quinta-feira, outubro 29, 2009

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Número 1
São Bosco, o goleiro mais gente fina do Brasil, salvou. Lembrou um pouquinho o épico Rodolfo Rodriguez.
Coração Valente Washington, sempre perseguido por muitos estúpidos sãopaulinos de araque (que preferem o morto, traíra, pipoca e cara de paisagem morta do Borges), fez o gol mais importante do ano. O gol que nos levou para o lugar mais alto. E acreditam que os idiotas ainda xingaram o matador o segundo tempo todo?!
Multi Homen Jorge Wagner preencheu todos os espaços do campo.
A zaga foi impecável, sobretudo porque seu inventor Miranda resolveu não fazer graça, tirando aquela jogada que nos congelou a espinha ao tirar a bola de Bosco...
Rick saiu. Um minuto depois Júnior César, que o substituiu, já fez uma boa jogada. Três minutos depois, saiu o nosso gol, em jogada iniciada por JC, que resultou no escanteio que originaria o gol. Preciso dizer algo sobre o que acontece quando Rick não joga?
A contusão de Rick salvou Ricardo Gomes, que precisou tirar Jorge Wagner da lateral esquerda e com isso, Salve Jorge pôde armar o time (já que Hernanes jogava bem menos do que os jornais mostram hoje).
Como já disse o Neto na Band, deixar o São Paulo chegar é mortal.
Líder. Por algumas horas, talvez, mas líder. E o hexa líder faz os rivais tremerem.
Nada como reencontrar o sorriso e um pouco de beleza e muita emoção nesse enorme lar chamado Morumbi.

segunda-feira, outubro 26, 2009

A música que nos desperta


Qual o som que você procura em sua vida? Qual o ritmo? Qual o estilo? Por que você precisa de música para viver? Por que a música nos ajuda a viver? Por que nos sentimos tão bem com quem compartilha os estilos que mais amamos? Por que canções são trilhas perfeitas para o amor e a amizade? Por que lembramos das pessoas que um dia amamos (algumas, seguimos amando, mesmo tanto tempo depois) e lembramos delas e de exatos momentos que as amamos embalados por uma canção em especial?
Por que a música une?
Porque há grandes artistas ou amadores com um coração enorme tentando expressar os sentimentos, mensagens e sonhos mais verdadeiros em notas, batidas e palavras tão belas quanto poderosas.
O filme “O Visitante” conta a história de Walter, um professor solitário e farsante, que dá sem a menor paixão o mesmo curso e aulas há 20 anos. Um homem incapaz de se comunicar de verdade depois de perder a esposa. A esposa artista que tocava magistralmente piano. O piano que ele tenta aprender, mesmo velho, cansado e descrente de tudo. A música que ele tenta expressar, para lembrar da alegria perdida. A música que é a única paixão que lhe restou. Por isso ele tenta, desesperadamente, aprender a tocar.
Não consegue, mas porque falta alguém certo para ensiná-lo, bem diferente dos professores de piano frios que lhe dão aulas.
A oportunidade de Walter será uma conferência que o obriga a deixar a cidade em que vive e leciona, Connecticut, para voltar à Nova York que não visita há anos. Então ele volta para lá, mas encontrará seu velho apartamento de Manhattan ocupado por imigrantes clandestinos. Após o choque inicial e a partida dos ilegais, Walter perceberá no imigrante sírio Tarek algo maior que um invasor. Logo descobrirá que Tarek é um genial tocador de tambor africano. Mais que isso, descobrirá a amizade sem preço de um homem que lhe ensinará, apenas por gratidão e pureza de espírito, como tocar um outro instrumento. E aprendendo a tocar o tambor, Walter voltará a tocar sua própria vida. Talvez uma outra vida.
O Visitante não é só uma história sobre o poder curativo da música. É também um drama sobre os imigrantes ilegais e como são tratados com frieza brutal pelas leis dos EUA. Leis ainda mais duras depois do 11 de setembro. Mas pelo menos os sonhos de Tarek e seu tambor mostram como a música e a amizade pura podem ainda salvar esse mundo tão intolerante.
Peguem esse filme (DVD) e vejam como a amizade e a arte podem superar diferenças culturais tão grandes através das iluminadas interpretações de Richard Jenkins (Walter), Haaz Sleiman (Tarek) e Hiam Abbas, que faz a valente mãe de Tarek, Mouna.
Jenkins é aquele raro ator que consegue expressar os sentimentos mais profundos com um simples inclinar da cabeça, com um rápido movimento com as mãos, com um leve abrir os olhos, quando seus olhos se abrem novamente para pessoas simples que entram de repente em sua vida. Haaz nos faz acreditar em cada sorriso, palavra e canção que toca. Nos faz acreditar até as veias no poder da música. E sua mãe, com uma força e amor sem pieguices monumental em seu desejo de ficar perto do filho, é outra atriz que faz desse filme algo tão real e inspirador.
Não contarei mais respeitando a sábia lição de um dos mais humanos críticos de cinema, o americano Roger Ebert. Vejam o filme para a descobrir a mais valiosa qualidade de uma obra de ficção séria: “mostrar as personagens mudando e como elas mudam”. E aprendam também com o grande crítico brasileiro do Estadão, Luiz Carlos Merten: "Adoro quando sou atropelado por esses pequenos filmes, que me desvendam novas janelas para a realidade."
Mais que isso, O Visitante pode mudar um pouquinho nós mesmos. Quem sabe colocando mais música e amizade em nossas vidas. E quem sabe você entenderá um dos lemas desse filme: "Em um mundo com 6 bilhões de pessoas, basta uma para mudar a sua vida".


PS - Está dando um defeito na barra de Cineminha desse blog. Sempre aparecem uns vídeos de rap. Pra sair disso, cliquem no botão atualizar (as setinhas verdes do seu navegador de internet) ou deem o enter no endereço do blog de novo. Só assim verão os vídeos que realment selecionei, que em geral tem a ver com o último post.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Twitter faz mal para o cérebro

Um bom texto - com mais de 140 caracteres, graças a Deus e para alívio de meu cérebro - bastou para cair a ficha. Um professor universitário dos EUA matou a charada ao escrever o livro The Dumbest Generation (a geração mais burra) sobre as crianças que gastam horas na internet. Na fragmentação da internet em que elas acabam não tendo contato com o que nos faz desenvolver o pensamento: o conhecimento linear. Um conhecimento que só pode ser conquistado, por exemplos, em livros.
São tantas as informações, links, sites, bobagens e baixarias na internet ao alcance da molecada que as qualidades da grande web perdem feio para a inutilidade.
O grande vilão para o professor Mark Bauerlein é a fragmentação, esse monte de caquinhos de informação e opções que a internet traz e embaralha a mente de qualquer um.
Mas o que o Twitter tem a ver com isso? Tudo, pois traz um monte de gente postando banalidades (maioria) ou dicas legais. O problema é que se formos clicar em várias dicas, vamos ficar pingando de site em site e aí nosso tempo e leitura de qualidade, linear (do começo a fim de um texto), estimulando a reflexão (do começo ao fim), vai pro saco.
Podem ter certeza: pegar um bom jornal, revista ou livro ou ver um bom filme vai fazer muito melhor ao seu cérebro do que o massacre twitteiro.
Um massacre que só faz bem aos donos do Twitter e aos marketeiros que usam esse site para aparecerem ainda mais.
Ou você acha que um dia vai dizer para alguém: - Putz, um dia entrei num link que postaram no Twitter e aquilo contribui demais com minha vida, aprendi isso..., aquilo, mudou minha vida...
Acorda, moçada.
PS - Sim, tenho Twitter e quase nunca atualizo. E não lembro de nada do que li ali. Mas lembrarei muito tempo do texto sobre a geração digital: "Conectados, multitarefa, radicais, isolados e burros". O texto, do caderno LINK, do Estadão, está aqui:
http://www.estadao.com.br/tecnologia/link/not_tec3049,0.shtm

quarta-feira, outubro 21, 2009

O melhor e o pior do Brasil


Não admiro quem apenas critica seu país e não faz nada para melhorá-lo. Piores são os que debocham do Brasil, valorizam tudo o que é estrangeiro e menosprezam o que é nosso. Acho corajosos os que vão embora tentar a vida, por oportunidades de carreira, em outro país. Só que mais bravos ainda são os que ficam e tentam a grandiosa tarefa de trabalhar por esse país e sua gente. O país e sua cidade estão cheios de problemas? Essa gente valente não quer saber. Quer é valorizar o que há de bom. Quer é semear esperança. Quer é arregaçar as mangas e fazer alguma coisa que não seja apenas para si mesmo. Quer é ficar e lutar.
Antes de me acusarem de pequeno, nesse mundo em que muitos atacam antes de esperar o raciocínio completo, afirmo que poucas coisas me ensinaram mais que viajar. Só que tudo o que aprendi e conheci de outros povos e culturas quero é utilizar aqui. Tento utilizar aqui. Tento, por exemplo, mostrar o que vi, li, escutei e senti para meus alunos. Muitos escutam. Outros muitos preferem não sair de seus mundinhos em que não cabe nem o seu país.
Pena que muitos achem a luta em casa uma perda de tempo, pois muitos jovens valorizam mais quem consegue uma bela carreira no exterior e ganha uma bolada ao invés de quem permanece no Brasa ganhando menos e sofrendo mais.
Por isso admiro tanto os que vão e voltam. Os que voltam e trazem o que aprenderam lá fora para melhorar sua pátria, seu povo, seu lar. Assim fez Raí, que poderia, após 5 anos de Paris, ter ficado lá mesmo, assumindo um belo cargo no Paris Saint-Germain e dando uma vida segura e farta em cultura e oportunidades para suas filhas. Mas ele preferiu voltar e criar uma Fundação para dar uma chance para os que não têm quase nada. Raí, que trocou Paris por São Paulo, cabe direitinho num poema em prosa de um escritor mexicano, José Emilio Pacheco: “Não entendo suas razões para amar um lugar desesperador e sem esperança. Ou talvez exista a esperança porque você está aqui mais uma vez e enche de luz outra estação sombria.”
É muito fácil meter o pau em nossa selva neurótica, agressiva, estressante e barulhenta. Mais difícil é ajudar a humanizar São Paulo.
Muito mais fácil é meter o pau na escolha do Rio para a próxima Olimpíada e dizer que só vão roubar (como se não fossem seguir roubando sem a Olimpíada).
Mais difícil é pensar em projetos e ações para aproveitar a excepcional oportunidade de nos tornamos uma nação esportiva. Uma nação com mais atletas e, isso é quase inversamente proporcional: menos jovens marginais.
Não sei cantar o hino nacional nem admiro a maioria dos brasileiros famosos de hoje. Mas fico emocionado e feliz a cada cumprimento educado e sorriso que ganho da gente humilde que anda e luta pelas ruas. A cada pobre morador de barraco que guarda um atleta abnegado, como o Jornal Nacional mostrou hoje na bela matéria sobre o menino pernambucano de 14 anos que faz lançamento de martelo, uma prova em que o Brasil não tem nenhuma tradição. Incrível a raça, vontade, paixão e esperança desse menino e seus companheiros que treinam com tênis rasgados que precisam ser preenchidos com papelão para não rasgarem nos seus pés enquanto giram o corpo violentamente para lançar o martelo.
Esse é o Brasil de verdade. Os super-heróis do povo. Pena que sejam considerados gente menor por muitos. “Você gosta de contar essas histórias de gente humilde que sofre, dá duro e chega lá, né?”, me perguntou há pouco tempo um senhor sobre os personagens de meu livro de esportes. Na hora pensei ser um elogio mas logo percebi que ele na verdade desprezava esses que ralaram tanto. Talvez por achar o esporte e o nosso povo coisas pequenas.
Errado. A verdade é que temos um povo enorme, que só precisa é ter oportunidades. Que só precisa do apoio de brasileiros de verdade. De brasileiros que podem conhecer o mundo mas não caem nessa bobagem globalizante e consumista de que somos cidadãos globais. Somos o nosso país. Depois somos mundo. E devíamos ter consciência e orgulho disso.
Quem não tem que vá pra Miami ou não nos atrapalhe com seu derrotismo ou egoísmo.
* Rainha Marta ilustra esse texto por ser uma rara estrela bem-sucedida no exterior que veste com amor e entrega a camisa de seu país e de um clube brasileiro. E ainda luta para suas companheiras de futebol feminino terem mais chances na carreira.

domingo, outubro 18, 2009

Craque é isso


Hernanes e Diego Souza nunca foram craques como a mídia que cobre o Brasileirão ou seus empresários tentam vender. O primeiro, após um ou dois jogos depois de voltar de contusão, voltou a ser o mesmo jogador que joga muito menos do que acha. Ontem, contra o Atlético, não acertou uma jogada sequer e passou a partida toda com aquele irritante e inútil efeito que tenta dar em todas as bolas, mesmo quando o passe é para o cara ao seu lado. Parece uma bailarina, sem a garra das bailarinas...
Diego Souza vinha, sim, fazendo um belo campeonato, mas é outro que pensa ser muito mais do que é. Seu forte são os chutes, a garra e a eficiência, mas quando precisa inventar espaços ou driblar, não consegue. Quando o jogo pede um craque, ele não corresponde, pois não tem capacidade para isso. Por isso, não fez nada hoje contra o Flamengo, aliás, essa é outra característica sua, a irregularidade e os jogos em que desaparece.
O único craque do Brasileirão tem 37 anos e lidera o surpreendente Flamengo. Petkovic fez um golaço hoje. Mesmo sem velocidade, seu domínio de bola, habilidade e técnica são tão grandes ele invadiu a área do Palmeiras parecendo voar. Não estava, mas como é craque, penetrou na área, driblou e chutou rapidamente para fazer 1 a 0. Quem voa com Pet é apenas a bola... E como ela voou, cheia de veneno, no gol olímpico que Pet aprontou em cima de terrível falha da zaga verde e não de Marcos.
Falando em falha, ela surgiu também no Morumbi, ontem, quando o falso craque da zaga, Miranda, foi iludido por Diego Tardelli, logo a um minuto de jogo e deu uma voadora no excepcional atacante do Atlético. Falta que originou o gol do próprio Tardelli, em nova falha de Miranda!, e isso a um minuto de jogo! E Tardelli, que joga mais que todos os atacantes do São Paulo juntos, podia ter feito outros. Talvez tenha ficado com dó do time que o vendeu a preço de banana (1 milhão...). Santa estupidez: vender um jovem talento (rebelde, mas craque!) e ainda pedir tão pouco.
Falando em estupidez, Ricardo Gomes ouviu os pedidos da lamentável torcida sãopaulina e trocou no intervalo o grosso, mas valente Washington (que tinha chutado uma na trave e criado e perdido outras chances) pelo indolente, covarde e inútil Borges. Ele mesmo, o Borges que se esconde sempre entre os zagueiros adversários, para fugir do pau e da missão de jogar futebol, coisa que ele simplesmente não sabe fazer.
Que inveja do Flamengo e seu craque! Que inveja do futebol moderno de Tardelli!
Acorda, São Paulo, a Libertadores logo virará sonho enquanto Borges continuar a ter mais chances que o Grosso que não pipoca. Enquanto Miranda continuar a achar que é o Beckenbauer. Enquanto Rick continuar a semear seu jogo cheio de passes errados bisonhos. Enquanto Hernanes se achar Falcão, o que não é nem em sonho. Tá mais, com a sua filosofia ridícula (só o idiota do Globo Esporte pra dar moral pras besteiras que o Hernanes fala) para personagem de comédia de mau gosto.
Jason is dead. E perdão, Jason, sei que é um desrespeito tentar assustar alguém com um morto enterrado de costas como o Borges.

domingo, outubro 11, 2009

Por Amor


Não há, no mundo todo, um povo que ame mais o futebol que o argentino. Por isso, para eles, ficar fora da Copa do Mundo seria uma tragédia tão dolorosa e amarga. O argentino respira futebol todos os dias, nas charlas (conversas) apaixonadas nos cafés; nos jornais que devoram nos mesmos cafés, nos balcões; nos meninos que ainda encontram muitos campinhos mesmo em uma grande metrópole como Buenos Aires; e, claro, nos estádios que eles transformam em arenas e espetáculos arrepiantes através de seus cânticos criativos, belos e emocionados. Cânticos de apoio e amor aos seus clubes que duram toda a duração das partidas.
Voltando ao tema Copa do Mundo, o que aconteceu ontem em Buenos Aires só não emocionou aqueles que não amam, de verdade, o futebol. A sofrida Argentina, mal escalada e treinada, sim, por Maradona, em toda as Eliminatórias para a Copa, sofria com um pobre 1 a 0 em cima do último colocado, o Peru. Sofria até essa vitória parcial virar drama quando, debaixo de uma tempestade de filme de terror, os peruanos empataram o jogo aos 45 minutos do 2º tempo. O empate deixava os donos da casa em situação terrível na luta para classificar-se à Copa. Mas eis que no último minutos dos três de desconto, aos 48 minutos, na pressão pelo gol salvador, a bola espirrada sobra justo nos pés de um centroavante veterano, folclórico, ridicularizado por muitos (um dia perdeu três pênaltis num jogo só) e amado por outros tantos. Amado por mais da metade do país, pois é ídolo histórico do time do povo, o Boca Juniors. A bola bateu em todo mundo e sobrou para o grandalhão grosso mas valente, corajoso, bravo, e desde ontem, imortal, Martin Palermo.
Imortal porque Palermo estava no lugar certo para empurrar a bola ao fundo das redes, fazendo o talvez gol mais dramático e esperado da história do futebol argentino. Na sequência, estádio e país inteiro vindo abaixo, o também ridicularizado Maradona (até por seu próprio povo, quanta ingratidão), saiu correndo feito louco e mergulhou num peixinho sensacional no gramado inundado, deslizando metros e metros de amor àquela camisa que ele tornou mítica em seus tempos de jogador.
Podem falar o que quiserem de Diego, acusá-lo de tudo, menos de falta de sinceridade, paixão e emoções verdadeiras. A explosão daquele que já foi Diós parecia selar a épica vitória argentina mas, incrível!, na retomada do jogo, um peruano chutou do meio de campo e acertou o travessão dos argentinos!, após um leve desvio do arqueiro. Escanteio e só depois dele a seleção da casa se salvou.
Salvou-se por ontem, porque ainda virá uma batalha muito maior, na Montevidéu do único povo que tem motivos fortes para odiarem os argentinos: os uruguaios, que sempre foram tão sacaneados e desprezados pelo país de Diego. O Uruguai de outros dois monumentais Diegos, o zagueiro Lugano, ex-São Paulo e o atacante Forlán, que realizou o outro milagre de ontem: a vitória celeste, fora de casa, contra o Equador, de virada, com gol decisivo convertido de pênalti aos 47 do 2o tempo...
Diferente dos uruguaios, nós, brasileiros, não temos motivos para entrar na onda dos tolos ou ignorantes que falam mal dos argentinos sem jamais terem colocado os pés na terra dos nossos, sim, hermanos. Sem jamais terem sentido e percebido como é profunda a loucura do argentino pelo futebol. Sem jamais terem conhecido um povo que, diferente de nós, luta por seus direitos, pressiona governos e enfrenta a polícia para defenderem preços justos e condições de vida decentes. Sem jamais terem percebido como, sim, os argentinos gostam dos brasileiros e de nossa cultura. Basta um dia na terra deles para percebermos, seja num banco de táxi, num café ou numa balada, como eles adoram elogiar nossos craques, praias, música e, claro, mulheres.
E, diferente de muitas estrelas do futebol brasileiro - que vestem a camisa da seleção sem entrega, comprometimento e raça (Robinho?) – os argentinos defendem sua camisa celeste e branca com uma dedicação e amor sinceros. Porque os jogadores argentinos bem-sucedidos não esquecem suas origens humildes. Não esquecem que um dia foram um pibe (menino) torcendo por um ídolo, um clube e um país.
Por isso tudo, por amor ao futebol de toque e alma; à maravilhosa cultura (o tango, a literatura e jornalismo riquíssimos, o cinema do cotidiano emocionante, por J.J. Campanella e Darín), culinária (carne, alfajores!), vinhos e até cerveja (Quilmes, leve, gostosa, a única que não m dá ressaca!); por respeito à garra e consciência política e social dos hermanos, pude dormir ontem com um sorrisão enorme e coração feliz porque o amor ao futebol venceu ontem uma das partidas mais dramáticas já realizadas. Fiquem então com a narração dos gols de ontem, na voz apaixonada de um locutor local.
PS - Engole essa, Thiago Leifert!, mala que vive debochando dos argentinos, não entende nada de futebol, muito menos de amor ao futebol, e por isso acabou com o ex-melhor noticiário esportivo da TV brasileira, o Globo Esporte.


terça-feira, outubro 06, 2009

Adeus, Voz da América


Calou-se anteontem a grande voz da América Latina, a argentina Mercedes Sosa. Calou-se seu canto de protesto, tão importante nos anos das ditaduras em seu país e quase toda a América. Calou-se também seu canto pelos desfavorecidos e oprimidos. Mas viverá sempre a voz que era uma força irrefreável pela vida, justiça, beleza e liberdade, pois Mercedes é parte fundamental da alma de tantos povos e lutas. Ela era o coração que cantava. E seguirá cantando enquanto resistir algo encantado e vital chamado memória.

domingo, outubro 04, 2009

A grande chance


A Olimpíada no Rio de Janeiro é uma oportunidade fantástica e única para o Brasil se transformar não apenas esportivamente mas social e economicamente também. Mas isso só acontecerá se os homens do Rio 2016 pensarem nos Jogos não apenas como um evento impecável, de instalações esportivas maravilhosas, mas depois abandonadas e em soluções viárias meia-boca – como ocorreu no Pan 2007, em que tiveram a coragem de chamar uma linha especial de ônibus com poucas paradas de “metrô de superfície”.
É hora do Rio realmente transformar-se e não apenas ganhar uma maquiagem, como ocorreu no Pan. É hora de lutar mesmo pela diminuição da poluição na Baía da Guanabara; revitalizar toda a zona deteriorada do Porto, ganhando-a para o Turismo e serviços – como fez Barcelona´92 - e mudar o pobre sistema viário e de tráfego da cidade com, no mínimo, a sempre prometida e nunca executada ampliação do metrô da zona sul até a Barra. Só assim o Rio será pujante de novo e deixará de viver apenas de suas paisagens maravilhosas, carnaval e turismo.
Quanto ao esporte, o governo brasileiro, que injetará a maioria dos bilhões em obras de infra-estrutura dos Jogos, precisa também perceber que só investindo na base - no esporte desde a escola e em projetos esportivo-sociais – é que poderemos nos tornar uma potência olímpica e fazer bonito em 2016. Torcemos para que os erros de Pequim (gastamos uma fortuna na preparação de nossos atletas de ponta e fizemos uma campanha fraquíssima) não se repitam. Só botando grana lá embaixo, nas crianças e adolescentes que praticam esportes, poderemos dar nosso salto esportivo. Só assim poderemos escapar da sina de país de poucas modalidades de sucesso em Olimpíadas, como o vôlei, judô e iatismo, e outros brilhos isolados graças a raros fenômenos como um César Cielo.
Não podemos seguir apostando no fracassado modelo (em número de medalhas) do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), que recebe uma bolada das loterias do governo e repassa essa fortuna para as confederações esportivas, em vez do dinheiro chegar a quem realmente revela e apoia atletas nesse país, os clubes formadores.
É hora de Nuzman, presidente do COB - grande responsável pela vinda da Olimpíada ao Rio, junto do empenhado governo brasileiro – repassar um pouco de seu poder e recursos para os clubes e, por que não, para programas de iniciação esportiva.
Lula emocionou o país em sua brilhante e apaixonada defesa do Rio 2016 em Copenhague. Que agora trabalhe para realmente merecermos o maior evento do planeta, que não merecemos por nossa falta de uma política esportiva ampla e, sobretudo, falta de transparência dessa política, como ficou provado no escandaloso aumento de orçamento em cinco vezes (custo final de 5 bilhões) do Pan 2007, além de inúmeras denúncias de irregularidades nas licitações.
O duro será conter esses caminhos nebulosos do dinheiro que entrará visto que os cabeças da Olimpíada são os mesmos do Pan...
Rezemos então, para não perdermos a chance de mudar o Rio e o Brasil com algo tão grandioso e promissor chamado Jogos Olímpicos. E há ainda algo talvez ainda mais belo e humano, os Jogos Paraolímpicos, que são outra oportunidade: de propiciarmos uma inclusão decente de nossos portadores de necessidades especiais, coisa de que também estamos muito distantes.
PS – Já é notório que a maior parte dos bilhões necessários para as obras do Rio 2016 virá do governo. Me pergunto onde está a iniciativa privada nesse caso? Os empresários brasileiros não se interessam em melhorar o país? Que eles também abracem essa oportunidade apoiando nossos atletas, desde a infância, e ajudando a fomentar um país esportivo, coisa que não existe num Brasil onde apenas 16% de nossas escolas públicas possuem uma quadra poliesportiva.

quinta-feira, outubro 01, 2009

O mestre dos instantes


Ele caçava as imagens mais difíceis de serem capturadas, as do cotidiano. As fotografias que precisavam ser percebidas e clicadas com a velocidade e serenidade (como é possível aliar coisas tão díspares?) de quem olha e enxerga toda a vida dos pequenos atos e gestos. Pequenos flashes simples do dia-a-dia urbano pacato ou da loucura da guerra. A guerra onde foi vizinho e testemunha, tantas vezes, da morte.
O francês Henri Cartier-Bresson foi o mestre maior dos instantes decisivos. Fotografava como um arqueiro zen a lançar suas flechas precisas e por isso, sua receita da foto perfeita era “colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração”, como ele mesmo afirmou. O coração que derramava-se de cada simples e mágica imagem que ele perseguia nas ruas de sua Paris e mundo todo. Mundo porque, mais que fotografar, Bresson tinha sede de viver e defender seus ideais. Por isso serviu o exército de seu país na II Guerra Mundial, foi capturado, fugiu e então lutou na Resistência contra os nazistas que ocupavam a França. Por isso, finda a guerra, rodou o planeta fazendo excepcionais trabalhos de fotorreportagem em diversos conflitos. Depois criou, em 1947, junto de outros jovens e geniais colegas, como Robert Capa, a inesquecível agência Magnum, nome mágico, verdadeiro ícone do jornalismo, humanismo, arte e fotografia mundial.
Uma imperdível mostra-restrospectiva de Bresson - com retratos que fez de artistas e intelectuais famosos do passado e as poesias do instante que citei aqui - está sendo realizada no SESC Pinheiros até 20 de novembro.
Oportunidade imperdível para amantes da fotografia e da humanidade. E aprendizes talentosas e sensíveis como minha ex-aluna querida, Rafinha. Ela um dia registrou, numa praia paulista, esse instante poderoso que é a síntese de seu próprio país: