sábado, dezembro 13, 2008

Namorada nova


Namoro, relacionamentos? Sou das antigas, todos sabem. Minha época já tinha esses lances de “ficar”, mas não com o vazio e jeito descartável que rola hoje. Parece que virou esporte [sem a paixão envolvida em várias modalidades]. Talvez por isso tenha passado os últimos anos junto de minha mulher pura, toda branquinha, delicada e suave, 6´4 de altura. E foram anos maravilhosos de muitas ondas incríveis que ela me permitiu experimentar, em belos caminhos-carinhos que descortinávamos juntos.
Sim, éramos apaixonados, e viajamos o país curtindo o tão belo e intenso romance do surfe.
Pena que o tempo, esse malvado, sempre passa. Ela foi perdendo aquela cor e textura tão gostosa da pele, foi perdendo a suavidade e precisão com que abraçávamos juntos as ondas mais incríveis. Pior, foi sendo machucada, ganhando algumas cicatrizes que foram comprometendo seu corpo antes perfeito como uma de linda beldade da juventude.
Triste foi vê-la amarelada, velhinha, machucada, algumas vezes, juro, até escutei gemidos de dor. Porque uma prancha tem, sim, vida. Que escultura de arte não tem vida?
Vida útil? A dela já tinha passado há muitos tempo.
Deveria tê-la trocado há milênios, para eu mesmo poder evoluir mais rapidamente no surfe.
Abandono. Tive sessions mágicas nos últimos dois anos com uma prancha que roubei um pouco do amigo Pimenta, uma super gata azul. Mas não é que em pleno outside, às vezes meu coração apertava porque ficava com pena da minha pranchinha que abandonara em casa, largada encostada na parede.
Não aguentei e voltei a passear com ela.
Mentiroso. A enganava em muitas tardes em que varava as surf shops de São Paulo à procura de uma namorada nova.
Até que há algumas semanas, meus olhos se perderam de novo.
Uma jovem mais baixa, 6´2, mas de curvas também delicadas, e tão bela em sua pele amarela-ouro com mechas alaranjadas... Suspirei. Finalmente encontrei o que procurava. Tá, ela pode ter a cintura-borda um pouco recheadinha, mas vejo isso apenas como o charme de minha gordinha.
Sim, já está aqui em casa.
Esperando pelo primeiro beijo, porque o surfe não é como o namoro dos seres humanos.
O primeiro beijo e sexo feito com amor, só vai acontecer quando pudermos nos deitar juntos nas ondas de minha praia amada.
Enquanto o dia não chega [com essa chuvinha chata não vai dar, ela merece o céu azul e o sol dourando sua pele], apenas a admiro, deitada em minha cama. Como se fosse um moleque descobrindo os encantos da primeira namorada.
Não são os surfistas os únicos que conseguem parar o tempo com seus corações de Peter Pan? Que conseguem, sempre, amar como da primeira vez?
Ela é linda. Minha amarelinha dourada, prancha do sol.
(15/10/2004)

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