quinta-feira, maio 14, 2009

Aulas vivas


Escolas são em geral lugares chatos e monótonos entupidos de livros didáticos e lousas repletas de teorias. A frase "peguem o livro" (o didático, de cada disciplina) é o pesadelo de 9 em cada 10 alunos. Por isso tento fugir disso. Se o livro ainda é obrigatório, procuro toda semana também usar outros meios. Ou deixar que outros professores deem essas aulas. Professores como um cara que partiu 15 anos atrás.
Incrível o poder de Ayrton Senna, mesmo se visto na tela pequenina de um notebook em uma aula na escola. Incrível como suas façanhas na pista e exemplos, como piloto e ser humano, resistem ao tempo. Enquanto passava uma reportagem antiga do Jornal Nacional sobre ele em uma classe, logo algumas cabeças, de outras turmas, apareceram na janela. Cabeças e corações que também queriam ver Senna. Por isso deixei o herói acelerar e ensinar nas outras turmas também. Por isso meninos e meninas que não haviam nascido quando ele corria, puderam aprender mais com o mito. E incrível como ficaram calados, mesmo os mais bagunceiros. Essa é a educação em que acredito: deixar grandes mestres falarem diretamente aos meus alunos, por vídeos, filmes, textos de jornais, canções etc.
Sei que a teoria e um pouco de técnica (no meu caso, de Redação) ajudam a escrever melhor. Mas nenhuma aula teórica de narrativa ou dissertação suscitaria a mesma percepção e vontade em meus alunos que essa aula que o Senna deu ontem e hoje em minha escola paulistana. Ao final dos vídeos, coloquei algumas perguntas na lousa e alguns alunos perguntaram: em vez de responder cada pergunta, posso escrever uma redação?
Isso os dinossauros teóricos jamais entenderão: para um jovem gostar de escrever, ele precisa, sobretudo, se envolver, se emocionar, se entusiasmar. Só aprende quem ama.
Nunca vi um texto sobre Ayrton Senna em um livro didático...

3 comentários:

  1. O Senna é a lembrança mais bonita que eu tenho da infância.
    Domingos que tardavam a entardecer, porque o café da manhã era sempre assistindo ao pódio com champagne, sorrisos e olhos brilhantes. E até a voz do Galvão gritanto: "Ayyyrton, Ayyyrton, Ayyyyrton Senna do Brasiiil!" não parecia forçada como agora. Ao contrário, emocionava. Dava sensação de euforia, aquela felicidade compartilhada.
    O Senna me lembra brigadeiro e bolo de chocolate. Bexigas coloridas e festa. Muita festa.
    Por isso, não é clichê dizer que a F-1 morreu junto com ele. Lembro que estava vendo o GP na tv do quarto, tomando café com meus pais e o Gui, quando o carro despedaçou naquela volta fatídica. Senti medo, mas ao mesmo tempo, eu tinha certeza que ele voltaria. "A corrida não pode acabar sem ele, senão não tem graça!".
    Ninguém me ouviu. O silêncio tomou conta das pistas. O ronco dos motores perdeu a melodia. Nós perdemos um herói e a F-1 perdeu a razão de existir.
    Lindo o seu texto, Zé.
    Um beijo.

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  2. Opa, "tardavam a entardecer" foi grave, haha. Mas acho que deu pra entender o sentido, né, rss!? Beijo.

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  3. Foi incrível "ver" o Senna de novo e ouvi-lo falar. Tambem eu sempre trabalhei com muito amor... VH

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