quinta-feira, dezembro 22, 2011

Barça, a deusa-bruxa fatal

Tenho o hábito de assistir partidas de futebol na TV com um jornal ou revista na mão. O hábito nasceu nas tardes de domingo, pela mediocridade das partidas do Campeonato Brasileiro. Pela pobreza de treinadores covardes que enchem seus times de volantes brucutus - matando a arte no espaço vital de um time, o meio de campo – e ainda instruem seus laterais e alas a chuveirar na área. O problema é que esses últimos simplesmente não sabem cruzar, como os volantes brucutus são incapazes de dar um passe preciso mais alongado.
O jornalzinho ou revista na mão nunca resiste aos cinco minutos do 1º tempo quando o jogo é do Barça. O fenômeno se repetiu no último domingo. Se podemos ler e ver um jogo do Brasileirão ao mesmo tempo - tamanha a ausência de belas jogadas e um estilo (falta de) truncado, feio – quando aquelas camisas azuis e grenás movem-se flutuando pelo gramado e pincelando jogadas como Michelangelos da bola, é impossível não largar tudo e ficar fascinado.
A hipnose é tão grande que até os jogadores santistas sucumbiram a ela. Tive a nítida impressão, mesmo de tão longe, que os camisas brancas estavam abobalhados como um adolescente que de repente vê a musa da sua vida desfilando a sua frente, sorrindo, belíssima e, “desgraça” ainda maior, nua. Desgraça porque um time de futebol não pode ser um adolescente, ainda mais na máxima decisão do planeta. Mas os santistas ficaram assim: tontos, babões, enfeitiçados pelas sereias catalãs.
Sereias, sim, porque o futebol do Barça é venenosamente feminino. Os toques e passes são tão sutis e perfeitos, e os jogadores movimentam-se com tanta fluidez e leveza que somos envolvidos pela mesma sensualidade hipnótica de um menino ou homem que perde a fala e fica paralisado diante de uma belíssima mulher com toneladas de sex appeal.
O maravilhamento é ainda mais forte porque esse time-deusa-sereia nos apaixona, nos faz querer que suas partidas-recitais nunca acabem.
Sim, os santistas, mesmo disputando o jogo de suas vidas, se apaixonaram loucamente como um adolescente pela musa da escola. Até o treinador Muricy, depois de dar alguns ataques iniciais de raiva, caiu no torpor do seduzido que sabe que não há mais o que fazer, a não ser adorar a deusa que brilha a sua frente.
Pena, para os santistas – e dádiva para os amantes do futebol como deveria sempre ser, arte - que a deusa catalã (com atributos também argentinos e brasileiros) é bipolar: é também bruxa. Uma bruxa impiedosa, carrasca, que entra em ação quando a deusa não está com a bola. O bote acontece quando o Barça não está com a bola, e seus jogadores pressionam o rival de forma insuportável até tomarem a pelota e iniciarem de novo um tão belo quanto sinistro espetáculo de jogadas sensuais que só param num beijo motal chamado gol.
Quanta crueldade, em plena competição futebolística, um time de futebol finge-se sereia e atropela sem dó o rival como a mulher fatal que é. Se nem o maligno Mourinho, seus jogadores galácticos e capangas conseguiram aprisionar a deusa maior do futebol mundial, não seria Muricy e sua equipe inexperiente que retiraria o poder mágico do Barcelona. Inexperiente, sim, porque o massacre de Yokohama provou o que poucos jornalistas brasileiros diziam: que o futebol não só santista, mas brasileiro, está em um nível bem mais baixo que o europeu, e infinitamnte mais baixo que o do Barcelona. O "sensacional e disputadíssimo campeonato brasileiro" é na verdade um torneio de baixo nível técnico nivelado por baixo, com um monte de equipes medrosas jogando no erro do adversário. E o que dizer da “empolgante” seleção brasileira do Mano, que conseguiu ser desclassificado da Copa América pelo Paraguai? E o time de guerreiros cavalos do Dunga?
A real é que o futebol brasileiro virou hoje uma maioria de grossos ignorantes que distribui pontapés e malvadezas a mando de treinadores medrosos. Por isso que um de nossos poucos tesouros, o garoto Neymar, não resistiu e com uma sinceridade possível só num menino inteligente, não cansou de demonstrar ao final da hipnose toda sua admiração pela deusa Barça. Depois de abordar o feiticeiro-chefe da musa, o treinador-mestre-mago Pep Guardiola, dizendo (segundo um jornal espanhol) que queria jogar no Barcelona, nosso menino de ouro ainda teve a coragem de não inventar desculpas esfarrapadas. “Hoje a gente aprendeu o que é jogar futebol”.
Pena que Neymar é apenas um jogador. Pena que não poderá mudar o medo de nosso técnicos e dirigentes que preocupam-se em montar equipes “competitivas”, desde as categorias de base, em vez de montar equipes que joguem futebol. Que joguem com a arte que um dia marcou o futebol brasileiro.
Por isso que, apesar dos nobres esforços do presidente do Santos, um raro dirigente que gosta de futebol e não só de vitórias, logo Neymar irá embora.
Sempre louvei a coragem de Luís Álvaro em manter Neymar no Brasil, mas depois do massacre no Japão, acho agora que é um desperdício permanecer no Brasil. Pra que continuar jogando nesse deserto de talentos? Pra que seguir driblando um monte de pernas de pau?
Enquanto os clubes brasileiros não voltarem a amar o futebol arte que um dia foi nosso DNA, não há mais sentido em ficar.
Vai embora, Neymar, vá brilhar onde merece. Vista, por favor, a camisa azul e grená. Junte-se à deusa-bruxa. Só ali poderá desenvolver todo o seu potencial.
O espetáculo, a magia, a paixão e emoção do Barça se tornarão ainda maior quando você se juntar ao melhor time de todos os tempos.

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