segunda-feira, setembro 13, 2010

Uma praia chamada memória


Ela me chamou de volta quando eu mais precisava. Ela, a praia que me dá o sonho completo: trabalho com prazer, ondas e o horizonte amplo de areia, mar e céu que tanto acalma o espírito, sobretudo para um paulistano.
Ela, a praia que me faz, pelo menos a cada sexta-feira, esquecer do coração vazio. A praia que me devolveu a incomparável bateria de não sei quantos mil volts chamada surfe.
Ela, a cidade de pessoas mais simples e por isso talvez mais sábias. Como pode alguém que se demitiu de uma escola ser chamado de volta para dar o curso que quer, do jeito que quer? Só mesmo em Santos e seus homens e mulheres que enxergam a Educação de uma forma mais clara, pura e bela.
Aconteceu em agosto. Na minha volta fui recebido, na praia e cidade vizinha que adotei como lar, com pequeninas ondas que agigantaram meu coração e resgataram aquele sorriso espontâneo que invade a mente e alma a cada session. Que purificam. E como é bom, depois da session, encontrar alunos e alunas tão especiais, tão espirituosos, divertidos e profundos como a melhor onda do dia. Sim, estudantes são ondas quando nós, professores, surfamos juntos. Quando compartilhamos.
Há algo mesmo diferente na praia que não esquece. Um lugar tão mágico que realizou um sonho quase impossível para qualquer professor: voltar a dar aulas para uma aluna tão especial. Uma ex-aluna, de outra escola, que agora, na oficina de sexta-feira, voltou a ter aulas comigo. Porque ela não esqueceu.
Porque outros e outras também não esqueceram, e voltaram a me encontrar. Sim, eles querem aprender dicas de como se sair bem na redação do Enem e dos vestibulares mas sei que não é só isso. A gente sente a diferença em simples alunos e surfistas da vida. A gente sente a diferença de simples aulas para encontros. Sim, é essa a palavra: encontro. Toda sexta-feira um professor chega lá na ponta da praia, recarregado de surfe e vida, para o grande encontro, para a gostosa reunião com os surfistas-aprendizes do colégio Universitas. Uma molecada diferente, tão vivente em cada olhar, pergunta e brincadeira. Garotos e meninas com objetivos claros de entrar numa boa faculdade mas sem perder a rara capacidade de transmitir ternura e alegria em uma simples oficina de redação.  
Alegria que prega na pele, ainda mais com a belíssima session desta sexta, swell ainda forte, um metro abrindo e debaixo de meus pés a velha pranchinha que eu tinha deixado um pouco de lado por uma prancha nova que ainda não dominei.
A velha pranchinha me deu então seu belo e vital recado: não me esqueça, olha o que eu ainda posso fazer...
O que ela pode fazer ainda? Passear comigo, brincar nas ondas, deslizar com rara velocidade, manobrar com força, tudo em total sintonia. E olha que ela me deu isso em um pico diferente, ao qual não estávamos acostumados, não na minha querida Itararé, mas em Santos mesmo.
É bom demais termos uma história juntos. Já curtimos e amamos as sessions mais inesquecíveis. É, a ânsia pelo novo nos faz deixar de lado o que nos deu tanto amor e alegria. Por que abandonamos uma prancha por causa de algumas quedas ruins? Por que culpamos a prancha em vez de nossos próprios erros?
Por que abandonamos não só as pranchas-companheiras mas também as pessoas importantes em nossas vidas? Por que o homem e a mulher deixam de lado quem ainda lhe poderia dar tanto afeto e experiências?
Graças então que essa praia não esquece. Graças que ali existem educadores, surfistas e jovens fiéis.
Como é bom voltar toda semana à uma praia e pessoas com uma memória do tamanho e beleza de seus corações.
Por que não percebemos que a vida e o amor podem ser tão simples e profundos como uma canção?
"I need your lovin´like the sunshine, everybody´s gotta learn sometime..." 

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