sexta-feira, abril 08, 2011

Turma de 83

Ao sair de casa ontem à noite, me senti com a mesma alegria do passado, como se estivesse indo de novo me formar na escola. Me formar com meus amigos e amigas. Mais que isso, meus irmãos e irmãs, meus amores. Porque lá nos anos 80, não havia essa de conversar por telinhas, era com palavras, olhares e abraços. Muitos de nós éramos inseparáveis. Na escola, nas ruas em que caminhávamos sem medo, nas praças em que fazíamos nossos clássicos sagrados toda 6ª feira, nas casas dos colegas que eram muito mais que colegas e por isso visitávamos durante a semana, de tarde. Nas viagens em que íamos em um bando enorme, nas viagens em que consolidamos amizades que pareciam inquebrantáveis.
O tempo, o tempo... A luta fora de nosso refúgio, o Rainha da Paz, logo nos separou. Perdi primeiros o contato com as amigas que amava, e pouco a pouco os irmãos foram tomando caminhos diferentes, cuidando da vida, lógico, mas se separando.
Alguns anos depois do fim da escola, o grande irmão de papos intermináveis à beira da calçada permaneceu junto. Foram ainda alguns anos em que não fazíamos outra coisa senão lembrar de vocês, de nossos amigos e nossas musas, de nossas festas, viagens e até aulas. E ainda levávamos essa saudade para o mar, onde surfávamos e na espera das ondas, logo seus nomes invadiam nossas memórias mais bonitas, de uma infância e adolescência mágica. Dos anos incríveis que tivemos.
    (Bons tempos de surfe e lembranças azuis, de vocês, junto do brother-irmão)
Quando não estava com o irmão de escola, surfe e vida, a aura mágica do Rainha permaneceu comigo junto de minha namorada de tantos anos, de uma outra geração da escola, mas Rainha. Incrível como gostei dos amigos e amigas dela, e fiz uma irmã justo da melhor amiga dela. Incrível como o novo grupo era também baseado em rock, sorrisos, futebol e camaradagem. Eram Rainha. Éramos Rainha.
O tempo, o erro... isso também foi embora.
Quase não via mais vocês, e admito que me afastei, pois não podia compartilhar com vocês o que era fazer a própria família, não sabia o que era isso.
Cuidei então de criar outras crianças, meus alunos e alunas a quem tentei ensinar, mais que a escrever e ler com paixão, a viver as coisas mais belas. Ensinei a muitos o valor das canções, do esporte, do cinema, ensinei muitos a surfar, e fiz amigos, nas minhas turmas mais antigas, que se tornaram os meus irmãos de hoje.
Foram eles, o rock e as ondas que me apoiaram e salvaram nos anos mais duros, já que vocês precisavam de cuidar de suas famílias e novas vidas.
Mas sempre chegava uma lembrança de vocês quando a rádio (primeiro a 89 FM dos bons tempos, depois a Kiss) tocava certas canções. Quando a rádio tocava os afetos e carinho imenso que a gente exercia com os outros. Exercia é pouco, celebrava.
A gente se amava como só aqueles amigos de filmes se amam.
A gente se amava como a melodia e o significado da canção que começa a tocar agora enquanto lhes escrevo, In my life, Beatles. There are places I remember, all my life...
Um dia, anos e anos depois, até décadas, o Mariano resolveu criar essa lista e depois de bater um emocionado papo com o Luis pela net (isso aqui tinha que servir pra alguma coisa né), resolvi que tinha chegado a hora.
As mensagens bombando antes de ontem mostraram que havia a vontade de nos vermos de novo, de verdade.
Então veio ontem.
De repente vocês foram chegando.

De repente fomos nos abraçando e colocando as mãos sobre os ombros que um dia nos ampararam tanto.
De repente lembrávamos as gostosas loucuras que um dia fizemos nos anos do Rainha.
De repente vencemos um duro inimigo das velhas amizades, de repente viajamos no tempo.
Quase 30 anos se passaram depois dessa foto e conseguimos, tanto tempo depois, nos olhar e nos reconhecer de novo. E foi especial também como nos reconhecemos até em quem tinha nos deixado  há mais tempo e de quem lembrávamos pouco.
No final, confesso que bateu a tristeza, porque sei que voltarmos a nos ver será difícil.
Mas pelo menos percebi que o mais importante ainda existe. Milênios atrás, eu e o Português, sentados sozinhos em nossas pranchas, em nossa antiga praia mágica, olhando o horizonte, perguntamos um para o outro:
Será que só nós dois pensamos e sentimos isso.
Será que só nós temos saudade?
Será que eles e elas não esqueceram?

Ontem percebi que não. No álbum de fotografias mais bonito e verdadeiro, o coração, senti ontem que vocês não esqueceram.
Nunca quis fazer uma tatuagem talvez por isso. Sempre olhei dentro do peito e vi vocês, meus amigos irmãos, minhas amigas e meus amores do Rainha da Paz.
Um puta abraço a todos e deixo uma canção e um estado de espírito que deverei sempre a vocês, pela melhor infância e começo de juventude que poderia ter e tive.
Youth are like diamonds in the sun
And diamonds are forever

4 comentários:

  1. Ze Guto,
    voce eh mesmo um fora de serie!!!
    tem o dom de cultivar coisas importantes e descrever os sentimentos mais puros e cristalinos da nossa epoca de escola.
    fiquei muito feliz de verdade de poder rever alguns dos meus primeiros amigos e amigas.
    See you next time.
    ps: poe uma foto de um surfe fluido, cade as ondas!!
    abracos,
    Strauss.

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  2. Feliz daquele que tem uma história como essa...

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  3. Um pouco mais de Amor nessa sala chamada TERRA! por favor!

    é isso ai, o coração não só bombeia sangue ... graças a deus!

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  4. Zé,
    Legal saber que o arteiro virou artista. Não precisa ser famoso para ser o tal, só é preciso ter o dom, e isto vc desenvolveu muito bem. Parabéns pelo blog, pela iniciativa do encontro e obrigado por dividir esta amizade conosco.
    Abs
    Cadu, Carleba, Edu do Posto, Carlão, me chama que eu vou .....

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