sexta-feira, junho 26, 2009
A trilha dos anos incríveis
1982. A porta rangia forte e assustadora várias vezes por dia e logo a voz sinistra de Vincent Price anunciava a canção que tornou o videoclip em cinema. Já sabia. Era o vizinho doido escutando o começo de Thriller pela milésima vez. E o maluco ainda imitava, rindo sem parar, aqueles passos flutuantes para trás, o famoso moonwalker, passos da lua.
Anos 70. Toda vez que passava a história daquele ratinho na TV não tinha como não emocionar-se com aquela canção, obra-prima das baladas.
Verão de 83. Numa casa num bairro afastado, junto de um nascer do sol fantástico e de uma família maravilhosa que era nosso segundo lar, em Ribeirão Preto, um grupo de amigos apaixonados pela mesma musa - uma inesquecível loura tão bela quanto simpática e digna (ela tratava todos seus “fãs” com o mesmo carinho e atenção) – curtia alguns dos melhores dias de suas vidas. A trilha-sonora? Os mesmos passos para trás que o demente do irmão da musa não parava de repetir e que o amigo Luisão não parava de repetir. E havia ainda o rock que era e sempre será a trilha maior de nossas vidas, com aqueles riffs e solo de guitarra sensacional do maior guitarrista vivo, que acompanhava o brilho da voz não menos poderosa do cantor. Havia também a pausa mais calma, que fazia a galera toda dançar junto, com aquela que é talvez a canção mais perfeita da história da música: aquela batida inicial hipnótica de bateria e a entrada envolvente do baixo antes da voz mágica começar a cantar.
Tive o privilégio de ser um adolescente na época em que Michael Jackson explodiu de vez com o disco Thriller. Tive a sorte de curtir um daqueles verões inesquecíveis da vida ao lado dos melhores amigos da escola e com a trilha eletrizante de Michael. Aqueles dias quentes - de muita amizade, zueiras na piscina, conversas sentados na mureta que dava para uma puta vista dos canaviais e da cidade lá longe, de muito carinho com aquela tia que era mãe e aquele tio que era pai, e aquela família que parecia daqueles seriados perfeitos da infância – talvez sejam o que alguns chamam de anos incríveis. E olha que não falei das guerras de torradas, da caçulinha pimentinha que aprontava tanto como o irmão maluco, da surra que tomamos por picharmos o nome da nossa musa nos muros brancos de Ribeirão, dos batismos de groselha batizada e muito mais. De muito afeto e zona saudável daquele verão que foi uma grande festa embalada por Yes, Van Halen, Queen e, claro, Michael Jackson e algumas de suas canções insuperáveis, Ben, Thriller, Beat It (http://tinyurl.com/n3337v) e Billie Jean.
Depois veio o fim da adolescência, veio o fim da escola, veio a vida. Veio a loucura do rei do pop e até do rock, que esqueceu seu talento e arte pela obsessão incompreensível de tentar ser quem ele não era.
A vida? A maioria dos felizardos daquele verão sofreu mas hoje são pais e mães de família felizes, com filhos para quem espero que ensinem as mesmas loucuras e canções que fazíamos e escutávamos no verão de 83. Todos deram certo e sorriem com a mesma alegria daqueles passos flutuantes e canções únicas. Bem, quase todos. Quem ainda não chegou lá segue, pelo menos, fiel às suas raízes. Às suas canções e sonhos. Sempre é possível acelerar o carro estrada afora enquanto Eddie Van Halen e Michael Jackson nos oferecem como combustível o clássico dos clássicos.
Michael Jackson morreu faz tempo. Ontem seu corpo se foi. Mas ninguém nos arrancará os melhores dias de nossas vidas que ele cantou para nós.
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É Zé, the King nos deixou. Quando moleque não acompanhava mto os sons do mestre, mas quando adolescente passei a ouvir os grandes clássicos. Como vc disse, a porta abrindo e a risada no final de Thriller são únicos, assim como a batera e o baixo de Billie Jean. Agora, pra mim o melhor é a guitarra avassaladora de Beat it, é aquela que acorda qualquer um, da aquele animo e empolgação, principalmente no bate-volta, logo ali na entrada da nossa "Menina-praia", pra dar aquele gás pro surfe. Infelizmente, foi o que vc disse, ele já havia morrido faz tempo, desde que ficou maluco por sua aparência e deixou de lado a música. Mas com certeza, alguém que cante com a garra de Michael dos bons tempos não vai existir. Abraço.
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