quarta-feira, dezembro 08, 2010

Paul - O homem que cantou nossas vidas

You and I have memories
Longer than the road that
stretches out ahead


Você e eu temos memórias
Mais longas que                 
a estrada que se estica adiante

Morumbi, 22/11/2010. Aquilo não foi um mero show, foi sim um encontro, foi história. Ali não estava um profissional entregando um serviço (coisa que Bono, infelizmente, vem fazendo há anos) e sim um músico oferecendo sua arte. Sim, havia um set list, mas a lista era na verdade uma retrospectiva de nossas próprias vidas, pois cada canção mexia com um sentimento especial de cada privilegiado (a) que esteve no Morumbi naquela 2ª feira inesquecível. Sim, claro que Paul é também um profissional, mas a alma do antigo menino de Liverpool ainda está lá, e quando ela está, cada nota, melodia e palavra nos envolve. Envolve-nos como um amigo do peito nos dizendo verdades, como uma mãe tentando nos aconselhar pela última vez (when i find myself in times of trouble, mother Mary comes to me speaking words of wisdom, let it be...), uma paixão nos assaltando de novo (close your eyes and i kiss you, tomoroy i´ll miss you... all my loving i´ll send to you) ou o próprio tempo e algum acontecimento em especial que resolve se revelar de novo, yesterday all my problems seemed so far away... , enquanto Paul canta algum dos hinos dos Beatles.
Enquanto Paul canta algum hino da maior banda de todos os tempos, canções que elevam ao máximo nossos corações e lembranças. Incrível como cada canção, para os que já viveram um bocado, resgatava um momento de nossas vidas.
Tudo começou quando ele sentou-se ao piano pela primeira vez, tocando notas que não eram meras notas mas as suas veias, as nossas próprias veias, ao cantar que a vida é uma the long and winding road, uma longa e larga estrada. Sim, a canção é de um amor partido, mas como em tudo dos Beatles, é tão bela nas melodias e palavras que sua dor, you left me standing here, a long, long time ago..., você me deixou esperando aqui, há muito, muito tempo atrás  é pulverizada pela beleza.
Pela beleza de um cara e uma banda que interpretaram e traduziram os sentimentos mais simples e verdadeiros com uma precisão poucas vezes equiparada por uma banda de rock, talvez porque poucas vozes soam tão cristalinas e naturalmente belas, sem gritos fora de tom, como as de Paul.
Por isso Paul foi especial, por isso que ouvi-lo naquela noite, e agora, nos vídeos deste show postados no youtube, de novo emociona, arrepia, pode até botar a emoção para fora numa lágrima que não é qualquer
E numa alegria que não é qualquer, porque, reafirmo, suas canções mais tristes são tão belas que nos elevam. Pelo poder da canção, pelo poder da música, pelo poder incomparável de Paul e de toda a mágica que ele um dia criou e entregou com seus três companheiros daquele grupo que era a vida traduzida em canto, guitarra, baixo, bateria e piano.
Pelo poder desse mago Paul, que conseguiu transformar a tristeza numa alegria inesquecível, como em Hey Jude: take a sad song and make it better, pegue uma canção triste e faça-a (torne-a) melhor. Faça-a feliz.
Quisera ser possível que pudéssemos escutar essas canções todos os dias, assim não deixaríamos de acreditar na esperança de cada canção dessa.
De cada emoção entregada por Paul, e pelas milhares de vozes que comungaram desses sentimentos juntas, naquela noite mais que memorável. Naquela noite fundamental. Portanto, vocês que estiveram lá, tentem lembrar do que viveram e sentiram. Os céticos dirão que foi apenas um show. Jamais entenderão o que foi aquele imensa verdade e beleza coletiva de milhares de pessoas, entre estranhos, amigos e amores, recebendo e devolvendo o mesmo amor pela música e pela vida.
Pela vida que é música. Que deveria ser sempre musica.
A síntese de tudo o que Paul nos proporcionou foi talvez esse par de versos dizendo que existirá uma resposta para nossos medos, sonhos e dores,
there will be answer
Let it be
Vai existir uma resposta, deixe rolar....
Sim, muitas vezes não há saída, e nos perguntamos
Why she had to go, i don´t know.
Now i need a place to hide away

Quando os amigos já não estão presentes, ou dispostos a nos escutar ou procurar, só contamos com nós mesmos, com o pai e com o maior amor do mundo, que é sempre o da nossa boa e velha mãe.
Podemos contar também com a força de Paul, de sua antiga banda e suas canções.
E contamos com a sabedoria e conselhos desta amiga que estará sempre lá, pronta para nos abraçar:
a música.
Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
Pegue essas asas quebradas e aprenda a voar.
All your life...

PS - Lá em cima, que John siga descansando em paz, 30 anos depois.

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