domingo, outubro 11, 2009

Por Amor


Não há, no mundo todo, um povo que ame mais o futebol que o argentino. Por isso, para eles, ficar fora da Copa do Mundo seria uma tragédia tão dolorosa e amarga. O argentino respira futebol todos os dias, nas charlas (conversas) apaixonadas nos cafés; nos jornais que devoram nos mesmos cafés, nos balcões; nos meninos que ainda encontram muitos campinhos mesmo em uma grande metrópole como Buenos Aires; e, claro, nos estádios que eles transformam em arenas e espetáculos arrepiantes através de seus cânticos criativos, belos e emocionados. Cânticos de apoio e amor aos seus clubes que duram toda a duração das partidas.
Voltando ao tema Copa do Mundo, o que aconteceu ontem em Buenos Aires só não emocionou aqueles que não amam, de verdade, o futebol. A sofrida Argentina, mal escalada e treinada, sim, por Maradona, em toda as Eliminatórias para a Copa, sofria com um pobre 1 a 0 em cima do último colocado, o Peru. Sofria até essa vitória parcial virar drama quando, debaixo de uma tempestade de filme de terror, os peruanos empataram o jogo aos 45 minutos do 2º tempo. O empate deixava os donos da casa em situação terrível na luta para classificar-se à Copa. Mas eis que no último minutos dos três de desconto, aos 48 minutos, na pressão pelo gol salvador, a bola espirrada sobra justo nos pés de um centroavante veterano, folclórico, ridicularizado por muitos (um dia perdeu três pênaltis num jogo só) e amado por outros tantos. Amado por mais da metade do país, pois é ídolo histórico do time do povo, o Boca Juniors. A bola bateu em todo mundo e sobrou para o grandalhão grosso mas valente, corajoso, bravo, e desde ontem, imortal, Martin Palermo.
Imortal porque Palermo estava no lugar certo para empurrar a bola ao fundo das redes, fazendo o talvez gol mais dramático e esperado da história do futebol argentino. Na sequência, estádio e país inteiro vindo abaixo, o também ridicularizado Maradona (até por seu próprio povo, quanta ingratidão), saiu correndo feito louco e mergulhou num peixinho sensacional no gramado inundado, deslizando metros e metros de amor àquela camisa que ele tornou mítica em seus tempos de jogador.
Podem falar o que quiserem de Diego, acusá-lo de tudo, menos de falta de sinceridade, paixão e emoções verdadeiras. A explosão daquele que já foi Diós parecia selar a épica vitória argentina mas, incrível!, na retomada do jogo, um peruano chutou do meio de campo e acertou o travessão dos argentinos!, após um leve desvio do arqueiro. Escanteio e só depois dele a seleção da casa se salvou.
Salvou-se por ontem, porque ainda virá uma batalha muito maior, na Montevidéu do único povo que tem motivos fortes para odiarem os argentinos: os uruguaios, que sempre foram tão sacaneados e desprezados pelo país de Diego. O Uruguai de outros dois monumentais Diegos, o zagueiro Lugano, ex-São Paulo e o atacante Forlán, que realizou o outro milagre de ontem: a vitória celeste, fora de casa, contra o Equador, de virada, com gol decisivo convertido de pênalti aos 47 do 2o tempo...
Diferente dos uruguaios, nós, brasileiros, não temos motivos para entrar na onda dos tolos ou ignorantes que falam mal dos argentinos sem jamais terem colocado os pés na terra dos nossos, sim, hermanos. Sem jamais terem sentido e percebido como é profunda a loucura do argentino pelo futebol. Sem jamais terem conhecido um povo que, diferente de nós, luta por seus direitos, pressiona governos e enfrenta a polícia para defenderem preços justos e condições de vida decentes. Sem jamais terem percebido como, sim, os argentinos gostam dos brasileiros e de nossa cultura. Basta um dia na terra deles para percebermos, seja num banco de táxi, num café ou numa balada, como eles adoram elogiar nossos craques, praias, música e, claro, mulheres.
E, diferente de muitas estrelas do futebol brasileiro - que vestem a camisa da seleção sem entrega, comprometimento e raça (Robinho?) – os argentinos defendem sua camisa celeste e branca com uma dedicação e amor sinceros. Porque os jogadores argentinos bem-sucedidos não esquecem suas origens humildes. Não esquecem que um dia foram um pibe (menino) torcendo por um ídolo, um clube e um país.
Por isso tudo, por amor ao futebol de toque e alma; à maravilhosa cultura (o tango, a literatura e jornalismo riquíssimos, o cinema do cotidiano emocionante, por J.J. Campanella e Darín), culinária (carne, alfajores!), vinhos e até cerveja (Quilmes, leve, gostosa, a única que não m dá ressaca!); por respeito à garra e consciência política e social dos hermanos, pude dormir ontem com um sorrisão enorme e coração feliz porque o amor ao futebol venceu ontem uma das partidas mais dramáticas já realizadas. Fiquem então com a narração dos gols de ontem, na voz apaixonada de um locutor local.
PS - Engole essa, Thiago Leifert!, mala que vive debochando dos argentinos, não entende nada de futebol, muito menos de amor ao futebol, e por isso acabou com o ex-melhor noticiário esportivo da TV brasileira, o Globo Esporte.


3 comentários:

  1. Estou também com os argentinos e Maradona e não abro! A Copa não teria graça sem eles... O jogo foi na verdade um belo e trágico tango argentino...
    VH

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  3. E ai Zé, blz?? Infelizmente não vi o jogo, mas qdo vi no telejornal os lances, os gols e principalmente o peixinho do Maradona desacreditei. Eles lutam os 90 minutos, não desistem. Torço pela Argentina, Copa do Mundo sem os hermanos não é Copa. O melhor foi ver a cara do MER... do Tiago na apresentação do GE hahahah querendo zuar e desmerecer a vitória Argentina, puta cara escroto. Se a vitória fosse do Brasil dúvida que ele falaria que o 2º gol foi ilegal. Mas é isso ai Zé, torcer pelos hermanos na próxima batalha no Monumental, pq essa não vai ser nada fácil. Abraço.

    ResponderExcluir