terça-feira, setembro 29, 2009

Miniprograminha de música


Brincadeira nova que eu divido com vocês. Fiz um curso rápido (e de graça) de podcast no SESC e aprendi a fazer um pouco de rádio para a net. Desculpem o amadorismo, mas deem uma escutada e sugiram outras boas canções sobre esse primeiro programa em que tentarei falar da vida através de canções.
É só apertar o play.

O fim do passeio


Quantos ainda passeiam de verdade nas grandes cidades, a pé ou de bicicleta, pensando na vida ou conversando com um amigo ou cara metade?
Passear não é ir no shopping, ver lojas ou caminhar ultra-acelerado para manter a forma, o que transforma esse ato em obrigação ou malhação.
Passear não é colocar um headphone nos ouvidos e sair por aí sem prestar atenção ou pensar em nada.
Passear é permitir-se jogar tempo e conversa fora contra a ditadura opressora do time is money. É um ato de rebeldia contra o “tempo é dinheiro” com que seu chefe tira seu sangue e horas extras (ou você, que não respeita o horário de seus funcionários...)
Pena que passear, para muitos escravos ou carrascos do trabalho e lucro a qualquer preço com prazos cada vez mais “pra ontem”, é coisa de vagabundos.
Pena que dar uma volta com alguém importante é ato cada vez mais raro, a não ser nos esporádicos encontros de domingo em algum parque ultra-lotado de São Paulo nesses dias.
Pena que uma das maravilhas propiciadas pelo caminhar tranquilo cidade afora - a dedicação e atenção que damos ao outro - é soterrada pela pressa, trênsito, neurose e competitividade exacerbada. Assim a vida cotidiana não nos deixa ver que “as horas que não se podem dedicar ao passeio ou à amizade são horas que já não se dedicam ao amor próprio”, afirmou o escritor espanhol Rafael Argullo. Sim, não passear também joga contra nós porque deixamos de ficar um tempo essencial com o melhor de nós mesmos, que aflora muito enquanto passeamos.
O espanhol Argullo dá um belo exemplo, de uma habitual volta a pé por sua Barcelona:

“Esta manhã estava passeando com um amigo debaixo deste sol magnífico e estávamos a uma hora conversando, passeando tranquilamente, por uma das poucas ruas que isso é possível no centro de Barcelona, porque ainda não teve êxito comercial... Encontramos um terceiro amigo, que há muito tempo não nos via. Se aproximou de nós e disse: “Vocês ainda têm tempo de ir caminhando tranquilamente pela cidade". Eu lhe respondi que no momento em que não tem mais tempo para fazer isso, é melhor deixar de viver, porque já abandonou previamente a vida... Há algo nestes momentos de calma caminhada que é profundamente revolucionário: a dedicação, por exemplo, que damos à comida, quando tem tempo para saborear o alimento em vez de enguli-lo. Essa dedicação que significa a sensualidade e o erotismo contra o fast food da pornografía. A dedicação que significa a cultura frente à falsa religião dos bestsellers ... A atenção que significa um filme de estrutura clássica frente aos jogos artificiais dos efeitos especiais. A atenção que significa uma conversa com um amigo frente a uma espécie de comunicação com símbolos, puramente utilitária, em que degeneramos (MSN? Orkut, eu pergunto). Passear, mesmo sendo difícil, segue sendo algo reivindicável porque é a base de nossa capacidade de pensar e se expressar para os outros. Portanto, creio que o ritmo mais lento é profundamente revolucionário... Poderíamos exaltar a lentidão, a dedicação, a capacidade de atravessar a complexidade da vida, acossados como estamos por todos os lados pelo fast-food.”
Claro que passear é difícil demais em megalópolis mega-apinhadas de gente e carros como São Paulo, mas ainda é possível. Tenho procurado pessoas importantes para isso, na hora do almoço ou depois do fim do expediente, e passeamos pela Vida Madalena ou calçadas largas da Av. Paulista. Mas tenho saudade mesmo é da adolescência em que tinha tempo para visitar os amigos pedalando com minha bicicleta. E, sobretudo, das horas em que passava com o maior amigo pensando na vida, nos sonhos e nas nossas musas. Bom, mas a gente adapta isso, e há pouco tempo costumava fazer reuniões de pauta com meu editor na revista de surfe dando um longo rolê por ruas pacatas de um bairro ainda especial chamado Vila Mariana. A Vila Mariana que não tem a pose da Madalena. Andando, pensando, trocando ideias e sendo iluminados por belas moças ou senhores educados e simpáticos, planejamos várias resportagens. Incrível como naquelas ruas a arquitetura das matérias saía prontinha, nem precisávamos passar para o papel depois, é ou não é, Edu?
E claro, é preciso celebrar e abrir uma champanhe se você ainda passeia, de mãos dadas, com sua namorada ou esposa. De mãos dadas e sem a agressão do celular no bolso. Ou sua companheira não merece sua atenção total e exclusiva?
E então, alguém aí quer passear de verdade? Alguém aí quer fazer um saudável balanço da vida ou planos para o futuro? Chega mais que sei rotas perfeitas para isso, e temperadas ainda com paradinhas em cafés e padarias sem frescura e pagação. Vai passear, moçada!
PS – Não falei dos passeios com os cães, não dá pra pensar muito com o que eles aprontam, né, mas a loucura que eles têm para dar uma volta explica um pouco a importância de passear para nós também.

segunda-feira, setembro 28, 2009

Isso é atacante


Pra variar ele acabou com a gente. Fez um ("obrigado", Papai Noel André Dias e Coelhinho da Páscoa Jean, que perdeu a bola que originou o contrataque alvinegro), fez a jogada do gol injustamente anulado de Dentinho (lance normal com Renato Silva, que perdeu pra força de Ronaldo) e só não fez o gol da vitória deles porque Rick conseguiu consertar a burrada que ele mesmo causou, perdendo a bola ao sair jogando. Aliás, se fizermos as contas de quantos gols o São Paulo já tomou em saídas de bola erradas de Rick e Jorge Wagner, seria uma barbaridade de pontos perdidos só por culpa desses dois. E agora o Jean entra na lista.
Ronaldo é atacante.
Bórges é o bobo de uma jogada só, o pivô de costas. Ops, perdão, João Bobo, porque você não cai à toa como o Borges. E quem vai explicar pra esse cara que não joga futsal, onde o pivô costuma funcionar bem porque o campo é menor, o jogo é mais rápido e os companheiros estão mais próximos? E perfeito o comentário sobre a atuação de Borges no Jornal da Tarde: "deve ter batido o recorde mundial de impedimentos". É isso, além de ter uma jogada só, o cara ainda fica largado na banheira, típico de jogador sem garra.
Washington é atacante. Grosso, sim, mas matador também. E tem garra, algo que simplesmente não existe em Borges. Foi expulso por rigor demais do juiz fraco querendo aparecer.
Dagoberto voltou, de novo, ao seu jogo pipoca inofensivo. E quem garante que ele faria o gol naquele impedimento mal anulado? E tomou, pra variar amarelo bobo e desfalcará o time contra o Naútico.
O São Paulo cada vez mais manda o hepta pra longe. Porque tem uma defesa que vacila na hora h, um meio-campo que não cria (exceto Hernanes, que fez grande partida ontem antes de cansar), um ala direito incapaz de acertar um cruzamento e um atacante titular inofensivo. E Ricardo está acovardando o time sem Marlos.
Título cada vez mais verde. Ainda mais porque Borges será o único atacante na próxima rodada. Se Ricardo nao entrar com Marlos para ajudá-lo, não ganhamos nunca. Se entrar com o Hugo, mostrará de vez a covardia cada vez mais exposta.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Tatuagens na pele e alma



Um livro sobre os efeitos que o surf produz em quem tem o privilégio de deslizar sobre as águas. É isto o que oferece “O Sal na Terra”, do cientista político e surfista português (colunista da Surf Portugal e do blog Ondas), Pedro Adão e Silva. “O sal da água do surf dá sabor à vida mas é também, o sal que trazemos da experiência concreta de surfar que nos ajuda a olhar para as coisas quotidianas de um outro modo”. Aqui surge a beleza e profundidade deste livro: o “outro modo” de Pedro olhar para as coisas é ver – sobretudo, sentir - conexões entre cinema, música, literatura, HQ, pesca, futebol e outras artes com o surf e o mar. Um exemplo é a semelhança que encontra entre cowboys e surfistas, “na vontade de busca nos confundimos com os heróis dos westerns: procuramos uma mitificada onda perfeita e vivemos uma insatisfação permanente quando parece que estamos prestes a encontrá-la...”
Na cultura, em que mergulha com a sede do privilégio dos dias ao mar, Pedro vê inspirações para o surf ou para aguentar os dias sem ondas: ´Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto ao mar´, escreveu um dia Sophia (de Mello Breyner Andresen, poeta portuguesa). A mim, a sua beleza pura serve-me também para suportar os momentos que não vivo junto ao mar e em que não posso usufruir da ´felicidade máxima de tomar banho entre rochedos´. Nas ondas do mar. A poesia não muda o mundo, nem muito menos faz de nós pessoas melhores. Serve apenas para ajudar a viver. E isso, como as ondas que apanhamos no surf, é tudo.”
As palavras de Pedro Adão são sprays de mar e cultura banhando os surfistas que sabem também surfar a vida. Um livro perfeito para imaginarmos a próxima session e uma vida melhor - mais próxima das alegrias, liberdades e purificação que as ondas nos proporcionam: “Quando visto o fato (roupa de neoprene) e pego na prancha já dentro de água, mas ainda não deitado na prancha, dou os primeiros passos antes das primeiras espumas... costumo sentir um desligar cujo primeiro sinal é ouvir um eco da minha voz. Nada disto é misticismo, pelo contrário, é a razão que fica pura, compartimentada apenas por água. Em poucos sítios se pensa com uma clareza tão absoluta e tão pouco censurada.”

* O livro pode ser comprado no site http://www.bertrand.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=185830

quarta-feira, setembro 23, 2009

Ibra sensacional


Temos o privilégio de poder ver, nos dias de hoje, um dos melhores times de todos os tempos em ação. Sim, muitos não sabiam como ficaria o Barça sem o goleador impiedoso, Eto´o. Mas a dúvida se dissipa cada vez que seu substituto, o sueco Ibrahimovic, faz coisas como a que fez no terceiro gol do Barça, ontem contra o Racing, em Santander. Quando um grandalhão como esse sabe proteger a bola (como poucos) e ainda possui uma técnica e habilidade excepcional, o estrago é pesado. E Ibra ainda é um daqueles raros jogadores inteligentes, que enfia a bola onde ninguém espera. Na melhor tradição Doutor Sócrates, vejam o que o sueco aprontou ontem. De quebra, acompanhem outras jogadas mágicas, do cirúrgico armador Xavi e do genial Messi. Mais um recital. Futebol arte puríssimo.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Um monstro exemplar


Um gigante também no caráter

A história do formidável título espanhol no Europeu de Basquete – um torneio que, pelo nível técnico e dificuldade, faz a nossa Copa América parecer torneio colegial – passa por esse rosto tão iluminado como guerreiro. Passa por esse fantástico pivô de 29 anos chamado Paul Gasol. Passa por esse monstro dos garrafões e arremessos curtos que já fora, há menos de 3 meses, campeão da NBA com os Los Angeles Lakers. Ele - que foi campeão mundial de basquete em 2006 e medalha de prata na Olimpíada de Pequim, dando um inesperado suadouro simplesmente nos EUA com o melhor da NBA – liderou a Espanha em uma campanha avassaladora no Euro Basket terminado ontem. A Espanha triturou a Sérvia por mais de 20 pontos, mas a mídia esportiva brasileira simplesmente não revelou a história de superação e amor de Gasol pouco antes do Mundial.
Gasol estava esgotado depois de brilhar na Olimpíada de Pequim (agosto 2008) e emendar direto a temporada 2008/09 da NBA. Até pensou em não ir ao Euro, disputado na Polônia. Mas falou mais alto seu compromisso de não abandonar seus companheiros de seleção e país. Em 8 de agosto passado, integrou-se à seleção uma semana depois do início dos treinamentos visando o Campeonato Europeu. Precisava descansar pelo menos uma semana para recuperar parte das forças. Só que dois dias depois, num coletivo, ele sofreu uma lesão no ligamento do dedo indicador esquerdo. Ele foi operado logo e o diagnóstico foi: 20 dias sem tocar numa bola de basquete. Detalhe: o Euro começava no início de setembro. Por isso o Lakers enviou seu preparador físico para a Espanha, a fim de analisar a mão de Gasol e, possivelmente dissuadi-lo de jogar o Euro, após a lesão no dedo.
Penso logo nos brasileiros Leandrinho, Varejão e Nenê, que seguidamente recusaram convocações da seleção alegando problemas físicos, contratuais (caso de Varejão) ou porque não quiseram mesmo (Nenê, alegando discordância com a política da Confederação Brasileira de Basquete) para não vestir a camisa do Brasil. Alguém acha que um desses três não desistiria imediatamente da competição com uma lesão como a do espanhol?
O caso é que Paul Gasol foi consultar um traumatólogo em Barcelona, enquanto permanecia na concentração da seleção, junto do grupo, fazendo o trabalho físico possível. Dedicou-se demais e trabalhou até nos 2 dias de folga que os jogadores da sua seleção tiveram, quando pediu ao Barcelona que liberasse o clube para ele treinar sozinho.
Gasol recuperou-se pouco antes da estreia do Euro, jogou mal e sua Espanha perdeu da Sérvia. Assim como perderia na partida seguinte e seria muito criticado junto de todo a seleção. Só que ele não é da espécie que se esconde nas horas ruins. Poderia até refugiar-se no tempo que perdeu, as três semanas tratando do dedo, mas o super pivô fez o contrário. “Eu cresço na adversidade e sempre convivi bem com a pressão das expectativas. Isso não me dá medo”, disse Gasol após as derrotas.
Na sequência, sua Espanha ganhou todos os jogos, foi subindo de produção e massacrou os gregos ma semi e os mesmos sérvios na final. Claro que ele não venceu sozinho, contou com as excepcionais participações de Rudy e Navarro, sobretudo, e outros talentos como o jovem armador Ricky Rubio. Mas Gasol foi, claro, o líder e força maior da sua Espanha. A Espanha que ele jamais abandonou na hora H. Igualzinho aos nossos mimados brazucas da NBA, que deram as desculpas mais esfarrapadas para não vestiram a amarelinha no último Pré-Olímpico, e agora posam de heróis depois de conquistarem mais uma “sensacional” Copa América...
Vejam abaixo os melhores momentos do show espanhol ontem e, por amor ao basquete, deem uma olhadinha na jogadinha do Ricky com o Gasol lá pelos 2´40!

domingo, setembro 20, 2009

O preço da covardia


Jean fez um golaço e depois sumiu.
Na primeira chance que teve, Ricardo Gomes amarelou. Pior que isso: agiu com uma covardia enojante. Ou existem outras palavras para quem jogou na retranca o 2o tempo inteiro contra o gigante do futebol mundial, Santo André??? Sim, o São Paulo conseguiu a proeza de ter muito menos posse de bola que o timinho do ABC que vai lutar para não cair para a segunda divisão. Mais irritante ainda era que o jogo tava fácil depois de abrirmos 1 a 0 logo de cara. Ficaria mais fácil se o time tivesse continuado incisivo, atacando, mas na metade do 1o tempo um covarde São Paulo já recuava e ficava esperando o bombardeio de cobranças de falta e lançamentos de Marcelinho Carioca. Pra piorar ainda mais, Ricardo aceitou (ou ordenou?) o recuo inadmissível da equipe em toda a etapa final. Garantir um magro 1 x 0 contra o Santo André??? Na jornada lamentável de hoje, ridícula também a atuação dos comentaristas da Globo: Caio e Casagrande só foram falar que queríamos garantir o resultado depois do Santo André empatar o jogo.
Mais ridículos hoje (é, meu vocabulário hoje está igual ao repertório ofensivo do São Paulo)? Jorge Wagner (não acertou uma jogada decente); Arouca, sempre um inútil; Borges (ganhou uma jogada no jogo, uma falta que J.Wagner bateu de forma... ridícula...) e Dagoberto (no "melhor" estilo Dagopipoca do passado muito recente). Preciso falar do Richarlyson? Quantas jogadas ele acertou?
Quem quer ser campeão não pode ser covarde e ridículo (olha ela aí de novo), nem pode fazer a ridícula substituição de Rick por Zé Luís (pelo amor de Deus, como é possível inventar esse cara de novo???). A sorte do São Paulo é que o nível técnico do Brasileirão - diferente do que prega a mídia que deseja, obviamente, vender jornal ou ganhar audiência - está próximo do ridículo. Os ponteiros - Palmeiras, Inter e São Paulo - estão adorando fazer papelões.
E você, caro tricolor, saiba que seu time não joga bem há muitas rodadas, desde o belo 3x1 contra o Goiás. Os dois jogos que vi no Morumbi, contra o Flu e Avaí, foram de doer, isso sem falar no clássico contra o Palmeiras: RIDÍCULO!
CORAGEM, RICARDO GOMES!

sexta-feira, setembro 18, 2009

A onda que olhou por nós


“Uma gota de água poderosa basta para criar um mundo e para dissolver a noite.”
(Gaston Bachelard, A Água e os Sonhos)

Essa é a história de uma onda, de um homem quase destruído e de uma menina que o resgatou da escuridão. Uma menina parecida com a sua onda amada.
Percebi um pouco disso no meio da última session. Num dia de sol em São Paulo, estranhamente nossa praia estava fechada, fria, garoa insistente, água gelada que nos fazia tremer. Na primeira avistada do mar, previ uma arrebentação difícil, mas o brother foi mais otimista, “acho que não tá muito longe (o outside)”.
Entramos na água e ele mudou de ideia: “não vai dar pra passar”. Penso o mesmo, desanimado também pela temperatura pra pinguim e por um short john velho safado que deixa entrar água por tudo quanto é lado, especialmente pelo pescoço e sovaco. Por isso pego a primeira onda no inside mesmo e vou até quase o raso. Só que olho pra frente e o maluco tá remando convicto lá pra fora feito um condenado fugindo do presídio. Pensei: ou o cara enlouqueceu ou achou um canalzinho, vou tentar também. Toco então a remar feito um imbecil e furar as ondas, isso quando elas não me esmagavam e matavam metade do serviço. Mas o amigo seguia remando inabalável; avançava como se fugisse da ilha de Alcatraz. Não tinha outra opção senão ligar o turbo e remar feito um filho...
Eis que conseguimos e o que era uma confusão de liquidificador gigante nos primeiros reefs (tá, é tudo areia ali, mas usemos isso pra dizer que havia várias fases de ondas) virou um outside liso e com séries bem espaçadas; bem, nem todas...
A session de índio virou então uma daquelas clássicas. Paredes servidas com o dobro do tamanho da previsão (cada vez desconfio mais dessas câmeras, ou melhor, dos caras que tiram as fotos em praias abertas como a nossa). O drop tava difícil, as ondas precisavam ser abordadas sem nenhum rastro já de estouro, mas quando pegamos a manha, logo passeávamos como nos dias mais perfeitos. Perdão, logo coisa nenhuma: precisamos falar várias coisas pra nossa onda , antes dela, sempre manhosa, permitir que pegássemos em sua mão e viajássemos paredes afora.
Incrível como uma manhã cinza de inverno - fria, aparentemente sinistra e insurfável - virou brincadeira de verão. Virou uma queda gostosa (e vacas pirotécnicas também, loucos aéreos sem prancha hehe...) e, mais uma, inesquecível.
Não conseguia entender bem como essa session pôde rolar, ainda mais quando o irmão me disse que naquela hora (quando tentávamos varar a maçaroca gigante em busca do outside) ele só remou sem parar com convicção de fugitivo porque achou que era a única forma de não tomar uma série toda na cabeça.
No carro, já de volta pra Sampa, algumas pistas começaram a rolar quando saquei o telefonema que ele trocou com sua nova companheira: rápido, sucinto, algo simples como um tô chegando, moça, enquanto do outro lado ela deve ter falado só o necessário também. Percebi então que essa relação não é daquelas que enrola ou não para de se procurar para banais ligações. Percebi ainda que a calma do amigo pra enfrentar aquela rebentação cabulosa devia ter algo a ver com sua nova menina.
Devia ter algo a ver com o equilíbrio e serenidade que vi em sua menina no dia em que a conheci. Vi naqueles olhos, águas tranquilas. As águas que resgataram e levantaram meu amigo depois de um casamento frustrado e doloroso demais com uma moça tempestuosa como um rio escuro de corredeiras.
Aquelas águas. Mas o que pode existir de bom nessa calma para o surfe?
Tudo, pois o mar, o surfe e nossa onda local exigem equilíbrio e cuidado para abordá-los. Exigem paciência e respeito.
Então entendi: o que nos permitiu passar aquela montanheira líquida e encontrar as ondas naquele fundão distante foi a paz dessa menina.
A paz que ela transmitiu não sei como para seu namorado, mesmo a quilômetros de distância. Mesmo se estivesse dormindo em São Paulo. Dormindo, mas talvez sonhando...
Assim a moça dos olhos pacíficos e acolhedores criou um canal onde não havia e permitiu essa session surreal. E essa é a magia do surfe, quando feito com amor em uma onda amada: tratamos nossa menina com tanto afeto que ela nos sorri com as paredes mais longas e belas. E ela ainda nos conecta com as pessoas que amamos. Por isso recebemos essas energias e ajudas quase inexplicáveis.
Quase porque são explicáveis, sim, pois esse é o feitiço do surfe: conseguimos às vezes sintetizar uma vida toda em uma única session. Porque se o surfe não é tudo, ele pode conectar tudo.
Obrigado então, moça que mal conheço, por essas ondas de sonho que você mandou para o seu namorado que melhorou tanto depois de te conhecer. E durma e sonhe sempre quando estivermos ao mar!
E continue a inspirar meu amigo que, quando fala em você, parece cantar uma velha música do Brasilzão mais profundo: lá vai então o peão surfista em seu cavalo de fibra disparando campão azul afora, e cantando na sua viola pela moça serena que o salvou: “você é isso / uma nuvem calma / no céu de minha alma”.
PS – Enquanto eu acabava o texto, a Kiss, que eu escutava, colocou um dos maiores surfistas da vida entoando um dos hinos máximos do rock. Ele mesmo, o Big Z do rock de coração, Bono Vox, entoando "one man came in the name of love... What more in the name of love?

quinta-feira, setembro 17, 2009

O Último Cavalheiro


A juventude ainda parecia pura, cheia de atitude e com sonhos no início dos anos 80, quando ele surgiu nos cinemas com o maior filme já feito sobre essa fase mais intensa da vida: Outsiders (Vidas Sem Rumo, 1983), clássico de Francis Ford Coppola. Patrick Swayze era Darrell, o irmão mais velho que cuidava de dois irmãos sem pais, Sodapop e Ponyboy numa família pobre do interior dos EUA dos anos 60. Uma família que junto dos amigos também sem oportunidades e chances na vida lutava no braço com os garotões ricos frios e sem escrúpulos.
Outsiders, inspirada no belíssimo livro de mesmo nome (*), explodia emoções e nos sentimentos mais verdadeiros. Sentimentos como o tocante afeto, cuidado e amor que Darrell-Swayze oferecia aos seus irmãos dos quais cuidava como pai e mãe, ralando num trampo infernal e ainda cuidando da casa. Sentimentos como aquelas amizades inquebrantáveis que uniam os irmãos e garotos pobres daquele filme tão real. Garotos interpretados com paixão visceral por jovens atores lançados ali por Coppola: talentos precoces como Matt Dillon, Ralph Macchio, Rob Lowe, C. Thomas Howell, Emilio Estevez e Tom Cruise. Que outro filme da história do cinema apresentou tantos jovens excepcionais no momento mais dourado de suas juventudes?
Patrick Swayze, o mais velho daquela turma (já com 30 anos), ainda brilharia em dois estrondosos sucessos românticos, Dirty Dancing (1987) e Ghost (1990), mas depois seu talento (era muito mais que um galã fortão) não teria chance para evoluir a outros patamares na sétima arte.
Mas Swayze seria sempre um ícone de uma época que guardava ainda um pouco de inocência, os anos 80. Depois viriam o desencanto da música grunge de Kurt Cobain, Nirvana e cia., os filmes que banalizaram a violência de Tarantino, Stone e outros tiros fatais nos romances campeões de bilheteria de Hollywood. Não havia mais lugar para o ultra-romantismo de amores “além da vida” como Ghost.
Uma pena que o banho de realidade, sangue e ceticismo massacraria cenas mega-açucaradas como Demi Moore e Swayze compartilhando aquela moeda mágica. Cenas de glicose excessiva apenas para os que já não acreditavam em romances à moda antiga. Para os que passaram a debochar de amores eternos. E pra piorar, o romantismo acabaria morto por ele mesmo já no século XXI quando uma apelação e farsa chamada música emo tornou, aí sim, o romance algo ridículo e insuportável.
Os machões e os que não creem em nada jamais vão entender o que a companheira de Swayze em Dirty Dancing, Jennifer Grey, disse sobre ele depois que o ator se foi, esta semana: “Patrick era um verdadeiro cowboy com um coração delicado”.
Um cowboy delicado? Talvez quem tenha visto um dos bons filmes posteriores de Swayze massacrados pela crítica, entenda isso, ao lembrarmos de Matador de Aluguel (Roadhouse), em que Swayze fazia um leão de chácara de um inferninho de rock onde brilhava um genial guitarrista cego de verdade, Jeff Healey, morto também recentemente. A delicadeza de Swayze no filme era sua paciência para treinar com refinamento artes marciais, seu apreço pelo lugar tranquilo onde morava – à beira de um lago; e o respeito, fidelidade e sensibilidade com que tratava seus amigos (como o veterano segurança, e grande ator, Sam Elliot) e a mulher que amava, a maravilhosa loura feita por Kelly Lynch
Finalmente, Swayze precisa ser lembrado também como um dos raríssimos casos em que Hollywood encarnou bem um surfista de alma. Falo de Caçadores de Emoção (Pointbreak, 1991). Filme subestimado pelos críticos e pelos próprios surfistas, Pointbreak é sim uma bela homenagem do cinema a alguns dos elementos mais puros, verdadeiros e belos do ato de pegar ondas. Mas isso é assunto para um post futuro, a homenagear o pequeno mas marcante legado de um dos últimos românticos do cinema. Ou não era um romântico o surfista que, perseguido pelo FBI, resolve entrar num mar gigantesco insurfável para não entregar a característica maior de um soul surfer de verdade (e não de propaganda de surfwear...), a liberdade? Sim, a cena final deste filme, do Swayze tão bem como surfista, é mais bela e fiel ao mundo das ondas que toneladas de videozinhos e dvd´s de surf acelerados, descerebrados e sem alma que são despejados pelas empresas de surfwear todos os meses. Talvez porque Swayze sempre tenha caçado as emoções mais verdadeiras.
Por isso ele lutou, com rara coragem, contra o câncer, até o fim de seus dias. Como um bravo que não se entrega à nada, Patrick Swayze surfou as morras da vida até o fim.

(*) O livro Outsiders (http://tinyurl.com/lmdun2), de Susan E. Hinton, mais bela obra juvenil que li na vida, é facilmente encontrado em qualquer bom sebo do Brasil. A obra, editada por aqui pela Brasiliense, está esgotada, mas tem em tudo quanto é canto. O filme de mesmo nome nunca foi lançado em DVD no Brasil, um verdadeiro crime. Só viu o filme quem foi jovem na época em que surgiu o videocassete...

(*) Abaixo, cenas do inesquecível Outsiders.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Por que pouco falaram dela?


A cena vista nessa foto é tão bela quanto rara na história do tênis. Uma mãe comemorando um grande título com a filhinha pequena. “É uma história maravilhosa para o tênis feminino”, afirmou o suíço Roger Federer sobre o feito da belga Kim Clijsters, 26 anos, que tornou-se apenas a terceira mãe na história a vencer o US Open, o Aberto dos Estados Unidos, no último domingo. O mais incrível é que Clijsters só voltou a jogar profissionalmente há alguns meses, após ficar dois anos e três meses parada. Parada mesmo, porque ela tinha abandonado o tênis para se casar e ter uma filha, a pequena Jada.
Clijsters, que já foi a número 1 do mundo no passado, só entrou no US Open como convidada. Entrou para surpreender a todos e eliminar duas das grandes favoritas, as irmãs Williams, Venus e Serena. Na final bateu a dinamarquesa Caroline Wozniacki em dois sets.
Pena que a façanha da belga foi pouco explorada na mídia, talvez por não ser uma das musas do circuito. Imaginem se uma Sharapova larga a raquete, vira mãe e depois volta sendo campeão de novo o espaço que ganharia...
Resta, pelo menos, a lição de Clijsters: ser mãe não precisa ser o fim da vida de uma tenista de ponta. Pelo contrário: a responsabilidade e amadurecimento que esse estado exige torna uma atleta ainda mais focada e determinada. Sabem bem disso algumas grandes mães campeãs do esporte brasileiro, como a antiga musa do vôlei, Isabel e, caso bem mais recente, nossa campeã olímpica do salto em distância, Maurren Hagi.
Parabéns então a essas duplas campeãs do esporte e maternidade.

segunda-feira, setembro 14, 2009

O homem que não desistiu


Rubens Barrichello é um fenômeno. Poucos pilotos na história da Fórmula 1 foram tão criticados como ele, por trapalhadas nas pistas, pela subserviência às ordens da Ferrari, nos anos Schumacher, pela incapacidade de vencer etc etc. Mais que isso, talvez nenhum outro tenha sido tão ridicularizado, nos bastidores da F-1 e em seu próprio país. No Brasil em que virou personagem de chacota na TV. No Brasil que quase sempre o tratou com seu apelido mais debochado: Pé de chinelo. Rubens é um fenômeno porque qualquer outro piloto já teria abandonado as pistas após tantos fracassos e críticas. Tentaram até o aposentar várias vezes, na mídia, nos últimos anos, mas ele permaneceu. Mais que isso, deu uma das mais incríveis lições de persistência da história do automobilismo (não digo “esporte” porque não é esporte uma modalidade tão suja e vinculada ao poder da grana como essa, Nelsinho Piquet e seu caráter tão feio quanto o de seu chefe, que o diga...).
A persistência de um cara que seguiu lutando e hoje é sério candidato ao título mundial, aos 37 anos, porque evoluiu como piloto. E não é um feito admirável um piloto cada vez mais velho que vem se tornando cada vez mais rápido e, ao mesmo tempo, controlado?
Sim, penso que Rubens (até o nome dele pronunciamos diferente hoje, sem o diminutivo...) mereceu boa parte das críticas, por muitas demonstrações de falta de habilidade que geraram batidas ou quebras do seu carro. E também pelo lamentável episódio em que deixou Schumacher passá-lo numa corrida de final vergonhoso. Eram ordens da equipe, declarou Rubinho na época, mas o Brasil que já teve a personalidade forte e o talento de Emerson, Piquet e Senna acreditou que esses três mitos jamais teriam lambido as botas de Schummy como ele aceitou fazer.
O caso é que, domingo, Barrichello fez mais uma bela corrida no tradicionalíssimo GP de Monza e segue vivo na luta pelo título, agora 14 pontos atrás de Jenson Button, seu companheiro de equipe na Brawn GP.
Por isso tudo, Rubinho, perdão, Rubens, seria o campeão mais inesperado e formidável da história da F-1. Mais que isso, seria uma força e inspiração para todos aqueles que foram depreciados vida afora.
Faça então o milagre desse título, Rubens!, torço por você (eu, que tanto meti o pau e o sacaneei...) para mostrar como o esporte pode ser maravilhoso e redentor. E digo esporte, e não automobilismo, porque suas performances e equilíbrio esse ano são dignas de um campeão. Depois de muitos anos, aposto que muitos brasileiros, que nunca mais viram uma corrida depois da morte de Senna, grudarão os olhos na telinha dia 27 de setembro, para o GP de Cingapura. Esperamos, então, que Rubens já tenha enterrado o Rubinho do passado.

domingo, setembro 13, 2009

A mulher que deveríamos amar


Amantes não é esse filmaço que os críticos andam pintando. É um pouco arrastado e morno. Mas toca em uma situação que todos nós já experimentamos: Quem devemos escolher? A pessoa simples que nos adora, mas que não nos entusiasma, ou aquela problemática, mas que nos seduz e atrai demais? No filme, Leonard (o grande Joaquin Phoenix, visceral como sempre), um homem atormentado, deixado pela noiva, de repente conhece duas mulheres completamente diferentes. A moça simples é Sandra, filha de um casal amigo de seus pais. A típica boa moça que amará um homem até o fim. A moça perturbadoramente sexy é Michelle, um arsenal de problemas, a insegura amante de um magnata.
Sandra é vivida por Vinessa Shaw. Michelle é Gwyneth Patrow. E aqui discordo dos críticos: A interpretação de Vinessa dá um pau na sempre estonteante aparição chamada Gwyneth. Talvez porque a primeira encarne o amor que sente por Leonard com uma delicadeza, profundidade e sinceridade quase palpáveis. Um amor puro, simples, fiel, e Vinessa ainda protagoniza a cena mais bonita do filme com uma verdade e coragem tocantes: “Eu quero cuidar de você”.
Eu, que nem conhecia essa atriz, me apaixonei no ato pelo olhar líquido profundo e tom de voz cálido de Vinessa, a típica mulher que daria a vida por seu companheiro. Por que muitas vezes deixamos pessoas como ela por aventuras eletrizantes mas arriscadas e destinadas ao fracasso como os cabelos louros, voz e movimentos (cada um deles) explosivamente sexies das Gwyneths que nos descarrilham?
Tomara que um dia percebamos que são as Vinessas que nos farão felizes no futuro, quando aceitarmos esse amor sem riscos e sem ego que elas nos oferecem. Esse maravilhoso amor sinônimo de “quero cuidar de você”, tão diferente dos amores destrutivos dos casais que não se entregam de verdade ao outro. Não, não se trata de se anular pelo outro, mas sim de fazer tudo por ele, com muito afeto e sem exigir nada em troca.
Vejam então esse filme para descobrir a comovente entrega dessa maravilhosa Vinessa Shaw.


segunda-feira, setembro 07, 2009

19 anos e Jason renasce, de novo


19 anos de clube e ele ainda consegue ser o melhor em campo, como foi ontem, fazendo defesas difíceis e decisivas que impediram a vitória do Cruzeiro no Mineirão. Porque foi graças a ele, que barrou um Cruzeiro muito melhor na maior parte do jogo, que foi permitida uma vitória milagrosa ontem. Uma vitória realmente a la Jason, de um time que estava morto até a entrada do incendiário Marlos, aos 15 do 2o tempo. Esse é Rogério, mais da metade da sua vida de 36 anos no São Paulo e ainda fazendo defesaças como essa da foto, numa paulada atômica em cobrança de falta de Gilberto. E ainda liderando e salvando um São Paulo horroroso até o choque elétrico de Marlos (ele não pode ser reserva!). Um São Paulo que esperava os mineiros covardemente e ainda os chamou como Richarlyson, que pra variar perdeu uma bola que resultou no gol cruzeirense. Um São Paulo sem a mínima criatividade na armação das jogadas, pois Hugo não dá mais e esperar algo do ilusionista Arouca (parece que corre, parece que arma, parece que é guerreiro, parece que chuta, mas não faz bem e com raça nenhuma das altermativas) é brincadeira. Um São Paulo de novo pulverizado pelo lado de Jean, que de novo tomou um baile, como já havia tomado de Armero, contra o Palmeiras. Tá na hora do argentino jogar, Ricardo Gomes!
Graças que o treinador finalmente colocou o garoto abusado do Paraná e ele empatou o jogo em bela jogada individual. E depois, graças que o Dagoberto fez sua única jogada decente em todo o jogo: correu feito um ensandecido para salvar a bicuda tradicional do Richarlyson (pelo amor de Deus, só mesmo os idiotas da Band pra acharem que foi um lançamento a la Gérson, o canhotinha de ouro da Copa de 70!) que ia pra fora e ainda serviu Borges, que acabara de entrar, para fazer o gol da vitória.
Mas graças mesmo, antes, à segurança do maior goleiro do Brasil, São Rogério Ceni, um ídolo que tem muito o que ensinar a um Kaká, que um dia disse que era apenas um produto a defender a empresa São Paulo. O que Rogério disse, no site oficial do clube?
“O São Paulo não é apenas meu emprego, o clube onde eu jogo. Eu vivo em função do São Paulo. É minha vida. Essa identificação que tenho é muito significativa. Falar de Rogério e associar o São Paulo é uma conquista enorme, imensurável. Quero contribuir mais para o crescimento do clube, isso me orgulha, me alimenta, me motiva todos os dias”. Isso é ser ídolo!

Minha vida sem mim


Mais um daqueles filmes na linha "faça tudo o que queria fazer antes de morrer". Mesmo com as belas atuações da angustiada Sarah Polley, como uma jovem que descobre que vai morrer, e do sempre simpático Mark Ruffalo, "Minha vida sem mim" apela para as emoções de quem corre contra o tempo e resolve fazer tudo o que a rotina ou vida não permitia.
Por que esse tipo de filme faz tanto sucesso? Ou a pergunta correta é "por que não aproveitamos a vida como queremos?".
Por que não dizemos "eu te amo" às pessoas que amamos?
Por que não procuramos quem queremos procurar?
Por que adiamos aquele telefonema para os grandes amigos do passado que nos fazem falta?
Por que falta coragem para tentar encontrar um novo amor? (Ou por que não aceitamos ou percebemos o amor de quem nos ama?)
Por que tantos dizem que a vida é curta e é preciso aproveitá-la mais de boca pra fora, não fazendo nada para inserir vida em seus dias?
Por que a maioria das pessoas aceita horários de trabalho abusivos, chefes ditadores e desrespeitos sucessivos a uma jornada decente e justa de trabalho?
Por que adia-se tanto um sonho, até ele estar morto?
Por que tantos esquecem o melhor de si: seu coração e caráter de quando era criança?
Por que há tanta disposição pra balada e tão pouca para a convivência?
Por que tanto tempo na internet e pouco lá fora?
Por que tanto MSN e raros telefonemas?
Por que não escutamos mais a voz das pessoas que queremos escutar?
Por que não recebemos mais aquela visita surpresa, algo que era tão comum na minha adolescência?
Responda quem for capaz. Ou, melhor que isso, exploda com alguma dessas perguntas, contrariando-a.
Vivendo de verdade.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Uma praia tão rara


É preciso querer as ondas para elas chegarem. É preciso ter paciência, já ensinava o sábio Lenine.
Mas “será que temos esse tempo para perder?", pergunta o poeta que canta um perder que é na verdade ganhar, para quem sabe viver.
Assim ganhamos o dia no último domingo, nós, os amigos que sempre quando estamos lá, esperamos com calma, desejo e fé as ondas de nossa menina manhosa, nossa praia local. Por isso que, mesmo quando a previsão das ondas nos manda pra outro lugar, elas parecem aparecer apenas para nos alegrar e celebrar.
Celebrar a session, a vida e essa amizade rara forjada nas ondas que mais amamos. E no belo esperar com paciência pela chegada delas.
Domingo cedo, uma breve olhada no mar quando chegamos poderia indicar poucas e pequenas ondas fosse o olho de quem vê apressado, impaciente, nervoso. Sem fé.
Muitos desistem, preferem a segurança das câmeras on line.
Talvez não confiem no amor, na história e nesse mistério que ninguém consegue explicar: por que em muitas sessions, o mar que se mostra sonolento de repente nos dá as boas vindas com paredes maravilhosas? Não me venham dizer que é o vento, a hora, a maré etc etc.
Não me venham com ciência.
Porque na nossa praia, a ciência perde de goleada para o coração.
Por isso é estimulante demais o espírito desses brothers que muitas vezes veem ondas e um swell onde os mais agitados não enxergam quase nada. Porque eles sabem que esse mar-menina cheia de manhas só quer uma coisa: sentir-se desejada.
Incrível (de novo!) como uma manhã que prenunciava merrecas e séries demoradas de repente mudou completamente. Talvez porque grandes corações veem no quase nada uma grande possibilidade, nas ondas e na vida.
De repente elas vieram nos levar aos bons e velhos passeios de sempre.
De repente elas cresceram e o quase flat virou um meio metrão gostoso e abrindo, com as meninas ainda lisas como pele da mais bela, doce e jovem gata.
O melhor de tudo é essa sensação de que temos uma certeza louca de que as ondas só vieram nos encontrar porque nós as esperamos com a paciência e amor que sempre tivemos pelas meninas líquidas que mais amamos. Pelas meninas que nunca trairemos por científicos e frios boletins das ondas que afastam muitos de sessions surpreendentes e raras como a do último domingo.
Sim, tenho certeza que as ondas só apareceram porque nós pedimos, ou melhor, porque nós sabíamos que elas viriam. Como se fôssemos marinheiros esperando nossos barcos para mais uma viagem inesquecível.
É preciso olhar com paixão para as meninas que já nos deram tantas alegrias e namoros.
É preciso dar um tempo na pauleira cotidiana e na suposta infalibilidade das máquinas.
É preciso escutar mais Lenine:
“Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara”.