terça-feira, abril 27, 2010

A história de Black Johnny


Meu amigo, Johnny
Irlanda, julho de 2006. Black Johnny é um cara de bem com a vida. Está sempre presente nos melhores shows de rock de Dublin. A cabeleira cor de fogo balança, a garganta grita, as mãos erguem uma inseparável cerveja Guiness e o cara toda hora dá uma parada, pede silêncio e diz em tom solene: “vamos fazer um puta brinde à vida, meus bons amigos!, levantem as mãos!” (let´s make a fuckin´cheers to life, my good friends!, raise your fuckin´ hands!”)
Black Johnny nos parece a exata tradução do clichê de aproveitar cada momento da vida. Impossível não dar aquela risada e acompanhá-lo nas suas exaltações de alta voltagem.
E a loucura elétrica não se restringe aos shows. Sempre que armamos uma boa pelada em um gigantesco parque de Dublin, brigamos para tê-lo no time, pois é garra e alma garantidas a cada dividida. Seus gritos primitivos de lobo das estepes, monstro do Lago Ness (ele não gosta nada dessa comparação, I´m no fuckin´ scottish!, ele reclama) ou uma espécie de Lugano alucinado das ilhas do Norte nos dão mais vontade de jogar. Johnny sabe transformar uma simples pelada em final de Copa do Mundo. E a hora do gol então? A solução é correr dele dando risada, porque o maluco vem correndo e gritando peitando e abraçando todo mundo com uma adrenalina e alegria que quebra os desavisados no meio.
Os monótonos dias em Dublin – as aulas de inglês são bem fraquinhas – transformam-se quando encontramos o maluco nos finais de semana. A sensação de vê-lo e gritar pro lunático, “Fuckin´ Crazy Johnny!”, espanta qualquer monotonia e as nuvens cinzas onipresentes na capital da Irlanda.
“Queria ser tão feliz como o Johnny”, “Queria fazer das coisas mais simples um espetáculo, como ele”... a galera toda, entre brazucas, espanhóis, italianos e sérvios é unânime ao falar de Johnny, o cara que parece o refrão de uma grande canção cantada por milhares de vozes num show inesquecível.
Todos estavam errados. Só acertaram uma coisa: ele era mesmo uma canção, mas com alguns dos versos mais tristes da história do rock.
Descobri um dia em que errei a estação do Dart (o eficiente tremzinho local) e resolvi dar um rolê num velho porto abandonado.
O lugar estava quase deserto e achei ser ideal pra dar um tempo pensando na vida. Digo quase porque escutava ao longe as melodias de um violão. Perseguindo o som, escutei uma voz tão bela quanto triste em cima do ancoradouro mais judiado do lugar. Cheguei mais perto e fiquei espantado. Era Black Johnny, e pela primeira vez não o vi com aquela aura de alegria e eletricidade em volta dele.
Me aproximei, ele percebeu mas não se preocupou em disfarçar nada. Apenas deu uma paradinha, me disse um “pode sentar, meu bom amigo” e voltou a tocar. Entendi aqueles versos puta tristes, “fuckin´ sad” é como ele diria.
Mas Black Johnny não disse. Apenas cantou e o céu mais escuro do mundo parecia nos tocar enquanto ele cantava os últimos versos da canção,
I´m looking to the sky
searching for some light
but i can only find
the black star that falled
from my heart


- Van Morrison?, perguntei.
- Não, meu amigo, too fuckin´ sad para Van Morrison.

- Neil Young?, arrisquei, imaginando a beleza daquela canção na guitarra triste do mestre canadense.
- Errou de novo, meu amigo. É Black Johnny mesmo.
- Você tá me sacaneando, essa puta canção é tua?
- Yeah, Black Johnny´s fuckin´ love song...

Naquela noite, descobri a verdade. Na escuridão daquele porto abandonado descobri enfim o porquê do apelido “Black” acompanhar Johnny. A história passa por um coração arrebentado, repleto de um vazio que transborda e o sufoca, especialmente quando a noite chega e não há ninguém para atravessá-la junto dele.
A história passa por uma menina maravilhosa que o amava e ele dispensou porque se enganou numa paixão infernal. “Big shit, brother, fui fuckin´stupid”, revelou Johnny, que nunca mais se recuperou. “Quando percebi o erro, a primeira menina, o verdadeiro amor, já tinha partido”.
Só não entendi como ele disfarçava isso tão bem, “porra, Johnny, a gente achava que você era o cara mais loucamente feliz do mundo”.
- Tá vendo aquilo ali?
Na noite sem luz eu não enxergava nada, só aquela terrível black star, a estrela negra, da canção dele.
- É, eu sei, não dá pra ver nada, mas você pode escutar. O mar, meu amigo, o mar.
Foi então que ele me contou como o mar lhe manteve vivo todos esses anos.
E como ele exalava felicidade nos sábados e domingos, os dias em que descansava da vida de pescador e... surfista.

- Cara, não há amigo mais fiel, companheiro e levantador de astral. Não há namorada mais bela, afetuosa, intensa e viva. O mar. A onda...; e quando Johnny falou “onda”, uma breve faísca de sorriso esboçou-se em seu rosto.
- O surf salvou minha vida todos esses anos, meu amigo.

Pena que São Paulo não seja pequena como Dublin. Pena que falte um futebolzinho no parque com uma galera sossegada, que só quer jogar por prazer e amor, como meus amigos gringos daquele verão irlandês. Pena que não exista uma rua como aquela (alguém lembra o nome?), cheia de pubs de rock ao vivo em que podemos entrar e sair; cantar, gritar e procurar outras bandas e canções como se a vida fosse um trem em que podemos embarcar e descer onde quisermos; ou um festival de rock sem fim em vários palcos.
Mas, graças a Deus, tenho um amigo chamado mar e uma namorada chamada onda. Pelo menos até que a noite chegue.

quinta-feira, abril 22, 2010

Ricardo Gomes quase entregou


Faltou futebol mas, enfim, sobrou vontade ao São Paulo ontem. Os jogadores finalmente responderam ao apoio da massa – mais de 50 mil sãopaulinos – com garra e empenho. Os grandes responsáveis pelo magro 1 a 0 contra o Once Caldas foram a defesa (Miranda e Alex Silva não vacilaram; Rogério fez uma grande defesa em chutaço de Dário Moreno), o apoio infernal de Marlos – que ainda fez a jogada do gol de Fernandinho – a liderança, apoio e passes inteligentes de Cicinho (cresce a cada jogo) e, perigo!, a SORTE.
A sorte do sufoco que levamos na metade inicial do 2º tempo não ter sido traduzida em um gol, que seria merecido, dos colombianos.
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terça-feira, abril 20, 2010

Por que não torcerei pelo Brasil de Dunga


Não consigo torcer para uma equipe que não representa o verdadeiro futebol brasileiro, aquele de arte, de jogo bonito, de jogadores criativos, habilidosos, até geniais. Aquele dos meus heróis da Copa de 82, que perderam a Copa mas encantaram o Mundo. Aquele de Rivaldo e Ronaldo em 2002. Aquele do espetacular Santos de Neymar e Ganso.
Não consigo torcer para uma equipe que baseia seu jogo em uma só estratégia: o contra-ataque.
Não consigo torcer para uma equipe que tem em seu melhor jogador apenas um ótimo jogador, jamais um craque, Kaká.
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domingo, abril 18, 2010

Osasco Campeão. Espetáculo para poucos


Antes de falar desta espetacular final brasileira, entre Osasco e Rio, 3 a 2 suado no tie-breaker para as paulistas, uma bronca: A Superliga feminina 2009/2010 (sim, o campeonato começou no ano passado pra quem não sabe) teve belíssimas partidas a temporada toda, mas só hoje, na grande final (em apenas 1 jogo, por quê?), a TV Globo - detentora dos direitos da competição - passou um jogo ao vivo. Quem quis assistir ao campeonato teve que se contentar com as transmissões em horários muitas vezes estapafúrdios do canal fechado da Globo, o Sportv. O terceiro e decisivo jogo da semifinal, por exemplo, entre Rio/Unilever e São Caetano/Blausiegel, passou no sábado passado, 9 e meia da noite. Só mesmo um fanático por vôlei pra encarar um horário desse em pleno sabadão.
Graças que hoje pudemos ver - em horário digno, a partir das 9h45 da manhã - a monstruosa atuação da jovem Natália, 21 anos, a ponteira que comandou o Osasco/Sollys na bola (maior pontuadora da partida) e na raça, pois inflamou sua equipe nos momentos decisivos. O que fez essa menina hoje é coisa digna das maiores performances da história do vôlei mundial. Mundial, sim, porque a Superliga ou campeonato brasileiro feminino, teve quase a totalidade das campeãs olímpicas de Pequim 2008 e jovens fenômenos como Natália.
A Natália que enfiava a mão, marcava, gritava e batia a mão no peito em cada pancada sem defesa que acertava na quadra do time carioca dirigido por um certo Bernardinho. A Natália que deu hoje uma das mais belas lições de amor ao esporte e garra da história do vôlei brasileiro. Impossível não se comover com a vontade e fúria positiva da menina. Talvez por isso até os comentaristas da Globo não tenham parado de falar lugares-comuns e bobagens quase o jogo todo. Destaque nesse quesito para o festival de obviedades da ex-jogadora e musa do vôlei, Leila. Sim, “ela está lá na telinha porque dá ibope”, diz minha sábia mãe. Mas será que não tem uma outra ex-jogadora que poderia, pelo menos, COMENTAR o jogo, e não ficar tietando ou dizendo 100 vezes “tudo pode acontecer”, como fez a Leila hoje?
De volta ao jogo, palmas também, no time campeão, para a excepcional libera Camila Brait, para a liderança tranquila da levantadora Carol, para as pancadas de Jaqueline e o bom trabalho pelo meio – com alguns vacilos – da cubana do Osasco, Adenizia. Sassá também esteve bem e, emocionada, já chorava ao pressentir o título no final do quinto set.
O choro que explodiu em todas as suas companheiras ao vencerem o jogo e desentalarem as três últimas Superligas que haviam perdido para o Rio.
O Rio de Bernardinho, sempre um brilhante treinador, mas confesso que anda difícil de aturar seus xingamentos, chiliques e explosões em cima das meninas durante os jogos. Por isso a vitória do muito mais contido e também grande treinador do Osasco, Luizomar Moura, foi tão bacana. O Luizomar que começou a temporada sem emprego (seu Osasco/Finasa havia sido extinto pelo Banco Bradesco no dia seguinte da derrota para o Rio na final da Superliga do ano passado) mas lutou, com apoio da mídia, e conseguiu remontar este time com novo patrocinador, a Nestlé.
Parabéns a essas campeãs tão guerreiras quanto talentosas e uma pena que a Globo siga relegando este evento e esporte tão vencedor no Brasil ao seu canal por assinatura. A mesma coisa acontece com a Superliga masculina, onde o monstro Giba, do Pinheiros, lidera um movimento para que os jogos tenham horários mais decentes e que passem mais na TV aberta (entre os homens, a Globo liberou alguns jogos para a Bandeirantes).
O vôlei não dá audiência ou a Globo que não se esforça para trabalhar esse belíssimo produto? Se depender de sua divulgação interna, com flashes de um minuto no Globo Esporte, e zero minutos no Jornal Nacional, é claro que a audiência não sairá de um evento (Superliga) que poucos conhecem. Mas o que esperar de uma emissora que deu seu noticiário esportivo diário (Globo Esporte) para as palhaçadas e ridículas matérias comportamentais do apresentador e manda-chuva do programa, Tiago Leiffert?
Uma pena. Continuaremos a ter que nos contentar com um horário decente e TV aberta apenas na final. E assim, fenômenos como Natália, que poderia inspirar tantas crianças e jovens, ficam escondidas do grande público até a próxima Olimpíada.
PS - A única foto da Natália que aparece no site da Superliga agora, horas depois de terminada a partida, é ela com Ronaldo, que ajudou na entrega das medalhas para as campeãs. "Sensacional" a assessoria de imprensa da Superliga, hein?! Essa mesma assessoria não mandou ninguém, por exemplo, para fazer a primeira partida de semifinal entre São Caetano e Rio, no feriado da Páscoa, num sábado.

quarta-feira, abril 14, 2010

A brisa que nos aquece

(*)
Há anos ela nos protege do frio do tempo e das almas. Basta olhá-la que sossegamos em seus olhos calmos e voz tranquilizante, necessários contra a fúria do cotidiano.
Olhos e voz na medida exata, como o vento que sopra na intensidade certa para levantar as ondas do afeto. Olhos e voz meigos que nos dão aquele carinho vital para lembramos que ainda temos um coração.
Ela poderia ser só isso, uma leve brisa quente do mar fundamental.
Ela poderia ser apenas uma bonita visão de menina que nos quer bem e sabe como é importante nos mostrar isso.
Ela poderia apenas nos aquecer em ondas de calor, como uma lareira na casa da montanha.
Mas ela vai mais longe.
Sopra mais forte.
Ela sabe que os ventos da vida devem se materializar, devem oferecer o calor mais belo, dos braços que confortam.
Por isso ela abraça.
Um abraço que sopra pra longe todos os males.
Obrigado por soprar sempre, pequena tempestade vital.
Quem vai soprar o frio embora quando você partir?
(*) Foto do site Olhares.pt

segunda-feira, abril 12, 2010

Os mesmos erros. Santos campeão


O São Paulo, que poderia ter conseguido uma vitória espetacular contra a soberba santista, perdeu para si mesmo. Fossem os torcedores do São Paulo menos iludidos por jogadas de efeito de seus dois zagueiros e fosse a imprensa mais empenhada, a verdade sobre a deficiência mortal do São Paulo apareceria simples e clara. O São Paulo perdeu pelos erros de sua defesa, de Rogério até Junior César.
Primeiro os beques. Alex e Silva e Miranda são endeusados como monstros na arquibancada e pela maioria dos jornalistas. Sim, eles protagonizaram grandes lances ontem, ganhando várias jogadas, mostrando raça e técnica, mas na hora H, falharam e foram determinantes para a derrota tricolor. Uma simples análise do posicionamento dos dois zagueiros mostra a verdade. No segundo gol santista, Alex Silva, que joga pelo lado direito da defesa, estava colado a Jean. Ambos olharam Neymar cruzar sem fazerem nada. A bola atravessou a área tricolor e foi encontrar livre, perto da trave esquerda, o atacante André, livre. Na esquerda da área deve estar Miranda, é ali que ele joga. Pois Miranda estava atrasado e pior, andando. Viu André concluir tranquilo, acossado apenas por Junior César, que estava onde Miranda deveria estar. 2a 0 para o Santos.
A segunda falha da zaga veio no finalzinho do jogo. Perto da área, na esquerda tricolor, Miranda faz uma falta infantil. No jargão boleiro, “dá no meio” do “craque” santista, o zagueiro Durval. Qualquer jogador maduro que se preze sabe que faltas perto da área devem ser evitadas, ainda mais no finzinho da partida. Resultado? Madson cruzou no segundo pau. Pausa: O que fazia Alex Silva encostado no primeiro pau??? Marcava quem??? Não deveria ele, como mais alto jogador do São Paulo, acompanhar o mais alto santista, Durval? Não acompanhou. Volta pro cruzamento de Madson: a bola viaja por toda a frente do gol sãopaulino, Rogério sai mal pra burro, não consegue dar um tapa na bola, e ela sobra para, adivinhem quem?, Durval cabecear livre. Adivinhem quem marcava Durval e simplesmente não pulou com ele? Miranda. Para os que acham que persigo Miranda, revejam os gols, ou vejam bem esses dois desenhos toscos mas verdadeiros que eu fiz, reproduzindo seu posicionamento e falta de empenho em 2 gols santistas.

Outra verdade que ninguém comenta: Miranda só joga bem na sobra e com um sistema de 3 zagueiros. Assim, sendo o zagueiro da sobra (com os outros dois companheiros fazendo o jogo sujo), ele se destaca. Assim ele ganhou títulos brasileiros. Mas mesmo assim, falha demais, especialmente dentro da área, especialmente na bola aérea.
Outro detalhe: o Santos teve três escanteios perigosos no 1º tempo. Sabem quem tirou a bola, de cabeça? Washington.
Agora o resto da defesa. Rogério falhou bisonhamente, junto de Miranda, no terceiro gol. Só que Rogério sempre saiu mal do gol, a carreira toda, mas era bem defendido por zagueiros da estirpe e alma de um Lugano, Fabão e até do fraco Ed Carlos, que fez, paradoxalmente, uma partida monumental no título mundial de 2005. E Rogério, meus caros, é simplesmente o herói maior do título mundial de 2005 e um dos maiores da Libertadores 2005. O pior é que muitos querem aposentá-lo, colocando toda a culpa das derrotas recentes nele.
Nas laterais, Jean, que não é lateral, e Junior César, tomaram um baile dos santistas, especialmente JC, que fez até gol contra, no primeiro gol.
Agora o jogo: o Santos só não goleou no 1º tempo porque se acomodou. Na 2ª etapa, a entrada de Cicinho, que jogou como nos bons tempos, infernizando a defesa adversária, dando passe pra gol (de Dagoberto) e colocando fogo no jogo, acendeu o São Paulo.
A fúria veio também com Hernanes, fazendo 20 minutos espetaculares, parecia Falcão na Copa de 82 contra a Itália. Hernanes criou, driblou, fez um golaço, quase fez outros dois (um deles numa falta que Felipe tirou do ângulo), fez outra jogada sensacional, enfileirando os santistas até servir para o disperso Dagoberto perder mais uma bola. Só pergunto porque Hernanes não joga assim sempre? Porque sua máscara é do mesmo tamanho do seu potencial.
O outro possesso tricolor chama-se Jorge Wagner. Só vendo o jogo ao vivo, da arquibancada, percebemos sua real importância. Jorge Guerreiro joga por ele e por mais dois: defende pelo meio-campo todo (Souto é muito lento, Hernanes marca pouco), defende e ataca por Junior César e por ele mesmo. E outro detalhe: Jorge tem o empenho e a garra necessárias o JOGO TODO, bem diferente de Alex, Miranda e Hernanes, que sofrem vários apagões durante os 90 minutos por se acharem melhores do que realmente são.
Marlos me recuso a comentar. Só mesmo a gente, torcedores, pra acreditar que ele tinha acertado o time só porque jogara bem contra o Botafogo e contra um Santo André sem meio time e já classificado.
Dagoberto? Esse é uma farsa. Não fazia nada em campo, repetia a mesma jogadinha de fechar para o meio, quando fez um gol ao receber passe com açúcar de Cicinho. Aí cresceu um pouco. Esse tem uma máscara maior do que a de Hernanes e Robinho juntos. Sua maior qualidade é encher os adversários de cartões com suas encenações e divididas em que se joga de costas nos rivais e parece que é chutado.
Washington? Saiu no intervalo tendo recebido apenas uma boa bola dos companheiros, que ele virou e chutou no canto mas o bom Felipe pegou. Foi mal? E sua luta, e seu coração? Só isso já é um exemplo para um time que só mostrou brio no 2º tempo. Um brio que não haviam mostrado em todo esse ano.
O Santos? Ganso é o maestro, joga demais, tem visão de jogo dos grandes do futebol, dá sempre passes incisivos e Neymar tortura seus marcadores. Mas os dois se apequenaram na etapa final. Robinho jogou com inteligência na 1ª etapa, iniciando jogadas e servindo bem, depois sumiu. O resto não está à altura do apelido de máquina. Os adversários do Paulistinha é que são fraquinhos demais, São Paulo incluído.
O Paulistão já é do Santos. Acabou.

quinta-feira, abril 08, 2010

A culpa é de quem morreu


As chuvas e enchentes que tornaram a sobrevivência (vida é outra coisa) dos paulistanos da periferia e pequenas cidades vizinhas um inferno em janeiro e fevereiro caíram de uma vez só no Rio e engoliram os morros cariocas, ruas e avenidas mais “nobres” e até a Zona Sul, onde a Lagoa transbordou. A contagem dos mortos é chocante. Mais chocante ainda é o descaso e incompetência dos governos, que estavam e estão cansados de saber quais são as áreas de risco. As áreas que eles não olham. As áreas que, quando caem – levando arremedos de casas e vidas – eles, os governantes, botam a culpa nos moradores. “Ah, quem mandou construir em área de risco?” é a acusação covarde contra os agora mortos. Covarde porque quem deveria dar um lar e local decente para o povão - que faz o trabalho mais sujo e pesado em Sampa e no Rio - não dá. E não falo só do governo. Por que as grandes empresas, indústrias ou bancos, que tanto faturam, não tornam-se parceiros do governo para construir casas populares? “Ah, os bancos já financiam casas populares”, dirão os banqueiros, fingindo bondade. Sim, financiam, a juros altos, empobrecendo ainda mais os que sonham com a casa própria. Como bem cutucava Renato Russo, “o sistema é podre, o homem é mau”.Pena que Renato esteja morto faz tempo.
Pena que a crítica que alcançava muita gente na cultura brasileira hoje só existe no rap. No rap que não chega ao ouvido de quem pode fazer alguma coisa, da classe média pra cima.
O Rio e São Paulo (e Angra dos Reis, e Santa Catarina quase toda, e etc e etc) submersos são o reflexo de nossas políticas públicas incompetentes, burras e omissas, como a de São Paulo que está sempre abrindo mais e mais faixas cimentadas, matando o verde que poderia drenar as águas. São reflexo de governos que governam para quem tem dinheiro. Ninguém morre pela chuva nos Jardins e em Ipanema.
Quem morre é o Brasileiro típico. O lutador do dia-a-dia que toma um rodo cotidiano como bem mostrou o Rappa há alguns anos.
Quem morre é o Zelão da antiga canção de Sérgio Ricardo, de 1960, que mostra-se, tristemente, tão atual 50 anos depois:

Todo morro entendeu
quando o Zelão chorou.
Ninguém riu, nem brincou
e era Carnaval.
No fogo de um barracão
só se cozinha ilusão,
restos que a feira deixou
E ainda é pouco só.
Mas, assim mesmo o Zelão
dizia sempre a sorrir
que um pobre ajuda outro pobre
até melhorar.
Choveu, choveu.
A chuva jogou seu barraco no chão,
nem foi possível salvar violão
que acompanhou morro abaixo a canção
das coisas todas que a chuva levou,
pedaços tristes do seu coração


Vejam, meus caros: há 50 anos os Brasileiros já ocupavam os morros porque os governos não se preocupavam com eles.

* A canção de Zelão encontrei num site que mostra o Brasil de verdade, aquele que é produto dos poderosos que não fazem o que deveriam fazer. O Brasil que a grande mídia ignora. O site é esse: http://www.consciencia.net/

segunda-feira, abril 05, 2010

De novo


Incrível a capacidade da Veja de apelar para vender suas revistas. Mais incrível, porém, é descobrir que o comprador do mundo cão e mórbido desta publicação não percebe que é manipulado. Não percebe que as capas chocantes da Veja são pura exploração de tragédias, e não jornalismo. Bom, pelo menos não um jornalismo digno, porque a revista faz é sensacionalismo barato. A constatação do jogo sujo vem da capa seguinte à condenação dos assassinos da menina Isabella. Depois de descer ao fundo mais podre da apelação, ao mostrar, por exemplo, um bebê ferido e morto nos braços da mãe, no atentado de Beslan, Rússia, em 2004, a Veja “se supera” na capa recente de Isabella. Desta vez não mostrou um cadáver mas, pior ainda talvez, mostrou a imagem da menina quando em seu esplendor (apelando para a beleza desta foto, de uma criança feliz e linda) junto da legenda melodramática “Agora Isabella pode descansar em paz”.
Quanta sujeira, meu Deus!, a Veja praticamente mandou uma mensagem para uma menina morta!!! Se eu fosse sua mãe, exigiria uma grana preta da revista por faturar em cima dessa fotografia, pois quanto não faturou a edição com isso? Todavia, a mãe da vítima foi outra que me pareceu ter naufragado não só em sua tragédia pessoal mas na sede de espetáculo de uma mídia como a Veja.
Aposto que esta edição vendeu feito água porque os consumidores de tragédias aumentam cada dia, estimulados por esse tipo de mídia mercantilista, que não tem nada a ver com o bom e digno jornalismo.
O pior é que poucos percebem a manipulação. Meus alunos, por exemplo, num exercício para julgarem a capa da Veja da menina morta da Rússia, defenderam a imagem alegando que a revista reportava bem a face chocante da história, dos bebês e crianças mortas. Apenas uma aluna condenou a capa, não por compreender a estratégia vil do estilo açougueiro da revista, mas por se sentir mal ao ver foto tão chocante.
Difícil viver num mundo assim, em que a mídia controla cada vez mais o (não)pensamento não só das massas incultas, mas das maiorias de qualquer classe social com um jornalismo (?) sangrento cada vez maior nas revistas, jornais, TVs e internet.
Pelo menos a gente tenta fazer a molecada pensar, refletir e perceber que esse mundo não é só isso.

PS – Semana passada morreu, de uma doença, o menino músico do afroreggae, aquele que chorou tocando no enterro do líder assassinado dessa ONG. Por que será que isso foi tão pouco mostrado? Por que será que nenhuma revista mergulha no caso do líder morto?

sábado, abril 03, 2010

Sexta-Feira Santa de Luz e Trevas


Sexta-feira santa era um dia muito aguardado pelas crianças com paralisia cerebral do Lar Espírita Mensageiros da Luz, de Santos: a molecada iria receber a visita dos craques e todos os jogadores do Santos. A visita foi bacana mas alguns jogadores, com o ônibus parado na porta da instituição, recusaram-se a fazer a visita e doar ovos de páscoa e carinhos a essas crianças especiais.
Os jogadores que se recusaram a fazer o gesto de caridade alegaram motivos religiosos ou não quiseram revelar porque não saíram do ônibus, onde armaram um animado pagode.
Quem não entrou? Robinho, Neymar, Paulo Henrique Ganso, Fábio Costa e alguns outros.
Quem teve a dignidade de visitar as crianças? Felipe, Wladimir, Edu Dracena, Zé Eduardo, Arouca, Pará, Gil, Maikon Leite, Breitner, Zezinho e Wesley.
Essa notícia é tão absurda que me recuso a comentá-la. Leiam mais em http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Times/Santos/0,,MUL1555492-9874,00.html

sexta-feira, abril 02, 2010

Flashback


A música pode nos levar a qualquer lugar, qualquer tempo e personagens de nossas vidas. Começa a tocar My Hero e não penso nos heróis que tinha quando garoto (e que ainda tenho hoje, são os mesmos, por que será?). Não penso nos meus heróis do esporte, do rock, do cinema, da televisão (sim, é um ato heroico pra mim esses atores e atrizes que conseguem nos emocionar com simples gestos, expressões faciais e tons de voz). Não penso em grandes líderes que lutaram contra as injustiças e pelos direitos humanos. Não penso nos meus pais, que me deram de presente algumas das mais belas paixões de minha vida – os livros, os esportes, as viagens, os cachorros, a alegria de ensinar e aprender etc. Penso nelas. Nas minhas meninas de Santos. Penso naqueles meses tão intensos de aulas, despedida e reencontro de uma 9ª série mágica de 2008. Penso nas palavras delas – em redações, cartas escritas a mão (guardadas com carinho), scraps e depoimentos. Penso nos braços abertos delas. Penso nos cumprimentos intensos de cada reencontro das 2as feiras. Penso nos abraços e nos olhos atentos. Penso no surfe que eu fazia com uma alegria incomparável porque acabara de dar aula para elas, de estar com elas. Penso em como o “boas ondas, prô” delas se transformava em ótimas ondas quando chegava na praia logo depois de minha última aula.
Onde estarão minhas heroínas do afeto fácil e tão intensamente mostrado? Com que estarão sonhando agora? Será que ainda carregam aquele coração puro e tão cheio de esperanças daquele último ano naquela escola que parecia um parque?
There goes my hero, lá vai meu herói, canta Dave Grohl, e dói um pouco saber que não sei por onde vão e para onde vão minhas heroínas de Santos e também as tantas queridas que passaram por mim em Sampa.
Como eu queria vê-las crescer. Mas não posso, não sou pai.
Sou apenas um professor que não esquece.
Boas ondas da vida, minhas queridas.
E quem puder, quiser contar algo ou lembrar, um dia escreve.
Com caneta, papel e coração e aquele envelope caseiro, único, especial.
Rua Massacá 288.
Alto de Pinheiros
05465-050
São Paulo.