quarta-feira, outubro 19, 2005


Um convite do coração
- Tem jogo meu hoje, sábado, domingo...; Raíssa convidava para um jogo atrás do outro, mas seu professor nunca ia. Na maioria das vezes não dava mesmo; em outras ele podia ter se esforçado mais. Não o fez, mas mesmo assim ela tentava de novo, com a mesma beleza dos que convidam de verdade, fazendo o convidado se sentir especial. Vinha e vinha de novo, porque o ser humano precisa ser visto e apoiado no que faz com mais paixão. O apoio, mágico, que sentimos quando alguém vem nos ver em pleno dia de semana.

Um dia ele foi, depois de muito tempo sem vê-la em ação. Como foi bom perceber a evolução dela. A atacante irregular do passado se tornou mais firme e forte. A garra e vontade aumentaram, além dela ter adquirido uma notável concentração para sacar: olhos fixos nas adversárias enquanto se abaixa e bate a bola várias vezes no chão com as duas mãos, antes de levantá-la e enfiar a mão com força e precisão. Não errou nenhum! Me lembrou a concentração dos grandes atletas da história, imperturbáveis e decididos antes de cobrar um pênalti, lance livre ou saque.

E ainda preciso ressaltar suas defesas, em como também melhorou nesse fundamento cada vez mais exigido e essencial em um time de vôlei.

Parabéns, moça, pena que tão poucos foram lá te ver, como seu professor, seus colegas, Renato, o torcedor número um dos esportistas do seu colégio, a Bia, e, claro, seu fã número um, seu pai. Aliás, precisava ver a tensão e alegria de seu velho a cada ponto.

Obrigado também por me convidar por outro motivo: pude voltar ao Pinheiros, o clube onde fui tão feliz treinando atletismo e sonhando com uma intensidade parecida com a sua paixão pelo vôlei.
Queria assistir mais momentos felizes de sua vida como esses, Raíssa. Como não dá, saiba que estaremos sempre torcendo por você. Não sabemos onde chegará, mas lembre no futuro que houve uma época em que conseguiu nos inspirar e motivar com sua raça, talento e determinação em uma quadra de voleibol.

Finalmente, nunca perca esse seu jeito tão transparente, alegre e esperançoso de convidar as pessoas para assisti-la. É tão bonito como aqueles apresentadores que anunciam um espetáculo para o público.

PS - Mas da próxima vez vê se dá pelo menos um tchauzinho para seus torcedores né!!!

segunda-feira, outubro 17, 2005


Sonhos da bola laranja
São meros garotos, mas já treinam e sonham como homens. Fernando Soria, Thiago Ortega e Henrique Aguiar jogam basquete nas categorias inferiores do Palmeiras. Domingo passado estrearam nos playoffs do Campeonato Paulista. Pela primeira vez pude vê-los em ação e constatar aquele brilho nos olhos de meninos que sonham tanto. Com o basquete brasileiro? Seleção? Talvez. Mas minha aposta maior é que quando a noite e o sono chega, o travesseiro gostoso e o corpo exausto os levam direto para a NBA ou para a Europa, porque o basquete profissional nacional anda cada vez mais triste. Que moleque será louco de sonhar em jogar para uma seleção que tem o Lula como treinador? Ou o Grego como presidente há milênios? E como vão sonhar com o Brasil se não existem mais ídolos aqui desde que o eterno Oscar encerrou a carreira? Tá, posso estar errado, porque o Fernando já me disse achar um absurdo o Nenê se recusar a jogar pela seleção, mas sei não...

Antes do sonho, uma jornada longa demais. Direto para o jogo Palmeiras e Paulistano, no ginásio desse último. Fernando volta de contusão no tornozelo, está meio mal nos primeiros dois quartos, mas depois, mostra o seu valor. No momento mais dramático, quando o Paulistano empata o jogo em 50 a 50, ele pega a bola, atravessa a quadra toda, se infiltra, marca uma bela cesta e ainda sofre falta. Depois, vai fazer isso de novo e ir além, pegando rebotes, dando belas assistências (duas desde o seu garrafão até a zona morta do inimigo, servindo seu companheiro; uma com extrema habilidade, servindo o parceiro passando a bola por trás de suas costas) e marcando pontos importantes. Atuação de jogador que trabalha bem em todas as funções e fundamentos essenciais de quem sonha em ser grande. Mas é preciso melhorar, muito, em um detalhe que decide muitos jogos: os lances livres. Errou demais, e o jogo poderia ter sido mais tranqüilo (o Paulistano encostou no finalzinho, quase virou) se não errasse cinco ou seis arremessos desse.

Outro menino que esteve bem foi Ortega, pivô trabalhando bem nos rebotes defensivos, se projetando bem nos primeiros passes das ações ofensivas e até fazendo uns pontinhos. Falta ao guri mais força física, que virá com o tempo, e um pouco mais de calma.

Henrique não jogou, mas quantos garotos podem se orgulhar de fazer parte de uma grande equipe e um grande clube como o Palmeiras? E quantos ele não terá superado para garantir um lugar naquele banco de reservas honrado?

Os três garotos representam bem o que é ser um jovem esportista batalhador e respeitoso. Ao final da partida Fernando fez questão de apertar a mão não só de adversários e juízes, mas também do pessoal da mesa de cronometragem. Humildade e educação são passos fundamentais nos caminhos de um campeão. E ele ainda mostrou algo raro para os tão jovens: calma nos momentos decisivos da partida, não é daqueles de se enervar facilmente, pelo menos foi o que mostrou nesse jogo.

Parabéns a essa molecada por essa valiosa vitória. E que sigam na postura, determinação e talento que exibiram domingo passado. Quem sabe um dia a Europa ou até aquele sonho gigantesco não vire realidade.

PS- Lembrem, guris, que humildade e respeito deve valer em todos os lugares. Portanto, nada de sacanear os (as) atletas de outros esportes com quem vocês convivem. Ao Fernando, vai um recado especial: nunca vi a Raíssa errar um saque, é incrível a concentração dela nesse momento e o ritual dela antes de levantar a bola e meter a paulada com precisão e força. Se aproxima dela, moleque, vai aprender muito. E lembra que o Oscar, ao final de cada treino, ficava um tempão treinando arremessos sozinho.

terça-feira, outubro 11, 2005


Centro Olímpico?
O Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP), localizado ao lado do ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, foi criado em 1970 com a intenção de formar atletas de alto nível. Por um bom tempo a meta foi alcançada. Mas desde o início da década de 90 o complexo passou a sobreviver dos escassos recursos do orçamento esportivo do governo municipal e de doações de algumas empresas e instituições.


Extensa matéria no jornal Lance de ontem, com o título de “Olímpicos na sucata” mostrou o abandono do local, em especial de sua pista de atletismo toda deteriorada e cheia de buracos. O mais incrível é que jovens promessas em formação e atletas de ponta ainda treinam ali, se sujeitando às freqüentes contusões como a canelite (inflamação na região da tíbia).

O COTP vive hoje dias bem distantes dos bons tempos em que recebia investimentos da iniciativa privada (empresas) e um eficiente programa chamado de “Adote um Atleta”, em que as empresas patrocinavam um esportista. Assim foram formados e evoluíram talentos como Ricardo Prado, na natação, Amauri e Montanaro, no vôlei, futuros ídolos e campeões em suas modalidades.

Montanaro afirmou ao Lance que recebia uma bolsa-auxílio em dinheiro, além da alimentação no refeitório do Centro, que não funciona mais. Hoje, os meninos e meninas que treinam atletismo, por exemplo, ganham um lanche depois do treino. E só.

A atual administradora do COTP, a ex-heroína do basquete, Magic Paula, faz o possível pra administrar e melhorar o lugar, mas sofre com a falta de recursos. O orçamento todo da Secretaria Municipal de Esportes anual é de irrisórios R$ 1,5 milhão.

Até quando o COTP vai ficar abandonado, caro Agnello Queiroz, Ministro dos Esportes? Ah, não venha se gabar da verba de R$ 1 milhão que liberou para o Centro (já diminuiu para R$ 800 mil porque o montante demorou a ser liberado), porque isso é apenas um paliativo perto dos mais de dez anos de abandono e necessidades de reformas do COTP.

Quem quiser ler mais sobre o amadorismo com que é tratado o esporte olímpico brasileiro leia hoje (terça-feira, 11 de outubro), também no Lance um artigo sobre as péssimas condições materiais dos aparelhos de ginástica dos Jogos Abertos do Interior, que acontecem esta semana em Botucatu (SP). O site do Lance é www.lancenet.com.br