domingo, junho 27, 2010

Para quem torcer?

Foi meu grito de gol mais genuíno dessa Copa, dado numa mesa de um simpático bar, eu sozinho sofrendo desesperadamente até me libertar com o golaço de Luisito Suarez que deu a vitória ao Uruguai contra a Coréia do Sul. O tiozinho gente boa do balcão até assustou com meu grito e soco na mesa, e os outros pareciam não acreditar em ver um cara com a camisa do Uruguai por ali. Por que será que torcer para o Uruguai me dá mais prazer que torcer para o Brasil de Dunga e seu alter ego militar e boçal em campo, Felipe Melo?
A resposta não é só um dos deuses históricos de meu São Paulo, Lugano. A resposta vem em várias partes. Primeiro, penso nesse jogador completo extraordinário, que tanto arma e lidera como ataca e conclui, Diego Forlán, um camisa 10 muito mais jogador que Kaká. Depois vem esses fabulosos (de fato, e não num apelido duvidoso do nosso Luis) Cavani e, sobretudo, Suárez, que fez o golaço maravilhoso da vitória com um chute em curva (depois do corte seco) que só os craques e os iluminados sabem dar. Há ainda um meio-campo com uma vontade colossal, simbolizada pelo careca Arevolo: depois de mostrar, num flagrante da câmera, estar exausto, sem fôlego, buscando ar como um quase morto, na jogada seguinte ele correu tudo de novo, e se entregou de novo para ganhar uma jogada. Como, se não tinha mais fôlego? Com a alma azul da cor de seu país.
Finalmente, o mestre por trás disso tudo, o treinador Oscar Tábarez, um homem tão respeitado em seu país que os jornalistas começam qualquer entrevista com ele com um “permiso, Maestro”, com a sua permissão, Mestre. É Tábarez um dos poucos treinadores ousados desta Copa. O que dizer de um treinador que renunciou a então única qualidade e estilo de jogo do Uruguai dos últimos tempos - a garra - para fazê-lo também ousar e jogar com beleza e ofensividade? Sim, seu Uruguai se apequenou em boa parte do 2º tempo e recuou demais, mas após o gol dos coreanos fez bem demais a quem ama a garra corajosa ver os jovens de azul, comandados por Forlán e Suarez, lançarem-se sedentos pelo gol redentor.
Frente a essa paixão azul, frente à fome de gol dos argentinos, frente ao rolo compressor alemão de volta (que fantástica vitória cheia de passes magistrais e muita técnica contra o eterno jogo aéreo feio inglês), como é possível se animar com o Brasil de Dunga? “Ah, é Brasil, temos que torcer, é a nossa pátria”. Confesso que até tento, gosto da paixão e entrega de Maicon, gosto da..., putz, não gosto mais de nada dessa seleção, talvez um pouco da frieza e categoria de Juan (muito melhor que o sobrevalorizado Lúcio). Não gosto porque do meio para frente temos uma linha de brucutus, Kaká e seu futebol menor do que pensa ter, Luis Fabiano, valente mas sem a habilidade de outros nomes que ficaram no Brasil e Robinho, a única luz dessa seleção falando-se em arte pura, isso se resolver encarar as divididas sem se esconder como fez diante da Costa do Marfim.
Espero que Dunga não seja tão idiota e coloque Ramires no Lugar do lesionado Felipe Melo, mas que outro recurso temos no banco? Nenhum, talvez apenas a raça de Grafite.
Por isso tudo faço minhas as palavras do escritor João Paulo Cuenca, que está comentando os jogos do Brasil para o blog cultural do jornal espanhol El País, com suas palavras após o lamentável Brasil e Portugal:
“Essa é a seleção de resultados, da morte da poesia, do utilitarismo contra a arte, e isso é um crime de lesa pátria. Sócrates, não o simpático e vivaz jogador, mas o filósofo grego, afirmava que ´o patriotismo não exige que estejamos de acordo com tudo o que é relacionado com o país, mas sim deve promover um questionamento analítico na busca de fazer um país melhor.”
“No caso da seleção brasileira, não só um país, mas um mundo melhor. Porque se a humanidade vê o Brasil ganhar a Copa do Mundo jogando assim, vamos todos terminar ainda mais brutos e imbecilizados. Que as oitavas de final sejam melhores, apesar de Dunga”, escreveu o escritor.

Por isso que, mesmo ganhando essa Copa, jamais terei esse título como digno do verdadeiro futebol brasileiro, aquele que Dunga ama destruir a cada treinamento, jogo e entrevista coletiva.

2 comentários:

  1. Teu Uruguai tá indo, com mais sorte que juízo é bem verdade... Contra Gana, não sabia para quem torcer. Queria ver o Uruguai na semi, mas tbém queria Gana. Que jogo irado (pouco futebol mas sobrou emoção). Tomara que a Argentina vença e que o Paraguay também. 3 seleções da America do Sul nas semi-finais. Menos o Brasil! A nossa arrogância no futebol fez merecermos ficar pelo caminho.
    Buena sorte, hombre!
    Uruguai X Holanda
    Argentina X Paraguai
    Nada mal.

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  2. Quien se vio exhausto, "buscando ar como um quase morto, na jogada seguinte ele correu tudo de novo, e se entregou de novo para ganhar uma jogada", no fue Arévalo, fue su Compañero de Medio Campo, Diego "el ruso" Pérez, (el mismo que salió ensangrentado en el partido ante México, que se convirtió, junto con otros, en todo un símbolo de entrega =)

    Me has emocionado! =)

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