quarta-feira, setembro 02, 2009

Uma praia tão rara


É preciso querer as ondas para elas chegarem. É preciso ter paciência, já ensinava o sábio Lenine.
Mas “será que temos esse tempo para perder?", pergunta o poeta que canta um perder que é na verdade ganhar, para quem sabe viver.
Assim ganhamos o dia no último domingo, nós, os amigos que sempre quando estamos lá, esperamos com calma, desejo e fé as ondas de nossa menina manhosa, nossa praia local. Por isso que, mesmo quando a previsão das ondas nos manda pra outro lugar, elas parecem aparecer apenas para nos alegrar e celebrar.
Celebrar a session, a vida e essa amizade rara forjada nas ondas que mais amamos. E no belo esperar com paciência pela chegada delas.
Domingo cedo, uma breve olhada no mar quando chegamos poderia indicar poucas e pequenas ondas fosse o olho de quem vê apressado, impaciente, nervoso. Sem fé.
Muitos desistem, preferem a segurança das câmeras on line.
Talvez não confiem no amor, na história e nesse mistério que ninguém consegue explicar: por que em muitas sessions, o mar que se mostra sonolento de repente nos dá as boas vindas com paredes maravilhosas? Não me venham dizer que é o vento, a hora, a maré etc etc.
Não me venham com ciência.
Porque na nossa praia, a ciência perde de goleada para o coração.
Por isso é estimulante demais o espírito desses brothers que muitas vezes veem ondas e um swell onde os mais agitados não enxergam quase nada. Porque eles sabem que esse mar-menina cheia de manhas só quer uma coisa: sentir-se desejada.
Incrível (de novo!) como uma manhã que prenunciava merrecas e séries demoradas de repente mudou completamente. Talvez porque grandes corações veem no quase nada uma grande possibilidade, nas ondas e na vida.
De repente elas vieram nos levar aos bons e velhos passeios de sempre.
De repente elas cresceram e o quase flat virou um meio metrão gostoso e abrindo, com as meninas ainda lisas como pele da mais bela, doce e jovem gata.
O melhor de tudo é essa sensação de que temos uma certeza louca de que as ondas só vieram nos encontrar porque nós as esperamos com a paciência e amor que sempre tivemos pelas meninas líquidas que mais amamos. Pelas meninas que nunca trairemos por científicos e frios boletins das ondas que afastam muitos de sessions surpreendentes e raras como a do último domingo.
Sim, tenho certeza que as ondas só apareceram porque nós pedimos, ou melhor, porque nós sabíamos que elas viriam. Como se fôssemos marinheiros esperando nossos barcos para mais uma viagem inesquecível.
É preciso olhar com paixão para as meninas que já nos deram tantas alegrias e namoros.
É preciso dar um tempo na pauleira cotidiana e na suposta infalibilidade das máquinas.
É preciso escutar mais Lenine:
“Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara”.

3 comentários:

  1. É isso ai Zé, nossa menina-mulher, menina por sua graça e mulher por sua beleza, charme e manha, daquelas que precisam se sentir realmente queridas para se mostrarem. Manha de quem sempre gosta de escutar e nos faz dizer a velha frase "ta vindo uma lá atrás" e que gosta de ver os brothers deslizando a mesma parede azul. Valeu Zé.

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  2. Eita, esse Zé é f..., sem surfar 2 meses ele consegue escrever com um feeling singular, então quando ele vai lá e zera o contador "sem surf" ele vem e detona com um texto mágico desses. Mais uma vez, esse é um dos melhores. Como diz um amigo meu, que não se importa quando dizem pra ele que "ontem tinha altas", respondendo na lata: "o melhor momento do mar é quando estamos nele". O surf é feito de momentos. Mesmo quando está uma merreca, vai ter um momentozinho de maré, vento, ou qualquer outro fato que valha a pena a queda, por isso é importante estar lá, de verdade.
    Grande abraço bro,
    Gustavo

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  3. Thamyres-universitas03 setembro, 2009 20:03

    Que texto incriveel!me da até vontade de aprender a surfa :D
    asoidosaidoia..beijãão!
    Ps:mandei um e-mail pra ti ;}

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