segunda-feira, abril 05, 2010

De novo


Incrível a capacidade da Veja de apelar para vender suas revistas. Mais incrível, porém, é descobrir que o comprador do mundo cão e mórbido desta publicação não percebe que é manipulado. Não percebe que as capas chocantes da Veja são pura exploração de tragédias, e não jornalismo. Bom, pelo menos não um jornalismo digno, porque a revista faz é sensacionalismo barato. A constatação do jogo sujo vem da capa seguinte à condenação dos assassinos da menina Isabella. Depois de descer ao fundo mais podre da apelação, ao mostrar, por exemplo, um bebê ferido e morto nos braços da mãe, no atentado de Beslan, Rússia, em 2004, a Veja “se supera” na capa recente de Isabella. Desta vez não mostrou um cadáver mas, pior ainda talvez, mostrou a imagem da menina quando em seu esplendor (apelando para a beleza desta foto, de uma criança feliz e linda) junto da legenda melodramática “Agora Isabella pode descansar em paz”.
Quanta sujeira, meu Deus!, a Veja praticamente mandou uma mensagem para uma menina morta!!! Se eu fosse sua mãe, exigiria uma grana preta da revista por faturar em cima dessa fotografia, pois quanto não faturou a edição com isso? Todavia, a mãe da vítima foi outra que me pareceu ter naufragado não só em sua tragédia pessoal mas na sede de espetáculo de uma mídia como a Veja.
Aposto que esta edição vendeu feito água porque os consumidores de tragédias aumentam cada dia, estimulados por esse tipo de mídia mercantilista, que não tem nada a ver com o bom e digno jornalismo.
O pior é que poucos percebem a manipulação. Meus alunos, por exemplo, num exercício para julgarem a capa da Veja da menina morta da Rússia, defenderam a imagem alegando que a revista reportava bem a face chocante da história, dos bebês e crianças mortas. Apenas uma aluna condenou a capa, não por compreender a estratégia vil do estilo açougueiro da revista, mas por se sentir mal ao ver foto tão chocante.
Difícil viver num mundo assim, em que a mídia controla cada vez mais o (não)pensamento não só das massas incultas, mas das maiorias de qualquer classe social com um jornalismo (?) sangrento cada vez maior nas revistas, jornais, TVs e internet.
Pelo menos a gente tenta fazer a molecada pensar, refletir e perceber que esse mundo não é só isso.

PS – Semana passada morreu, de uma doença, o menino músico do afroreggae, aquele que chorou tocando no enterro do líder assassinado dessa ONG. Por que será que isso foi tão pouco mostrado? Por que será que nenhuma revista mergulha no caso do líder morto?

5 comentários:

  1. caramba zé, não posso concordar mais com o que você disse. Realmente, a Veja é o molde de que está se tornando o mndo hoje. Cidadãos manipulados fortemente e descaradamente pela mídia, sem nem questionarem, afinal, a Veja é o centro das atenções, e trantando-se da mídia, há e estar certo.
    Bobagem, esses impostores, que escrevem sem coração e se chamam de jornalistas, são o mal do mundo. A Isabella, tadinha, não merece isso.
    Como essas imagens são deprimentes e ERRADAS.
    Em relação ao seu PS, não fiquei sabendo desta notícia, mas realmente, o foco da mídia é outro ponto ridículo, que dificilmente é lembrado.
    abração,
    Ricardo

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  2. Nossa, Zé, engraçado como hoje eu enxergo bem o processo de alienação. Lembro que, quando eu era mais nova, a Veja era "A" revista. Quem lia era considerado culto, antenado, crítico. Mais até do que isso, ler a Veja significava ter status. Significava pertencer a uma classe média bem formada, engajada, “prafrentex”, como a gente dizia no colégio.
    Dá vergonha só de lembrar o quanto eu li e concordei freneticamente com os textos dessa revista. Sensacionalista, preconceituosa. Maldosa. Uma revista que produz um jornalismo "burguês" direcionado a amebas (sem cabeça e coração).
    A Veja é uma aberração. E essas capas que vc colocou aqui só provam a estupidez de um jornalismo torto, indigno. Nojento, asqueroso.
    Na faculdade fizemos uma pesquisa de opinião. E adivinha o resultado? A Veja foi ovacionada pela nossa classe média! É triste saber que a Veja ainda tem fãs, tem leitores fiéis e fanáticos. É como aquele bando de malufistas que ainda acreditam no lema: "Rouba mas faz" ou "Estupra mas não mata"! Para eles: "A Veja manipula, mas também diz a verdade". Como se esse tipo de informação valesse grande coisa.
    E sobre o Diego do violino, vi uma matéria muito bonita e comovente no JN. E só. Nem sei se foi destaque em algum outro jornal. Não dá ibope, né?! Botar sangue na capa vende mais!

    Tava com saudade de entrar aqui.
    Beeijo!

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  3. Grande Ricky, Grande Thaína. O primeiro, um garoto culto, antenado (lê muito, coisas boas, na internet) e com uma rara consciência social para um estudante ainda de escola, 3o. ano do Médio. Já a Thaína, jovem jornalista com olhar amplo, profundo e crítico, sofreu um bocado com a alienação dos estudantes, o que continua na passagem da escola pra facul. Jovens como esses são mais que fundamentais num Brasil em que a Veja é campeã de vendas.

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  4. Muito interessante seu ponto de vista, concordo com você. Se tem uma coisa que é irritante é ver esse tipo de manipulação.
    Agora, os jornalistas podem ser manipuladores, mas desempenham um papel fundamental na sociedade, que sem eles seria além de também manipulada, menos democrática e mais ignorante... O importante é que as pessoas saibam "filtrar" as informações e desenvolver uma visão critica para saber avaliar os fatos.
    Também já me esgotou a paciência ouvir falar na TV do caso Isabella, sim foi algo trágico, mas o mundo não gira ao redor disto, o jornal NACIONAL por exemplo, certo dia desses, dedicou praticamente todas as reportagens a este caso! É esse o Jornal de qualidade e seriedade que é tão respeitado? Casos como o de Isabella acontece todos os dias, só que não são divulgados...
    Por outro lado, não é a toa que os jornalistas preferem noticias trágicas, porque são elas que dão audiência... Sabe porque? Porque de forma individual ninguém gosta de tragédia, mas de forma coletiva, adoram... se é que você me entende... Se não fosse assim, essas noticias não dariam audiência e os jornalistas não as teria como preferência...
    Abraços!
    www.semtrilhos.blogspot.com

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  5. Zé, a Veja sempre foi assim, exatamente como vc disse no seu texto, lembro-me muito bem de ver capas antigas sobre a morte do Che, o maior revolucionário de nossos tempos, e lá estampava MORRE UM ASSASSINO! Algumas edições depois, outra capa sai sobre o mesmo assunto, não me lembro bem qual era a frase, mas era contraditória, dessa vez defendendo o Argentino, o importante é vender e não passar uma informação de forma neutra para os leitores tiraram suas próprias conclusões. Quando não são situações como essas são capas incriveis tentando detonar o governo, e sempre coisas envolvendo o PT. Dentro de suas inumeras falcatruas, é quase impossivel ver uma capa dessas detonando o Serra ou o Kassab, grandes impostores da politica eliticista de SP, onde mandam sempre descer o cacete nos professores ou qualquer pessoa que abra a boca para reclamar, engraçado que isso lembra de algo que já passamos não? E ele vai para presidente, cuidado que nossas opiniões podem virar crime! E a veja ficara feliz, afinal, nada como poder manipular com o governo um monte de palhaçada! E agora aproveitando o texto mais recente, as enchentes no rio, gente morrendo e o UOL colocou ontem um pai carregando seu filho que faleceu nas tragédias em destaque, a morbidez desse povo é incrivel, mas cara, saiba que tem gente com juizo para decidir suas opiniões e não aceitar qualquer coisa... Grandes textos como sempre, grande abraço... REMO

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