sexta-feira, julho 31, 2009

Monstros humildes


O grande exemplo do nadador César Cielo, novo campeão e recordista mundial dos 100 metros livres, não é apenas seu talento, dedicação e sacrifício de viver e treinar na pequena e distante Auburn, cidadezinha no meio do nada e sem atrativos no interior do Texas, EUA. Claro que sua rotina solitária e duríssima na inóspita Auburn - sem opções de cultura, lazer e de belezas naturais - e tão longe dos familiares e amigos já é uma lição para muito atleta brasileiro mimado pelo Brasil ou em grandes cidades estrangeiras. Mas o diferencial maior de Cielo - único brasileiro campeão olímpico (50 metros, em Pequim) e mundial (100 m, ontem, no Mundial de Roma) de natação – é seu caráter imbatível de muita autoconfiança e nenhuma arrogância. Poucos minutos depois de se tornar o maior nadador brasileiro de todos os tempo, ontem, na piscina de Roma, ele afirmou que, caso sua medalha pudesse ser quebrada, teria que dar cada pedacinho dela para os amigos, familiares e treinador que o apoiaram. Sim, ele também fez um agradecimento justo ao seu patrocinador, os Correios, só que em seguida demonstrou mais grandeza ao destacar um misto de patrocinador e lar, o Clube Pinheiros, “ali é como se fosse a minha casa, estou com eles desde os 15 anos de idade”. Sim, Cielo treina em uma universidade dos EUA, mas não esquece do clube que o formou e segue incentivando-o. Aliás, não esquece de ninguém que lhe estendeu a mão desde suas primeiras braçadas, nas águas da pequena Santa Bárbara D´Oeste, interior de São Paulo. Por isso seu reinado ainda se estenderá por bons anos. O esporte dá longa vida a supercampeões com essa estirpe rara de nobreza, humildade e pureza de coração. Uma estirpe que também é a do mito americano Michael Phelps. Entrevistado ontem sobre por que não participou da prova dos 100 metros livres, o nadador que não precisa elogiar ou ligar para nenhum outro, saiu-se com essa resposta: “Acabei de ver o César Cielo nadar e tive uma certeza: eu não ganharia esta prova de jeito nenhum.”
Belo e humano momento que vive a natação mundial, em se tratando dos seus protagonistas. Polêmicas dos maiôs à parte, bonito também é ver o respeito e até carinho mútuo entre os maiores do mundo: como acontecera em Pequim, Cielo foi parabenizado e abraçado com sinceridade e simpatia pelos franceses que ficaram com a prata e bronze ontem, Alain Bernard e Frederick Bousquet. No esporte de hoje, tão cheio de falsos exemplos, egos enormes e caráteres duvidosos, as piscinas andam ensinando lições inesquecíveis.


Bernard, que acaba de perder seu recorde e título mundial,
abraça Cielo.

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