segunda-feira, dezembro 06, 2010

Muricy - O homem reto

Ele nem precisava provar mais nada de seu caráter depois de recusar a seleção brasileira porque seu clube e patrão não aceitou liberá-lo. “Não quebro meus contratos”, afirmou na época Muricy. Ninguém do mundo sujo da bola o criticou publicamente por isso mas muitos o julgaram tolo por essa recusa.
O tempo e talvez a justiça divina o premiaram com o título brasileiro mais sofrido de sua carreira, este, com o seu Fluminense. Com um time que sofreu tanto com contusões ao longo de todo o Brasileirão – Fred, Emerson Sheik jogaram muito pouco, Deco também ficou bastante tempo fora, o goleiro titular também e Muricy descobriu Ricardo Berna.
Para suprir a ausência de suas estrelas, o treinador soube formar um time de guerreiros mas que jogaram um bom futebol graças à regência e toque de bola deste gigante armador baixinho chamado Conca. O argentino foi o toque de classe deste Flu bicampeão brasileiro.
 Mas falemos do mais importante, porque quando se fala em Muricy a bola vira vida.
Vida porque diferente da maioria dos personagens no futebol brasileiro de hoje, promessas, estrelas e celebridades vazias e vaidosas, Muricy, ao falar de futebol, fala de coisas maiores.
E isso, num país tão cheio de malandros que usam todo artifício para obter vantagens, é importante demais. Enquanto a CBF e a FIFA, por exemplo, semeiam barbaridades atrás de barbaridades (Copa no Qatar é brincadeira, um “tô nem aí pro futebol!, quero é grana!”), Muricy, o homem reto, semeia nobres valores.
Reto da retidão não só de suas palavras como de suas atitudes.
“Agora é trabalho”, ele dizia no São Paulo, com a simplicidade sábia e digna de Rocky Balboa dizendo aquele “lutadores lutam”. E ontem, foi mais uma lição de vida escutar algumas de suas frases. Uma delas escutei na rádio ESPN Brasil. Enquanto falava de sua relação com seus jogadores, ele explicava que não faz diferença entre as estrelas e os jogadores menos badalados. Não concede privilégios, e isso é vital para ter um grupo unido. Muricy sintetizou isso então ao dizer que “não sou simpático, mas sou correto com os jogadores”.
Correto. Quantos se preocupam com isso hoje? Pior, quantos não dizem que ser correto é ser um tolo, um babaca?
Graças que Muricy se preocupa e talvez por isso o Mestre e Homem maior da história de nosso futebol tenha aparecido para ele em sonho, na véspera da decisão para o Flu: Sim, só mesmo Muricy para ser agraciado com a presença de Mestre Telê Santana em seu devaneio tão real antes da consagração de ontem.
Lá vai então Muricy Ramalho, conquistando com correção, caráter e dignidade o que muitos, neste país, só obtêm com tramoias, acordos, subornos e outras sacanagens: a vitória.
O Mestre está orgulhoso lá em cima.

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