sexta-feira, novembro 20, 2009
O segredo de Alfie
Ele conquista a mulher que quiser. Melhor: tem todas as mulheres que quiser. Experimenta todo tipo delas, dá-lhes sexo, um pouco de atenção e carinho. Elas usufruem de seu charme, beleza e poder de sedução único. Alfie é tudo o que elas querem. Mas não podem tê-lo de verdade, pois Alfie não assume compromissos. É apenas um rosto perfeito, um sorriso malicioso, olhos penetrantes e um corpo que sabe ser viril ou delicado. É apenas um caçador que faz o que suas vítimas desejam: a caçada rápida, imediata, devoradora. Sem joguinhos ou hesitações. Sem papo cabeça. Só que a vida não é um episódio de Sex and the city. Por isso que depois de noites selvagens, elas desejarão algo mais. Por isso confundirão Alfie com um mestre do amor. Não sabem que é um mestre apenas do sexo. Não sabem que ele pode preenchê-las seus desejos mais explosivos mas não pode preencher o espaço mais importante. Porque Alfie jamais lhes entrega seu coração. Boa parte deste filme é uma exibição engraçadinha de um Don Juan moderno atraindo e devorando as mulheres enquanto conta todos seus planos e conquistas para a câmera, tentando atrair a intimidade do espectador. Alfie poderia ser mais um filminho sexy de Hollywood não fosse o carisma de seu protagonista, Jude Law, um dos maiores de seu tempo. Não fossem suas presas as estonteantes e maravilhosas atrizes de três gerações: a sempre solar, passional delicada morena ítaloamericana, Marisa Tomei, dona do sorriso e olhar mais belos, verdadeiros e meigos do cinema americano; o vulcão doentio ultra-sexy louro que atende por Siena Miller e os anos que só acrescentam charme e profundidade à sempre intensa Susan Surandon. Não fosse o corpo magistral, suingue e simpatia da jovem diva negra Nia Long.
Alfie seria só sexo e belos corpos não fosse o momento em que o garanhão põe tudo a perder porque macula o imaculável: a amizade do melhor amigo. No momento em que o predador irresponsável percebe que ter todas as mulheres é não ter nenhuma, levanta-se um Jude Law magistral. Um Jude Law cujos olhos antes apenas conquistadores tornam-se um mapa abissal de sentimentos e perdas. Um mapa do vazio existencial do garanhão que descobre a dor da solidão. Pior, a dor de perder aquela que realmente o amava.
Aguente a sacanagem refinada e estilosa de Alfie arrastada por mais da metade do filme, porque depois receberão o melhor do cinema: atuações poderosas e mensagens que nos envolvem e derrubam como diretos no fundo do peito.
Por isso alguns passearão junto da solidão de Alfie, lembrando das raras mulheres que não perceberam serem perfeitas que passaram em nossas vidas.
Lembrando e sentindo cada fissura interior que acomete a estátua de deus grego que um dia julgaram ser.
Como não sentir, se Alfie, suas mulheres e histórias ainda nos são entregues embaladas por canções viscerais de Mick Jagger, feitas especialmente para o filme? Incrível como o velho Mick ainda consegue, às vezes em uma só palavra ou verso, entregar toda a beleza e dor do amor. Cantar toda a cegueira de desejos e sentimentos fugazes que escondem o amor verdadeiro. Que escondem a lição tão simples, cliché e vital mas que nos esquecemos. A lição dada por um velhinho só, viúvo, a Alfie em outra bela cena da metade final do filme: “ame sua mulher todos os dias antes que ela vá embora”. Ou antes que a deixemos ir. Canta e ensina então o velho Mick de guerra mais uma canção essencial:
Old habits die hard
hard enough to feel the pain
Hábitos antigos são difíceis de morrer, difíceis o suficiente para sentir doerem.
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