“O amor não dura”, “é mera paixão que acaba, que não vence”,
“é apenas uma possessão egoísta”, “não é algo natural”, “foge da realidade de
hoje” etc etc. Parece auto-ajuda ao contrário, mas esses tipos de considerações
são cada vez mais comuns. Diversos livros, colunistas de jornais e revistas metidos
a polêmicos, alguns psicanalistas e intelectuais querem provar que o amor arrebatador
que tantos buscam é um grande engano ou algo passageiro e perecível como um
alimento com prazo de validade. Alguns dizem até que o ser humano está
evoluindo, e que as múltiplas relações são cada vez mais comuns e bem-sucedidas.
É o tal do “poliamor”, citado pela psicóloga
Regina Navarro. E ela ainda afirma que "o amor romântico está com os dias
contados. Domina filmes e novelas, mas está saindo de cena na vida real".
Ah, Regina assina a obra, em dois volumes, O
Livro do Amor...
Evolução? Poliamor? Desistir de uma relação só porque vamos
percebendo os defeitos de quem está firme com a gente é evoluir? O correto
então seria pular de relação em relação como se surfássemos de perfil em perfil
das redes sociais? O ato evolutivo é buscar vários tipos de amores nas
prateleiras dos bares, baladas e escritórios da vida?
Os detratores do amor afirmam ainda que este sentimento dos
sentimentos ainda é uma ingênua idealização romântica dos poetas antigos ou das
comédias românticas de Hollywood.
Quanta picaretagem nesta nova estratégia mercadológica
desses autores e profissionais que devem ter tomado um pé na bunda monumental
ou apenas querem faturar em cima das vítimas de corações partidos.
Sim, o amor romântico, relação regada com cuidado e atenção,
está mesmo em declínio, mas não por causa da “ingenuidade” do amor romântico. O
“amor de filme” em nossas vidas reais só vem decaindo porque boa parte da
sociedade embarcou, passando o cartão de crédito, no egoísmo, superficialidade
e individualismo extremos. Muitos só pensam em satisfazer seus desejos e não
das parceiras ou parceiros. Mais exata
que a palavra satisfazer para o mundo de hoje é consumir.
Numerosos homens e mulheres em
vez de procurar conhecer e acolher o outro, querem apenas o consumo rápido.
Sexo, sexo, sexo. Compromisso? Responsabilidade pelo outro? “Ah, que papo mais
careta...”
Ingênuos são é esses insaciáveis que perdem, pelo mero tesão
de experimentar e experimentar, aquele olhar, gesto ou palavra de cumplicidade
quando mais precisamos.
Amor não é indeciso de sorveteria que deseja provar tudo
quanto é sabor. Amor não é um monte de opções e sabores a serem provados,
escolhidos e descartados.
Amor é provar e reconhecer em uma pessoa aquele sabor que a
gente aprendeu a amar porque está dentro da gente e faz parte do que a gente é.
Ou um sabor novo que vai nos ensinar muito e aí sim nos fazer evoluir e nos
tornar mais completos. Um sabor novo que a gente não vai deixar mais de pedir só
porque lançaram um outro muito atraente.
Amor não combina com a gula.
Amor é contenção. Valorizar as pequenas coisas e gestos.
Amor é aquela que aguenta a dor do seu namorado ou marido
sem reclamar dos lamentos dele, sem julgá-lo fraco. É não deixar ele desanimar.
É ficar ali do lado, firme, mesmo quando ele mal pode se mexer.
Amor é olhar pra essa pessoa que exala o mais belo e sincero "tamo junto" e saber que ninguém mais vai amar a gente como ela faz.
Porque o amor mexe, remexe, cuida e envolva mesmo o mais
adoentado e estourado dos companheiros. E esse turbilhão, essa onda amorosa,
pode apostar que é um remédio tão ou mais poderoso quanto o comprimido mais
pesado que dão pra ele.
Obrigado, então, amor, por tanta paciência e presença.
E lembro, aos exilados do amor, que a busca nunca deve
acabar. Porque o amor é igual à atitude do amigo poeta/historiador/filósofo dos
botequins, Paulão. Lembro da noite antiga, em que em pleno bar lotado ele
perguntou, quase gritando - com indignação, dor e urgência - “Onde está o
amor?!”
Paulão segue procurando e jamais desistirá, como faz o bom e
velho Robert De Niro no terceiro conto do filme As idades do amor. Sim, grande Paulão, De Niro é no filme um velho professor
de história solitário, um americano vivendo em Roma, que um dia é atravessado
pelo furacão da filha de um amigo italiano. Simplesmente uma certa Monica
Bellucci...
Para Roma, grandi amici Paulão!, para Roma!
PS – Quem quiser ler a reportagem na Folha de S. Paulo que
mostra a "derrocada do amor romântico", clica aqui
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