sábado, julho 25, 2009

A capital e seus pecados


Nunca quis conhecer Brasília pelo que ela representa, o Palácio da Bandidagem de terno e gravata que manda e desmanda no país. Mas como estava pertinho, dei uma chegada. E valeu a pena, para confirmar alguns de meus pré-conceitos e também para derrubá-los. Porque há beleza em Brasília em meio à sacanagem e ostentação latente.
Pra começar, a chegada, surreal e tão real, de ônibus vindo de Goiás. Choque foi pouco, pois saí da minúscula Pirenópolis - com sua paz, beleza natural e construções históricas – direto para a jovem e ultra moderna capital do país. Só que essa modernidade, como suspeitava, só é acessível aos ricos. Entra-se em Brasília por uma área nobre cercada de muros: um monte de condomínios luxuosos com mansões mirabolantes. Pouco depois chega-se na Rodoferroviária, ampla mas um pouco descuidada. Só que ali é longe do centro. Preciso tomar um outro ônibus para atingir a Rodoviária do centro, perto de onde ficarei hospedado, no setor hoteleiro norte. 15 minutos e estou na Rodoviária do centro, pois não há trânsito em Brasília graças às suas enormes avenidas com jeito de estradas. Só que chegando lá parece que estamos em pleno Largo da Batata de Sampa: um lugar sujo, cheio de pontos de ônibus com filas imensas. Tradução? Os espaços amplos são apenas para quem tem carro e dinheiro.
Meu hotel é quase uma piada, um dos mais antigos da cidade, dois andares só, parece uma caixinha de fósforo, mas é uma caixinha honesta, quarto pequeno mas limpinho, bom café da manhã e serviço. Ao redor dele, dezenas e dezenas de megahotéis de mais de 20 andares, todos com nomes estrangeiros, muitos de cadeias gringas. Calor humano: zero. Mas o pessoal abastado deve adorar os setores hoteleiros sul e norte (são colados um no outro), pois devem sentir-se em plena Miami, sem mar. Há muitos shoppings vizinhos também, mais um ponto para o padrão e estilo de vida de quem tem grana. E ali pertinho – dá pra ir a pé se você não for preguiçoso ou magnata a preferir os caríssimos táxis da cidade – está a Esplanada dos Ministérios.

Congresso, ministérios e a catedral (direita)
A Esplanada, além, obviamente, de todos os ministérios, traz a catedral (é arte moderna aquele prédio horroroso?), belos museus e pontos culturais no estilo do grande arquiteto Niemeyer e lá no fim dela o dito cujo, o caramunhão, o coisa ruim chamado Congresso Nacional. Um prédio maravilhoso, sim, mas que dá ânsia por saber quem lá habita e trabalha...
Isso tudo é o centro de Brasília, todo feito de coisas enormes, não há pequenos comércios e bares de rua (no máximo, lojas de conveniência de postos e um ou outro boteco), não há ruazinhas pequenas acolhedoras, tudo ali é mega.
Mas cadê a beleza, Zé? Tirando as linhas incríveis criadas por Niemeyer, beleza mesmo eu sabia que só podia estar nas margens do imenso lago Paranoá, artificial mas com vida. Ia chegar até lá pela magnífica ponte JK, mas a vendedora de sorvetes (sim, tava um calor gostoso lá, 28 graus em pleno inverno) disse que ao anoitecer o negócio fica perigoso.
No dia seguinte, como eu não queria pagar um city tour que me levaria aos mesmos lugares em que cheguei a pé, fora o lago, me deu o estalo de conhecer a UnB, a universidade federal de Brasília, que alguém, não sei quem, tinha me dito que era bonita.
Na mosca. Cheguei na UnB por 2 reais (o táxi queria 25 pilas) e conheci uma belíssima cidade universitária muito maior que a nossa USP e com prédios muito mais bonitos e modernos. Diferente do concreto puro da USP, os prédios ali permitem a interação com a natureza com jardins internos colados às salas de aula. E o verde se faz presente entre cada faculdade com uma conservação e lugares para se ficar morgando em grande variedade. Melhor ainda foi descobrir que algumas faculdades, como a de Educação Física, fica nas margens do lago Paranoá, e cheguei então até ele, após passar pelo amplo mas detonado centro esportivo e centro olímpico. O lago encanta, mas fiquei revoltado com o abandono das instalações esportivas, o que é assunto para outro post futuro.

Instituto de Ciências, UnB
Antes de voltar pro hotel, saltei de um ônibus, do qual desisti da viagem, depois de discutir com a pior espécie da cidade, os cobradores, escrotíssimos quase todos, conheci o amplo restaurante universitário em que comi um belo arroz, feijão, farofão, carne de panela e purê delicioso de abóbora (mais suco e sobremesa de frutas) pela bagatela de 5 pilas, preço de um café com leite no shopping ao lado de meu hotel. Ah, e ainda tomei um café na gostosa cafeteria dando pra área verde ao lado da livraria da universidade.
Duro foi voltar pro centro fake modernete e ostensivo e fazer a bobagem de ir embora no dia seguinte, pois não podia mais mudar minha passagem de avião até Belo Horizonte, onde cometeria a máxima estupidez de chegar no dia em que o Atlético massacrou o São Paulo... Mas pelo menos pude curtir na TV como Verón e Cia engoliram o Cruzeiro com a velha manha e toque de bola argentino.
Não percam Brasília, ainda volto lá pra curtir melhor a UnB, o Parque da Cidade e a Colina (esse lugar, vi um pouco, bairro vizinho à universidade, residencial, predinhos baixos com áreas verdes, aqui um certo Renato Russo reinventou o rock brasileiro...).

Fac. de Educação Física. Pista de atletismo detonada (uma das duas), lago ao fundo

Um comentário:

  1. É engraçado para quem está sempre em BSB ler as impressões de quem visita a Capital Federal pela primeira vez. Mas vc percebeu bem as nuances da cidade. Como em Goiânia, o transporte coletivo não é bom... A rodoviária, uma das mais feias do Brasil. Isso, sim, diferente de Goiânia, que tem um shopping como rodo. Fake, diria vc. Mas, enfim, e olha que vc não conheceu a periferia das duas cidades.

    ResponderExcluir