e palavra que dizem. Ela, por seu amor a Micky e pela coisa certa a ser feita. Ele, por sua loucura apaixonada pelo boxe que mesmo sem retorno para ele, como lutador, nunca deixa de queimar seu peito. E o grandioso Bale ainda consegue ora nos causar empatia, ora repulsa, ambas em doses cavalares como um soco no fígado.
A pancada no fígado que é o grande e talvez único grande golpe de Micky.
O golpe único que se parece tanto com aquele único talento que muitos de nós temos. Cabe a nós batalhar demais para aprimorarmos e vencermos com este talento no singular, o que Micky vai tentar fazer enquanto está sendo encurralado nas cordas.
Aqui outra metáfora vital que o filme explora tão bem ao recuperar a canção-hino de Micky, uma das canções mais belas e duras do Whitesnake. No paredão de fuzilamento das cordas é preciso encontrar um jeito de sair dali, sozinho:
here I go again on my own
going down the only road I've ever known
lá vou eu de novo
apanhando o único caminho que eu sempre conheci.
Assista a esse filme e lembre da força que tem o único caminho-golpe que você sempre teve.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

O craque que venceu o tempo



A arte nos dá aquela sensação mágica de apreciarmos uma palavrinha fundamental, sim: beleza. Se o grande Vinicius pediu desculpas às feias dizendo que beleza é fundamental numa mulher, isso também vale demais para o futebol. Porque andava duro ter que ver futebol arte apenas pela TV, no Barcelona, ou a arte fantástica mas embalada numa máscara enorme daquele moleque do Santos e da sub-20. Por isso que nós, amantes do futebol refinado, sabíamos que o sarro dos que gozaram a idade dele era apenas momentâneo. Iria durar até ele estrear. Até ele honrar esta camisa 10 sagrada que já foi de monstros como Gérson, Pedro Rocha, Pita e Raí. Por isso que a chuva que caiu sem cessar ontem até a hora do jogo teria que parar. Por isso que o trânsito infernal, parado mesmo, que me fez abortar a primeira tentativa de ir ao Morumbi ontem, teria que mudar. Por isso que nessa primeira tentativa, quando voltei para casa, aquele final de filme de guerra foi tão simbólico: um mito chamado Burt Lancaster simplesmente enfrentou os nazistas quase sozinho para que eles não roubassem uma carga mágica de pinturas dos maiores da história, Degas, Monet, etc.
Ao ver um homem salvar parte da arte francesa que era universal, eu percebi que era preciso ir ao Morumbi de qualquer jeito, para ver o homem velho que nos devolveria a arte. Homem velho para os gozadores rivais e para Felipão e o Palmeiras, que o esnobaram. Porque no São Paulo, craques velhos transformam-se em vinhos especiais, únicos, inesquecíveis. Assim foi com Zizinho e Cerezzo, esse último que se autobatizou em sua monumental passagem pelo clube de vovô garoto.
Assim começou a ser com aquele que já foi o melhor do mundo e que foi o melhor jogador da campanha do Penta, Rivaldo. Com aquele que, 10 anos depois continua jogando o fino e mostrando ainda uma forma física que deveria fazer Ronaldo se envergonhar de vez.
A arte, a arte. O que foi mais bonito? A bola sutilmente enfiada no meio das pernas? O chapéu que ele inventou a partir de uma bola parada em seus pés? A tabelinha mágica? Suas batidas na bola nos passes com um gesto amplo, belo e perfeito como um Zidane brazuca? O gol maravilhoso em que chapelou o beque com a coxa antes de fuzilar o goleiro com seu tapa violento típico de canhota?
Para mim, mais bonito mesmo foi saber que o São Paulo tem como camisa 10 um dos raros super-craques humildes que o mundo da bola produziu. Uma super estrela que simplesmente se recusou a ser uma super estrela, por sempre ter se recusado a expor sua vida pessoal num marketing insuportável tão comum em outros monstros da sua mesma geração. Isto, termos um monstro da bola mas um homem tão pacato e correto, um exemplo de verdade dentro e fora dos campos, é o que para mim torna aplaudir Rivaldo uma experiência ainda mais bela.
Ah, como valeu a pena enfrentar o caos típico da São Paulo do fim de tarde, da mente estúpida dos “organizadores” do futebol brasileiro e mercenários da TV paga (a estreia de um mito às 19h30???) para ver o craque que venceu o tempo e a profecia do poeta Cazuza. Porque com Rivaldo, o tempo para, e por isso suas mágicas jogadas de ontem já entraram para a galeria de arte do Maior Clube do Brasil.
PS - Duro vai ser o velho Riva aturar a correria debiloide de Fernandinho, Marlos (belo gol, mas raro nele) e Dagoberto, este último um cara que é a antítese do jogador e Homem Rivaldo.  

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

O erro do trio de lata

O vexame monumental do Corinthians na Pré-Libertadores têm a mesma explicação dos seguidos vexames de São Paulo e Palmeiras nos últimos anos: a soberba e incompetência de seus dirigentes. Depois do fiasco na reta final do Brasileirão que já dava como ganho, e do retorno das férias de um Ronaldo ainda mais gordo, quem Andrés Sanchez contratou para melhorar sua equipe? Ninguém. Sobre Fábio Santos eu comento daqui a pouco... Pra piorar, Andrés se livrou não apenas de um jogador importante, mas de seu melhor homem. Aquele responsável por quase toda a criatividade, inteligência e velocidade do seu meio-campo e parte do ataque, por marcar, apoiar e fazer gols decisivos, Elias. E há ainda outra estupidez de Andrés, anterior à perda de Elias, aqui bem parecida com a cegueira de seu inimigo tão parecido com ele, Juvenal Juvêncio, o ditador sãopaulino: a escolha errada de treinadores. Enquanto Juvenal foi buscar um treinador que não ganha nada há 30 anos (!?), Carpeggiani, Andrés foi buscar uma das maiores farsas do futebol brasileiro, o metido a intelectual Tite, aquele que traz o pior da escola gaúcha de treinadores: o amor à retranca que é igual à covardia. E o currículo de Tite limita-se a um título importante, a Copa do Brasil de 2001, com o Grêmio. Só isso.
Quando li no jornal que Roberto Carlos não jogaria contra o Tolima ontem, fiquei espantado ao saber que seu substituto era outra farsa: um dos jogadores mais odiados e xingados da história recente do São Paulo, Fábio Santos, que foi “revelado” no Morumbi. Lembro bem de quantas vezes xingava esse lateral habilidoso que se achava craque e por isso não marcava ninguém e ainda era um caráter mais que duvidoso. Lembro também de uma avenida maior que Giovanni Gronchi, que sempre deixava às suas costas na era em que o São Paulo guardou uma das maiores secas da sua história, os anos pós-Telê e Raí. Aliás, Juan, o novo ala esquerdo tricolor parece um clone de Fábio Santos, sabendo apenas cruzar melhor. E tem outra defeito de Santos: a pipocada em momentos cruciais.
Fábio Santos + a covardia monumental de Tite, que encheu seu arremedo de time com volantes e não escalou nenhum meia para municiar Dentinho (outro que não tem na raça e valentia o seu forte), Jorge Guerreiro e o cone Ronaldo, fizeram o Corinthians tomar um baile dos colombianos no 1º tempo, não tomando gols por acaso e má pontaria do Tolima. Os 15 minutos de pressão alvinegra no 2º tempo (enfim, um pouco de coragem) quase resultaram em mais um milagre de Ronaldo, mas as mãos do goleiro paraguaio do Tolima parecem que encerraram, definitivamente, a carreira do ex-Fenômeno que não soube que sua hora de parar já passou faz tempo. Pouco depois o Tolima abriu o marcador, com jogada construída nas costas de um jogador ainda sem ritmo e em má forma, Alessandro, que voltou há pouco de contusão. A seguir o peruano Ramirez, que acabara de entrar, fez a tolice de ser expulso e logo os colombianos decretaram o fim da era Ronaldo ao construírem uma jogada nas costas de... adivinhem quem... Fábio Santos. E na conclusão dos dois gols ficou clara também a ausência de um zagueiro à altura do bom e velho William, zagueiro limitado, mas viril, líder e que dava conta do recado e crescia na hora H.
E não achemos nós, de meu time, o São Paulo, e vocês, palmeirenses, que podem rir à toa. Não podemos. Não podem, porque o maior vexame de um clube brasileiro na história dos Libertadores protagonizado pelo Corinthians, para mim não é muito diferente do “tetracampeonato inverso” medonho das seguidas eliminações do São Paulo na Liberta 2007/8/9/10 da Era Juvenal de fracassos e erros na única competição que interessa, de fato, ao sãopaulino mais doente. Graças ao dedo podre de Juvenal para escolher treinadores e da sua mão cerrada para contratar, é fiasco atrás de fiasco. A única diferença, pequenina... é que o São Paulo é tri da Liberta e fez seguidos papelões muito por culpa da diretoria e certos jogadores enganadores (Dagoberto no topo...), mas jamais por sucumbir à pressão (pra não dizer outra coisa) do mais duro torneio do planeta.
Palmeiras? A década de derrotas vergonhosas prossegue sem perspectiva num clube em que suas diretorias corneteiras e briguentas alternam-se no poder, e mantém um time que tem Marcos, Assunção, Kleber e mais ninguém. Ou algum palmeirense de verdade acha que liderar o Paulistão é prova de força? O elenco alviverde segue sendo um dos mais frágeis dos clubes grandes do país, cheio de jogadores inexpressivos sem a mínima história de sucesso e ainda sofrerá ainda mais quando outra farsa, Valdívia, voltar a jogar. E ainda há, no banco, um Felipão parado no tempo há anos.
Rir de verdade só podem os santistas, mas apenas por mais seis meses. Ou vocês acham que Neymar e Ganso seguirão na Vila após a janela européia do meio do ano??? E não achem que a Fábrica de Meninos da Vila é tão farta assim. Os meninos da Vila só surgem de dez em dez anos, às vezes mais. Assim foi com a geração de Nilton Batata, Juari, Pita e João Paulo (anos 80), Diego e Robinho (início dos 2000), Ganso e Neymar (2010).
Enquanto os grandes clubes paulistas não virarem empresas, com dirigentes profissionais e transparência, seguiremos vendo nossos presidentes venderem nossos raros destaques todos os anos, e não repondo essas peças. E alguém aqui me diz o que o Juvenal fez com a venda do Hernanes???

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

O povo indestrutível

A resistência e determinação dos egípcios é talvez uma das maiores lições de um povo em não sei quantas dezenas de anos, talvez até séculos. Após mais de uma semana em que eles literalmente acampam na maior praça do Cairo, após terem 100 companheiros assassinados (a ONU fala em 300) e centenas presos, agora eles resistem aos policiais do ditador e mercenários conduzidos pelo governo a atacarem os manifestantes. A praça hoje virou uma batalha campal com os fieis ao ditador atacando o povo com paus, pedras, cavalos e camelos enquanto o povo se defendia contra-atacando com os mesmos paus pedras. O exército, que resolvera não atacar o povo, por outro lado nada fez hoje para deter os homens do ditador, apenas pedia calma.
Até quando continuará a resistência desses heróis da liberdade que querem seu Egito livre, justo e mais igual?
Até quando não ocorrerá um derramamento brutal de sangue como o governo chinês ordenou e conduziu no massacre de Pequim, em 1989?
Sinto que o povo não arredará pé, pois quem não teme mais nada, não tem mais medo, como revelou a jovem que disse que o governo pode cortar a internet e a telefonia celular, “mas não pode cortar nossos pés”.
Um dia eles se cansaram da opressão, da falta de oportunidades, das condições ruins de vida, da desigualdade brutal e das atrocidades de uma das polícias mais cruéis do planeta, polícia esta intimamente ligada ao seu presidente ditador.
Um dia eles souberam utilizar uma poderosa ferramenta tecnológica criada mais para gerar lucros do que amizades, o Facebook, para unirem-se de verdade a partir do chamado postado na maior média social do planeta.
Um dia os egípcios determinaram, o 25 de janeiro último, como o dia do grande basta, o dia do fim do silêncio, o dia da luta e do antigo refrão-hino esquecido que eles tornaram uma verdade invencível: “o povo, unido, jamais será vencido!”.
PS – 30 anos sendo cúmplices do regime ditatorial dos egípcios, e agora os EUA exigem um Egito democrático...