sexta-feira, dezembro 05, 2008

Procura-se vivo ou morto


Foi no meio do bar, da noite já turbinada por baladas roqueiras e pelo sempre poderoso combustível de velhos amigos lembrando os bons tempos, as experiências vividas, as aventuras e os amores sonhados. De repente o coração do amigo - outrora tão jovem, decidido e revolucionário [queria mudar o mundo] – reduzira-se apenas à uma amarga e dolorosa pergunta que ele fez, com a coragem e tristeza dos que um dia acreditaram tanto:
- O que fizeram com o amor, Zé?! Ele ainda existe?????
Tomei um susto grande, e simplesmente não consegui responder, tamanha a força e angústia daquela pergunta fundamental. Olhei para o amigo e tentei falar alguma coisa. Não deu, só saiu, após segundos intermináveis, um “esclarecedor”,
- Porra, Paulinho...
Foi tudo o que consegui dizer, talvez por ter, há algum tempo, a mesma dúvida violenta e corrosiva. Ainda bem que naquela noite logo pintaram risadas pelo papo profundo demais. E o peso da bateria, os gritos do cantor, as viagens e barulho das guitarras concretizaram a anestesia. Mas volta e meia a pergunta daquele ex-sonhador se transforma em outras. Se transforma numa dura página de classificados da vida:
Procura-se o amor.
Procura-se a coragem de amar
, o novo e o velho sentimento.
Procura-se uma fotografia e tudo o que ela representou.
Procura-se uma menina que inspirou um final feliz de um romance de um surfista.
Procuram-se as canções de amor que o rock fez pra ela através da paixão dele pelo rock.
Procura-se a melodia daquele sentir juntos, com a mesma intensidade e significado, aquelas cenas dos filmes.
Procura-se aquela canção, que falava de um louco mundo e de um sensato e tão verdadeiro amor.
Procura-se uma reunião de amigos que se comprometeram a não se esquecerem embalados por uma canção do U2, “One”.
Procuram-se os amigos que compartilhavam as ondas.
Procura-se tanta coisa
e tão pouco é encontrado
.

Procura-se uma luz como aquele sorriso puro e doce da menina que ficava bem em qualquer lugar.
Procura-se uma luz. Nas ondas, canções, esportes, pais, raros amigos e amigas de verdade. Mas tudo isso não resolve nada.
Porque, caro Paulo, não sei o que fizeram com o amor.
Talvez esteja morto.
Ou escondido nas profundezas,
com medo de novas cicatrizes,
com medo de lutar de novo.
Só que lembro sempre o que pregava um poeta romano antigo, "o amor é como o serviço militar: Para trás, covardes!"
(06/07/2004)

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