sábado, dezembro 06, 2008

De onde vem essa força?



Eles ultrapassam talvez tudo o que já vimos de surpreendente, motivador e belo em se tratando de grandes momentos do esporte. São os atletas portadores de alguma deficiência, física e/ou mental. São esses fabulosos lutadores e lutadoras que começaram hoje a disputar a Paraolimpíada, em Atenas. E que ontem, protagonizaram um tão humano desfile na inacreditável cerimônia de abertura desses Jogos [quanta sensibilidade, arte e simplicidade - mais uma medalha de ouro em bom gosto e humanidade foi vencida ontem pelos gregos].
Assisti hoje cedo à uma prova de ciclismo de pista, dentro do velódromo. Alguns ciclistas mal conseguiam ficar de pé e andar, por possuírem sérios comprometimentos nas pernas e pés. Eram ajudados pelos voluntários para subirem no selim e se acomodarem em suas bicicletas. Como conseguiriam pedalar?
Eles conseguiram. Em cima dessa maravilhosa máquina chamada bicicleta [com tão pouco jeito de máquina, por ser silenciosa, delicada, bela], eles voaram pista afora. Pássaros da garra e coração humano que não se abate com nada. Como uma antiga aluna valente uma vez escreveu - sobre um deficiente que praticamente não se movia, mas pintava como um gênio com o pincel na boca – o que os movem é uma alma pura e guerreira, sem as deficiências que muitos de nós carregamos.
Pureza e vida foi o coquetel essencial da festa de abertura, com aquela imensa árvore que os gregos colocaram dentro do estádio olímpico. Árvore que significa tanto [a fertilidade, os frutos, o verde, a proteção, a preservação, o futuro...], que os gregos iluminaram a cada momento com uma cor e bailarinos diferentes, representando todo o espetáculo da vida: água, terra, fogo, ar; mar, céu, paraíso, inferno; morte, vida etc etc. Não assistiu? Perdeu o inesquecível. Mas sentirá emoções parecidas se ligar no canal Sportv e acompanhar, todos os dias [até dia 28], os espetáculos de coragem e beleza da Paraolimpíada.
Beleza, sobretudo. Porque precisamos parar de ter pena desses atletas - tratando-os ou sentindo-os como coitados - e valorizar as manobras e atuações sublimes que eles conseguem fazer. Como esse balé frenético e sutil com que o pessoal do basquete conduz suas cadeiras de rodas; como as adaptações que esses leões conseguem fazer com seus corpos mutilados [em alguns casos] para conseguir, por exemplo, nadar em alto nível mais rápido que nós, mesmo sem parte da perna ou dos braços.
Como esses pássaros que me encantaram hoje no ciclismo. Que provam que, mais que uma mente e corpo são, o que produz um campeão da vida é a alma incansável que não conhece o significado da palavra “impossível”.
A alma que sonha, quer e persegue não conhece barreiras. Por isso voa.
(18/09/2004)

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