domingo, maio 17, 2009

Barcelona x Ditadura


Barcelona, Espanha, 1974. A ditadura do general Franco, um dos mais terríveis facínoras da história, segue perseguindo sem dó os opositores do governo, ainda na mais na Barcelona que defende até um outro idioma do povo local, o catalão. Quem luta contra os carrascos de Franco é gente como o jovem Salvador Puig, que roubava bancos para arrumar dinheiro para a revolução contra os militares. O filme “Salvador”, depois da hora inicial lenta e arrastada, torna-se uma obra envolvente e dramática ao mostrar o idealismo de Salva Puig e sua coragem para seguir resistindo mesmo já preso. E na prisão ainda há a bela humanização do guarda que primeiro considera Salva apenas um assassino (em legítima defesa, de um policial) e depois estabelece uma tocante amizade com o jovem revolucionário.
O filme é ainda uma poderosa amostra da resistência que os catalães de Barcelona ofereceram contra o assassino governo de Franco. Impedidos de falar catalão ou protestar por um país livre e justo, os catalães só tinham duas saídas: suportar a ditadura ou enfrentá-la. Mas mesmo os que não lutavam, tinham 90 minutos de sonho a cada vez que o time de futebol do Barcelona jogava em casa, no estádio de Camp Nou. Só ali dentro as dezenas de milhares de torcedores do Barca podiam cantar e falar livremente e cantar no idioma de seus corações: o catalão. Nem um Hitler espanhol como Franco tinha coragem de mandar matar 100 mil rebeldes do Barça durante uma partida de futebol. Se bem que matar milhares Franco já tinha feito ao permitir que seus aliados nazistas bombardeassem Guernica (no país basco, outra região espanhola que queria exprimir-se livremente em oiutro idioma). Ali Hitler testou os armamentos dos caças alemães, em 1936, episódio que seria eternizado com horror e arte por Pablo Picasso.
Voltando ao filme, no 1974 em que Salvador Puig foi preso (e condenado à morte), o Barça lavou a alma de seu povo ao enfiar 5 a 1 na equipe protegida do general, o Real Madrid... Esse jogo, em que brilhou o gênio holandês Cruyjff, é citado no filme “Salvador”, que traz uma poderosa interpretação em sua hora final do ator que já fez outros filmes políticos e anti-sistema, “Edukators” e “Adeus Lênin”.
Por que ver? Todo bom filme que relembra e denuncia uma ditadura é vital nesse mundo sem memória, especialmente o Brasil. E vejam abaixo um histórico show no estádio do Barça, no mesmo 1974, em que o cantor libertário LL Lach entoa um canto-símbolo da resistência contra o fascismo, "I si canto trist". Percebam as bandeiras da Catalunha e a emoção do povo de Barcelona naqueles anos negros de repressão.

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