terça-feira, julho 27, 2010

As montanhas que olham por nós


São Francisco Xavier. Uma pequena aldeia ao pé da Mantiqueira. O mar verde onipresente em qualquer canto para o qual olhamos. A beleza que não se move mas que permanecerá, sempre. Montanhas não se movem. Estão sempre lá, como a nos proteger. O verde grandioso traz calma ao olhar como a mulher que nos acolhe e entende. Que nos acolhe com aquele silêncio belo do estar juntos conversando com os olhos.
O silêncio predomina, com breves acordes do vento, grilos e pássaros. E do riozinho pequeno mas vivo e corrente que passa atrás da janela da pousada, tornando o sono um sonho líquido.
 Para chegar lá, bem fácil (de carro desde São José dos Campos), a experiência torna-se completa quando os pés começam a escalar. Há algo na escalada (e não falo de alpinismo, mas de uma simples caminhada morro acima sem grandes dificuldades, na estradinha de terra, sem trilhas), há algo espiritual, que eleva. Aconteceu no entardecer em que subia sem uma alma como companhia a pequena estradinha que vai ladeando as montanhas. Acompanhado da lua, do silêncio e daquela luz tênue dourada que percebi de novo o valor de ir para o alto, pertinho de algo maior. Uma caminhada que pareceu uma lembrança de que ir para cima é preciso. Pra cima da montanha, pra cima dos sonhos e da vida nova e melhor que devemos buscar.
Chega de sonhar alto, pés à obra, subindo e subindo amparado por essas montanhas mágicas. E estimulado de alguma forma pela calma daquela gata branca, ainda filhote, que deitou-se no meio da estrada, me olhando curiosa e sem medo enquanto eu subia. Branca, pura, 7 vidas, muitas vidas, como se a filhotinha dissesse “vai, caminhante, vai buscar o topo, o cume que pode alcançar com seus sonhos e talentos mais puros”.
Vai, caminhante, viaje, escreva, canalize tudo isso e quem sabe o mundo não abraçará suas palavras e sentimentos como essas montanhas amigas de conforto, sossego e paz. Como essas montanhas e esse viajante que compartilham o mesmo olhar de romance. Sim, elas olham por nós, com seus olhos verdes na cor e no espírito, como se fossem as montanhas uma doce mulher a entregar seu olhar mais puro e verdadeiro. A mirada de quem gosta de ser olhada com os sentimentos mais sinceros, e nos devolve isso.
Que as pessoas que esquecem desse olhar redescubram isso lá na Mantiqueira, lá nessa encantadora e delicada São Chico, lá na pousada onde corre o rio atrás da janela e onde tomamos café da manhã defronte à vista das montanhas, das árvores e desses cachorros e gatos pidões dessa pousada em que fiquei, realmente um lugar que nos deixa pousar a alma.
A alma, a verdade dentro dos olhos.  

Um comentário:

  1. Hola, amigo.
    Paseando por tu blog encuentro siempre cosas conmovedoras... sejan da materia que sejan. Este viaje a la Mantiqueira, me ha transmitido todas las emociones que tú sentiste, como si fueran mías. Me sentí cuidada, protegida por las montañas, percibí el mensaje de la gata blanca. ¡Maravilloso! ¡Gracias!

    ¿Recuerdas "La Quincena", la revista en que publiqué tu artículo (el mejor que existió) sobre la Selección uruguaya? Espero que hayas recibido ese ejemplar cuando te lo envié... porque fue el último, fue la "edición despedida", después de 6 años y medio. Fue el fin de una etapa.

    Ahora, la dedicación es para el blog http://blogs.montevideo.com.uy/elizaymiguel donde antes publicaba únicamente textos de Miguel y míos. Estoy ampliando categorías, dando lugar a material más variado, trasladando allí escritos de personas que merecen seguir acompañándonos como lo hacían con sus aportes a la revista.

    Y allí estás, amigo, en principio, con este hermoso relato que tanto me emocionó. Espero que apruebes mi traducción. También menciono el link directo a tu original en portugués y lo que sé de tu persona. Creo que los lectores del blog estarán encantados de leerte... aunque sejan tão avarentos, tão mesquinhos para escribir un comentario... :) :) :)

    Aquí estás: http://blogs.montevideo.com.uy/blognoticia_38881_1.html

    Um abraço bem grande para ti desde Uruguay, de Miguel y mío,
    Eliza

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