segunda-feira, agosto 23, 2010

Alma vernelha



O Inter bicampeão da América é o sonho de qualquer torcedor. E não falo apenas do raro equilíbrio entre técnica e entrega, entre craques e monstros da raça, entre veteranos de outras guerras e jovens muito talentosos. O sonho começa na própria torcida, apaixonada, valente e presente durante todos os minutos que duram um jogo. Diferente de uma torcida do São Paulo - que só grita em determinados momentos, quase sempre quando o time está bem, na frente; além de não ter a mínima criatividade para criar cantos contagiantes – os colorados fazem do Beira-Rio um arrepiante inferno vermelho de apoio, amor e beleza. “Ah, eles copiaram o estilo argentino de torcer”, criticou um sãopaulino. Ainda bem, para o Inter, pensei, pois ninguém nesse mundo da bola canta e apoia mais que uma hinchada argentina.
Impossível não se emocionar com a festa colorada, especialmente com a paródia deliciosa e entusiasmante da música do Mamonas Assassinas. Imagino a descarga de adrenalina e vontade que essa canção bombada por dezenas de milhares fanáticos colorados (e sócios-torcedores do clube!, pois o Inter que é o número 1 nesse quesito no Brasil*) produz no coração dos jogadores colorados...
Jogadores, falemos então da raça e talento. A garra do gigante e capitão, Bolívar e desse monstro Guiñazu, um raro deus da raça que ainda é frio e equilibrado, o que o torna imbatível. A garra e técnica desse incansável Tinga, que vai minando o adversário com seu poder de penetração baseado tanto em sua habilidade como em sua força física. Cheguemos então mais fundo no talento, falemos no endiabrado, genial e insuportavelmente ousado para os rivais, D´Alessandro, outro que elimina o último fôlego de quem tenta marcá-lo. Habilidade marca também o futebol do velho e refinado vinho chamado Kléber, mestre de passes e cruzamentos perfeitos. Voltemos à força com o irmão que joga bola da família, Alecsandro, um tanque que também vai minando os rivais com tanta pegada.
Faltam outros elementos importantes, não conheço tão bem esse formidável bicampeão da América, mas não esqueço do talvez herói maior, de um prodígio determinado, desse garoto que mesmo sendo reserva arrebentou todas as vezes em que entrou com gols decisivos. De um menino que será um dos grandes do futebol mundial. Giuliano. O que dizer de um cara que entra na pedreira contra o Estudiantes lá na Argentina, e mesmo com aquela neblina, encontra aquele que foi talvez o gol mais sofrido e necessário do Inter nessa Libertadores? E o moleque ainda elimina o São Paulo e faz o gol do título contra o Chivas...
Melhor ainda saber que Giuliano foi oferecido ao Palmeiras há dois anos, quando ainda era do Paraná clube, e a cúpula alviverde o recusou...
Finalmente, há que se destacar um treinador, Celso Roth, que abandonou já há algum tempo seu estilo mais guerreiro (violento mesmo...) para fazer suas equipes jogarem bola e buscarem o gol sem parar. Roth já fôra assim no Atlético que liderou boa parte do Brasileirão do ano passado lotando o Mineirão com um time dedicado ao gol. Acabou naufragando, porque se sobrava técnica ao Galo, faltava a raça e alma colorada.
Não falta mais.
Não falta nada a esse poderoso Internacional. Um Inter que joga muito mais futebol que seu rival no Mundial, o time italiano pragmático de mesmo nome.
Falta pouco para os gaúchos conquistarem o Bi Mundial.
* O sócio-torcedor do Inter é muito mais bem tratado que o do São Paulo, por exemplo. O cara não precisa comprar ingresso em cada jogo no ridículo plano do tricolor. Ele vai ao estádio com seu cartão, passa seu cartão na catraca e pronto. Até nisso eles batem a gente...

Isso é torcer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário