Spike Lee, o cineasta da denúncia da intolerância, acertou de novo. Milagre em Santa Anna mostra o conflito entre o horror da guerra - e dos homens que a comandam - com a dignidade de alguns raros soldados, oficiais e civis que tentam lutar com decência na II Guerra Mundial. Com realismo brutal e também fé e magia-esperança infantil, Lee conta a história de um grupo de soldados negros e chicanos (descendentes de latinos) americanos em campanha contra os alemães na Itália durante a II Guerra Mundial. Negros e chicanos que ocupam a linha de frente de seus pelotões de propósito, servindo como escudos para os demais soldados, brancos, que vêm mais atrás.
Além de servirem de cobaias e escudos, esses soldados ainda são maltratados por seus superiores. O filme inicia com um ataque americano a uma posição alemã em que o pelotão de frente é abandonado por seu exército no meio do confronto. Acuados e praticamente entregues ao inimigo, esses quase suicidas (não por vontade própria) são massacrados pelos alemães. Por sorte, quatro dos soldados sobrevivem e acabam encontrando um raro vilarejo, na belíssima região da Toscana italiana, ainda não ocupado pelos homens de Hitler, que avança rapidamente pelo país.
Nesse intervalo de combate, Spike Lee inicia um misto de fábula e filme de guerra temperados com um amizade parecida com a do filme À Espera de um Milagre – em que Tom Hanks viveu um homem bom que dirige um presídio com homens condenados à morte. A amizade de Milagre em Santa Anna vem do menino órfão italiano, Ângelo, que se envolve e ganha a proteção de Train, um enorme soldado negro americano com a mesma alma pura de criança daquele imenso preso com poderes mágicos do filme de Tom Hanks.
Os 4 soldados, três negros e um filho de portorriquenhos, vão interagir com um acolhedor grupo de velhos italianos e uma bela mulher, Renata, e também com alguns homens da resistência italiana, os partisans, que vivem de emboscadas contra os alemães no meio das florestas e montanhas.
A beleza, e também descrença humana suscitada pelo filme, vem do respeito com que esses soldados são tratados pelos italianos, bem diferente do que eles recebem de seu próprio exército e país, os EUA da época em que os negros sofriam todo tipo de racismo. Junto do menino abençoado e dos moradores de uma pequena vila vizinha ao povoado de Santa Anna, os soldados vão descobrir que são gente como qualquer outra, com direito à dignidade, afeto e amor.
O problema é que os alemães estão cada vez mais próximos. Mas mesmo na situação sem saída desses 4 homens e alguns rebeldes partisans cercados pelos alemães, mesmo na impossibilidade da vitória, Milagre de Santa Anna oferece algumas cenas e atitudes de uma grandeza humana chocante. A resistência - contra o mal e a selvageria - dos 4 soldados, dos civis italianos, de alguns oficiais dos americanos e alemães, nos acompanham muito tempo depois de sairmos do cinema. Mesmo no impasse de destruição da guerra, Spike Lee mostra a bravura e beleza de alguns raros homens e mulheres decentes no meio da estupidez e maldade da guerra. O filme pode ser longo demais (mais de 2h e 30), pode ter algumas cenas dispensáveis, como a do início e do desfecho, mas ao final percebemos o valor e permanência dessa verdadeira ópera de batalhas, raiva, amor e fantasia que Spike Lee criou. Uma ópera de guerra longa mas com algumas cenas e gestos humanos inesquecíveis.
Além de servirem de cobaias e escudos, esses soldados ainda são maltratados por seus superiores. O filme inicia com um ataque americano a uma posição alemã em que o pelotão de frente é abandonado por seu exército no meio do confronto. Acuados e praticamente entregues ao inimigo, esses quase suicidas (não por vontade própria) são massacrados pelos alemães. Por sorte, quatro dos soldados sobrevivem e acabam encontrando um raro vilarejo, na belíssima região da Toscana italiana, ainda não ocupado pelos homens de Hitler, que avança rapidamente pelo país.
Nesse intervalo de combate, Spike Lee inicia um misto de fábula e filme de guerra temperados com um amizade parecida com a do filme À Espera de um Milagre – em que Tom Hanks viveu um homem bom que dirige um presídio com homens condenados à morte. A amizade de Milagre em Santa Anna vem do menino órfão italiano, Ângelo, que se envolve e ganha a proteção de Train, um enorme soldado negro americano com a mesma alma pura de criança daquele imenso preso com poderes mágicos do filme de Tom Hanks.
Os 4 soldados, três negros e um filho de portorriquenhos, vão interagir com um acolhedor grupo de velhos italianos e uma bela mulher, Renata, e também com alguns homens da resistência italiana, os partisans, que vivem de emboscadas contra os alemães no meio das florestas e montanhas.
A beleza, e também descrença humana suscitada pelo filme, vem do respeito com que esses soldados são tratados pelos italianos, bem diferente do que eles recebem de seu próprio exército e país, os EUA da época em que os negros sofriam todo tipo de racismo. Junto do menino abençoado e dos moradores de uma pequena vila vizinha ao povoado de Santa Anna, os soldados vão descobrir que são gente como qualquer outra, com direito à dignidade, afeto e amor.
O problema é que os alemães estão cada vez mais próximos. Mas mesmo na situação sem saída desses 4 homens e alguns rebeldes partisans cercados pelos alemães, mesmo na impossibilidade da vitória, Milagre de Santa Anna oferece algumas cenas e atitudes de uma grandeza humana chocante. A resistência - contra o mal e a selvageria - dos 4 soldados, dos civis italianos, de alguns oficiais dos americanos e alemães, nos acompanham muito tempo depois de sairmos do cinema. Mesmo no impasse de destruição da guerra, Spike Lee mostra a bravura e beleza de alguns raros homens e mulheres decentes no meio da estupidez e maldade da guerra. O filme pode ser longo demais (mais de 2h e 30), pode ter algumas cenas dispensáveis, como a do início e do desfecho, mas ao final percebemos o valor e permanência dessa verdadeira ópera de batalhas, raiva, amor e fantasia que Spike Lee criou. Uma ópera de guerra longa mas com algumas cenas e gestos humanos inesquecíveis.
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