quarta-feira, maio 20, 2009

Surfistas e Vagabundos

Segunda brava. Session nervosa, o primeiro drop já derruba sem dó, pescoço batendo forte. Ondas rápidas fechando um pouco. Algumas – poucas – belas paredes encontradas; raras pílulas de aceleração máxima e aquarela permitindo vários desenhos lá embaixo e esboços de pancadas lá em cima. Quase no fim da session, o corpo moído já pede o até logo e o chuveiro quente perto do anoitecer.
A solidão no pico também incomoda. Companhia no outside? Ninguém. Mas eis que o laranja e o dourado agem feito um imã no horizonte. O sol se põe com beleza de fotografia de filme de cinema. Aquele céu pede uma saideira digna como um copo erguido em homenagem a alguém. Remava e remava e tomava uma onda atrás da outra na cabeça, numa sequência humilhante. Mas havia aquela luz, não conseguia desistir. Pow! Mais um soco na cabeça, desisto. Viro em direção à praia e pego qualquer onda já meio estourada, típica última onda indigna. Mas o que é indigno quando podemos estar lá fora sozinhos mas preenchidos da luz única do entardecer? O que é uma session meia boca perto da dádiva de ter o corpo arrebentado, a pele salgada e a alma sempre elevada após algumas ondas, mesmo que poucas surfadas? Existe alguma chance de estarmos lá fora - ora surfando, ora apanhando – e isso não nos levantar o astral e a sensação de estar vivendo? Existe alguma chance de encaramos águas frias junto de nossos cavalos de fibra de vidro - enquanto outros estão trabalhando ou deitados no cobertor - e isso não ser uma experiência positiva?
Nenhuma chance. A session mais tosca de surfe sempre será uma experiência de vida maravilhosa perto do que a maioria das pessoas estão fazendo em seus cotidianos repetitivamente infernais e competitivos.
E há sempre aquele gostinho meio marginal do surfe em plena 2ª feira.
Vagabundo é quem deixa a vida e as ondas passarem esperando aquela viagenzinha de fim de ano (no verão sem ondas...) que você e a torcida do Flamengo programaram pra mesma praia.
Vagabundo é quem não faz de cada semana é uma viagem profunda.
Por isso, se o bolso vazio não permite que você surfe, jogue-se em outras ondas. Pegue um pedacinho da 2ª (ou 3ª, 4ª...) e faça dele uma viagem. Mas tem que ser na fronteira entre o dia e a noite. Tem que ser na hora em que parece que o tempo para antes da escuridão chegar. Tem que ter a cor alaranjada da vida mais bela possível.

3 comentários:

  1. Cara... vc tem toda a razão... mesmo naquela session que vc fica triste ou até mesmo estressado de não ter pego boas ondas, ou de não ter-se conectado como um deseja as ondas, na hora que vc sai e chega na areia, ve aquele visual todo, para e pensa, ve o quanto é bom estar na praia, estar no mar, sentir aquela brisa gelada no rosto queimado, não existe outra sensação tão boa quanto essa... ainda mais numa segunda feira, onde estão todos lutando para sobreviver na selva de pedra... temos que reunir a galera e fazer um surfe logo cara, faz quase 6 meses da ultima queda juntos... ve se telefona para um bate-volta cara!!! Grande abraço REMO

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  2. FORTE!!!
    Como sempre, pão na chapa tostado na medida, dos dois lados, uniforme.
    Abraço!
    Gustavo

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  3. "pegue um pedacinho da segunda, terça... e faça dele uma viagem" PÁÁÁ (como você fala)

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