sexta-feira, maio 01, 2009

15 anos sem o herói maior


“Senna era um cara especial porque tinha uma verdadeira preocupação em transmitir valores e idéias que foi forjando a partir de um universo besta e, na real, minúsculo e irrelevante, como é a F-1. É uma capacidade
admirável, essa de extrair das corridas lições e ensinamentos que valham alguma coisa fora de um autódromo.
Revi Ayrton meio por acaso e de passagem na tevê, eu estava almoçando com um olho, ajudando meu filho mais velho a fazer a lição com outro e... Ayrton dava um depoimento não sei bem com qual propósito, mas pesquei uma ou outra palavra, amor, trabalho, dedicação, luta, vencedor, e ele não falava de F-1, mas da vida. Pastores e picaretas que ganham dinheiro com auto-ajuda dizem coisas parecidas na tevê, mas,num certo momento, meu olhar cruzou com o dele na tevê, e naqueles olhos vi sinceridade e franqueza.
Ele não precisava falar isso, mas falava.”
(Flávio Gomes, Lance!, 23/10/03, citado no livro Heróis do Esporte, Heróis da Vida)

Em 1º de maio de 1994, o Brasil e o Mundo não perderam apenas um piloto e ídolo da F-1. Perderam um herói legítimo, aquele capaz de proezas extraordinárias nas pistas ao mesmo tempo em que, fora delas, demonstrava os mais nobres valores. Valores não só do super-campeão que ultrapassava todos os limites como piloto, mas de sua postura rara de ídolo que procurava ensinar algo belo ao brasileiro comum. Algo como o seu apreço à perseverança, trabalho incansável, metas bem definidas, humildade no trato com as pessoas (nunca, por exemplo, um piloto foi tão querido pelos mecânicos de uma equipe de F-1, que Senna tratava como companheiros) e, algo raro, o amor não apenas ao seu país e bandeira, mas ao seu povo. O povo brasileiro que ele ajudava (hospitais, instituições) sem propagandear, sem faturar em cima com um bom-mocismo marketeiro comum em outras grandes estrelas. Essa brasilidade verdadeira (e não só de Copa do Mundo e Carnaval) de Ayrton Senna da Silva era tão forte que, meses antes de morrer, revelou a irmã, Viviane, o desejo de fazer algo maior pelas nossas crianças e jovens.
Aquela fatídica curva de Ímola interrompeu seu sonho. Mas Viviane, uma legítima guerreira do clã dos Sennas, seis meses depois, em novembro de 1994, lançou o Instituto Ayrton Senna, que hoje é a entidade não governamental que mais atende crianças em todo o país, dando uma formação educacional, esportiva, artística e cultural a milhões de meninos e meninas nos 26 estados do país.
Hoje, 15 anos depois de sua morte, mesmo em um país sem muito apreço a memória como o nosso, Ayrton Senna ainda é o herói maior dos jovens brasileiros, à frente de Kaká e Felipe Massa, como mostra uma recente pesquisa do Ibope com jovens de 15 a 19 anos. Um herói porque Senna nunca foi apenas um gênio do esporte. Sua última atitude como o raro ser humano que foi o mundo não pôde conhecer. Descobri isso apenas ontem, na ótima coluna de Flávio Gomes, no jornal Lance. Junto ao corpo sem vida do brasileiro no autódromo de Ímola, descobriram em seu macacão de piloto uma bandeira dobradinha. Do Brasil? Não, da Áustria. Senna queria homenagear o austríaco que perdera a vida nos treinos para a corrida de Ímola e o abalara demais. Tanto que Senna pensou em não correr. Mas o destino o levaria embora, não dos corações que nunca o esqueceram ou que aprenderam a amá-lo mesmo sem viverem em sua época.
Alguns jovens que descobriram Senna depois de sua morte, ou que eram muito novos na época do acidente, coloquei em meu livro, Heróis do Esporte, Heróis da Vida. Quem quiser ler seus depoimentos sobre o valor de Senna, que estão na introdução do livro (“Um herói brasileiro”), clique no link abaixo, que também permite ver o índice e prefácio do livro.
http://tinyurl.com/d2gyu9
Quem quiser conhecer um pouco mais de Senna por ele mesmo, pode entrar em outro link, um especial do site Terra que resgatou frases históricas do herói:
http://tinyurl.com/cdf5rv

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