quinta-feira, abril 14, 2011

Paciência

Conectar é a palavra-chave. Deveria ser a palavra-sentimento mais importante desse mundo. Outro dia fui buscar minha jaqueta preferida na lavanderia com nome francês. Depois de ser atendido com muito mau humor, quando deixei a peça de coração*, desta vez, a recepção foi bem diferente. Recebeu-me um sorriso aberto, franco, daquelas raras pessoas que riem de dentro, com o coração. Na hora de pagar, percebi. A moça não perguntava, ela apontava as opções na maquininha e fazia gestos. Era surda-muda. Algo me distraiu e de repente ela sumiu, para buscar algo de outro cliente. Esperei, queria me despedir e agradecer atendimento tão belo e simpático. Ela demorava, caminhei até a porta (a pressa cotidiana, falta de paciência, pragas modernas) e de repente ela surgiu. Acenei dando tchau e ela devolveu o tchau mais efusivo que já vi, usando cada músculo das mãos com vigor e, claro, exibindo aquele espetáculo de sorriso de novo. Esses instantes me fizeram esquecer o dia duro, desarmar a cara fechada e ganhar um novo ânimo, essa palavrinha que simplesmente é igual à palavra em latim para alma: anima.
O mesmo ânimo ganha esse senhor que recebia parcas moedinhas na calçada até que uma mulher espirituosa e boa resolveu mudar as palavras que ele tinha escrito no papelão velho.
“Mude suas palavras. Mude o seu mundo”, é a mensagem do vídeo. Mude o seu olhar, ou melhor, use seus olhos, de verdade. Olhe querendo ver. E depois dos seus olhos se cruzarem e se conectarem, embarque nesse trem, experimente a maravilha de viajarem juntos.
O problema é que muitas vezes falta ânimo, disposição e coragem, falta essa vontade de alma.
Muito mais fácil é passar pelo velhinho e apenas jogar uma moedinha.
Muito mais fácil é não interagir com as pessoas.
Muito mais fácil é não se envolver.
Como bem escreveu o ex-roqueiro e hoje jornalista Felipe Machado, antigo colega de Cásper Líbero, em sua coluna no Jornal da Tarde,
“Ninguém tem mais paciência para nada, ninguém tem tempo para perder com nada: nem com o que é importante”.
Felipe falava de outra coisa, de novos relacionamentos, mas não estará tudo conectado? Será que não vale também para relações antigas, como amizades que não são resgatadas? Velhas ou novas ele cavoca fundo, “não há tempo para uma segunda chance. Como é que uma relação vai nascer se não dermos espaço para isso acontecer?... Deixa-se de amar por nada. Mata-se por nada. Vive-se para nada. Por que tanta ansiedade? Quem disse que o que virá depois é melhor do que o que está aqui? O importante é aproveitar o momento. Afinal, entre o ‘antes’ e o ‘depois’, a única coisa verdadeiramente real é o ‘agora’.”

Muitos vivem repetindo o clichê de que o agora é o mais importante mas não agarram o agora. Falta ânimo.
Música então, moçada, escutem Paciência, do Lenine, e coloquem um pouco mais de alma. Façam hora, façam horas e dias junto de quem pode ser muito importante.
A vida não para, eu sei, mas a vida é tão rara.
Paremos ela então. Dê um tempo, dê uma nova chance.
Paciência, grande ciência das relações, boa e cuidadosa mãe de amizades e amores construídos aos poucos. Só ela permite a verdadeira conexão.


* Minha jaqueta preferida é do grande San Lorenzo de Almagro, time de futebol argentino, de Buenos Aires, famoso pelo futebol bonito, bem jogado, bem tramado, bem amado.

Um comentário:

  1. Po Zé, excelente texto cara, e o vídeo que vc colocou acima é sensacional, roubei tá, postei no facebook para atingir ainda mais pessoas... Parabéns cara por suas palavras... Sempre mostrando um caminho mais verdadeiro para as pessoas que vivem suas vidas de forma tão frenéticas, sem tempo para ao menos sonharem um pouco! Alias foi muito bom ir lá no Horizontes, mesmo que tenha ficado muito pouco, rever vc e os outros professores, me motivou ainda mais a seguir firme na arte de educar... Valeu, grande abraço!

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