quarta-feira, junho 30, 2010

O adeus de um herói


O goleiro português Eduardo é um herói. Herói pelas brilhantes defesas que fez ontem contra a poderosa Espanha. Herói porque foi ele o homem que mais resistiu em uma seleção acovardada como a sua*, covardia que some no arrojo, coragem e capacidade neste que já é um dos melhores "guarda-redes" portugueses da história. História, sim, pois Eduardo não tomara nenhum gol na 1ª fase (nem do Brasil) e ontem, quase barrou esse eletrizante e imperdoável atacante espanhol e artilheiro da Copa, David Villa. Sim, o 1 Luso pegou a primeira bola cara a cara com Villa, só não conseguiu segurar o rebote, quando a malícia e habilidade do espanhol colocaram a bola por cima do português. Este foi o único gol que Eduardo sofreu em toda a Copa, e por ele seu Portugal foi eliminado. Por isso o goleiro chorou inconsolável ao final da partida. Enquanto seus colegas, como executivos frios acostumados a perderem grandes negócios, mostravam apenas um abatimento tênue, Eduardo não conseguia erguer-se do gramado e de suas lágrimas. Porque Eduardo, que defende a meta do pequenino Braga, do seu Portugal, ainda não foi contaminado pela globalização e “profissionalismo” do mundo da bola. Porque Eduardo não tem um salário milionário que atropela os sentimentos e a alma. Por isso ele é um herói, por ser ainda um jogador à moda antiga. Um jogador que sofre de verdade com uma derrota terrível. Ou não é terrível ver seu sonho desmoronar após tomar um mísero mas definitivo gol na Copa do Mundo? Um gol justíssimo pela coragem e beleza do futebol espanhol, mas injusto se pensarmos no coração de Eduardo, um raro jogador - nesse meio de muitas celebridades milionárias, vazias e frias – que ainda porta-se como um amador, como quem ama o esporte. Pena que essa desgraça chamada marketing oculte os Eduardos - que ainda resistem em algumas seleções – para massacrar-nos com imensos outdoors e comerciais mirabolantes de falsos astros como um outro português, esse fracasso nesta Copa chamado Cristiano Ronaldo. O Cristiano que só joga bem nos clubes - junto de outras estrelas - e apareceu a toda hora nos telões da Copa fazendo suas caras e bocas e jogadas enfeitadas inúteis. Enquanto isso, Eduardo só aparecia defendendo de forma magistral e valente a meta não só de sua seleção, mas de seu país.
E o goleiro só foi aparecer por mais alguns segundos quando as câmeras registraram, já após o fim, as suas lágrimas. As lágrimas de um herói de verdade. E foi nesse momento que surgiu uma das mais belas imagens dessa Copa: de repente Eduardo é surpreendido pelo abraço  algumas palavras de incentivo de outro gigante, o goleiro espanhol Casillas. Que bonito é ver a raridade de um vencedor digno, que sabe o valor de quem perdeu mas perdeu de pé.
Levanta, Eduardo, pois no coração daqueles que não são enganados por falsos heróis e ídolos, você será sempre um grande exemplo e referencial. O resto é mentira.
PS* - Um erro, corrigido por um leitor atento: há que se destacar também a valentia e coragem de um Fábio Coentrão e o ímpeto e vontade de um Raul Meireles que não teve, porém, quem o ajudasse na criação. E, claro, muita culpa para um Queiroz que preferiu se defender a arriscar.

Um comentário:

  1. Gostei bastante do teu artigo e quase concordo contigo inteiramente.

    O Eduardo foi sem sombra de duvida um herói para a selecção portuguesa neste mundial, mas não é de desprezar os esforços do resto da equipa. Ronaldo fez o que pode. Se lhe falta maturidade? Sim falta, se era de esperar mais do capitão da selecção portuguesa? Sim, sem sombra de duvida. No entanto tem de se aceitar que espanha o conhece muito bem e consequentemente construiu bem o seu jogo para eliminar a ameaça dele.

    Para acrescentar, temos um treinador que joga para o empate e que não representa de todo o espírito de jogo bonito e coragem deixada pelo vosso "sargentao".

    Enfim, temos guarda redes, temos equipa (Fábio Coentrão, dupla de Raul Meireles e Tiago no meio campo, o "vosso" Pepe na defesa dá nos imenso jeito. Mas enquanto tiver-mos uma besta de treinador, não vamos a lado algum.

    ResponderExcluir