segunda-feira, setembro 12, 2011

O sonho máximo (O Homem do Futuro)


“Todos os dias, quando acordo,
não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo”

O mais duro é que não temos. O homem conseguiu curar o incurável, afastar doenças e até a morte, estender sua jornada, mas há uma barreira que ainda não venceu.
A barreira que é talvez o maior de todos os sonhos.
O tempo.
Viajar no tempo.
Voltar atrás.
Voltar para quê?
Para consertar. Os nossos erros. Sobretudo, os erros que cometemos com o mais belo e terrível dos sentimentos-poderes, o amor.

O amor que Zero, personagem de Wagner Moura, busca, desesperadamente, resgatar.
Reencontrar num passado distante.
No passado mais belo de quando ainda acreditamos e podemos tudo.
O passado do amor da juventude.

Neste passado está Helena, nome de deusa para uma Aline Moraes arrebatadora a cada cena em que aparece. Tão sexy quanto doce. Tão divina quanto humana. Porque ama de verdade, porque ama com pureza, Helena merece qualquer coisa para não perdê-la, ou reconquistá-la.
Até uma viagem no tempo.
Um tempo que ela canta com paixão, visceral, no grande hino da juventude brasileira não só dos anos 80, mas até hoje, Tempo Perdido, de Renato e sua Legião Urbana.
De seus lábios emanam toda a sensualidade, tesão e urgência da juventude. Do amor que ainda sabe ser paixão da juventude.

Você lembra dos momentos mais apaixonantes da sua vida?
Você lembra das canções que embalaram esses momentos?
Você lembra e essa cena ainda o assalta, ainda o invade, tantos anos depois?
Você já tentou o impossível de voltar atrás e viver aquilo de novo?
Se você sente tudo isso, O Homem do Futuro não será um simples filme.
Não será apenas esse espetáculo irresistível que nos faz rir lá do fundo de forma tão gostosa, e tantas vezes, com as loucuras que Zero diz e faz para viajar no tempo e tentar reescrever a sua história.
Não será “apenas” essa magistral aula de atuação de um Wagner Moura espetacular, que nos faz de morrer de rir em um momento e no minuto seguinte nos emociona com seu amor e sonho tão palpável, tão verdadeiro. Tampouco veremos apenas uma Aline Moraes sublime, conseguindo a perfeição de expressar o maior dos sentimentos a cada palavra, a cada gesto, a cada olhar vulcânico.
Mais que um filme arrebatador, comédia romântica impecável, o Homem do Futuro é também um drama-hino ao primeiro amor, talvez o mais verdadeiro para muitos, porque puro.
E esse hino ainda vem não só embalado, mas completado com cada verso tão belo quanto furioso da canção que atravessa e sustenta todo o filme.
Uma canção que é tanto a verdade quanto a desgraça dos amores e realidades juvenis:
“Todos os dias, antes de dormir,
lembro e esqueço como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder
Nosso suor sagrado
é bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem, selvagem, selvageeemmm!”

Desgraça porque o amor, explodindo de paixão, pode queimar até ferir de forma irreversível.
A bateria então acelera a canção. A música vira o filme. O filme, a vida. A vida que é essa batalha de amor, do amor tentar suportar as dores que virão, que já estão vindo:
“Veja o sol dessa manhã tão cinza
a tempestade que chega
é da cor dos teus olhos... castanhos
Então me abraça forte
E me diz mais uma vez que já estamos
Distantes, de tudo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo”

Um dia descobrimos que não temos o nosso próprio tempo.
É o tempo que nos têm.
que nos consome.
que passa
e muita vez nós ficamos.
Parados num tempo perdido.
Cantamos então gritando forte, suplicando
“Não tenho medo
do escuro
Mas deixe as luzes, acesas,
Agora,
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu...”

A vida passa, alucinadamente rápida, atropela e derruba muitos.
Os que têm sorte ficam de pé, amparados nos braços que soube manter ao seu redor, no abraço-laço inquebrantável que sustentamos sem o erro das paixões cegas.
Outros tantos sonham. Lembram. Tentam desesperadamente voltar.

E a gente volta, embalados por Aline e Wagner nos cantando essa canção
Nos envolvendo em uma química total que explode a cada encontro
a cada reencontro.
A cada cena desse filme que faz a mais perfeita utilização de uma canção em toda a sua trama que o cinema brasileiro já viu. E olha que o resto da trilha sonora também é TNT pura, penetra nos poros em outras cenas-canções espetaculares como Creep, do Radiohead.

Por tudo isso, mesmo com tantas cagadas que fizemos em nossas vidas, O Homem do Futuro nos lembra que
“Nem foi tempo perdido”.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Fala Zé,
    Quanto tempo, muitas vezes leio o pão na chapa, mas hoje não pude deixar de escrever te dando mais uma vez os parabéns. Essa música me lembra milhares de coisas... Realmente não sei se temos o nosso próprio tempo, mas tem aalgo que continuo tendo certeza: Somos tão jovens......
    Um grande abraço irmão.
    Mario

    ResponderExcluir
  3. Zé, que sensacional o seu texto!
    Você sempre me faz repetir: quanta paixão traduzida em simples e poderosas palavras.
    "O Homem do Futuro" é daqueles filmes que a gente vê dez mil vezes e continua provocando sorrisos, lágrimas e "reflexões reflexivas" (como diz um menino que trabalhou comigo, rs!).
    Filme bem humorado, inteligente, cativante. Maluco e, paradoxalmente, verdadeiro (se é que isso é possível).
    Trilha sonora deliciosamente nostálgica. Um amor perdido. Amigos sinceros e eternos. Uma invenção perigosa...
    Física quântica. E um Wagner Moura espetacular!
    Não há como apagar o que já passou. Mas é sempre possível sonhar diferente, reinventando o que ainda virá.

    ResponderExcluir