sexta-feira, maio 29, 2009

A rebelião das ondas


Já esperava ondas pequenas. Era o último suspiro do swell do fim de semana. Mas o mais importante era o verbo vital para os surfistas: eu esperava. Sabia que elas estariam lá.
Surfistas têm fé.
Surfistas sonham. Mesmo que o sonho seja tão banal – para os não-surfistas – quanto desejar alguns presentes ondulatórios para começar bem a semana.
O caso é que chegando lá - já cansado porque a viagem não é tão curta e o corpo e a mente estão sempre cansados do sono atrasado e conturbado – o desgaste físico sumiu com as meninas bem pertinho. Sim, mesmo numa maré cheia, o mar chamava, “vem brincar, moleque!”, mesmo se o moleque já varou os 40. E certo, as meninas eram pequeninas, mas com uma formação perfeita de desenho animado, e longas.
Longas como são toda boa session de surf. Longas porque nos levam muito mais longe que os reféns do cotidiano de escritório jamais vão entender se não pegarem um cavalo de fibra – a prancha – e galoparem oceano adentro como o menino que um dia foram sobre um cavalo de pau cheio de vida.
A vida que há na imaginação e fantasia.
A vida que há quando somos totalmente preenchidos de um outro mundo chamado mar.
O mar que fala através de palavras, brincadeiras e passeios chamados ondas.
O mar que hipnotiza com as cores que computador, sites ou videogames jamais conseguirão imitar: as cores do entardecer das segundas-feiras ao mar.
As cores da rebeldia que é surfar enquanto a maioria luta contra a insuportável retomada da rotina, compromissos, prazos e relação com chefes.

A rebeldia que é ter como chefe a vida.
A rebeldia que é estar sozinho no mar enquanto o mundo deve trabalhar.
Não há nada que um bom dia de surfe não cure é o clichê mais batido da história do surfe. Mas tão real como é a verdade de estarmos mais vivos dentro do mar. Tão real quanto o surfe ser meu remédio fundamental para suportar a vida sem seu elemento vital, o amor.
Por isso, surfo.
Por isso, resisto.
Por isso ainda sorrio, como um moleque, quando percebo que no entardecer de minha praia amada eu só consigo ver a tela maravilhosa do entardecer atrás do morro quando surfo de backside.
De costas para a onda.
De costas para o sistema.
De costas para a normalidade.
Ali e naquele instante, no finzinho da segundona brava do mundo que anda para o lado dos poderosos que mandam, um surfista sorria e gritava alucinado só porque surfava sozinho com a mesma convicção do nosso poeta maior:
PARA A ESQUERDA!

Um comentário:

  1. Essa foto que vc. pôs me lembra Mundaka. Acertei? VH.

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