domingo, abril 03, 2011

O último suspiro do swell

Uma última respirada, o fôlego que se vai, o fim. O nada. Graças que até nisso o mar é diferente. O finalzinho do swell, na última 6ª feira, pedia um bate-volta urgente. Pedia uma reorganização nos trabalhos. Fazer da 6ª o sábado e depois trabalhar em pleno sabadão. Na mosca, seu Netuno me brindou com pequenos mas belos presentes. Suspiros de ondas. Doces meninas a surgir, demorando um pouco, mas a surgir. Pequenas mas perfeitas. A perfeição presente no tesão e no coração de quem percebe e aproveita a dádiva de uma manhã de sol, surfe e vida. A vida mais colorida de quem madruga e vê as primeiras cores do dia na estrada. As cores, só enxergadas por quem percebe a grandeza dos pequenos momentos. Sim, todo surfista quer ondas maiores, telas mais amplas e desafiadoras, mas como renegar essas pequenas paredes se vivo longe da praia? Como não sentir sensações e emoções grandiosas em uma simples paredinha lisa se essas pequeninas são o Mundo perto da realidade áspera e cinza de São Paulo? Como não me sentir em casa se ali no pico os estranhos sempre me saúdam com um cumprimento sincero, bem diferente das caras fechadas e buzinas abertas da megalópole?
Como não sentar lá atrás e dar um tempo felizão e surpreso só de ver as três belas e habilidosas surfistas pegando boa onda atrás de boa onda? Um grupo de amigas que em vez de ir ao shopping vai ao mar; em vez de comprar, surfar, a cena é deliciosa. Não, caras moças que não surfam, não é uma crítica, apenas uma constatação da opção infinitamente mais bela que a praia oferece.
A praia. Só de vê-la, a mente já se acalma, se liberta, sonha, viaja longe. É estacionar, descer, pegar a menina prancha, ser recebido suavemente  pela menina areia, sublime massagista natural, e logo brincar junto das meninas mais brincalhonas e divertidas que conheço, meninas ondas.
Depois de momentos junto delas, as décadas no corpo parecem regredir e volto a ser menino.
Volto, toda vez que volto para elas.
Toda vez que regresso ao elixir de conto de fadas chamado surfe.
O elixir que é existir, de verdade.
Surfo, logo existo. Respiro. Resisto.
O último suspiro, no mar, é sempre uma maravilhosa promessa azul, de uma nova vida.

* Pintura de Colleen Gnos



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