quinta-feira, janeiro 10, 2013

Querem matá-lo



“O amor não dura”, “é mera paixão que acaba, que não vence”, “é apenas uma possessão egoísta”, “não é algo natural”, “foge da realidade de hoje” etc etc. Parece auto-ajuda ao contrário, mas esses tipos de considerações são cada vez mais comuns. Diversos livros, colunistas de jornais e revistas metidos a polêmicos, alguns psicanalistas e intelectuais querem provar que o amor arrebatador que tantos buscam é um grande engano ou algo passageiro e perecível como um alimento com prazo de validade. Alguns dizem até que o ser humano está evoluindo, e que as múltiplas relações são cada vez mais comuns e bem-sucedidas.  É o tal do “poliamor”, citado pela psicóloga Regina Navarro. E ela ainda afirma que "o amor romântico está com os dias contados. Domina filmes e novelas, mas está saindo de cena na vida real". Ah, Regina assina a obra, em dois volumes, O Livro do Amor...

Evolução? Poliamor? Desistir de uma relação só porque vamos percebendo os defeitos de quem está firme com a gente é evoluir? O correto então seria pular de relação em relação como se surfássemos de perfil em perfil das redes sociais? O ato evolutivo é buscar vários tipos de amores nas prateleiras dos bares, baladas e escritórios da vida?

Os detratores do amor afirmam ainda que este sentimento dos sentimentos ainda é uma ingênua idealização romântica dos poetas antigos ou das comédias românticas de Hollywood.

Quanta picaretagem nesta nova estratégia mercadológica desses autores e profissionais que devem ter tomado um pé na bunda monumental ou apenas querem faturar em cima das vítimas de corações partidos.

Sim, o amor romântico, relação regada com cuidado e atenção, está mesmo em declínio, mas não por causa da “ingenuidade” do amor romântico. O “amor de filme” em nossas vidas reais só vem decaindo porque boa parte da sociedade embarcou, passando o cartão de crédito, no egoísmo, superficialidade e individualismo extremos. Muitos só pensam em satisfazer seus desejos e não das parceiras ou parceiros.  Mais exata que a palavra satisfazer para o mundo de hoje é consumir. 
Numerosos homens e mulheres em vez de procurar conhecer e acolher o outro, querem apenas o consumo rápido. Sexo, sexo, sexo. Compromisso? Responsabilidade pelo outro? “Ah, que papo mais careta...”

Ingênuos são é esses insaciáveis que perdem, pelo mero tesão de experimentar e experimentar, aquele olhar, gesto ou palavra de cumplicidade quando mais precisamos.

Amor não é indeciso de sorveteria que deseja provar tudo quanto é sabor. Amor não é um monte de opções e sabores a serem provados, escolhidos e descartados.

Amor é provar e reconhecer em uma pessoa aquele sabor que a gente aprendeu a amar porque está dentro da gente e faz parte do que a gente é. Ou um sabor novo que vai nos ensinar muito e aí sim nos fazer evoluir e nos tornar mais completos. Um sabor novo que a gente não vai deixar mais de pedir só porque lançaram um outro muito atraente.

Amor não combina com a gula.

Amor é contenção. Valorizar as pequenas coisas e gestos.

Amor é aquela que aguenta a dor do seu namorado ou marido sem reclamar dos lamentos dele, sem julgá-lo fraco. É não deixar ele desanimar. É ficar ali do lado, firme, mesmo quando ele mal pode se mexer.

Amor é olhar pra essa pessoa que exala o mais belo e sincero "tamo junto" e saber que ninguém mais vai amar a gente como ela faz.

Porque o amor mexe, remexe, cuida e envolva mesmo o mais adoentado e estourado dos companheiros. E esse turbilhão, essa onda amorosa, pode apostar que é um remédio tão ou mais poderoso quanto o comprimido mais pesado que dão pra ele.

Obrigado, então, amor, por tanta paciência e presença.

E lembro, aos exilados do amor, que a busca nunca deve acabar. Porque o amor é igual à atitude do amigo poeta/historiador/filósofo dos botequins, Paulão. Lembro da noite antiga, em que em pleno bar lotado ele perguntou, quase gritando - com indignação, dor e urgência - “Onde está o amor?!”

Paulão segue procurando e jamais desistirá, como faz o bom e velho Robert De Niro no terceiro conto do filme As idades do amor. Sim, grande Paulão, De Niro é no filme um velho professor de história solitário, um americano vivendo em Roma, que um dia é atravessado pelo furacão da filha de um amigo italiano. Simplesmente uma certa Monica Bellucci...

Para Roma, grandi amici Paulão!, para Roma!

PS – Quem quiser ler a reportagem na Folha de S. Paulo que mostra a "derrocada do amor romântico", clica aqui

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