segunda-feira, maio 31, 2010

Sem destino


Da falta de destino ele construiu a grande fábula, tão real, do sonho dos sonhos de qualquer jovem dos anos 60. Dennis Hopper, que escreveu e dirigiu o clássico dos clássicos da busca de liberdade, Sem Destino (Easy Rider), partiu hoje para sua última viagem. Todo mundo que um dia sonhou em botar o pé na estrada, acelerar fundo, sentir o vento e a aventura no rosto, sem obrigações que não fosse o viajar por viajar, deve muito a esse homem e à canção que sua história eternizou, Born to be wild. Sim, precisamos de um pouco desse espírito selvagem para partir sem destino até encontramos um sentido. Ou a próxima estrada.
Acelera, moçada, a vida tá lá aonde estão os outros viajantes.

De novo?

Após atacar um barco de ajuda humanitária de ativistas que levavam suprimentos para os palestinos confinados em Gaza, Israel está sendo acusado de praticar terrorismo de Estado. Os israelenses afirmam que o barco continha terroristas islâmicos mas os principais presidentes do planeta não acreditaram nessa versão e condenaram com veemência mais uma matança. O que Israel ganha com isso? Mais raiva em todo o mundo árabe e agora a ira também da Turquia, país que tinha o maior número de ativistas envolvidos. Mais informações, aqui

sábado, maio 22, 2010

A canção eterna


Era apenas uma cena mas estava ali toda a arte do cinema* que iguala-se à vida ao interpretar com tanta verdade, emoção e dor a realidade. O jogo, duríssimo, é disputado sob uma neve incessante. O personagem é um antigo astro do futebol americano que brilhou muitos anos atrás e hoje é apenas uma fagulha do que já foi ao defender uma equipe inexpressiva. Por isso seu rosto é uma batalha entre as glórias distantes que são sufocadas pelo presente ingrato. Por isso ele não quer se aposentar e oferece seu corpo arrebentado - pelos anos de choques, pancadas e contusões - à sede de sangue dos mais novos. Mas a hora sempre chega, e podemos perceber na magistral interpretação dos olhos e músculos da face de Dennis Quaid o exato momento em que seu personagem, o Fantasma, percebe a passagem do tempo e descobre que chegou a hora de sacrificar uma parte do próprio coração. O sacrifício significa deixar os gramados. Deixar a única coisa que fez bem na vida: disparar em alta velocidade como running-back, desviando ou suportando os bloqueios até esta metáfora de linha de chegada da vida que chama-se touchdown, o momento máximo deste esporte.
Como deixar de fazer o que se mais ama? Como o Fantasma – apelido ganho por suas arrancadas tão rápidas que os adversários pareciam não vê-lo – poderá suportar tornar-se um fantasma de si mesmo, uma sombra da estrela incandescente que já foi?
A verdade é que ele não conseguirá suportar o fim, e Dennis Quaid mostrará isso até o fim do filme, especialmente na cena em que, 20 anos depois, é homenageado no estádio onde um dia brilhou tanto. Os aplausos tímidos para ele, em contraste com a ovação em seguida - na entrada dos astros do time de hoje - causam outra profunda cicatriz no seu coração incompleto. Na sequência, outra cena de arrepiar. O velho Fantasma sai do estádio, decepcionado, mas ao ouvir o clamor da torcida, seus olhos brilham e ele diz ao amigo: “Você ouviu isso?! Foi um touchdown”.
Mesmo quando o passado já está enterrado, seguimos ouvindo-o e sentindo o seu canto perdido mas imortal.
Este o drama dos grandes nomes do esporte a quem um dia as pernas não respondem mais. O drama que foi tão bem definido pelo ex-craque do futebol, um meia refinado dos anos 70/80, e maior jogador da história da Ponte Preta, Dicá: “Quando eu durmo, ainda sonho, até hoje, que estou jogando futebol”.

* O filme chama-se "Quando eu me apaixono" (Everybody´s All American), e além de Quaid conta com a exuberante atuação da atriz que faz a mulher que o acompanha a vida toda, Jessica Lange.

sexta-feira, maio 21, 2010

O matador

É preciso estar lá, no campo, para conhecer um jogador de verdade. E Fernandão ao vivo é ainda mais impressionante. O cara lembra um pistoleiro de sangue frio chegando no saloon lotado de bandidos que vão tentar matá-lo; um jogador de sinuca meio desligado que de repente resolve jogar com uma precisão infernal, especialmente nas últimas bolas; e um tenista genial que bate com efeito na bolinha em todas as rebatidas, aliás, o novo líder tricolor lembra muito pela beleza de seus golpes o próprio gênio e mito vivo, Federer.
Leia mais em A balada do pistoleiro

domingo, maio 16, 2010

O trovão que sempre nos iluminará


Poucos cantaram com tanta alma. Poucos gritaram com tanta garra, verdade e beleza. Poucos marcaram com uma voz tão poderosa, profunda, nascida das entranhas de um homem que dava a vida nos shows e por cada canção, que não apenas cantava mas bradava e entoava como verdadeiros hinos não só do heavy metal mas de todo o rock e da música. Morreu Ronnald James Dio, um dos deuses que empunhou os microfones da banda das bandas desse estilo, o Black Sabbath (o outro foi o grande cavaleiro das trevas, Ozzy*).
O universo do metal está de luto, mais negro do que nunca. Que os céus recebam com afeto um dos reis do estilo relacionado ao demônio. Porque o homem que simplesmente inventou o grande símbolo e gesto do metal – o chifre feito com dois dedos da mão - era apenas um cara simpático e legal, sem os ataques de estrelismo de muitos outros famosos, que cantava como um verdadeiro grande artista.
Amém, porque Ronnald James Dio era exatamente igual ao nome da canção que mais o marcou, Rainbow in the dark: um arco-íris (com cores explodindo como trovões) na escuridão.

* Ian Gillian, deus do Deep Purple, teve apenas uma rápida passagem pelo Sabbbath.

quinta-feira, maio 13, 2010

O verdadeiro Imperador

A avassaladora estreia de Fernandão ontem no Mineirão me faz pensar na mediocridade e cegueira da esmagadora maioria da imprensa esportiva brasileira.
Quando foi contratado pelo São Paulo, semana passada, todos, vejam bem, TODOS os jornalistas esportivos que falaram sobre isso, nos jornais e TV (até na ESPN Brasil, mídia esportiva que mais admiro), falaram a mesma coisa: “é bom jogador, mas qual Fernandão é esse, aquele que brilhou no Inter há anos atrás ou o que teve passagem recente apagada pelo Goiás”? Na ESPN Brasil, o Mauro Cezar Pereira, que admiro, até deu uma leve desdenhada (menosprezou mesmo), reforçando o “bom jogador” e que “não poderia mudar muita coisa sozinho”.

Incrível como nenhum desses “gênios” da crônica esportiva nacional não se deram ao mínimo trabalho de uma palavrinha chamada “contextualização”: uma coisa é jogar naquele belo time do Inter campeão da Libertadores e Mundial em 2006; outra, MUITO diferente, é ter que ser o salvador do Goiás do ano passado em que o melhor do time era, segundo a mídia, o sonolento metido a craque, Leo Lima...
Leia mais em http://catedraldabola.blogspot.com

terça-feira, maio 11, 2010

O assassino da arte


Quero ver Dunga destilar suas ironias, como fez hoje em toda a coletiva de convocação, depois da sua seleçãozinha sem arte e craques ser eliminada da Copa de 2010.
Seleçãozinha porque o Brasil poderia ser grande se ele tivesse escolhido os melhores.
Se ele tivesse levado, no mínimo, Ganso.
Se ele não tivesse chamado 6 volantes (!) e Julio Batista para o meio de campo. O meio mais medíocre talvez de toda a história de nosso futebol. Só Kaká pode decidir jogos nesse meio, mas duvido que decida uma Copa. Porque o homem que faz gols só para Deus e a Igreja de bandidos que financia não é um super craque. Bem marcado, sumirá. Pior, se seguir baleado (problemas no púbis são quase sempre crônicos), quem poderá substituí-lo ou mudar o jogo no 2º tempo? Júlio Batista, cujas qualidades são apenas seu vigor físico? O Júlio que é mero reserva na Roma? Ou será Elano, um jogador de esquema e burocrático?

sábado, maio 08, 2010

Figurinhas


Maria Yuryevna Sharapova
Nyagan, Rússia, 19/04/1987
Profissão: Tenista e Deusa
Títulos de Grand Slam: Wimbledon 2004 (6/1, 6/4 Serena Williamns), US Open 2006 (6/4, 6/4 Justine Henin), Australian Open 2008 (7/5, 6/3 Ana Ivanovic)
Qualidades: Seus golpes com as duas mãos são precisos e bem angulados, saca forte, grita em cada pancada, as longas pernas flutuam pelas quadras e seu corpo e rosto formam um conjunto de beleza geometricamente perfeita. E é uma russa legítima, loura como a matadora profissional daquele seriado, Nikita; loura como uma russa deve ser nos sonhos de qualquer homem que sonha com russas.
Defeitos: Não achei nenhum, mas uma dor nas costas a mantém, infelizmente, muito tempo longe das quadras. Ah, suas rivais odeiam o gemido dela a cada rebatida.
 

quinta-feira, maio 06, 2010

O próximo é o São Paulo


A queda, um por um, do Trio de Ferro – Corinthians, Palmeiras e São Paulo – dos principais campeonatos da temporada, tem ingredientes e fatores bem diferentes. Por isso que a desclassificação mais dolorosa, entre os três, foi a do Corinthians. Porque o time – os 11 – do alvinegro é disparado o mais forte entre os três. Por isso a dor de sua torcida foi a maior. Porque a falta de Chicão deveria ter entrado, seria feita a justiça.

domingo, maio 02, 2010

O título é dele


Não foi Neymar, Robinho, o ataque dos sonhos, muito menos o treinador Dorival Junior (perdido, uma besteira atrás da outra fez) o responsável maior pelo título do Santos. Um título que, por muito pouco, não foi para esse valente, belo e prejudicado pela arbitragem, Santo André. Na hora em que a coisa apertou mesmo e os azuis pressionavam o time santista, foi Paulo Henrique Ganso quem escondeu a bola em seus pés e evitou que o Santo André tivesse mais tempo e chances para fazer o 4 a 2 da consagração. Ganso é um craque realmente (Neymar e seu infame cai-cai hoje carimbou sua não ida à Copa) e se Dunga não levá-lo à Àfrica do Sul será umas das maiores injustiças e burrices da história do futebol. Porque na hora em que a coisa apertou mesmo, Ganso mostrou uma personalidade impensada para sua pouca idade. Quando Robinho sumia ou se escondia em jogadas que não dariam em nada; quando Neymar abusava se jogando em qualquer tranco, precisou aparecer o verdadeiro líder e condutor desse time, o menino-homem Paulo Henrique. O cara teve tanta personalidade que simplesmente se recusou a ser substituído e obrigou seu treinador a engolir essa indisciplina tão sábia hoje. Caso acatasse a barbaridade da estúpida ordem de Dorival Junior, o Santos seria fatalmente engolido: quem iria segurar a bola, se Neymar e Robinho já haviam saído?
Ganso ficou. Por isso o Santos venceu essa final espetacular (cadê os jornalistas medíocres que disseram que o Santo André seria presa fácil?) em que ficou muito próximo de perder o título. Se o bom juiz Sálvio Spínola não tivesse confiado da sua bandeirinha (apontou impedimento em gol legal do Santo Adré), a história seria outra... Também seria outra se o treinador dos Les Blues do ABC não tivesse sacado no 2o tempo o melhor jogador azul, o Branquinho, uma alteração estapafúrdia. Mas parabéns ao Santos pelo belíssimo e ofensivo futebol apresentado em todo o campeonato.
PS - Parabéns especial às minhas alunas fanáticas santistas aqui do Zontes, que tiveram a sabedoria e garra de irem ver seu Santos ao vivo. Elas sabem que só se é torcedor (e vivente) de verdade lá na arquibancada.