segunda-feira, agosto 31, 2009

Esse cara é reserva do Jean?


Jean é um volante promissor de boa técnica e pegada. Assim ele brilhou no São Paulo campeão do ano passado, fez até gols decisivos. Só que ele é bom como volante, não como ala direito. Ou será que Ricardo Gomes não percebeu o baile que tomou de Armero ontem? Mas pior é saber que o argentino Adrian Gonzalez, um lateral legítimo, é reserva do Jean. Justo esse gringo que dá passes que são meio gol e sabe tão bem como bater na bola, inclusive fazendo lindos gols de falta. Ponga el hombre, Ricardo!!!

Muricy venceu os traíras


O melhor do horroroso São Paulo e Palmeiras foram as declarações do sempre sincero e direto Muricy, grande vitorioso (mantém-se folgado em primeiro) do 0 a 0 de ontem. Disse que está tranquilo e feliz no inimigo porque ali “não tem traíras, não tem jogador vaidoso que não joga p.. nenhuma e fica reclamando”. O recado, nas entrelinhas, foi bem claro. Além de Hugo, citado nominalmente (mais, porém, por ter falado mal dele após Muricy ir para o Palmeiras), quem conhece futebol sabe que o traíra maior chama-se Borges. Ele mesmo, o queridinho não sei por que de boa parte da torcida do São Paulo. Ele, que dava chiliques quando não era escalado e chorava na imprensa, tumultuando o ambiente no elenco. Ele, que mais uma vez exibiu a sua única e inútil jogada de ficar esperando a bola de costas e tentar girar chutando. Chutando mesmo que na maioria das vezes exista um adversário a centímetros. E olha que em 9 de cada 10 tentativas dessas, nem o giro acontece, porque esse jogador de porcelana cai antes por qualquer encostão e logo arma seu beicinho de jogador frágil e mascarado que acha que é craque sem nem ao menos ser um bom atacante. E alguém aí já viu o Borges dar um drible na vida???
Voltando a Muricy, ele armou bem seu time e líder pra segurar um São Paulo que nem precisava ser segurado, tamanha a falta de ousadia dos jogadores e treinador tricolor. Por que Marlos não tem mais chances? Seria muito mais útil ontem que Hugo.
Depois de uma sequência irresistível de vitórias, Ricardo Gomes e sua equipe estagnaram e pararam de evoluir. Porque, claro, Richarlyson (o que adianta um ótimo marcador que não acerta um passe e trava quase todos os contra-ataques???), Jean de ala (tomou um baile de Armero! e errou um chute de forma bisonha dentro da área) e Borges tem prazo de validade. “Ué, mas o Borges é reserva...”. Só que entra tempo demais e não faz ABSOLUTAMENTE NADA. Washington mancando leva mais perigo que ele porque pelo menos não fica se jogando e se esfregando inutilmente nos zagueiros rivais.
Tá mais que na hora de botar o argentino na ala, sacar “Ricky” e devolver Jean ao meio-campo.
Quanto a Hernanes, recuso-me a comentar seu futebol ridículo mais uma vez porque tenho mais o que fazer. Pior que ele só a formiguinha sem raça (perdão, formigas!) chamada Arouca, um cara que nunca fará nada de importante no mundo da bola. E será que ninguém avisou à diretoria do São Paulo que o Arouca era odiado pela torcida do Flu justamente pela falta de garra? Esse é o tipo de jogador enganador: projeta-se bem, corre, passa bem a bola, mas nunca produz nada que leve perigo ao adversário. O bom chute de ontem foi um acaso.
Ricardo Gomes, que parecia ter devolvido o toque de bola ofensivo ao São Paulo, começa a ficar muito parecido com seu ex-treinador no Fluminense e Seleção, um tal de Parreira...
Desse jeito, o título será verde ou do Inter (belíssima partida ontem contra o Goiás, os garotos e o velho Kléber mostraram um jogo de toque e velocidade empolgantes) se Tite não inventar muito.
PS – Existe algum jogador no mundo mais mascarado que Vagner Love??? Lamentável o espaço absurdo (uma hora de coletiva de imprensa na sua apresentação foi demais!) que estão dando para esse belo atacante que, porém, nunca foi craque. E que nunca fez uma boa partida na Seleção nas várias oportunidades que teve. Lembro ainda que em cinco anos de Rússia, nenhum grande clube europeu quis tirá-lo da terra da vodka.

sábado, agosto 29, 2009

O cinema que tenta mudar o mundo


Os franceses não querem os imigrantes ilegais que alcançam sua cidade de sonhos e desespero chamada Calais. O porto de Calais, no norte do país. Do outro lado do mar está Dover, Inglaterra, país que trata melhor os imigrantes e lhes oferece mais oportunidades de uma vida melhor. Entre os dois portos está o mar raivoso e gelado do Canal da Mancha.
Só há duas maneiras para os imigrantes clandestinos, transformados em refugiados mal tratados e isolados em Calais, chegarem a Dover.
Como essa viagem é proibida pelos dois governos europeus envolvidos, os ilegais escondem-se em caminhões de carga que atravessam o canal de balsa. Escondem-se em lugares inimagináveis desses caminhões, em condições terríveis. A outra alternativa é mais uma roleta russa: enfrentar o mar. Essa é a escolha do jovem Bilal, um menino de origem curda, que chegou a Calais depois de percorrer milhares de quilômetros desde o seu país, o Iraque em guerra do qual fugiu. Sim, Bilal quer nadar até a Inglaterra. Detalhe: ainda precisa aprender a nadar. O jovem prefere encarar todos os perigos do mar do que conviver com uma cidade onde os próprios franceses, se ajudassem os imigrantes, eram presos, por lei.
Calais é “...num certo sentido, a fronteira mexicana da França. Uma terra de ninguém onde busca por oportunidades e sistema repressivo se chocam em torno de leis que excluem os novos chegados”, escreveu Luiz Carlos Merten no Estadão.
Graças que o filme “Bem-vindo” tenha causado tanto furor e debate na França que essas leis intolerantes estão sendo derrubadas no país. E nesse ponto, o humanista crítico Merten mostra o formidável feito do diretor do filme “Bem-Vindo”, Philippe Lioret: mudar um pouco a sua França racista e o mundo.
De volta ao filme, há mais luta e coragem na odisseia deste menino iraquiano que em todos os filmes sobre lutadores que o cinema já fez. Para quem criticar o absurdo da missão quase impossível dele (cruzar o Canal da Mancha), lembre-se: pessoas desesperadas - especialmente povos que fugiram do horror da guerra ou miséria - só conhecem um sentimento: arriscar tudo. E para Bilar ainda há outro motivo colossal: ele quer a Inglaterra porque lá está a menina que ama. Há ainda seu sonho de jogar no Manchester United.
Como preparar-se para o impossível? Ele terá a ajuda de um professor de natação francês, ex-campeão nacional e um homem destruído pelo fim de seus casamento. Simon enxergará no garoto desesperado a coragem que ele não teve para lutar por sua mulher. E o francês o ajudará, no começo, por um motivo menos nobre: impressionar a ex-mulher, um professora que faz trabalho voluntário para ajudar justamente os refugiados. Só depois o professor se conscientizará que ajudar aquele garoto era a coisa certa a se fazer.
A relação inicial entre Bilal e Simon lembra o conflito do mestre e lutadora de “Menina de Ouro”. Tensão que logo vira uma relação paternal, verdadeira. Também porque não há coração decente que resista ao sofrimento dos refugiados em Calais e à luta insana do menino Bilal para fugir de lá por amor. O amor que é a única coisa que lhe resta.
“Bem-Vindo” é mais uma poderosa história de sobrevivência, crítica e sonho do cinema francês de hoje. Uma história que torna muitas histórias de boxeadores e lutadores de Hollywood, em pequenas. Porque o jovem iraquiano desse filme vai enfrentar um inimigo muito maior e desafiador que qualquer peso pesado dos ringues. Nas águas congelantes, escuras e de correntezas fortíssimas e traiçoeiras do Canal da Mancha, não há toalha de treinador a ser jogada quando a coisa está preta. Não há descanso entre os rounds. Não há gongo salvador.
Só há a valentia de um menino que não quer perder sua única razão de viver, a doce Mila.
Viver? O poster deste filme está pregado na parede do meu quarto. Pois a bravura e amor de Bilal só nos deixa uma opção: lutar para chegarmos aonde mais queremos, sem esmorecer mesmo quando enfrentamos obstáculos brutais em nossos caminhos. Mesmo quando enfrentamos o impossível.
“Parece improvável? É. Fábulas são improváveis. Mas, quando têm força, dizem muito sobre a tal da vida real. Colocam tudo no limite e em perspectiva. E, então, o bom senso e o pensamento convencional é que se tornam absurdos.”

(Luiz Zanin, O Estado de S. Paulo, 10/07/09)

* Infelizmente, este filme já saiu de cartaz. Resta torcer para ser lançado em DVD, ou descobri-lo na internet.

terça-feira, agosto 25, 2009

As ondas que não vêm


São quase dois meses sem ondas após deixar de dar aulas numa escola da praia. As férias no mato, depois a velha cachorrinha doente (que se foi, dolorosamente) e a volta ao trabalho em Sampa aumentaram a distância do templo de fé, paz, brincadeiras e renovação azul. Alguns furos dos brothers aqui da Babilônia de concreto, que melaram o bate-volta, ou descem nos dias em que não posso, também contribuíram. Talvez nunca tenha ficado tanto tempo longe do mar nesses 20 anos de surf. Para suportar, os treinos na piscina olímpica me emprestam um pouco da terapia líquida, da tão vital água que é o alimento maior de qualquer surfista. Mas piscinas, mesmo sendo um combustível maravilhoso para suportar a loucura da selva urbana, não são mágicas. Não são mar.
Não nos fazem sorrir e vibrar como crianças. O máximo é um leve sorriso que dou, quando o senhor de muitas idades, na raia que desejo dividir, deixa que eu entre mas dá antes um aviso bem-humorado: “isso aqui é raia rápida, hein!”. Só os sábios vividos para nos animar e nos fazer sentir em casa. Por que só eles sorriem para estranhos e ainda brincam para nos deixar à vontade no clube novo? Por que os mais jovens não sorriem? Bom, na verdade, nem olham.
Sim, a alma sente falta do mar, mas pelo menos uma das qualidades que o surf me deu, que é enxergar muito em pequenas coisas, consigo manter mesmo na piscina. Se nas longas ondas dos meus dois picos amados, vejo estradas com retas e curvas sem fim, é bom também fugir do trânsito, do barulho e do trabalho e fugir pra piscina na hora do almoço. É bom chegar lá e também ver uma estrada (tá, menorzinha... mas com um retão azul de respeito) naquele piscinão imenso do clube para onde voltei depois de 20 anos distante. É bom regressar à casa que deixei ainda como um jovem atleta militante, corredor de 800 metros que sonhava com a Olimpíada. Sim, ainda não pude voltar à pista onde treinei e sonhei tanto, o joelho não permite, mas as águas mantém a paixão de acelerar fundo e sentir-me ainda um atleta em busca de algo.
Mas certas horas a saudade do mar é insuportável, como se estivesse longe de uma mulher amada. Para superar, só mesmo escrevendo e buscando novos trampos com raça, sonhando em voltar a ter um bom espaço no jornalismo além da pequena seção que ocupo em uma revista de surf (Mitos, todo mês na Hardcore).
Para suportar essa pele ressecada e pálida, sentindo tanto a falta de sal, sol e passeios ondulatórios, só mesmo um recado como esse, que veio, claro, da cidade e praia onde tive algumas das melhores sessions da vida. Só mesmo vindo da menina com um par de olhões dos mais marinhos que já conheci. Só mesmo vindo daquela que soube tão bem compartilhar outras ondas, feitas de palavras e conversas em uma escola que não existe mais. Mas uma escola onde eu podia dar aulas com a mesma liberdade, alegria e amor que mandava ver nas ondas. A menina da praia escreveu para lembrar que aquelas sessions ainda não foram esquecidas: “esses dias me bateu uma saudade das nossas surfadas semanais, das nossas longas viagens pelos seus textos, dos caldos que nos davam e você sempre ali nos dando apoio”.
Escreveu como a pequenina também fizera. Ela, a pequena que tornava cada texto sobre a pedagogia das ondas um presente, que ela sabia tão bem agradecer. Pois sabia perceber e procurar a beleza de coisas simples como o surf transformado em palavras. Por isso, no meio das aulas, tinha a coragem de dizer que aquilo era bonito. Que aquilo importava.
As saudades não são só de mar, são também desses (as) jovens surfistas em suas pranchas ainda cheias de sonhos da adolescência. São daquelas segundas-feiras em que vivia na contramão gostosa de quem podia surfar sem crowd e ainda educar com liberdade total, coisa que só tive naquela escola. Por isso talvez eu tenha aprendido tanto com aquela molecada. E em que outra escola do mundo havia uma diretora e coordenadora como eu tive, que se orgulhavam de ter um professor surfista cujos textos de surfe elas ainda elogiavam por eu dá-los em sala de aula???
Longe do mar agarro-me então a surfistas como essa menina que está longe apenas fisicamente e a livros poderosos como “O sal na terra”, do português Pedro Adão e Silva (aguardem um post sobre essa pequena obra-prima de surfe literário e filosófico). Hoje, na fila do banco (pra pagar o clube, a piscina...) enquanto aguardava a caixa me chamar, o Pedro me lembrou a poesia profundamente azul de Sofia de Mello Breyner Andresen:
“Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto ao mar”.
O Pedro Adão, na sequência, diz que “a poesia não muda o mundo, nem muito menos faz de nós pessoas melhores. Serve apenas para nos ajudar a viver. E isso, como as ondas que apanhamos no surf, é tudo.”
Agradeço então a moça azul do litoral, que me ajudou a viver nesses últimos dias longe do mar. E, moça, sei que aquelas aulas não voltam mas tenha certeza que a vontade de rever vocês é tão forte como a saudade de mar.
Porque vocês sabem o que é surfar a vida.
E você, pequena, mesmo tão nova já descobriu o segredo da poeta Sophia: "sempre me espantou a beleza das coisas. Sempre me maravilhou, me ajudou a viver. A beleza não é um adorno, é um elemento fundamental da vida e uma necessidade fundamental."

PS – Esse post é dedicado também ao camarada do sul, Gustavo Otto, o irmão que também sofre com o exílio de mar na Joinvile onde trabalha. E ele também tenta matar um pouquinho da saudade dropando belos posts no seu blog tão rico, o Surf4Ever.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Os voos mais belos


Poucas coisas são mais belas que os saltos das mulheres do atletismo que iluminaram Berlim no Mundial que acabou ontem. Não falo apenas da óbvia beleza física das longas pernas e corpos torneados das saltadoras de vara e em distância (as em altura são mais magras). Falo da beleza de quem dedica a vida pelo louco e antigo sonho impossível do ser humano de voar. Impossível não para elas. Lá vão então as deusas Isinbayeva, Maurren, Vlasic, Mellis e cia. a voar encantando. A voar fazendo de seus corpos e mentes máquinas de uma sutileza e precisão incríveis.

(Blanca)
O salto em altura que coroou os olhos feiticeiros de Blanca Vasic é a arte da sutileza, dos pássaros humanos que precisam praticamente parar antes de tentar superar o sarrafo. Correm, param antes do salto e de repente, como estilingues humanos, explodem se arremessando em busca das alturas. Além do domínio do corpo, haja preparação mental para enfrentar o carrasco chamado sarrafo.

(Isinbayeva)
O salto com vara é ainda mais técnico ao se lidar com corpo, mente, vara e alturas de prédios pequenos. Há que se usar a vara como parceira de propulsão para o lançamento e depois abandoná-la no momento exato em que se procura fugir de um sarrafo perto do céu. Autocontrole é pouco...

(May Mellis)
O salto em distância parece o mais fácil na execução, mas exige um ritmo militar de passadas e corrida antes do salto cirúrgico, que não pode tocar a linha vermelha. E pede também uma certa altura fundamental, em pleno voo, para saltar mais longe. Pra finalizar, é o salto que mais exige força muscular nas pernas. A força que nossa Maurren não teve na final de ontem por estar com o joelho machucado.
Vale destacar ainda a comunhão bacana entre saltadoras e público, quando as primeiras pedem as palmas para marcar suas corridas e ritmo antes de voar.
E, claro, como não gostar de uma modalidade com tantas deusas de pernas compridas e ainda com um sorriso como esse que posto abaixo, da turca May Mellis, bronze no salto em distância???


(Mayday! Mayday!)

quinta-feira, agosto 20, 2009

Absurdo


Seu único inimigo é o tempo. Tempo que ele parece desprezar, tamanha a facilidade com que vem superando-o. Usain Bolt pulverizou mais um recorde mundial, nos 200m. Seus inacreditáveis 19s19, 11 centésimos mais rápidos que sua antiga marca (19s30), repetem a outra diminuição absurda de marca que ele fizera nos 100m. 11 centésimos a menos nessa prova são uma eternidade.
Fora das corridas, diferente das disputas em que parece correr sozinho (só parece?), Bolt é puro compartilhamento. Depois de muito tempo de estrelas do atletismo de cara fechada e máscaras pesadas (os óculos escuros só reforçavam essa marra), sobretudo nos astros dos EUA, o jamaicano impossível é simpatia e alegria pura. Uma superestrela carismática que faz a delícia do público com sua descontração antes (!?) e depois das provas, quer dizer, das vitórias. Porque Usain Bolt sabe que o show pode durar mais que os poucos segundos que ele leva para chocar o mundo com suas passadas longas, velocíssimas e mecanicamente perfeitas como se fosse uma mistura de bicicleta ergométrica com um cavalo de corrida. O show que ele concede com suas caretas, danças e aquele gesto do arco e flecha.
O show de ver aquele que é talvez maior atleta de todos os tempos brincar e curtir feito garoto antes (!?) (repito a exclamação e interrogação pois, como o cara consegue se concentrar com tanta descontração???) e depois das suas carreiras alucinadas.
19s19... na mesma prova que levou quase 30 anos para ser batida depois que o italiano Pietro Menea cravou 19s38 em 1978. Absurdo.
PS - Palmas também para o simpaticíssimo mascote do Mundial de Atletismo de Berlim, o urso Berlino. Depois de vários mundiais e olimpíadas recentes com mascotes sem graça e até ridículos, os alemães souberam que mascote tem de ser algo "infantil", no melhor sentido dessa palavra.

terça-feira, agosto 18, 2009

A queda


Ela é da rara classe das divindades que parecem humanas, por sua eterna humildade, simpatia e carisma. Por isso quando algo totalmente improvável acontece - a maior saltadora com vara de todos os tempos perdeu ontem - o mundo dos que amam o esporte também fica inconsolável. Porque Yelena Isinbayeva sempre cativou a todos por qualidades maiores que sua genialidade e beleza. Seu choro sincero e ainda ter a sensibilidade de dizer, para a TV brasileira, que iria chorar junto de nossa Fabiana Muhrer, outra que não foi bem na final do Mundial de Berlim, engrandecem ainda mais a mulher Yelena. Uma mulher tão grande e ao mesmo tempo simples que até a Ana Rogowska, a polonesa que ficou com o ouro inesperado, disse que ficava triste por ela:
- Eu esperava a medalha de prata, o ouro é uma grande surpresa para mim. Me sinto mal pela Yelena. Para mim, ela continua sendo a melhor saltadora de todos os tempos.
Anna saltou 4m75 para o ouro (marca 30 cm mais baixa que o recorde mundial da russa) e teve a nobreza e dignidade de lembrar da dor da russa mesmo no seu momento de glória. São declarações como essas que lembram ao mundo que ainda há beleza num esporte tão marcado pela podridão do doping.
PS - Assistam ao primeiro vídeo na barra lateral esquerda, mostra o drama de Yelena ao vivo pela Sportv ontem.

sábado, agosto 15, 2009

40 anos de uma utopia


Talvez o mais belo momento da história do rock. Joe Cocker emocionando o festival de Woodstock e toda uma geração ao cantar que não seríamos nada sem uma pequena ajuda de nossos amigos. E ele ainda seguiria emocionando até gerações futuras, como as que tiveram o privilégio de assistir quando crianças ou adolescentes o seriado Anos Incríveis, em que os créditos iniciais vinham com a mesma canção eternizada pela voz rouca apaixonada de Cocker. Um dos símbolos maiores do festival, Cocker expressou como poucos a loucura e amor que explodiu em paz durante aquele festival dos festivais.
Woodstock, que faz 40 anos hoje, não foi um mero e pioneiro festival de música. Foi uma tentativa, bem-sucedida, de celebrar três dias de paz, amor e música, como prometia o slogan do evento. Em plena época da Guerra do Vietnam e intolerância contra os negros nos EUA, centenas de milhares de pessoas reuniram-se apenas para curtir um bom som ao ar livre e conhecer novas pessoas, para fazer amigos ou sexo. Antes da AIDS, o lugar, uma pequena fazenda, celebrou também o sexo livre e sem compromisso, feito ali mesmo e marcou o livre uso de drogas de todo tipo. Drogas que levariam à morte pouco tempo depois alguns dos ícones maiores do festival, como Jimmy Hendrix e Janis Joplin.
Woodstock jamais se repetirá porque há cada vez menos espaço e vontade para protestos e celebrações por um mundo melhor na música e mercado de hoje. Os festivais e shows de hoje viraram um produto como outro qualquer. Ganharam o nome dos seus patrocinadores e foram esvaziados de sentido político e social porque o público, na maioria jovens sem a mínima consciência ou interesse político e social, vai lá só para curtir o som. E um som que, tristemente, muitas vezes é apenas um estilo comercial programado para se repetir e faturar, com letras vazias e repetitivas.
Raros artistas ainda conseguem semear algum tipo de mensagem e vontade coletiva como um Pearl Jam, Neil Young ou Bruce Springsteen, que lideraram nos EUA, por exemplo, os shows do Vote for change, em defesa da renovação prometida por Obama. Houveram também os festivais simultâneos (mas de um dia só) dos Live AID e Live 8, organizados por Bob Geldorf, em prol dos miseráveis da África e da salvação do meio-ambiente, mas foram atos isolados raros, e até criticados - pelos pobres de espírito e cínicos - como eventos paliativos. Esses mesmos céticos sempre criticam o discurso político de Bono e seu U2, esquecendo que apesar de toda a megalomania, Bono é um dos artistas que mais arrecada e trabalha pela melhoria das condições de vida em alguns lugares esquecidos da África.
Mas voltemos a Woodstock e a beleza de ter reunido nomes como Santana, The Who, Creedence Clearwater Revival, Joe Cocker, Hendrix, Janis, Joan Baez e outros grandes nomes. Voltemos a um tempo em que músicos tinham a coragem e genialidade de criticar, ao vivo, a estupidez da guerra. Assim fez Hendrix ao imitar o barulho das bombas jogadas pelos americanos no Vietnam, e fazendo isso em plena execução do hino americano na sua guitarra! Anos depois, o Brasil dos anos 80 viu Cazuza e Renato fazendo algo parecido, metendo pau nos políticos corruptos nas canções Brasil e Que país é esse? Pena que Hendrix e os grandes heróis do rock brazuca estão mortos e hoje, especialmente aqui, fomos invadidos por um bando de grupinhos juvenis cantando histéricos e sem melodia seus amores frustrados e outras overdoses açucaradas feitas pra adolescente chorar. Será que por isso que o Roberto Medina, criador do Rock In Rio, levou, há anos, o festival para Portugal? Talvez ele tenha previsto que Barão, Legião e Cia seriam substituídos por Fresnos, Strikes, NXZeros à esquerda e outras apelações... Outras pobrezas musicais ementais que não têm a mínima noção do valor e poder de uma canção como With a little help from my friends e sua inesquecível, poderosa e catártica versão de Joe Cocker (tá, completamente chapado...) em Woodstock.
Woodstock morreu. É apenas uma lenda distante. Uma lenda barata (18 dólares era o pacote de três dias de dezenas de shows diários!). Imaginem o preço dos ingressos de um evento desse como hoje... Seriam preços obscenos como os cobrados em todo grande show aqui no Brasil.
O sonho da paz e amor dos hippies e jovens ativistas políticos e sociais dos anos 60 acabaria logo. Dois anos depois o Festival de Altamont, nos mesmos EUA que ofereceu Woodstock, terminou em violência e morte de um jovem negro, espancado pelos seguranças do evento, os selvagens motoqueiros dos Hell´s Angels.
Hoje, muitos críticos tentam diminuir Woodstock, resumindo-o como um encontro de doidões apenas a fim de fazer sexo e pirar nas drogas. Não aceitam que Woodstock foi uma bela tentativa de mudar o mundo. Não aceitam porque são a espécie mais comum hoje: os covardes que acham ridículo alguém ainda querer mudar o mundo nesses tempos cada vez mais mesquinhos e individualistas.
Leiam as reportagens e os livros sobre Woodstock. Aprendam um pouco sobre o que era fazer música por amor, como protesto e com um sentido que não fosse encher o bolso. Leiam os livros e vejam os DVDs dos shows. Entendam que este já foi um mundo de esperança e música, sobretudo o rock, de verdade. Podem começar por esse belo programa especial do canal Globo News, cujo link de texto e vídeo mando aqui: http://tinyurl.com/mdm3lz

terça-feira, agosto 11, 2009

Ninguém é mais fanático


Flamengo, Corinthians, Galo, Grêmio, Boca? Não. Não há torcida mais apaixonada que a do Santa Cruz. Vejam por que.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Voltou


Leio hoje no Jornal da Tarde que “o campeão voltou” porque voltou a jogar com pegada no meio-campo marcador e precisão nos cruzamentos (dois gols de cabeça ontem) como nos tempos de Muricy. Incrível a pobreza intelectual e de espírito de alguns jornalistas. Porque o São Paulo de Ricardo Gomes, que vi ontem ao vivo no Morumbi, resgatou algo que os times de Muricy jamais tiveram: toque de bola. Envolvemos o Goiás porque nossos alas, volantes que sabem jogar e Dagoberto trocaram passes e tabelas o jogo todo. Dominamos a partida porque pressionamos jogando bola, com toques rápidos, disparadas, troca de posições etc. Sim, fizemos dois gols de cabeça, mas mandamos três bolas no travessão, duas delas após bonita trama coletivas (na primeira, entre Dagoberto e Júnior César) e individual (Dagoberto, penetrando na área e fuzilando). Fora o sem-pulo de Richarlyson.
O campeão voltou mas é na verdade um outro campeão, um novo São Paulo. Um time com a mesma força na marcação dos tempos de Muricy (o esquema é o mesmo, 3 zagueiros) mas muito mais envolvente. Muricy explorava seu futebol de um truque só, a bola aérea. Ricardo Gomes treina e faz seu time jogar por todos os cantos e, predominantemente, com a bola no chão. Dois gols de cabeça ontem foram detalhe, basta pensarmos nos outros gols que fizemos nas partidas anteriores.
Destaque maior ontem para dois nomes: Jorge Wagner, que armou, desarmou, deu assistência, fez gol e deu o sangue em todas as partes do campo. Foi o grande comandante da equipe. Talvez porque não tenha mais, como nos tempos de Muricy, que passar o jogo todo chuveirando na área. O outro nome é um mea culpa para todos os que o julgaram antes de começar a trabalhar: Ricardo Gomes. O cara que resgatou a tradição de toque de bola e jogadas em alta velocidade do São Paulo. O cara que fez a torcida voltar a gritar com alegria como não fazia desde os tempos da Libertadores de 2005. Porque fomos tri brasileiros com Muricy jogando feio. Agora podemos voltar a apreciar o futebol como ele sempre deveria ser: uma arte. E Ricardo ainda conseguiu tornar o São Paulo um grupo unido, superando até as desavenças entre seus atacantes ao, espertamente, titularizar Washington, mas dar um bom tempo no 2º tempo para Borges jogar e marcar. Coisas de um mestre?

quinta-feira, agosto 06, 2009

15 anos de Babalu


Não foi apenas uma dálmata. Foi história e quase um milagre. Foi o fruto de um amor entre seus donos: um jovem de 20 e poucos anos que tinha a lendária cadelinha Duda e a menina mais nova, dona de outra lenda, o bom e velho White, um sobrevivente de batalhas e doenças na fazenda em que vivia antes de mudar-se para São Paulo. O casal de namorados queria filhotes. Não era possível, pois White tinha um pino na pata que o impedia de manter-se em ação pelo tempo suficiente em cima da Duda. Mas um dia, após muito custo e ter que recorrer à inseminação artificial entre o casal de dálmatas, nasceu Babalu, linda e com nome de personagem de novela como a mãe. Logo eu conviveria com a cachorra mais maluca e histérica que já tive.
Babalu nunca parou quieta. Quando filhote, adorava pular em cima das pessoas. Só sossegava ao tirar uma soneca junto de sua velha, doce e sábia mãe, a eterna Duda. Crescida e tendo perdido a mãe, foi Babalu quem gerou outros dálmatas, num parto duro e triste que resultou em 6 mortes. Mas ficaram com ela a menina Capitu e o enorme Sansão, batizado assim por já nascer grande e uma máquina de mamar.
Babalu perdeu rápido o carinho da agressiva Capitu mas teve ao seu lado, a vida toda, o melhor filho do mundo, um bicho tão bom, tranquilo e carinhoso que parece um urso polar de pelúcia vivo, Sansão.
Mesmo mãe, na metade de sua vida descobri em Babalu uma grande e companheira corredora, que me acompanhou anos e anos até suas patas e fôlego fraquejarem num anoitecer triste que nunca esqueci.
Dura a sina dos cachorros. Quando não aguentam mais, não tem volta. Ela jamais correu de novo comigo, apenas dava leves escapadas em busca de comida ou das raças inimigas que herdou das brigas da mãe: pastor alemão e labrador marrom café.
No último ano, a força muscular foi embora. Em poucos meses, os ossos começaram a despontar.
Um dia parou de latir. E a andar com dificuldade.
Babalu partiu na última 2ª feira. Só conseguia ficar deitada. Precisava de ajuda para beber. Não conseguia mais comer. Injusta sina de quem foi sempre tão cheia de vida e loucura que um dia Roberta a apelidou de Baluca.
Foi embora uma cachorra e uma história de amor.
Mas segue vivo o melhor cão do mundo, seu filho, que a amou, lambeu, protegeu, esquentou e respeitou-a até o último dia. Segue vivo o melhor filho do mundo. E lá no céu dos cães late uma mãe louca de orgulho e conforto por ter tido uma mãe, Duda, e um filho, Sansão, tão bons com ela.
Descanse em paz, Baluca. Agora você pode voltar a latir para as estrelas e, na grande noite, dormir sob os cuidados de sua santa mãe.
E, sobretudo, obrigado por correr anos e anos comigo enquanto eu precisava fugir do cotidiano, problemas e das escolhas erradas. Que seu filho me ilumine a ser tão bom e feliz como ele é.