sexta-feira, junho 12, 2009
Pequena obra-prima do atual cinema francês, Stella é um filme ora brutal, ora doce, a contar as inúmeras batalhas de uma menina humilde, na França dos anos 70, para encontrar uma vida melhor. Uma vida contra a realidade dos pais ignorantes donos de um bar repleto de bêbados. Contra a violência de mentes e homens brutos. Contra a falta de atenção dos seus pais e promiscuidade do casal. Contra uma maioria de professores especialistas em humilhar os alunos mais atrasados. Contra o começar o jogo já perdendo de quem provém de um lar sem livros. Contra tudo e todos, a pequena mas valente Stella vai encontrar um caminho quando a colocam, quase por acaso, em uma escola de ricos.
O caminho chama-se Gladys, uma simpática filha de cultos imigrantes argentinos que vivem em Paris em boas condições financeiras. Um dínamo de vontade de aprender, sobretudo de mergulhar nos livros e canções, Gladys torna-se uma guia, verdadeira mestra precoce, para a péssima aluna Stella. Péssima apenas porque a menina da periferia nunca fora incentivada a ler e estudar em casa nem tivera acesso ao libertador mundo dos livros. Péssima porque nenhum professor jamais se interessara em lhe ajudar.
O filme emociona e arrebata em pequenas doses à medida em que Stella vai percebendo o valor dos livros, suas luvas de boxe contra sua condição social, e também da música – as canções de seu país e da Itália, e também o rock and roll furioso. A música ela traz em parte de sua própria casa, dos bêbados mas amantes da vida que cantam, dançam e gritam no bar de seus pais. Com a ajuda de Gladys, ela ainda percebe que algumas canções eram sua própria história ou desejos de ter uma vida decente e alguém que a amasse. Alguém que a amasse como seus pais não conseguiam.
Além das descobertas e experiências da adolescência, o filme é uma bela e furiosa canção juvenil sobre o poder da literatura e da amizade para salvar a vida de uma criança. Amizade não só das duas meninas, como de um dos bêbados e marginais que frequentam o bar, o jovem fracassado mas de coração puro, Alain Bernard, que é o anjo que consegue tornar o bar mais suportável para Stella. Alain é interpretado com alma por Guillaume Depardieu - filho do mito do cinema francês, Gerard – em seu último papel antes de morrer. Bonito que tenha brilhado pela última vez nesse pequeno grande filme maravilhoso que é Stella, uma verdadeira ode à força incomparável da cultura.
O filme é também uma lição para muitos jovens alienados de hoje, como aqueles que têm acesso aos livros e desprezam-nos. Aqueles que poderiam construir um mundo melhor e mais humano para a maioria de Stellas que assolam nosso Brasil mas, infelizmente, preferem pensar apenas em si. Pensar, não, porque preferem apenas ler superficialmente na internet as homepages dos portais e uma ou outra notícia que acessam. Preferem apenas seguir os mandamentos e preconceitos de muitos pais que não estão nem aí para incentivar seus filhos a olhar além de seus próprios umbigos. Preferem acreditar que a vida resume-se a estudar para entrar na faculdade (decorando e não refletindo, tampouco se humanizando), dar duro por um bom emprego, se dar bem na vida e ponto.
Graças que a diretora Sylvie Verheyde teve a coragem de fazer esse filme, que conta a sua própria fantástica história de superação. Porque Silvie e Stella são a mesma pessoa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Parece lindo, Zé.
ResponderExcluirEsses dias estão corridos, estou cheia de provas, trabalhos e livros pra ler; além do TCC e do curso de Cinema, mas vou tentar assistir.
Um beijo.
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
ResponderExcluir