sexta-feira, abril 27, 2012

O mais apaixonado dos mestres


Com ele, artistas viraram magos. Craques viraram super craques; e guerreiros, deuses.
Com ele, o futebol recuperou a poesia em prosa do jogo de toques com classe e passes perfeitos e incisivos.
Com ele todas as grandes equipes do passado voltaram a ser emuladas. Porque ele nos lembrou que um dia o futebol também foi belo em outras cidades e países.
Com ele, algumas palavras essenciais às equipes inesquecíveis foram resgatadas: fidelidade a um estilo e coragem de atacar sempre.
Com ele veio a revolução do jogo de toque vir acompanhado de  uma colossal entrega física para recuperar a bola e seguir atacando.
Com ele os gols voltaram a ser maravilhosas jogadas coletivas, e os gols de placa individuais ficaram ainda mais belos, por ele ter feito seus artistas treinarem tanto.
Com ele o futebol arte renasceu e evoluiu ainda mais, fazendo de cada jogo do seu time um espetáculo tão belo quanto o mais belo espetáculo artístico e cultural.
Com ele o futebol virou uma música e outras artes tão belas quanto rápidas e envolventes, como se fosse possível um time ser múltiplo – música, dança moderna, ballet, ópera, cinema etc – e também mover-se em ritmo alucinado do bom e velho mas veloz fliperama dos anos 70/80.
Com ele seus jogadores admiráveis mostraram-se também homens valorosos, raríssimas estrelas humildes e homens de bem que não aparecem na mídia traindo esposas, fazendo farras homéricas, empunhando metralhadoras, brigando ou fazendo todo tipo de coisa vulgar.
Com ele meninos viraram homens e campeões juntos. Com ele, as divisões de bases, as canteras, viraram celeiro.
Com ele o mundo do futebol, sempre ávido em gastar fortunas em contratações, redescobriu as categorias de base e a necessidade de se valorizar os meninos.
Com ele, um dos últimos treinadores românticos, o futebol voltou a ser um romance de craques com a bola e o gol.
Com ele nós voltamos a perceber como o futebol e o esporte podem ser bonitos.
Com ele, aprendemos que devemos ouvir os mestres antigos para nos enriquecermos e aprendermos, porque antes de brilhar no Barça ele procurou para conversas sem fim os treinadores que ele mais admirava.
Porque ele não é um treinador boleiro, desses que viveram a vida nos gramados e não aprenderam nada fora dos campos.
Porque ele trouxe ao futebol um pouco de sua vasta cultura, do seu amor pelo cinema e poesia por exemplo.
Porque ele só queria fazer uma coisa: implantar no time de seu coração a utopia de um time jogando exclusivamente por amor ao futebol arte.
A dor em Barcelona hoje é grande demais, mas em breve, algum lugar abençoado deste mundo receberá o mestre e será mais feliz que nunca. E podem ter certeza que ele vai escolher um lugar e uma camisa sinônimos de magia, mesmo que uma magia meio esquecida no passado. Quem sabe por aqui...