segunda-feira, julho 19, 2010

Tributo a Guerreiros Apaixonados

Muito se falou aqui e na mídia mundial sobre a incrível valentia, dedicação e talento dos uruguaios, mas ficamos devendo uma justa homenagem à admirável entrega, emoção e luta dos paraguaios. O Paraguai que só foi batido, em jogo duríssimo, pela seleção que seria a campeã do mundo, a Espanha.
O Paraguai que não se limitou a defender contra os espanhóis, mas os pressionou de forma infernal nos primeiros 30 minutos de jogo, quando a Espanha praticamente não conseguiu sair de seu campo. O Paraguai que baseou-se, sim, em uma defesa excepcional (ótimo goleiro, Villar e uma zaga quase impecável, lembrando a inesquecível zaga comandada por Gamarra na Copa de 98), e um meio-campo aguerrido, mas que também mostrou bom toque de bola e atacou o quanto pôde. O Paraguai que podia ter, sim, eliminado os campeões, se Cardozo não perdesse aquele pênalti e se o juiz não tivesse anulado um gol legítimo de Valdés. O Paraguai que mostrou uma paixão e garra incandescente e transparente no rosto de seus jogadores-guerreiros, visível desde o emocionado canto deles na execução do hino nacional do país. O Paraguai daquelas comoventes camisas cor de amor e solidariedade – o vermelho e branco tão fiel à alma desse país pequenino mas tão grandiosamente lutador e solidário. O Paraguai sempre injustamente menosprezado pelos especialistas do mundo do futebol. O humilde Paraguai que deu uma lição nos orgulhosos e egocêntricos poderosos do mundo da bola, que caíram antes dele nesta Copa.
Por tudo isso, por toda essa história de amor que os Homens de vermelho e branco semearam nos campos africanos, que uma cena simbólica marcou a queda gloriosa frente à Espanha. Cardozo, inconsolável por seu pênalti perdido, chorava copiosamente, com seu manto de amor e luta cobrindo a face, quando um grande homem e em breve, nos dias seguintes da Copa, Mito do futebol, se aproximou. Era Iker Casillas, o fenomenal goleiro e ser humano espanhol. Casillas foi lá abraçar e dizer algumas palavras de incentivo ao jogador e país que deu tanto trabalho para a Espanha, que enfrentou tão dignamente a futura campeã do mundo. Sim, a dignidade que a Holanda não teria (os laranjas apelaram à violência), os paraguaios tiveram de sobra. Pois podemos, sim, dizer que o Paraguai sempre se baseou em defesas fortes e muito coração, mas essa luta foi sempre de guerreiros que são homens, homens que jogam e lutam limpo.
Jogam limpo como um dos maiores zagueiros da história do futebol mundial e das Copas do Mundo, Gamarra. O Gamarra que tive a felicidade de assistir ao vivo no jogo de sua vida, aquele incrível Paraguai e França da Copa de 98. Aquele jogo em que ele liderou, sem fazer uma única falta!, uma das mais comoventes demonstrações de entrega da história, a entrega dos paraguaios para se defender contra aquela poderosa França de Zidane e Cia. que jogavam em casa.
Até hoje lembro daquele jogo, oitavas de final de 1998, quando sinto que estou sem forças, e que é inútil lutar contra a ausência de chances em meu mundo de trabalho, o jornalismo esportivo. Me veem então à memória aquela luta quase impossível da seleção de Gamarra e Chilavert (outro monstro na partida) durante 118 minutos (tempo normal e prorrogação, quase toda...), luta que só terminou com o gol do capitão francês, no penúltimo minuto da prorrogação. Luta interrompida de forma cruel com a mais estúpida regra da história do futebol (já banida, ainda bem), o gol de ouro, ou morte súbita. Lembro então daquelas cenas impressionantes dos paraguaios desabando no gramado, inconsoláveis. Lembro então da colossal força e hombridade de Chilavert, que aproximou-se de cada companheiro abatido e levantou-o, como se fossem bebês desprotegidos, gritando talvez palavras de coragem, respeito e amizade, dizendo o quão grande cada um tinha sido. Lembro depois do primeiro sorriso que consegui dar na saída daquele estádio: abatido por ter torcido tanto junto dos meus irmãos paraguaios na arquibancada atrás do gol, só consegui sorrir quando um nobre francês disse a frase de reconhecimento e respeito pelo que fez o Paraguai naquele jogo: “Gamarra est Beckenbauer”, Gamarra é Beckenbauer, bela comparação com o mito alemão.
Tudo isso só para dizer, meus irmãos paraguaios, que mesmo achando que o melhor para o futebol foi a taça do mundo ir para o futebol arte, pé em pé, da Espanha, vocês comoveram muitos brasileiros com sua luta limpa, coragem (que outro país teve a bravura de pressionar tanto os futuros campeões do mundo?), emoção e paixão por seu país e pelo futebol.

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