quinta-feira, setembro 17, 2009

O Último Cavalheiro


A juventude ainda parecia pura, cheia de atitude e com sonhos no início dos anos 80, quando ele surgiu nos cinemas com o maior filme já feito sobre essa fase mais intensa da vida: Outsiders (Vidas Sem Rumo, 1983), clássico de Francis Ford Coppola. Patrick Swayze era Darrell, o irmão mais velho que cuidava de dois irmãos sem pais, Sodapop e Ponyboy numa família pobre do interior dos EUA dos anos 60. Uma família que junto dos amigos também sem oportunidades e chances na vida lutava no braço com os garotões ricos frios e sem escrúpulos.
Outsiders, inspirada no belíssimo livro de mesmo nome (*), explodia emoções e nos sentimentos mais verdadeiros. Sentimentos como o tocante afeto, cuidado e amor que Darrell-Swayze oferecia aos seus irmãos dos quais cuidava como pai e mãe, ralando num trampo infernal e ainda cuidando da casa. Sentimentos como aquelas amizades inquebrantáveis que uniam os irmãos e garotos pobres daquele filme tão real. Garotos interpretados com paixão visceral por jovens atores lançados ali por Coppola: talentos precoces como Matt Dillon, Ralph Macchio, Rob Lowe, C. Thomas Howell, Emilio Estevez e Tom Cruise. Que outro filme da história do cinema apresentou tantos jovens excepcionais no momento mais dourado de suas juventudes?
Patrick Swayze, o mais velho daquela turma (já com 30 anos), ainda brilharia em dois estrondosos sucessos românticos, Dirty Dancing (1987) e Ghost (1990), mas depois seu talento (era muito mais que um galã fortão) não teria chance para evoluir a outros patamares na sétima arte.
Mas Swayze seria sempre um ícone de uma época que guardava ainda um pouco de inocência, os anos 80. Depois viriam o desencanto da música grunge de Kurt Cobain, Nirvana e cia., os filmes que banalizaram a violência de Tarantino, Stone e outros tiros fatais nos romances campeões de bilheteria de Hollywood. Não havia mais lugar para o ultra-romantismo de amores “além da vida” como Ghost.
Uma pena que o banho de realidade, sangue e ceticismo massacraria cenas mega-açucaradas como Demi Moore e Swayze compartilhando aquela moeda mágica. Cenas de glicose excessiva apenas para os que já não acreditavam em romances à moda antiga. Para os que passaram a debochar de amores eternos. E pra piorar, o romantismo acabaria morto por ele mesmo já no século XXI quando uma apelação e farsa chamada música emo tornou, aí sim, o romance algo ridículo e insuportável.
Os machões e os que não creem em nada jamais vão entender o que a companheira de Swayze em Dirty Dancing, Jennifer Grey, disse sobre ele depois que o ator se foi, esta semana: “Patrick era um verdadeiro cowboy com um coração delicado”.
Um cowboy delicado? Talvez quem tenha visto um dos bons filmes posteriores de Swayze massacrados pela crítica, entenda isso, ao lembrarmos de Matador de Aluguel (Roadhouse), em que Swayze fazia um leão de chácara de um inferninho de rock onde brilhava um genial guitarrista cego de verdade, Jeff Healey, morto também recentemente. A delicadeza de Swayze no filme era sua paciência para treinar com refinamento artes marciais, seu apreço pelo lugar tranquilo onde morava – à beira de um lago; e o respeito, fidelidade e sensibilidade com que tratava seus amigos (como o veterano segurança, e grande ator, Sam Elliot) e a mulher que amava, a maravilhosa loura feita por Kelly Lynch
Finalmente, Swayze precisa ser lembrado também como um dos raríssimos casos em que Hollywood encarnou bem um surfista de alma. Falo de Caçadores de Emoção (Pointbreak, 1991). Filme subestimado pelos críticos e pelos próprios surfistas, Pointbreak é sim uma bela homenagem do cinema a alguns dos elementos mais puros, verdadeiros e belos do ato de pegar ondas. Mas isso é assunto para um post futuro, a homenagear o pequeno mas marcante legado de um dos últimos românticos do cinema. Ou não era um romântico o surfista que, perseguido pelo FBI, resolve entrar num mar gigantesco insurfável para não entregar a característica maior de um soul surfer de verdade (e não de propaganda de surfwear...), a liberdade? Sim, a cena final deste filme, do Swayze tão bem como surfista, é mais bela e fiel ao mundo das ondas que toneladas de videozinhos e dvd´s de surf acelerados, descerebrados e sem alma que são despejados pelas empresas de surfwear todos os meses. Talvez porque Swayze sempre tenha caçado as emoções mais verdadeiras.
Por isso ele lutou, com rara coragem, contra o câncer, até o fim de seus dias. Como um bravo que não se entrega à nada, Patrick Swayze surfou as morras da vida até o fim.

(*) O livro Outsiders (http://tinyurl.com/lmdun2), de Susan E. Hinton, mais bela obra juvenil que li na vida, é facilmente encontrado em qualquer bom sebo do Brasil. A obra, editada por aqui pela Brasiliense, está esgotada, mas tem em tudo quanto é canto. O filme de mesmo nome nunca foi lançado em DVD no Brasil, um verdadeiro crime. Só viu o filme quem foi jovem na época em que surgiu o videocassete...

(*) Abaixo, cenas do inesquecível Outsiders.

Um comentário:

  1. Aí Zé, a cena da moeda foi muito bacana. Mandou bem! E a Demi Moore tava muito gata na época.

    Dias desses vendo um canal fechado, acho que era o 42, assiti um programa sobre dependentes químicos em uma "Rehab" e quem estava na clínica muito mal de saúde - envolvido com drogas pesadas - era um dos atores que fez o filme Caçadores de Emoções. Ele era um dos ladrões do banco.

    Lembras?

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