terça-feira, dezembro 18, 2012

With a little help from my students

A última noite como professor da Turma de 2012 me transportou direto para os Anos Incríveis que assistíamos e discutíamos juntos. De repente, percebi nos olhos, gestos e palavras deles e delas o mesmo afeto, respeito e aprendizado que colhíamos em cada episódio. Os mesmos belos e nobres sentimentos que compartilhamos. A mesma emoção, e como é bom ver meninos e meninas nos emocionando dessa forma, com essa chama!

Meninos e meninas agora já homens e mulheres jovens e cheios de brio, vontade e paixão para sonhar, lutar e viver.

E que jovens especiais, esses e essas que nos brindaram com palavras temperadas com um dos mais nobres e puros dos sentimentos, a gratidão. Sim, brindaram, erguendo em nossos corações as taças de seus discursos mágicos de agradecimento a todos os que os ensinaram um pouquinho, a todos que os acolheram nos anos de escola.

Eles e elas talvez só não saibam o quanto nos ensinaram também.

O quanto nos tocaram com seus sorrisos, apertos de mão, abraços fortes como de pais e filhos(as), brincadeiras no corredor, discussões calorosas em busca de compreensão, palavras de preocupação e amparo para seu professor.

Sim, amparo dos gestos e palavras de meus alunos e alunas em anos difíceis para seu professor. Sim, professores não são de ferro, e quando com problemas, podem, sim, receber o apoio curativo de seus alunos e alunas. Obrigado e tenham certeza que sem a with litle help from my friends-students, eu não teria aguentado os anos duros.

Obrigado também por suas mágicas e poderosas redações cheias de beleza, verdade, pureza, questionamentos e muito mais. Foram elas o sopro de luz e sonho que também me davam forças e satisfação.

Agradeço de novo pelos anos ou meses incríveis que passamos juntos.

Agradeço agora os maravilhosos cumprimentos que recebi de vocês, inesquecíveis meninas e meninos da Turma de 2012, durante nosso breve mas eterno encontro em cima daquele tablado em que tive a honra de entregar seus diplomas.

Adeus, queridas e queridos e escutem uma última canção, que tocou na rádio enquanto eu escrevia essa carta para vocês. É Pink Floyd e tem tudo a ver com os momentos marcantes de aprendizado mútuo de nossas aulas, nesses anos todos, meses ou noite. Chama-se On the turning away  e foram esses os versos que me fizeram lembrar de vocês:

On the wings of the night
As the daytime is stirring
Where the speechless unite
In a silent accord
Using words you will find are strange
And mesmerised as they light the flame
Feel the new wind of change
On the wings of the nigh

(Nas asas da noite
Enquanto os dias tremem
Onde os calados se unem
Num acorde silencioso
Usando palavras que você achará estranhas
E fascinado como eles acendem a chama
Sinta o novo vento da mudança
Nas asas da noite)
  

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Lucas – O menino que não se acovardou



O caso deve ser único no futebol mundial, do jogador já vendido que em vez de se resguardar, passa a jogar com uma coragem e uma determinação maior. Do jovem que em vez de se poupar, sonhando já com a fortuna que fará na Europa, simplesmente não pensa no futuro e apenas se agarra com uma paixão extraordinária, rara, ao clube que o revelou, ao clube que aprendeu a amar. O que Lucas fez neste segundo semestre de 2012 é por isso tudo uma das mais belas histórias de amor de um atleta à camisa que defendia. E imaginem como ele deve ter enfrentado e ignorado a influência de muitas vozes ligadas ao seu staff profissional pessoal - sobretudo seu empresário, velha raposa do mundo da bola – para jogar desse jeito, com algo maior que a já imensa palavra coragem.

Sim, algo mais elevado que coragem foi o que entregou nos gramados esse menino que mesmo vendido passou a partir pra cima com ainda mais vontade pra cima de seus marcadores, e ainda não tirou o pé das divididas, e deu combate recuperando muitas bolas – início de contra-ataques mortais.

Algo mais elevado fez o menino que, diferente de muitas promessas só pra agradar a torcida, típicas das estrelas do futebol, realmente lutou com tudo e mais do que podia por um título. Mais do que podia porque o Lucas antes de ser negociado era já um talento enorme, mas não ainda esse guerreiro de filme medieval a enfrentar no peito, na canela e na raça a fúria e selvageria dos inimigos.

Esse algo que Lucas deixou no gramado do Morumbi e nas arenas sangrentas do Chile e Argentina sob a conivência de árbitros medíocres, foi aquele sentimento quase extinto no futebol, o velho amor à camisa. Não aquele amor da boca pra fora pra seduzir a arquibancada e a mídia, mas um legítimo, nobre e digno sentimento verdadeiro.

Um amor verdadeiro que ele não conseguiu esconder ao ficar um tempão pra deixar o gramado do CT da Barra Funda no seu último treino. Ele simplesmente não queria deixar o campo. Simplesmente não queria ir embora, como transpareceu em mais uma despedida, a sua última entrevista no CT. Ali, emocionado, ele revelava em sua face transparente, sincera, o quanto amava o seu São Paulo. Por isso, quando alguns de seus companheiros invadiram a entrevista, ele não conteve as lágrimas, mesmo em meio à imaturidade e deselegância dos colegas, que em vez de apenas lhe darem um abraço, deram-lhe um banho e alguns tapas na cabeça. Graças que pelo menos o comportamento juvenil (típico de jogadores de futebol brasileiros...) logo virou apenas abraços e um bonito choro coletivo.

Falando em coletivo, em grupo, até nisso o amor enorme e sincero de Lucas pelo São Paulo nesses últimos meses o mudou para melhor. Se antes ele abusava do individualismo e não levantava a cabeça – e por isso o criticamos bastante - a sensação de que sua despedida estava se aproximando o fez olhar mais para os companheiros e ganhar espírito de grupo dentro de campo (fora ele sempre teve esse espírito). Adicionando a isso a mão de Ney Franco em prol desse jogo coletivo (e bem jogando, valorizando a arte e a posse de bola), Lucas cresceu tanto que foi capaz de dar aquela maravilhosa assistência para Osvaldo fazer o gol do título da Sul-Americana.

Isso que é amor: um menino que vira homem e um jogador que escuta, aprende e evolui porque deseja o melhor para o seu clube, para o seu amor.

Um dos amores mais dignos e puros que o futebol e nosso São Paulo já viram. Um amor sem gestos e declarações ensaiadas. Um amor tão apaixonado em campo quanto racional, equilibrado, de um garoto que mesmo tomando mais pancadas que qualquer um de seus companheiros, jamais revidou um pontapé, jamais revidou uma agressão.

Fez isso tudo porque quem ama de verdade não deixa seu amor sozinho.

Obrigado por nos amar com tanta beleza e verdade.

Obrigado por nos reconduzir ao lugar mágico do qual tínhamos tanta saudade.

Obrigado por ajudar a transformar um grupo apático em uma equipe aguerrida e impregnada daquilo intraduzível chamado alma.

A alma de um legítimo fabuloso campeão e ser humano com que você contagiou nosso time até esse título que você nos prometeu e entregou, dentro de campo.

Fica agora um vazio perigoso.

Porque nossa maior arma foi embora e metade do nosso coração.

Que a outra metade, nosso capitão generoso (nobre atitude, repetindo Puyol, de homenagear um companheiro na hora de levantar a taça) semeie na equipe os maravilhosos sentimentos e ações que você nos ensinou nesses meses inesquecíveis.

Adeus, Lucas.

Adeus, Sãopaulino.

(PS – Menção especial ao irmão coragem de Lucas neste São Paulo: Osvaldo. Um jogador pouco badalado, mas que como Lucas nas horas mais difíceis e sangrentas, se agiganta, aparece, enfrenta a carnificina sem reclamar e ainda é capaz de fazer gols maravilhosos, quase impossíveis como aquele toque sutil por cobertura quase sem ângulo do gol que decretou nosso título e enterrou de vez o adversário mais sujo e violento que tivemos em nossa história).

quinta-feira, novembro 29, 2012

Pra Frente, Brasil! (ou a “brilhante” operação dos que recusaram o Maestro Guardiola)



“Respeitamos o passado e as conquistas de Felipão e Parreira, mas precisamos pensar no presente e no futuro”, foram mais ou menos essas as palavras do jornalista Lucio de Castro hoje na ESPN Brasil. Exato. Felipão foi o comandante do Penta, é uma figura querida, um grande motivador e fez também um belo trabalho em Portugal. Tornou uma seleção de quem ninguém tinha medo em uma das potências europeias e mundiais na metade dos anos 2000. Parreira orquestrou o Tetra e também teve um currículo notável. Mas ambos há muito que deixaram de ser sinônimo de bons trabalhos.

A escolha dos vitoriosos mas ultrapassados treinadores de nossos dois últimos títulos mundiais matou uma chance única do futebol brasileiro reencontrar-se consigo mesmo. Perdemos a chance não só de resgatar a essência da bola brasilis – a arte do toque de bola com posse, tabelinhas, dribles, passes verticais, arriscados e pressão pra cima do adversário que estava no DNA, por exemplo, dos tricampeões de 70 ou nos artistas de 82 – como de recuperar o amor de encarnar a amarelinha.

Como um estrangeiro iria recuperar esse amor? Apaixonado pelo futebol bem jogado e pelos maiores da história do jogo bonito, Guardiola é também um mestre forjador de homens sérios, dedicados e dignos. Não é possível, por exemplo, lembrar de um só barraco, caso de estrelismo, orgia, falta de esportividade, violência ou qualquer outro tipo de jogo sujo nas versões do Barcelona que ele dirigiu. Aliás, foi por alguns desses vícios que logo que ele assumiu o Barça se livrou de Deco e Ronaldinho Gaúcho. O máximo de problemas do treinador foram rusgas com Eto´ e Ibrahimovic, mas ambos são egos enormes e não criaram problema só com Pep.

Fala-se tanto na talvez qualidade maior de Felipão – a tal família que criou em 2002 – mas por que não se pensou que Pep poderia criar o mesmo, e com ainda mais força e comprometimento por várias qualidades que ele exibiu como a de ser um mago do vestiário cheio de craques para poucas vagas no Camp Nou? E a estatura humana e profissional de Pep, elegante, articulado, determinado a conquistar e ganhar tudo, como ganhou? E a sua rara qualidade de valorizar tanto as pratas da casa? Aqui uma das críticas mais sem fundamento dos que não o queriam no Brasil: que ele não conhece os jogadores e o futebol brasileiro. Erro crasso. Em primeiro lugar, ele já enfrentou como treinador ou teve ao lado a maioria dos selecionáveis de hoje. Em segundo lugar, como um maníaco garimpeiro, um apaixonado em descobrir novos talentos que ele sempre foi, por que ele não poderia fazer o que fez o argentino Rubem Magnano com o nosso basquete?

Para quem não sabe, Magnano viajou o Brasil todo para conhecer os destaques das categorias de base (os nomes mais famosos, Varejão, Leandrinho, Nenê, Splitter ele já conhecia da NBA ou por tê-los enfrentado com a Argentina) de nossa bola laranja. Meu aluno, seleção sub-17 e sub-20, Gabriel Zanini, cansou de me contar, olhos brilhando, que o argentino tinha aparecido no treino ou jogo dele. Eu mesmo vi o bigode hermano nas arquibancadas do ginásio do Pinheiros observando a molecada das inferiores ou os já adultos, mas novatos do NBB.

Guardiola visitaria a base de nossas seleções e maiores clubes com prazer, com garra, com sua paixão e olho clínico para descobrir o jovem realmente talentoso. Alguém viu algum grosso jogar com ele no Barça? “Ah, mas ele tinha a fábrica de La Masía, a escolinha do Barça, ao seu dispor”. Ué, mas por que foi com Guardiola que os meninos da escolinha mais subiram para o time principal? E por que foi com ele que Xavi e Iniesta se transformaram em monstros da bola? E alguém viu o Dunga, o Mano visitando a base de nossos clubes ou passando um bom tempo em Teresópolis com nossas seleções-sub? Alguém acha que o Felipão vai botar o pé na estrada Brasil afora? Aliás, quantos jovens o Felipão lançou nas equipes que comandou? Raríssimos, pois sempre preferiu os medalhões aos “guris”. E lembremos que os melhores do Brasil hoje são todos muito jovens, mas claro que o presidente da CBF não pensou nisso.

O caso é que a retrógrada, conservadora e ditatorial CBF jamais aceitaria conviver com um treinador moderno e ainda afeito a “essas bobagens” de ensinar não só futebol mas valores. Valores para esse pessoal que manda e desmanda no futebol brasileiro são apenas monetários. Calma, sei que alguns vão falar que “valores é besteira, que jogador tem que ser malandro, que bom caráter não ganha título e sim bola no pé etc etc”. Uhn, quantos malandros jogavam no Barça de Guardiola? Quantos jogam na Espanha campeã de tudo?

Outro erro é o velho imediatismo de achar que deve-se pensar apenas na próxima Copa em vez de mudar e melhorar o modelo técnico do futebol brasileiro. Que jogar bonito que nada, Marin e Del Nero querem é vencer a Copa com um treinador pragmático como eles. Querem é um time amarradinho lá atrás, que vença sempre de 1x0 e pronto. Só esquecem que não há mais o fenômeno Ronaldo e o gênio, sim, Rivaldo, nem os superatletas Cafu e Roberto Carlos, nem Ronaldinho antes do desbunde, nem a segurança e carisma inigualável de São Marcos.

Só esquecem que Felipão e especialmente Parreira venceram Copas com níveis técnicos dos mais baixos da história. Simplesmente não havia grandes seleções rivais em 94 e 2002, tampouco nenhum grande craque estrangeiro em forma. Bastou, por exemplo, um Zidane de novo em forma, em 2006, que ele sozinho acabou com o Brasil de Parreira num dos maiores bailes da história das Copas. A quantidade de dribles desconcertantes e humilhantes que o já veterano Zizou aplicou em nossos jogadores é coisa sem igual na história do futebol. Nem Garrincha entortou tanta gente num só jogo de Copa.

“Ah, mas Felipão é um vencedor, ganhou a Copa e depois foi brilhar em Portugal”. Sim, até o mesmo Zizou acabar com os patrícios em 2006, depois de despachar o Brasil. E lembremos da belíssima campanha na Euro 2004 em que uniu a terrinha toda, mas depois perdeu a final em casa, para a... a Grécia... E depois só vieram fiascos históricos como enfiar o Palmeiras na 2ª divisão (Copa do Brasil, torneio disputado sem os melhores times do Brasil, não é parâmetro; assim como não é parâmetro técnico elevado vencer uma  Copa Sul-Americana, também sem boa parte dos melhores times não só do Brasil, mas da Argentina, Uruguai etc).

Pra piorar, Felipão já disse mais de uma vez não gostar do “joguinho chato” dos espanhóis.

Pior para ele, que deverá engolir o mesmo veneno que afogou Muricy.

Pior para a gente, que engoliremos não só Felipão mas Parreira. Nada contra a experiência (Don Vicente Del Bosque a provar que a rodagem pode ser bela e sábia na maravilhosa Espanha que ganha tudo há anos), mas tudo contra ela quando é sinônimo de dois homens acomodados na fama e no passado.

Não serão os ridículos e hipócritas apelos patrióticos de um filhote da ditadura militar e eterno fantasma obscuro da política nacional, o presidente Marin, proferidos hoje na coletiva de apresentação, que tornarão Felipão e Parreira vencedores de novo. Além do mais porque futebol não é guerra e o brasileiro - que se distanciou muito da amarelinha desde os fiascos dos desbundados e farristas de 2006 e dos guerreiros destemperados ou mal humorados de 2010 – tem o direito, sim, de não torcer por uma seleção que não representa mais o que ele acredita.

Guardiola poderia nos fazer acreditar de novo. Saberia escolher os nomes certos e, sobretudo, priorizaria os jogadores mais hábeis e virtuosos e, claro, um estilo ultra ofensivo e tomando conta da bola como era o nosso futebol do passado.

Felipão? PVC, na ESPN, ontem, fez uma projeção sinistra de como poderia ficar do meio para a frente com ele: Ralf, Felipe Melo, Paulinho e Ramires. Neymar e um centroavante alto e/ou forte (Hulk ou o já bem mediano em 2010, Luis Fabiano). Quatro volantes. Meias talentosos, criadores e verticais?, fora. Lucas fora (um novo Denilson, arma só pro 2º tempo?). Pobre Neymar, isolado ao Deus dará. Claro que Paulinho e Ramires poderiam ser titulares com Guardiola, mas eles teriam mais cérebro e muito mais criação ao lado deles.

Pobre também da descuidada avaliação dos que torceram contra Guardiola, entre outros motivos por acharem que era apenas um lobby de parte da mídia esportiva como o jornal Lance. O lobby veio é da sempre nefasta CBF e de outra mídia historicamente parceira dos cappos do futebol brasileiro.
O que os apaixonados jornalistas do Lance – uma das raras mídia independentes deste país – queriam era apenas o futebol e o futuro muito melhor que viria com o cidadão catalão, espanhol e mundial á frente de tudo.

Finalmente, outro descuido e falta de reflexão: “Ganhamos cinco Copas com brasileiros no comando”. Ora, perdemos outras várias com brasileiros no comando também. Não querer um estrangeiro, em tempos mais que globalizados é bairrismo, medo, ignorância ou o tal do patriotismo guerreiro do Dunga ou, mais enviesado e autoritário, do Marin?“Se quisermos hoje evoluir tecnicamente e, principalmente, taticamente, já que ficamos para trás, o negócio não é investir para trazer jogadores estrangeiros (nos clubes brasileiros), e sim treinadores para os nossos clubes! O caminho hoje é inverso e temos de ter a humildade de reconhecer que não somos mais os melhores do mundo”, escreveu Benjamin Back hoje no Lance. 

A humildade reconhecida com grandeza por Neymar assim que acabou o jogo em seu time foi humilhado por Messi, pela máquina espanhola e pelo maestro Pep. Já esqueceram o que o santista disse? “Hoje eu aprendi o que é futebol. Levamos um baile.”

O baile que deverá prosseguir em 2014, pois a Espanha está anos luz a nossa frente, a Argentina tem Messi e uma seleção cada vez mais acertada, a Alemanha é forte (e joga com arte, até ela, a antes sisuda senhora germânica!) e, incrível, temos ainda uma Itália em que o corajoso Cesare Prandellli sacou os brucutus e colocou só homens que sabem jogar no meio-campo. O Brasil? Ora, “o Brasil parou no tempo e joga o mesmo futebol pragmático de dez, quinze anos atrás, que não funciona mais”, afirmou uma das lendas da bola mundial, o alemão Paul Breitner.

Perdemos a chance de trazer o melhor treinador do planeta e um dos maiores da história do futebol. E, santa burrice, Batman!, perdemos o mestre que estava, vejam só, louco para trabalhar com a gente! PVC de novo, preciso: “É inadmissível que a CBF não tenha nem conversado com Guardiola, nem discutido suas ideias, nada.” 

Ah, desculpem, esqueci, “precisamos ser patriotas!”, berrou Marin hoje, deixando o próprio Felipão, que brilhou tanto em Portugal, visivelmente constrangido. Aliás, aos que veementemente lançaram a grita de que não precisamos de estrangeiros, o contrário pode? Felipão ter treinado a seleção portuguesa pode, mas Guardiola treinar a nossa, não pode? Qual a lógica desse patriotismo? Simplesmente não há. Esse patriotismo é apenas falta de humildade para reconhecer que não temos os melhores treinadores e jogadores do mundo faz tempo. Falta de humildade que não rendeu nenhum convite, por exemplo, ao ótimo e outro defensor do toque de bola, o chileno Jorge Sanpaioli, da La U, para treinar um clube brasileiro.

Mais um dia triste para o futebol brasileiro, que terá repercussões negativas por anos e anos.
Sim, Felipão, pode até trazer o hexa (difícil, não teremos mais as babas de 2002), mas não trará o futebol brasileiro de volta.

Mas “vamo que vamo!” que a nossa patriótica cerveja preferida, depois do “somos guerreiros!”, agora revela e grita que “vai ser tudo festa!, não importa que tá tudo atrasado e super faturado!, o importante é a festa!”. E vamo que vamo, Marin!, “Pra frente, Brasil!, Salve a Seleção!”.

quinta-feira, outubro 18, 2012

Não deixem o JT morrer



Se eu pudesse sintetizar toda a minha vida, entre ideais, paixões, sonhos e pequenas realizações em uma única foto, esta seria a imagem. Uma imagem, captada pelo fotógrafo Reginaldo Manente, ligada a um fato. Um fato que só poderia ter sido descrito dessa forma – e foi – pelo jornal mais ousado e belo que conheci, o Jornal da Tarde. Ou simplesmente JT para os íntimos. Somente o JT soube expressar toda a dor genuína, profunda, dos brasileiros naquele 5 de julho de 1982 quando a mais bela seleção brasileira de futebol da história perdeu da Itália em uma partida tão maravilhosa quanto cruel. Estava ali nesse menino chorando também as lágrimas e, mais do que isso, o desamparo do sonho desfeito, dos meninos que eu era e dos homens feitos que também choraram feito meninos. Sonho desfeito, sim, porque eram tempos em que os brasileiros amavam de verdade seus ídolos e craques da bola. Porque seus heróis de camisa amarela e muito talento no pé – Leandro, Junior, Falcão, Sócrates, Cerezzo, Zico, Éder e cia eram também grandes seres humanos, quase todos eles dotados de um bom caráter inspirador e pensamentos articulados, inteligentes. E esses heróis ainda eram guiados por um mestre, Telê Santana.

O caso é que o JT parece que vai deixar de existir segundo boatos que vazam cada vez com mais força de dentro do Grupo Estado, que dirige o jornal.

Como pode desaparecer um jornal que foi uma ideia e um compromisso, lá nos anos 60 quando nasceu, com um jornalismo tão inteligente quanto bem escrito e combativo? Como pode desaparecer um jornal que foi o companheiro de quem sonhava com um Brasil melhor mostrando o melhor de nosso país? Como pode morrer um jornal que, diferente de tantos outros que baseiam suas páginas no pior do brasileiro, mostrou sempre o valor de nossa gente (e isso sem deixar de atacar e descobrir muitas de nossas mazelas?) Como pode ir embora o jornal que, mesmo sem ser um circo de horrores, foi o primeiro a perceber as mentiras e falta de caráter de um certo Paulo Maluf, estampado naquela histórica sequência de capas com o nariz crescendo a cada dia por conta das mentiras que dizia sobre a Paulipetro, companhia petrolífera que torrou bilhões perfurando o solo paulista sem achar uma única gota de petróleo? Como pode morrer um bastião de cultura que nos ensinava tanto com aquele fantástico suplemento de cultura, o Sábado?

Sim, o JT mudou muito ao longo das décadas, em especial a partir do final do século XX, quando tentaram transformá-lo num jornal mais popular e quase que exclusivamente paulistano. O suplemento de cultura, por exemplo, foi assassinado. Mas o JT sempre teve uma essência tão boa, tão rara, que mesmo essa tentativa dos donos de torna-lo popular e rasteiro não vingou, porque seus jornalistas, mesmos os mais novos, eram e são amantes do bom texto, da história valiosa, das analogias ricas, do jornalismo que não é o mero jornalismo noticioso da maioria dos outros jornais. Não, Ivy Faria, Felipe Machado, Julio Maria, Gilberto Amendola, Alessandro Lucchetti, Luiz Antonio Prosperi, entre outros inúmeros nomes, que passaram recentemente por lá ou ainda estão no jornal, nunca deixaram a bola e a qualidade cair. E olha que nem falei dos gênios e grandes homens e mulheres que brilharam no JT mais antigo.

O desejo dos donos do Estadão de fechar o JT será uma enorme mostra de incompetência da direção do grupo. Em um país com tantos jovens, por que não ampliam o espírito sempre jovem, belo e combativo do JT? E não confundam juventude com superficialidade e inexperiência, pois os jornalistas do JT, mesmo quando jovens, sempre souberam destacar , por exemplo, nas famosas entrevistas das 2as feiras, as personalidades mais importantes do país. Nesta última segunda, por exemplo, estava lá uma certa Fernanda Montenegro...

O Grupo Estado deveria é recuperar a essência do JT, voltar a valorizar mais a cultura, mergulhar mais fundo na cidade (não só São Paulo), valorizar mais o bom texto, mais trabalhado como na grande reportagem e nos belos “abres” das entrevistas (lead é coisa de medíocres, os bons jornalistas do JT fizeram sempre é grandes aberturas!). “Ah, os computadores, tablets e aplicativos de celular fazem o pessoal ler menos no papel”? Ora, por que os chefões do Estadão não investiram então no site do JT? Por que sempre deixaram o site do jornal abandonado, feio, incompleto e quase nada interativo e multimídia? Por que sempre só deram atenção ao cada vez mais chato e conservador Estadão?

Porque eles sempre quiseram matar o JT. Porque os mandatários do Estadão de hoje parecem não ter coragem nem criatividade nem ideais para recuperar o JT do passado.

Esta será uma das perdas irreparáveis para muitos brasileiros.
De mim e muitos hoje quarentões e cinquentões, vocês vão tirar parte da infância, parte enorme dos sonhos de futebol, esporte, cidadania e cultura que o JT nos ensinou. Parte de nossa indignação com políticos corruptos como Maluf que seguem soltos.

O JT, tanto quanto um inesquecível professor de escola, o Chico Moura, me ensinou a escrever. Mais que isso, me ensinou a pensar e também a prezar as belas e profundas palavras. Ajudou demais na minha formação. Ajudou a me formar como sonhador, lutador, cidadão, professor, jornalista e escritor.

Estão matando não um jornal, mas um ideal e uma escola de vida e brasilidade.
Que os grandes jornalistas e, mais que isso, grandes espíritos, cabeças e corações que escreveram e escrevem no JT consigam deter esse processo. Ou recriem, em outro lugar, com outro nome mas com a mesma essência, um dos mais importantes jornais que esse país já teve.

Que outro jornal brasileiro conseguiu traduzir em uma única capa uma vida toda como a capa do menino chorando em 1982? O quê da vida foi revelada naquela capa? A capacidade de sonhar, se apaixonar, amar, vibrar, celebrar, sofrer e perder com a fantástica seleção de 82. Aquela era uma época rara em que nossos jogadores representavam o melhor dos brasileiros naquele jeito de jogar que era uma música tão alegre quanto bela e contagiante; e naquele jeito de ser, pensar e falar profundo de quando um Sócrates, Zico ou Telê abria a boca. E essa capa também foi profética, porque a dor do menino, a dor de todos nós que vivemos aquela partida, prenunciava a tristeza e falta de alegria que as seleções do futuro nos trariam.

Tomara que em algum canto desse Brasil que tem hoje tantas pessoas notáveis e inspiradoras como os nosso craques da bola e da vida de 82, algum grande grupo de jornalistas, cidadãos e empresários que não pensem somente em lucros imediatos tenham a coragem de reinventar o JT. “Ah, mas o JT só cair em circulação, cada vez mais vende menos”, devem dizer os frios empresários que comandam o Grupo Estado. Mas claro, vocês desprezaram o JT por décadas, a culpa é de vocês, que foram obrigando o jornal a minguar e se esvaziar. Por que, por exemplo, não deram ao JT o mesmo cuidado e tempo que deram a essa brilhante rádio Estadão ESPN ou a rádio Eldorado, ambas do mesmo grupo de vocês? Por que não viabilizaram e pensaram em parcerias para o JT? Por que não modernizaram de fato, em vez de apenas enxugar, o jornal?

Porque vocês não tiveram cuidado com o jornal que foi a minha vida, e de tantos outros paulistanos e brasileiros. E, sim, aqui admito que o jornal sempre teve uma essência paulistana, mas até aqui a incompetência e desleixo de vocês é grave: como é que pode a cidade mais rica do país perder o seu jornal-símbolo? E não me venham falar que ficará o Estadão, pois o jornalão para mim é muito mais um órgão voltado a Brasília que para São Paulo. E isso, vocês podem ter certeza: quem assina o JT não assinará o Estadão. Sei que muitos jornalistas navegam entre os dois jornais (na verdade, me parece que o Estadão roubava os melhores nomes do JT), mas será fácil continuar lendo esses: irei numa padaria e procurarei a única parte do Estadão que tem um pouco, na verdade, um pouquinho só do espírito do JT: o Caderno 2. Em especial, da edição de sábado. Mas só queria saber onde é que vocês vão enfiar o brilhante pessoal do caderno de esportes, este sim o pedaço que ainda mantém a alma do JT dos anos 60.

Façam alguma coisa, leitores e jornalistas do JT, não deixem o nosso jornal (mais que isso)  morrer.

segunda-feira, setembro 10, 2012

Juntos na longa estrada

    Brothers de surfe em geral não nos acompanham a vida toda. Às vezes o cara casa e some (nunca sabemos se ele larga o surfe pela pressão da mulher ou porque não teve mais força mesmo para prosseguir a árdua tarefa de madrugar num fim de semana depois de dormir tarde pela exigência, será?, da esposa). Em outras o cara muda de brothers, porque a amizade não é regada como se deve e ele conhece outros surfistas em sua rede de convivência. E tem também a nossa culpa de não tentar resgatar as velhas parcerias. Talvez porque os momentos de vida de cada um mudem muito, ou mesmo porque sabemos que aquelas antes deliciosas reflexões no outside de outrora já não tenham o mesmo sabor pra gente ou pro antigo brother. Bom, isso quando a gente ou o brother muda seu jeito de ser e viver.

Triste o brother que se foi, mas ficam as histórias, os perrengues, as sacaneadas de um só não atropelando o outro no último segundo (bom, às vezes o outro precisava mergulhar mesmo hehe), as risadas das vacas, e os incentivos - os Úh! Úh! gritados com uma emoção e verdade só possível nos brothers de muitos anos juntos.

Bacana demais, por outro lado, o brother que fica. Que permanece junto na viagem da onda mais longa chamada Vida. Não importa o momento e a rotina de cada um - se tá de namorada nova, se casou, descasou, se vai casar, se virou pai, se tá alegre ou deprê - o cara tá sempre junto. Pronto pra te zoar no pico e também incentivar e trocar aquela ideia profunda que só é possível na maior mesa de bar do planeta, o outside, lá onde sempre chamamos mais uma, onda.

Já são 15 anos surfando junto do irmão de surfe e vida, do raro cara que jamais desistiu de um bate-volta na hora, e que está sempre pronto pra outra. Esse textinho surge também pra tentar resgatar esse blogzinho que era meu espaço de reflexões e memórias pessoais. E surge com a força e brodagem em escala máxima porque o brother me salvou o bate –volta, domingo retrasado, e isso depois dele ter feito um bate-volta no dia anterior com outro surfista. Isso que é estar ali para o que der e vier. E surfar. Mas só podia esperar isso mesmo do brou que não vê problemas em nos acompanhar nos maiores trampos. Porque o cara sempre responde a mesma coisa quando inventamos a maior roubada aqui na Babilônia infernal: “Ae velho, preciso ir na PQP, fazer isso, aquilo e mais aquilo”. Ele sempre responde, “blza, vambora!” e ainda é o único cara que comete a insanidade de se oferecer para pegar os amigos no aeroporto de Guarulhos, tendo que enfrentar o caos chamado Marginal Tietê inteirinha.

Talvez seja o astral do cara, que topa qualquer coisa, e ainda ajuda a atrair as ondas, que quase sempre rolam de gala em nossas quedas. Tá aí a longa linha de ondas que vocês podem ver ao longe nesse videozinho logo abaixo, desta última session. Ondas pequenas mas perfeitas, bom, pelo menos pra gente. E mesmo quando o mar está insurfável, só a risada diabólica do cara lá dentro já faz valer a pena.

Valeu, brou! Ex-aluno (entramos no grande Zontes no mesmo ano!), eterno amigo, futuro padrinho (é, fica sabendo por aqui hehe), que o surfe siga vivo como essa brodagem, sempre.

PS – Os velhos brothers a gente não esquece, um dia a gente cai de novo juntos. Um dia quem sabe vocês assistem ao melhor filme de surfe de todos os tempos, Big Wednesday, e não terá como não armamos aquela trip revival.
PS 2 - Um grande salve aos brothers virtuais Maurio Borges e Gustavo Otto, caras que nunca vi na vida real, mas sempre me ensinaram um pouco sobre a longa estrada azul e sobre uma rara camaradagem que extrapola uma telinha de computador. E um salve ao brotherzinho que não pôde ir, mas também tá mesma estrada há mais de dez anos.