segunda-feira, novembro 30, 2009

A Tempestade


Foi no meio de Let There Be Rock, quando ele começou a solar com o vigor e paixão de um moleque. Perdão, acho que um moleque de hoje, seduzido por bobagens comerciais como falsas guitarras de videogame, demorará a entender como Angus Young, 54 anos, ainda faz de sua guitarra uma tempestade juvenil sonora avassaladora. Uma tempestade apaixonada, bela e furiosa. Toneladas de TNT em forma de acordes, riffs ou esse solo muito mais que endiabrado que o menino de 54 anos ofereceu nesta histórica noite de sexta-feira. Foi no meio de Let There Be Rock que os antigos amigos de escola forjados em rock and roll de verdade, hoje quarentões, sentiram os olhos lacrimejarem. Porque Angus e seu AC-DC, mais que oferecer uma maravilhosa volta ao passado de tudo o que já fizeram pelo rock, nos deu a certeza de que o rock é eterno. Que a emoção é eterna. Ou não foi isso o que eles provaram quando ele elevou-se aos céus junto do palco móvel e simplesmente arrebatou como nunca antes um estádio do Morumbi lotado?
Sim, não vi Freddie, Brian e seu Queen em 1980, mas estive em muitos shows ali, e ninguém antes fez um metaleiro quase chorar no meio de um solo de guitarra. Ninguém antes, munido de uma guitarra e um espírito juvenil alucinado (mesmo com 54 anos...) fez o público entrar em transe como Angus. Sim, já o vira em pleno Rock In Rio I, em 1985, e ali estava no auge, mas o que a paixão dele fez na sexta-feira entra direto para uma das maiores entregas de um artista na história da música. E olha que falo de apenas um momento, dos minutos de solo durante uma canção-hino. E olha que ainda houve muito mais nesta noite em que o vendaval que ameaçava cair no Morumbi enfiou o rabo entre as pernas para permitir que a verdadeira tempestade – de eletricidade roqueira genuína – prevalecesse.
Foi assim que Angus e o AC-DC desabaram seu temporal inesquecível de rock pesado que jamais será esquecido pelos privilegiados desta noite de 27 de novembro de 2009. Desta noite em que a maior chuva do mundo desabou das cordas de Angus e Malcom, da batera de Rudd e da voz de Johnson.
Vai chover assim na p... !!!!! e quanta verdade nas palavras de outro hino, “TNT, I´m Dynamite!!!!!”
E quem quiser ler um excepcional artigo sobre outros segredos do sucesso eterno da banda, leia o texto do grande crítico Jotabê Medeiros, do Estadão, no link abaixo
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091130/not_imp474058,0.php


PS - Se um tal de Hernanes tivesse um décimo da garra do AC-DC, meu time era hepta com sobra... Só que ele desconhece isso e prefere acreditar que é craque. Craques de verdade têm alma, como Angus. Craques não fazem frescuras, apenas tocam sua guitarra e bola como se o mundo fosse acabar amanhã, no meio de um solo ou grito de gol. E, sobretudo, craques de verdade arrebentam na hora da verdade, do grande show ou grandes decisões.

sexta-feira, novembro 20, 2009

O segredo de Alfie


Ele conquista a mulher que quiser. Melhor: tem todas as mulheres que quiser. Experimenta todo tipo delas, dá-lhes sexo, um pouco de atenção e carinho. Elas usufruem de seu charme, beleza e poder de sedução único. Alfie é tudo o que elas querem. Mas não podem tê-lo de verdade, pois Alfie não assume compromissos. É apenas um rosto perfeito, um sorriso malicioso, olhos penetrantes e um corpo que sabe ser viril ou delicado. É apenas um caçador que faz o que suas vítimas desejam: a caçada rápida, imediata, devoradora. Sem joguinhos ou hesitações. Sem papo cabeça. Só que a vida não é um episódio de Sex and the city. Por isso que depois de noites selvagens, elas desejarão algo mais. Por isso confundirão Alfie com um mestre do amor. Não sabem que é um mestre apenas do sexo. Não sabem que ele pode preenchê-las seus desejos mais explosivos mas não pode preencher o espaço mais importante. Porque Alfie jamais lhes entrega seu coração. Boa parte deste filme é uma exibição engraçadinha de um Don Juan moderno atraindo e devorando as mulheres enquanto conta todos seus planos e conquistas para a câmera, tentando atrair a intimidade do espectador. Alfie poderia ser mais um filminho sexy de Hollywood não fosse o carisma de seu protagonista, Jude Law, um dos maiores de seu tempo. Não fossem suas presas as estonteantes e maravilhosas atrizes de três gerações: a sempre solar, passional delicada morena ítaloamericana, Marisa Tomei, dona do sorriso e olhar mais belos, verdadeiros e meigos do cinema americano; o vulcão doentio ultra-sexy louro que atende por Siena Miller e os anos que só acrescentam charme e profundidade à sempre intensa Susan Surandon. Não fosse o corpo magistral, suingue e simpatia da jovem diva negra Nia Long.

Alfie seria só sexo e belos corpos não fosse o momento em que o garanhão põe tudo a perder porque macula o imaculável: a amizade do melhor amigo. No momento em que o predador irresponsável percebe que ter todas as mulheres é não ter nenhuma, levanta-se um Jude Law magistral. Um Jude Law cujos olhos antes apenas conquistadores tornam-se um mapa abissal de sentimentos e perdas. Um mapa do vazio existencial do garanhão que descobre a dor da solidão. Pior, a dor de perder aquela que realmente o amava.
Aguente a sacanagem refinada e estilosa de Alfie arrastada por mais da metade do filme, porque depois receberão o melhor do cinema: atuações poderosas e mensagens que nos envolvem e derrubam como diretos no fundo do peito.
Por isso alguns passearão junto da solidão de Alfie, lembrando das raras mulheres que não perceberam serem perfeitas que passaram em nossas vidas.
Lembrando e sentindo cada fissura interior que acomete a estátua de deus grego que um dia julgaram ser.
Como não sentir, se Alfie, suas mulheres e histórias ainda nos são entregues embaladas por canções viscerais de Mick Jagger, feitas especialmente para o filme? Incrível como o velho Mick ainda consegue, às vezes em uma só palavra ou verso, entregar toda a beleza e dor do amor. Cantar toda a cegueira de desejos e sentimentos fugazes que escondem o amor verdadeiro. Que escondem a lição tão simples, cliché e vital mas que nos esquecemos. A lição dada por um velhinho só, viúvo, a Alfie em outra bela cena da metade final do filme: “ame sua mulher todos os dias antes que ela vá embora”. Ou antes que a deixemos ir. Canta e ensina então o velho Mick de guerra mais uma canção essencial:
Old habits die hard
hard enough to feel the pain

Hábitos antigos são difíceis de morrer, difíceis o suficiente para sentir doerem.



terça-feira, novembro 17, 2009

O anjo de Los Angeles


O que pode existir de especial num homem das ruas que toca um violino com apenas duas cordas ao lado do Skid Row (majestoso palco de concertos), em Los Angeles? Muito se quem ouvi-lo for um homem que sabe ouvir. Muito se quem percebê-lo for um jornalista de verdade, aquele que sai às ruas, que vive, que não se esconde em uma profissão facilitada pelos emails e telefonemas, que são a única base, insípida, de muitas matérias.
Mais que um jornalista, Steve Lopez é um caçador de histórias. Por isso ele percebe algo maior naquele homem aparentemente louco de vestes estranhas, que fecha os olhos enquanto toca com alma para quase ninguém. Ou toca talvez para os pássaros ou para os seres alados que são os guardiães da cidade dos anjos.
Steve descobrirá que o louco do violino é um ex-aluno brilhante da prestigiadíssima escola de música clássica Juilliard. Por isso tornará o estranho Nathaniel, na verdade um artista de outro instrumento, o violoncelo, personagem de sua coluna, no L.A. Times. Por isso acabará se envolvendo com ele, tentando ajudá-lo a ser o músico que poderia ter sido. Tentando fazer algo praticamente esquecido na mídia predominantemente informativa de hoje: praticar uma missão e dever esquecido do bom jornalismo do passado: praticar cidadania e, por que não?, humanidade.
O filme O Solista fica longe da perfeição de obras-primas que retratam o mundo da música - como Johnny e June, Ray ou Apenas Uma Vez – mas oferece cenas inesquecíveis. Cenas como o momento em que Nathaniel consegue um violoncelo em ótimo estado, com todas as cordas. Na beira da calçada de um lugar tão cinza e barulhento, vizinho de um túnel e às margens de uma avenida movimentada, o músico voltará a usufruir de um instrumento completo. Isso só poderá resultar em uma coisa: uma música tocada com uma beleza, paixão e necessidade incomparáveis de um homem que não tem quase nada, exceto ela, o único alimento que o mantém vivo: a música. O único alimento que o faz sobreviver à sua doença: a esquizofrenia, mesmo sofrimento já retratado no cinema em Uma mente brilhante, em que Russell Crowe faz o gênio atormentado da Matemática, John Naish.
A bela e triste história de Nathaniel ganha força no único lugar em que ele pode tocar sem medo de ser roubado: um centro de assistência social em que homeless (sem teto) com problemas mentais ou com as drogas vão se alimentar e fazer pequenas terapias; um lugar raro em que ainda podem, com a ajuda de voluntários, lembrar que são seres humanos. É ali que o anjo de asas partidas Nathaniel pega o celo (fica guardado ali, para não ser roubado nas ruas) e leva-os ao alto de novo, ao sonho e alegria que um dia tiveram.
O Solista é importante também para lembrar-nos que a arte que amamos é, muitas vezes, uma arma poderosa contra a solidão, depressão, desencanto e outros problemas. Sim, a arte que salva é talvez a lição maior deste filme. Mais que isso, a paixão pela arte e humanidade que deve ter um grande artista, explode no filme na grande performance de O Solista: o Nathaniel feito com um realismo, alegria e dor tão genuínas por Jamie Foxx, o monstro que já havia brilhado na história de Ray Charles.
Procurem logo esse filme, envolvam-se com ele. Reencontrem, talvez, o lugar e momento em que deixaram as asas para trás. As asas do amor que um dia tiveram por algo essencial, algo feito de arte e amor.

segunda-feira, novembro 16, 2009

O retorno do herói


Assis e Washington nos anos de glória
Ele foi um dos maiores ídolos, artilheiros (118 gols em 301 jogos) e campeões da história do Fluminense. Formou junto de Assis uma dupla inesquecível, tão marcante que foi uma das raras duplas da história da bola mundial a merecer um apelido: Casal 20, nome de um antigo seriado que mostrava um casal inseparável. Washington fez gols maravilhosos, foi bicampeão carioca com o Flu em decisões sensacionais contra o Flamengo nos anos 80 e ainda campeão brasileiro (1994) num Flu inesquecível, talvez o melhor tricolor carioca de todos os tempos. Hoje, o matador habilidoso do passado enfrenta uma grave doença degenerativa nos músculos que pode causar a sua morte, se a doença atingir o diafragma, o que impedirá a respiração.
Washington já precisa de uma cadeira de rodas. E precisa, sobretudo, de amigos e de tricolores com memória para ajudar a custear seu caríssimo tratamento. Nos últimos dias, a diretoria do clube que tanto honrou, finalmente (com atraso, segundo os críticos) abriu as portas das Laranjeiras (sede do clube) para homenageá-lo. E ontem, no Maracanã, o antigo herói foi saudado pela torcida que tanto o amou no "Washington Day"*, uma tarde em que urnas espalhadas pelo Maraca angariaram fundos para ajudar o ídolo eterno.
Mais detalhes estão nesta bela matéria do Globo Esporte carioca. Uma matéria bonita, coisa que o GE paulista não faz desde que ficou refém da vulgaridade das piadinhas de mau gosto de seu manda-chuva, o apresentador e editor Thiago Leifert.
* A campanha para ajudar Washington a se tratar não partiu da diretoria do Flu. Partiu de um torcedor, triste e chocado com a situação de seu ídolo do passado que é ídolo para sempre.

sexta-feira, novembro 13, 2009

Um pouquinho de honestidade


Bacana descobrir bandas que ainda fazem rock simples, sincero, honesto e sem apelação (sem emolices...). Tá, os caras estão na praia faz tempo, mas só resolvi procurá-los ao folhear uma velha revista de skate, a sempre inspiradora 100%. A canção chama-se Amateur (Amador). Começa só na guitarra, acordes belos a nos acordar ou transportar a algum lugar ou estado de espírito, a voz que entra lenta, cantando na medida certa, sentindo na medida certa, a batera exata, a voz que torna bonito e vital até um ú, ú, ú de coro. Versos que têm o que dizer. A história de alguém meio perdido contada-cantada com astral, como se a solução estivesse no próprio ritmo e alegria paradoxal da melodia. E a gostosa catarse final, no rolê do personagem por uma cidade vazia, com o cara finalmente descobrindo o incrível poder dos dias que temos pela frente e o desperdício de quando não percebemos ou aproveitamos isso:
Every day is new year's eve, every night is the last night (Todo dia é ano novo, toda noite é a última noite)
Every day is new year's eve, every time is the last time (Todo dia é ano novo, cada tempo é a última vez).

Quanta concisão num só verso, quanta vida!: Every time is the last time.

segunda-feira, novembro 09, 2009

E os outros muros?


20 anos depois da queda do Muro de Berlim, muitos outros muros continuam de pé ou sendo erguidos pela vontade de opressão, controle e poder de governos e/ou de seus aliados econômicos. Mais sobre isso na bela cobertura do Jornal do Brasil:

“(...) a Queda do Muro foi tanto um símbolo do que estava ocorrendo no mundo, quanto uma realidade para a população que o atingiu. E que símbolo! A euforia inicial levou muitos a comemorarem o suposto fato de que nunca mais haveria muros para separá-los de novo... Foi um mal entendido.
Hoje, vemos que a Queda do Muro não simboliza o fim de todos os muros e divisões, mas um indício de que todos os muros podem ser destruídos. Isso foi o que aconteceu depois de 1989 na África do Sul. Mas muitos muros – tanto visíveis quanto invisíveis – foram erguidos desde 1989 e ainda estão sendo erguidos.
Os muros que mantêm oprimidas a população de Cuba e Coreia do Norte, de Burma e Irã mostram rachaduras, e vão cair. Os muros nas fronteiras dos EUA e ao redor de Israel para manter as pessoas afastadas também vão desaparecer no tempo devido. As divisões ideológicas e físicas do mundo são instáveis e mudam à medida que interesses pragmáticos também mudam.
O mundo depois da Queda do Muro tornou-se um lugar muito mais desorganizado e desorientador. Mas também é um lugar onde mais pessoas são capazes de buscar o que consideram a felicidade delas. Isso é motivo para comemorar.”
(Peter C. Pfeiffer, Diretor do Centro de Estudos Europeus da Universidade de Georgetown, EUA)

“Demolido o Muro de Berlim, seria bom recrutar os amantes da liberdade do homem, que saudaram o fim da barreira, para que outras muralhas também fossem destruídas. Podemos começar pela grande muralha que separa os Estados Unidos da América Latina, na fronteira do México. Segundo cálculos das entidades que combatem o grande muro, mais de 7 mil pessoas morreram, tentando atravessá-la. Alguns pereceram de fome, de frio ou de calor, no deserto.
Outros foram abatidos a tiros, não só pelas forças norte-americanas que patrulham a fronteira mas, também, por assassinos “voluntários”, que possuem propriedades nas proximidades da linha divisória e usam rifles com mira telescópica infravermelha.
Quando os americanos propuseram ao México a associação ao Nafta, um dos argumentos era o de que o país se desenvolveria, a ponto de absorver a mão de obra desempregada que, assim, não iria disputar empregos com os norte-americanos ao Norte. Quase todas as semanas há novos mortos ao tentar o eldorado norte-americano. A imprensa já deixou de noticiar a rotina dos que tombam ao longo da muralha, feita de alambrados, de pontões de concreto, de luzes estonteantes, de câmaras infravermelhas, de helicópteros que voam, dia e noite, caçando os migrantes, como se caçam animais.
Temos também o grande muro que separa os israelenses de palestinos. Esperemos que ele também seja destruído, para que a paz retorne aos caminhos que Cristo trilhou.
(...)
Um longo muro separa o México dos Estados Unidos, e a sua construção, queiram ou não, obedece às mesmas razões pelas quais os alemães do Leste erigiram o seu. No Rio, pretendem levantar cercas, a fim de controlar as favelas. Os novos e ricos condomínios urbanos brasileiros se fazem cercar de muralhas, protegidas eletronicamente, com sentinelas atentas e armadas, de trecho a trecho, imitando a famosa Linha Maginot, que os alemães desdenharam, ao invadir a França pela Bélgica. Estamos todos cercados de muros, circulamos nas cidades dentro de veículos – que são muralhas de aço blindado. No alto dos edifícios, em seus corredores, nos elevadores, as câmaras vigiam, como as seteiras das antigas muralhas. As muralhas mais sólidas e impenetráveis são as ocultas, que separam os homens ricos dos homens pobres.
Um longo e invisível muro – semelhante à Linha de Leibniz – passa pelas ruas, penetra as igrejas e ladeia os pontos, ou seja, as pessoas, deixando, em campos separados, por mais próximos pareçam estar, uns homens e os outros.
Recentes estudos do Ipea dividem a sociedade brasileira em três classes de renda. As duas classes inferiores são tão inferiores que é um absurdo considerá-las estatisticamente.
A terceira – que segundo o Ipea é a de renda individual mais alta – começa com o salário mínimo atual. Assim, de acordo com esse critério, uma família de quatro membros com a renda total de dois mil reais se encontra na faixa mais alta de renda. Mas, não obstante a conclusão estatística, altíssimo muro as separa da minoria de renda realmente alta no país."
(Mauro Santayana, colunista do JB).

domingo, novembro 08, 2009

A moça da Uniban


Não bastou a estupidez de muitos alunos e alguns funcionários da Uniban, que perseguiram, xingaram e encurralaram a estudante de turismo que portava um minivestido na semana passada. O crime dela? Querer assistir aula com peça tão curta. Não bastou porque hoje saiu nos jornais a “brilhante” decisão da diretoria da Uniban: decidiu expulsar a jovem porque ela teria provocado a situação, por se comportar inadequadamente e por não ter acatado instruções da faculdade por vestir, em outras vezes, peças também insinuantes. Tradução? Foi dada razão a um bando de selvagens imbecis que gritavam “puta! puta!” enquanto a moça teve que se esconder numa sala e ir embora com escolta policial.
O episódio mereceu um artigo preciso de Álvaro Pereira Junior, no caderno juvenil da Folha, o Folhateen, 2ª feira passada. Álvaro ataca, além da demência dos alunos, a falência de muitas faculdades particulares que são exemplos do que NÃO é Educação. E olha que o jornalista escreveu antes do julgamento machista e fascista da Uniban:

“Não foi o vestido, afinal nem tão curto. Foi o tamanho da multidão o que mais me impressionou nos vídeos do YouTube sobre a aluna hostilizada numa universidade paulista na semana passada. Enquanto a estudante de turismo sai da faculdade escoltada por PMs, a câmera sobe e mostra uma cena dantesca: como numa arena romana, milhares de alunos berram e gesticulam.
O mundo do ensino "universitário" privado brasileiro, especialmente à noite, é um amálgama triste de circo com zoológico.
Estão lá filhinhos de papai que poderiam estudar numa faculdade melhor, mas por burrice e/ou preguiça acabaram em alguma boca de porco, período noturno. Estão lá as pessoas de classe média/média baixa que fizeram com sacrifício os ensinos básico e médio, ganharam uma formação cheia de falhas e agora veem numa faculdade de quinta categoria e chance de um diploma superior.
Estão lá também as exceções das exceções, alunos com bom potencial, que sentam na frente, estudam, tentam se motivar -mas são solapados pela mediocridade geral do ambiente e pelas necessidades imediatas da vida real.
Eu podia arriscar aqui comentários rasos sobre psicologia de massa, podia tentar falar de moralismo e de falso moralismo. Podia tentar entender por que uma aluna de vestido mais ou menos curto fez disparar tamanha reação de ódio em cadeia.
Mas prefiro focar na cena da multidão, naquele momento animalesco. Como uma universidade pode ter tantos alunos assim? Que tipo de ensino esses caras recebem? Será que dá para chamar de ensino? Um diploma obtido desse jeito, e num lugar desses, vale tanto assim?
Perto de casa, há uma universidade desse naipe. No começo e no fim das aulas, as ruas são tomadas pela horda de estudantes. Não há, literalmente, espaço para os carros passarem. Nessa universidade, minha vizinha, existe até curso de medicina. Como dizem no Twitter: #medo.”


PS – O vestidinho da moça é inadequado para uma sala de aula? Sim, cairia melhor numa festa noturna, mas o problema maior, bem captado pelo Álvaro, não é esse. O problema é o comportamento demencial e violento dos alunos. O problema é agora também essa expulsão inacreditável.

terça-feira, novembro 03, 2009

O homem do leme


É preciso perceber e querer a beleza vida com a vontade de fotografá-la na alma. Assim faz o brother que pira na varanda da praia com aquelas linhas perfeitas de ondas além dos coqueiros. Ele dispara cliques com a mesma vontade com que remará depois ao encontro das ondas.
É preciso querer a beleza. Desejar intensamente. Acordar cedo e sonhar ver pela janela as ondas de seus sonhos. O corpo cansado da lida, agito ou sessions do dia anterior não pode te impedir de querer mais.
O leito do mar será sempre mais relaxante e inspirador que a cama e sono mais gostoso. O que é a dor muscular perto da benção marinha da missa das seis?
É preciso madrugar. Pescador de vida tem que chegar cedinho no embarcadouro. Tem que embarcar. Tem que partir.
Por isso cedinho ele olha pela janela e vê o que sonhou. Mais que isso, ele enxerga.
"Deus ajuda quem cedo madruga", o provérbio é exato, por isso só havia um único surfista lá fora tão cedo. Por isso ele pôde pintar aquelas ondas inesquecíveis com os desenhos e movimentos que há um bom tempo não conseguia rabiscar. Por isso, mesmo num dia pequenino, o vento certo da primeira hora do dia ajudou a levantar paredes maiores, mais longas e mais fortes. As paredes dos horários ideais da praia que ele conhece tão bem.
É preciso encontrar a menina dos nossos sonhos na hora em que sabemos que teremos mais chance de encontrá-la. É preciso correr atrás do encontro.
A vida e as ondas não esperam.
Mas temos as canções, sempre prontas para nos guiar, na vida e na próxima queda.
Canções como a balada do rock português que nos impele ao mar, “O Homem do Leme”:
... E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...


Um perder que é ganhar, quando estamos lá fora.
Ao leme, homens da vida, homens do mar!