domingo, abril 24, 2011

SESI - Caráter e coração de campeões

    Jogadores do SESI reverenciam o mestre-treinador Giovane, ex-mito das quadras

Um jogo, mesmo uma decisão, não acaba com o apito do juiz, o fim do tempo ou o último ponto da consagração. Algumas vezes, a razão da vitória, e também a paixão e beleza, encontramos nas entrevistas depois da conquista. O SESI foi campeão brasileiro de vôlei hoje pela primeira vez com uma fantástica atuação de Wallace, que mais parece uma daquelas vigorosas e ultrapotentes máquinas de jogar vôlei cubanas; do bloqueador e meio de rede Vini e outros heróis, como o sempre regular Murilo, o melhor jogador do planeta no último Mundial. Mas o inédito e belo título deste time de vôlei criado em São Paulo em 2009, foi melhor explicado quando as câmeras e o repórter buscaram o depoimento do treinador campeão, Giovane.
Giovane, ele mesmo, o primeiro jogador brasileiro a ser apontado como o melhor do mundo, lá no início dos anos 90, quando foi um dos destaques da seleção que conquistou a primeira medalha de ouro olímpica de nossa história, em Barcelona´92. O Giovane que se transformou num pop star assediadíssimo naqueles tempos e depois brilhou ainda mais 12 anos na seleção até ser ouro de novo, agora como humilde reserva, em Atenas´2004. Pois foi este supercampeão como atleta que agora teve o microfone à sua disposição para cantar sua glória precoce como treinador. Foi então que Giovane fez o que nunca vi em uma grande conquista do esporte. Logo que o repórter Nalbert (ele mesmo, outro ex-formidável atleta de gloriosa história na seleção) pediu sua palavra, Giovane olhou para o lado, como que procurando alguém, e disse “espera”.
Pouco depois entendi: Giovane chamou o treinador da outra equipe, do derrotado Sada/Cruzeiro, para estar na entrevista informal, ainda na quadra, junto dele. Ou seja, no momento em que poderia aproveitar sozinho o seu título, a sua façanha como treinador, Giovane teve a grandiosidade e generosidade de valorizar nesse momento o trabalho do treinador derrotado, mas cujo time fez também um excelente campeonato. Humildade é pouco, nem consigo encontrar palavra mais adequada para a belíssima e inesquecível atitude do nosso eterno Gighio, apelido com que Luciano do Valle cantava suas proezas nos tempos de jogador. O gesto é ainda mais valioso ao compararmos com a marra, ego descomunal e soberba dos super badalados e bajulados técnicos de futebol do Brasil e Mundo.
E o exemplo de caráter, hombridade e amor ao esporte do vôlei do SESI não parou aí. Após Giovane deixar a tela com seus olhos marejados e palavras e gesto exemplares, vemos outro eterno, o líbero Serginho. O guerreiro que saiu das quebradas de Pirituba, que perdeu vários amigos para o crime ou trabalhos inglórios, e um dia se transformou no melhor líbero do mundo, Serginho continua o mesmo mano decente e batalhador. Ele já chegou chorando na entrevista, por ter superado um grave problema nas costas, “coloquei quatro pinos, não conseguia nem amarrar o cadarço do meu tênis, e aí consegui superar isso, aos 35 anos...”. E logo ele ficaria ainda mais emocionado quando Nalbert chamou Murilo pra falar junto dele e perguntou:
- Como é jogar junto do Murilo, o melhor jogador do mundo, Serginho?
- Antes de ser jogador, ele é meu amigo, meu companheiro, Serginho falou como o grande ser humano que sempre foi e desatou a chorar de novo, amparado feito criança pelos abraços do parceiro Murilo, que ainda o animou com uma palavrinha mágica, “Seleção” e disse, - Você não vai me deixar na mão, vai voltar pra Seleção.
Depois dessa não havia mais porque ficar assistindo, a lição estava dada. Fui embora da lanchonete do clube (vi isso na TV de lá) com o sorrisão na alma de quem sabe o quanto o esporte pode criar um mundo mais bonito, em especial o vôlei.
O vôlei onde os caras comemoram pontos importantes comemorando-gritando com os companheiros, sem dancinhas ridículas, não naturais ou tiradoras de sarro.
O vôlei dos que são ídolos de verdade. Caras que têm ouro olímpico e o Mundo na bagagem falarem essas coisas e fazerem essas coisas, caraca, moçada, quanto caráter, quanta decência!
    Serginho e Murilo, irmãos campeões da quadra e da vida

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